segunda-feira, 31 de março de 2008

China – Um gigante imprevisível a acordar

Tibete – A esperança de mãos no ar

Os jogos olímpicos pretendem ser um símbolo da paz e da fraternidade universal. Na Grécia, há 2030 anos os tempos olímpicos eram tempos de paz. Em 419 a.C. Esparta viu-se excluída dos Jogos Olímpicos por ter ferido a paz olímpica com os seus exércitos.

Os promotores dos Jogos Olímpicos vangloriam-se da sua grande tradição. O archote do fogo olímpico é levado de Atenas para Pequim, a pé, querendo insinuar o tal tempo da paz.

Os monges iniciaram os protestos, 150 dias antes dos Jogos Olímpicos, exigindo a independência do Tibete e o retorno do Dalai ama. O povo tibetiano insurge-se, desta vez com violência, sendo as manifestações acompanhadas da destruição das lojas de negócios, nas mãos dos chineses.

Do exílio o Dalai Lama, chefe religioso do Tibete fala de “assassínio cultural” dizendo que não querem a independência mas apenas o direito a uma certa autonomia. O regime comunista responde que não aceita qualquer diálogo. Sabe que o mundo vive do proveito da violência e o povo não sabe o que quer. Na sua filosofia não há lugar para a concorrência de interesses. O sistema só reconhece os seus interesses e a paz dos cemitérios. Os chineses são demasiado fortes para permitirem ao Tibete a autodeterminação. O futuro, tal como a natureza, não é determinado pela justiça mas pela força. Na Europa, onde este princípio se encontra um pouco mitigado, encontra-se a força da cultura judaico-cristã que reconhece na pessoa humana um carácter divino, a que a estrutura se não deve sobrepor. Apesar deste espírito subjacente, a história das instituições religiosas e estatais é o que se vê…

Desde 1720, os Tibetanos têm sofrido a aversão sistemática de Pequim na sua pele. O último meio século de ocupação chinesa do Tibete tem sido extremamente violenta no amordaçamento do povo e na destruição da sua língua e cultura. No Tibete, em 1948 não havia chineses, hoje estes constituem a maioria da população. O turismo, o comércio e a indústria estão na mão dos chineses e o povo tibetano é controlado por 100 mil soldados chineses. Em nome do progresso socialista destroem a velha cultura e a população tibetana. O genocídio é indiferente aos olhos da economia e da política. O regime prefere o desespero à esperança. Este monstro a acordar mete medo porque desconhece qualquer humanismo ou compromisso.

O fogo olímpico para os governantes é compreendido com fogo da violência e a oportunidade de polir a imagem da nação no exterior mesmo que à custa do sangue vermelho dos súbditos. Só conhecem a lei do punho cerrado que não a de mãos estendidas.

A política internacional, de braços dados com economia, é surda-muda e cega. Onde os direitos humanos não vingam parece a economia encontrar hoje a sua chance. A economia tem a sua moral: a lei do oportuno. Por isso tenta estender os seus tentáculos nos países de regime forte em que a eficiência da opressão do povo lhes garanta uma certa continuidade na obtenção de receitas económicas. Um país, ou sistema, que não respeita direitos humanos nem o povo, também não pode oferecer garantias às empresas dado também elas estarem ao seu serviço. Tal regime só conhece a nomenclatura, considerando as pessoas e as empresas como meros objectos.

A liberdade é cara, paga-se com as obras, à custa de sangue e este, nestes sistemas, estancou na cor das suas bandeira ideológicas.

As ameaças de boicote tornaram-se no meio político, instrumentos de manipulação dos sentimentos do próprio povo, na sua estratégia de habituação dos súbditos à amoralidade dos negócios, que se regem por desleis… Os Jogos tornaram-se num meio de exibição do poder aos olhos do mundo. Paz e humanidade são assuntos da tautologia. Os valores iniciais dos jogos olímpicos são “águas passadas que não movem moinhos”. Em nome da paz o negócio corre melhor. Para mais, também o povo está sempre do lado da força, sempre de mãos erguidas para aplaudir os vencedores. O ódio e a vingança são as chamas da fogueira em que se aquecem os extremismos políticos e religiosos. A humanidade ainda está longe poder socorrer-se de estratégias substitutas, como as do futebol, para darem largas de forma inocente às suas agressões.

A aceitação do crime, por parte dos organizadores dos Jogos Olímpicos, faz parte da tradição. Já em 1936 o regime nazista de Hitler foi agraciado com a realização dos Jogos na Alemanha. Hitler pôde usar os jogos para projectar a sua quimera. Também Pequim se serve dos jogos para mostrar a sua potência e o vigor da nova Era que irrompe por toda a China: o comunismo real aliado ao mais feroz capitalismo. Também em 1980 os Jogos se realizaram na União Soviética apesar da política desumana de Bresnew. Os sistemas contam com a boa-fé dos cidadãos no bem, fé, esta, de que se aproveitam os que fazem o jogo maléfico. Logicamente, o presidente Hu Jintao não se vê na necessidade de resolver os problemas com o diálogo. A repressão é mais fácil e dar-lhe-á razão enquanto o mundo se reger pelas leis que se rege.

O sistema é coerente em si. Não deixa que os súbditos se apoderem do “burgo” da dignidade humana individual. O súbdito, ao experimentar a liberdade e o suficiente bem-estar humano, tornar-se-ia cidadão, habitante consciente do burgo, da nação, não permitindo mais a arbitrariedade dos dirigentes. O sistema comunista, como os seus parceiros fascistas, sabe isto, por isso se impõe contra o que fomente a personalização e a liberdade do súbdito. A eterna luta de todos os sistemas de poder.

Os jogos Olímpicos poderiam ser um motivo para mudanças estruturais na China. Apesar de tudo, os organizadores atraiçoam o espírito olímpico se não intervêm a favor dos direitos humanos e dos perseguidos e se não se manifestam contra os campos de reeducação para adversários políticos, contra a pena de morte e contra a censura de Imprensa e de Internet.

A corajosa Chanceler alemã Merkel, que no meio dos protestos do oportunismo recebeu há meses o Dalai Lama, e o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros já disseram que não querem participar nos festejos de abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim. Os representantes da economia não estão de acordo com críticas porque esta lhes pode estragar os negócios. A situação, porém, não é fácil para nenhum dos partidos.

António da Cunha Duarte Justo

quarta-feira, 26 de março de 2008

PORTUGAL: ONTEM DOS SALAZARES HOJE DOS SOARES

Portugal dos Pequeninos para os Grandes na Corrupção

Portugal ao Desbarato

O Pe. António Vieira dizia: “Quem rouba uma galinha é ladrão, quem rouba um império é imperador!” Se ele vivesse depois do 25 de Abril certamente que acrescentaria: e quem se apodera dum povo é democrata!

Portugal, um país com uma grande cultura e com um grande povo tolerante e trabalhador, assiste de dia para dia a uma degradação social contínua na justiça, na escola, na saúde e na família, sendo, dos 27 países da União Europeia, o país que menos cresce apesar das injecções económicas dos emigrantes e da EU.

Num Estado pequeno e mal gerido a insatisfação e a indignação cada vez ganha mais terreno apesar do estoicismo do povo. Por todo o lado se encontra gente a bater baixinho com a língua nos dentes. O partido dos descontentes, em gestação, promete grandes mudanças num futuro próximo!... A não ser que exportem também a insatisfação, como parece querer um representante do governo: o presidente do controlo da qualidade alimentar (ASAE).

Num regime do faz de conta vive-se em segunda mão, à maneira dum musical de contraste entre dançarinos alegres e leves e suas sombras tristes nos espectadores. O desencantamento, a desilusão, a frustração e o medo estão cada vez mais presentes na sociedade. Apesar de melhoramentos epidérmicos a pobreza e a insegurança social aumentam. O povo, sem contrapartidas, sente-se cada vez mais refém da União Europeia e dum aparelho de Estado com uma voracidade desmedida. Portugal acaba de comprar 37 carros de combate Leopardo 2A6 à Holanda quando isso nada tem a ver com os interesses da nação, dado o seu amigo e rival ser o mar! A confusão de cargos políticos com cargos económicos dão paulatinamente a impressão do Estado ser cada vez mais uma loja de auto-serviço para políticos, tal como deixa prever a imprensa ao constatar que Paulo Teixeira Pinto, Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros – Presidente do BCP –“ Ainda novo e depois de 3 anos de "trabalho", saiu com 10 milhões de indemnização e mais 35.000€ x 15 meses por ano até morrer”. O mesmo país democrático concede a um trabalhador de 85 anos que toda a vida trabalhou e sustentou 10 filhos, com 30 anos de descontos, uma reforma mensal de 291 euros! Naturalmente que este, aos 85 anos, tem de continuar a fazer biscates para poder defender a dignidade humana que o Estado lhe rouba. Os outros, os dançarinos do poder vivem à sombra dos louros da democracia que irresponsavelmente esvaziam dos valores que a legitimarão.

Da Quinta dos Salazares para a Quinta dos Soares

É uma dor de alma assistir-se à degradação contínua dum povo e país em que sociedades “anónimas” ideológicas e boys sem rosto o ocupam de mente leve, reduzindo a vida da nação a uma feira de Espinho. Os interesses económicos dos favorecidos do sistema vencem sobre a justiça. O Estado parece criar no seu ser um parque para infractores da justiça social onde o negócio dos mais fortes pode florir. A camarilha da economia, política, capital e justiça reduzem a divisão dos poderes do Estado a um conto de fadas. A nação vive predominantemente duma consciência dirigida por lobbies com expressão acrítica nuns Media inconscientes do seu papel nacional.

O poder legislativo, em democracia partidária, pensa apenas em ritmo de quatro anos; o executivo não tem coragem suficiente e deixa os tubarões à solta, o judicativo perde o seu tempo com o peixe miúdo. O ladrão só é apanhado até uma certa soma, daí para cima torna-se tudo muito complicado. Tudo é comerciável. A democracia perverte-se a si mesma, não tem respeito pela nação/cultura, pelo povo nem pela pessoa humana. Salve-se já não quem puder mas quem tiver hipótese de encosto às nomenclaturas que, cada vez, ameaçam mais apoderar-se do Estado e manter o povo refém. O Estado não cumpre as leis dando-lhe a volta com Despachos ministeriais. A constitucionalidade de leis e despachos deixa muitas vezes a desejar e peca pelo facto de na sociedade portuguesa não haver uma sociedade civil organizada que coíba a hegemonia partidária. Instituições representativas de interesses e pessoas individuais seguem a tradição do pobre que só protesta para lhe aumentarem o salário. Num país com consciência democrática forte a Administração Fiscal não poderia ser praticamente autónoma com poderes judiciais, o que iria contra uma Constituição democrática coerente. O Estado exige do “cliente” o que não cumpreele mesmo.

Os que abusam do poder não precisam de prestar contas a ninguém porque sabem que os parceiros que os poderiam denunciar também têm cadáveres escondidos na cave (neste caso o calar ou ignorar é mesmo ouro) ou arranjam um “irmão” salvador, podendo contar com um povo inocente sem poder nem organização para ter pensar próprio. Um civismo subdesenvolvido na disponibilidade de ser pau para toda a colher.

Em Portugal não se assiste a um debate nacional nem dos interesses nacionais. Este é substituído por debates partidários dirigidos à emoção. Um exemplo da nossa situação e paciência pode até ver-se no sensacionalismo e demora do nosso Telejornal ou na falta duma emissora nacional qualificada à altura duma Rádio Alemã. A Nação deixou de ser tema de interesse desde o 25 de Abril. Vive-se o dogma do politicamente correcto e do acomodar-se.

Muitos governantes, com a sua vaidade e prepotência, pretendem a politização e judiciarização total da vida popular. A sociedade prevista por Orwell encontra agora, com as novas tecnologias e políticas, uma especial implementação através da conexão de bancos de dados. Estes possibilitam a completa radiografia, um perfil abrangente do cidadão, que passa a ser reduzido a um dado, a um número disponível para interesses de terceiros. Os órgãos de estado, cada vez mais distantes do povo, cada vez mais nomenclatura, encontram os seus parceiros nos partidos, administração, bancos, polícia, fundações, finanças.

O estado Orwell vive das estatísticas e do controlo do número. Como neste estado o mote é “democracia” e o povo anda desgarrado, torna-se necessário um aparelho central forte, capaz de manter a diferenças institucionalizadas. Nos estados autoritários os dominadores ainda eram reservados nas palavras; no nosso regime os soares e seus acólitos, muitas vezes, não têm problemas em apoderar-se da televisão para esconderem os próprios males falando mal dos salazares e comparsas que, apesar de tudo, eram mais módicos no aproveitar-se do povo em benefício da sua bolsa pessoal. Naturalmente que o sistema actual é mais “limpo”, também porque legitima, já de princípio, a injustiça a praticar pelo eleito. Uma precariedade depende da outra. Falam com tanto desplante na TV que dá impressão de que partem do princípio de que o povo ouvinte é estúpido!...

Antigamente, os governantes ainda mostravam um certo respeito pelo povo, porque se sentiam parte dele, hoje, encostados ao capital e à U E, despromovem o povo e a nação com um arrojo de inconscientes a meter água na sua televisão. O povo analfabetizado com tanta informação, e porque não tem tempo para ler noutras cartilhas, suporta hoje com resignação, o que ontem aguentava sem pensar.

Um grupo de dançarinos da liberdade, novos-ricos à laia de cowboys, instalou-se no palco da democracia, parecendo descobrir sempre um resto de país disponível. Comportam-se como donos dum couto de que não conhecem os serviçais.

Ultimamente, o Presidente da ASAE em entrevista a “Sol” responde a uma pergunta referente ao controlo social crescente: ” se nós não quisermos viver nesta sociedade temos hipótese de emigrar”. O seu estado proletário só parece ter lugar para a sua nomenclatura e seus fiéis servidores. Numa democracia do faz de conta, os barões do seu Abril vivem sem rei nem roque nem o diabo que lhes toque porque sabem que o povo não entendeu o que verdadeiramente tem acontecido em nome da liberdade e da igualdade. Os dançarinos do poder querem uma sociedade acultural frágil, construída num civismo intoxicado que tudo legitime. Muitos dos seus obreiros actuam discretamente e de luvas sem se sujarem!

Boa noite Portugal!

António da Cunha Duarte Justo

domingo, 23 de março de 2008

BOAS FESTAS!

Feliz Páscoa!

Que a vida nos traga muitas experiências de ressurreição!

Um abraço justo

António Justo

terça-feira, 18 de março de 2008

Páscoa – Tempo da feminidade


Jesus é ungido (consagrado) por uma mulher em Betânia (Mc 14,4), numa acção profética.

As mulheres acompanham-no, até à última, na cruz. Elas são as primeiras a testemunhar o túmulo vazio e a ressurreição aos discípulos. Elas eram companheiras dos apóstolos no anúncio da Boa Nova e na direcção de comunidades cristãs.

A passagem da Carta aos Coríntios na qual se diz “calem-se as mulheres nas assembleias…” foi uma interpolação tardia introduzida na Carta de Paulo, com a intenção de reduzir o papel público da mulher. Esta passagem contradiria as afirmações e o papel de mulheres na comunidade, referidas pelo mesmo Paulo, noutros lugares.

Efectivamente, Paulo, apesar de estar inserido numa comunidade patriarcal e sujeito, também ele, a hábitos culturais específicos, constata “… nem a mulher se compreende sem o homem, nem o homem sem a mulher, aos olhos de Deus. Pois, assim como a mulher foi tirada do homem, assim também o homem existe por meio da mulher, e ambos vêm de Deus…”

Entre outras mulheres, Paulo faz menção de Foebe, Prisca, e Junias com cargos à frente da comunidade.

Se naquele tempo, tão adverso à mulher, já ela assumia cargos de direcção na comunidade, o que diria Paulo hoje ao escrever as suas cartas! Houve um retrocesso nalguns aspectos.

As religiões, em vez de assumirem a própria cruz, por vezes, preferem pregar outros na cruz, em nome de Jesus ou de Deus. Ao pregarmos pessoas na cruz em atenção a hábitos, tradições e convicções redutoras, reduzimos a realidade da morte e ressurreição de Jesus Cristo esquecendo que a morte de Jesus é a nossa vida e a nossa realidade. A mensagem da Boa Nova pascal é uma mensagem de liberdade, felicidade e amor. A nova comunidade cristã é chamada a prescindir de pregar o próximo na cruz de hábitos e regras contrárias à felicidade humana.

É Páscoa também para as mulheres. Seria desconhecer o seu ser e o ser cristão, teimar em reservar para elas o papel de servidoras ou ajudantes. Elas que testemunharam e anunciaram a Ressurreição de Jesus, não podem deixar limitar o seu papel, na igreja, à atitude de silêncio do Sábado da Semana Santa. A Ressurreição é universal e não apenas uma experiência individual mística.

António da Cunha Duarte Justo

sexta-feira, 14 de março de 2008

CIDADANIA PORTUGUESA NO ESTRANGEIRO


Anexo na secção comentário o texto do PSD “Cidadania Portuguesa no Estrangeiro”.

É de louvar tudo o que seja feito pelo emigrante e luso-descendente.

Pelo que tenho observado desde há trinta anos na Alemanha, as iniciativas tomadas em relação aos emigrantes reduzem-se apenas à defesa de interesses institucionais e burocráticos à custa dos mesmos. O emigrante não tem benefício nenhum. Na Alemanha até o senhor deputado se tem de se submeter a promover a esquerda e a encostar-se a algum nome até com má reputação na comunidade. Não há interesse na promoção do bem comum e do partido. Isto poder-se-ia tornar incoveniente para os interesses pessoais de paraquedistas do oportuno! Com excepção da deputada Mesquita e do deputado José Cesário não tem havido pessoas à altura da emigração. Eleitos, arranjam os seus circuitos habituais de contacto agradável; se não são da esquerda encostam-se a ela, como tenho vindo a observar desde há anos. Ou será que apenas estarão interessados em questões consulares ou de grupinhos!... A ser assim, o circito de acção reduzir-se-ia a instituição - instituição

Infelizmente, os partidos em Portugal, como não estão interessados numa política no seio dos migrantes, tambem não estão dentro dos problemas da emigração entregando, por isso, o caso a duas ou três pessoas que, sem rei nem roque, podem fazer o que quiserem. Para as instituições em Portugal tudo está bem feito porque, a nível de informação, dependem totalmente daqueles. O que parece importar são as tempestades num copo de água. O resto é para inglês ver!

António Justo

terça-feira, 11 de março de 2008

Música – Método de Cura Corporal e Espiritual

O ser da vida e do mundo é vibração é ressonância. Estas são comuns ao corpo e à alma de cada um dos nossos seres e ao existente. Na pauta de notas da vida trata-se de descobrir a nota de que se é eco para se poder entrar na solfejação geral e assim dar voz à sinfonia da vida universal. Uma vez entrados na onda trata-se de seguir o ritmo que nos conduz ao inefável, ao indelével. A música é, no seu verdadeiro sentido da palavra, bálsamo da alma. Ela conduz-nos ao limiar do espírito.

O ouvido é o primeiro sentido já em acção no ventre materno e o último a deixar-nos no fenecer. Através dele o mundo exterior chega ao mais profundo de nós mesmos.

A música cria grande ressonância nos vários areais cerebrais activando uns e desligando o centro do medo e activando o da lembrança.

A música não pode ser reduzida a caixote do lixo de sentimentos negativos e de frustrações nem tão-pouco a estímulo de sexo (Pop), nem a alienação de intelectuais (música clássica). Naturalmente que também tudo isto tem o seu sentido, não se esgotando aqui. Música é expressão do divino e meio de cura. Ela é a voz de Deus a vibrar quando nós entramos na ressonância do sentir, tornando-nos eco a agir.

Ao ouvirmos música sentimos coisas maravilhosas quer quando estamos sãos quer quando doentes e abertos ao milagre. A música, se não cura, melhora o nosso estado de saúde. Nos conventos, para entrarmos num estado de harmonia corporal e espiritual começa-se logo de manha por cantar o gregoriano. O canto chão, um poço monocórdico acompanha momentos importantes do dia.

A música consegue desatar, em nós, nós psico-fisiológicos e desenvolver forças curativas, como nos revela a harpa de David quando tocava para o seu rei depressivo. Muitos dos curandeiros da antiguidade e modernos utilizam os seus instrumentos musicais e o seu canto para curar. Também em muitas clínicas ou hospitais se usa a música como elemento sedativo e curativo.

Não só as vacas dão mais leite ao som de música clássica mas também as hormonas de stress diminuem no sangue dos pacientes e “surgem menos complicações depois das operações” como testemunham cirurgiões de clínicas em que se usa a música também como calmante. A música estimula o cérebro a predispor-nos para a mudança. A música encontra a sua ressonância no cérebro tornando-o flexível para o experimentável.

Daí a importância da promoção da música na escola e por todo o lado. Todo o educador, pai e mãe, se deveria preocupar por iniciar o educando, o mais cedo possível, na música. Esta aumenta a empatia e a inteligência.

Investigações feitas na clínica neuropsicológica da Universidade de Heidelberg na Alemanha chegaram à conclusão de que, com música, a massa cinzenta aumenta e as células nervosas adquirem maiores conexões, melhorando o intercâmbio entre os dois globos cerebrais. Além disso o sistema imune é estimulado e os acessos à memória e ao inconsciente são abertos pela música.

O mesmo se dá através da música litúrgica e da dança no que respeita ao ingresso na mística e no equilíbrio de corpo alma. O ritmo e a harmonia conduzem-nos à vibração e à ressonância com o todo. A música consegue desfazer os encrostações materiais conduzindo-nos ao limiar espiritual em que tudo é relação, amor, como se constata na fórmula trinitária. Na vibração forma-se a personalidade. A medicina chinesa opera muito com os campos energéticos e com o seu fluir. A terapia consiste em restabelecer a harmonia e o fluxo.

Toda a mãe canta instintivamente para a criança que sofre ou que se encontra em desequilíbrio. Segundo investigações feitas pela psicóloga Sandra Trehub, o canto provoca a diminuição das hormonas de stress por bastante mais tempo do que a fala.

A música abre as janelas do corpo e da alma: desbloqueia areais cerebrais e ajuda a recordação, aumentando em 30 % a capacidade de armazenagem do cérebro.

No mundo tudo vibra também as células cantam conseguindo a ciência distinguir já entre o cantar das células sãs e o barulho das cancerígenas. Oliver Sacks observou em todas as experiências que fez com pacientes Parkinson e pacientes com problemas de fala, que “a música actua como um precursor exterior”. Ela deixa no nosso cérebro como que pautas indeléveis que possibilitam o reatar de relações, orgânica ou psicologicamente, interrompidas.

A música ajuda a introspecção e auxilia-nos a chegar ao lugar do silêncio e da quietude em nós, ao lugar da criatividade, do amor divino. Daí surge a onda da gratidão, do milagre. Aí se ouve a voz que segreda no sossego e se repete nas ondas do oceano… Ela pode ajudar-nos a chegar ao nosso meio, ao meio do mundo, a Deus. Então, ouviremos em nós o vibrar do universo e a ressonância do diálogo trinitário baixinho do tudo em todos.

António Justo

Doença – Caminho para a Cura

Vivemos na ilusão da verdade e da fantasia, puxados entre a banalidade do factual e um mundo de ideias feito que nos tornam incapazes de ter acesso à Realidade. Esta encontra-se na fórmula trinitária onde tudo se resolve na relação mais profunda, da vivência do nós através do eu descoberto na relação com o tu.

Geralmente passamos a vida a afastar-nos de nós mesmos e de Deus, do mundo integral. Tropeçamos ou escorregamos em tudo, sem ter, sequer, procurado descobrir-lhe o sentido. Por isso tanta doença em excesso, tanta desarmonia. Procuramos fora o que está dentro, quando o dínamo, o amor, escondido ou roubado, que tudo cura está em nós. É a presença divina subjacente à essência, ao ser das coisas que é preciso activar em nós. Então curamos e seremos curados. Por vezes até uma doença pode vir por bem. Certo é que no mundo só se avança através da dor. Há muitos que fazem dela um negócio.

Tal como a dor também a doença constitui um momento no acontecer do ser, com as suas vantagens e desvantagens. O nosso corpo é como uma paisagem que depende e reage ao estado do tempo, da alma. Nas doenças encontram-se mensagens da alma por descobrir. Muitas vezes, já a tentativa de descobrir o que provocou uma dor de cabeça, é suficiente para a tirar.

A relação entre consciente e inconsciente quer-se aberta para que os fluxos fisiológicos e psicológicos não se automatizem, destruindo-nos com o tempo. As imagens que se encontram no fundo do mar da alma esperam por ser trazidas à tona manifestando-se, por vezes, como sintomas e deixando rastos dolorosos.

A nossa vida, tão determinada por correrias, não é tida em apreço, pelo que não nos concedemos tempo suficiente para prestarmos atenção às mensagens do nosso corpo e do nosso espírito. Damos demasiada atenção ao que nos rodeia, fixando-nos nisto ou naquilo esquecendo-nos de nós, do sentido, estando desatentos ao que os nossos sentimentos e o nosso corpo nos quer dizer com as suas reacções. Em vez de nos darmos tempo submetemo-nos ao stress doutras correrias para remediarmos um mal por nós ou por outros maquinalmente criado. Para subjugarmos os diabos em nós acordados recorremos, por vezes a outros diabos que nos iludem.

Em tempo de crise recorremos a tudo e a todos; a nossa abertura passa por vezes a não ter limites. Surgem então muitas pessoas a querer-se ajudar, ajudando-nos. O melhor ajudante é o mais desamparado, o mais fraco. Só conseguiremos ajudar a desatar os nós dos outros quando já conseguimos desfazer algumas das nossas laçadas. O ajudante procura criar um campo de ressonância e de harmonia procurando envolver e integrar o paciente na vibração que lhe possibilita entrar em relação. Esta pode ser preparada por uma pessoa, uma música, uma respiração ventral calma, uma oração, meditação, palavra ou rito. A ressonância consegue não só influenciar os areais cerebrais como interferir no vibrar das células, diria mesmo, nas partículas quânticas. Ela ajuda-nos ao acesso às nossas fontes, a penetrar nos vários estratos na tentativa de chegar ao coração, ao âmago do ser que é puro espírito. Aí no lugar do amor divino jaz a fonte da energia que passa a correr pelo corpo desfazendo os bloqueios emocionais, corporais e espirituais. Uma vez aí chegados, a fé transporta montanhas, como dizia Jesus. O amor vibrante provoca a ressonância que tudo muda e tudo transforma. Então o acorde da natureza provocará a cura – os sons em sintonia com o espírito divino único actuante. Impulsionadores simplificam o processo da re-ligação concentrando-nos de modo a acendermos a chama da transcendência no nosso meio.

Ver, perceber e acreditar para lá dos cinco sentidos, predispõe para a vivência na participação dos vasos comunicantes que somos nós, constituídos de matéria e espírito em diálogo recíproco. Daí a necessidade de nos mantermos abertos para os fenómenos que estão por detrás do mundo físico e às capacidades paranormais, sem preconceitos religiosos nem científicos, sejam eles materiais ou espirituais; abrir-nos para a dimensão espiritual do saber colectivo escondido, o espírito em nós e no mundo. A realidade tem várias dimensões de acesso, entre elas, a mundana e a espiritual. A via espiritual não poderá estar ligada a escravidões da pessoa nem tão-pouco do seu porta-moedas. “A fé transporta montanhas “. Ela move a força do Espírito Santo em nós.

Trata-se de através do Espírito activar as energias jacentes em nós mesmos, com naturalidade e sem presunção. Mover a força através da entrega nas imagens interiores e do pensamento possibilitando outras dimensões em nós. Fiat voluntas tua!

A massagem terapêutica, a massagem da respiração, do silêncio, da música têm um efeito terapêutico conduzindo à cura, ao sagrado, à fonte da luz, à ressonância do amor em nós e em tudo. O tratamento através da virtude curativa numa combinação de espírito, alma, corpo e energias naturais, tudo aliado à energia das ideias, abre a nossa consciência para o acesso de energias superiores. No mais íntimo do nosso sacrário “dormem” potências milagrosas à espera de serem acordadas pela brisa do amor. O estímulo para o acordar pode ser o mais variado, independentemente das crenças e dos médios.

António Justo

sexta-feira, 7 de março de 2008

Independência do Kosovo – Golpe contra a intercultura


Politeísmo cultural ao serviço do deus mais forte e mais convencido

O sonho de Tipo, duma Jugoslávia inter-cultural, morreu com ele em 1980. O desmoronamento da sociedade jugoslava testemunha a decadência da intercultura em favor duma multi-cultura hermética conquistada na afirmação contra o vizinho. Isto é a consequência duma certa fraqueza democrática em que colonialismo cultural é aceite em compensação dum colonialismo económico. Se no passado o movimento civilizador se dava pela aliança de razões económicas e culturais, depois do ruir do sistema socialista, assiste-se a um colonialismo dissociado: por um lado a força colonizadora do capital através duma expansão económica desalmada (o ocidente está-se marimbando para a sua cultura) e pelo outro a força colonizadora da cultura através do Islão. Se é verdade que a economia determina os valores éticos à superfície, não deixa de ser menos verdade que a religião e a cultura é que lhe dão sonho e perspectiva.

A queda do império soviético com os consequentes estilhaços culturais conduziu o bloco livre à ilusão da fuga na espiritualização do capital que, para melhor medrar, vive dum relativismo cultural extremamente doentio e problemático para o seu futuro. Se o comunismo não triunfa deve-o ao facto de desconhecer o ser religioso. O mesmo erro faz o sistema político-económico actual ao procurar substituir também ele a religião por uma ‘espiritualização’ do capital sem o homem.

A desorientação russa facilitou um agir apressado ao Ocidente em relação à antiga Jugoslávia. Actualmente encontramo-nos com o problema da independência do Kosovo, movida por interesses imediatos. No Kosovo, a antigo berço cultural da Sérvia, vence a etnia muçulmana, restando-lhe 100.000 sérvios com a desconfiança no coração desde que aquela etnia lhe incendiou igrejas e casas. À culpa daqueles junta-se a destes. Para complicar, à minoria sérvia no Kosovo correspondem minorias muçulmanas na Sérvia. Talvez a riqueza procriadora duma etnia sobre a outra venha um dia a resolver os problemas que criou!

A factura económica pagá-la-á a União Europeia por dezenas de anos senão por mais; a outra não se pode quantificar. O Kosovo vive desde há 9 anos do apoio internacional porque não tem economia viável. Tem uma população de dois milhões com um desemprego de mais de 40%. A falta de infra-estruturas, a corrupção e a dependência da Sérvia deixam prever a europaização dos seus problemas.

Atendendo às tenções étnicas, a presença militar internacional terá de se manter por mais de 15 anos. Se não se der uma liberalização do Islão aí praticado, certamente que, a longo prazo, o Kosovo se unirá à Albânia.

A União Europeia envia para lá 1.500 polícias e 300 juízes com a finalidade de instruírem os autóctones nas andanças de direito democrático. A independência continuará sob a tutela internacional e com a presença de 17.00 soldados da NATO. Dentro de 4 meses está previsto passar o Poder executivo da Administração da UNO para o governo do Kosovo. A Europa tem soldados por todo o lado, na “defesa dos seus interesses nacionais” em “missões de paz”. Se assim é, porque não destina Portugal os seus homens e o seu dinheiro ao apoio dos estados de língua portuguesa? “A minha pátria é a língua portuguesa e o seu povo é migrante.

Embora a proclamação da independência viole direito internacional, já a imprensa de países como Alemanha, Franca, Itália, Inglaterra estimulavam, desde há muito, o Kosovo a proclamar a sua independência. Ao contrário, a Espanha, Grécia, Roménia, Chipre, com problemas em casa, sujaram a imagem da EU dos grandes, não reconhecendo a independência. A Sérvia e a Rússia não a reconhecem nem aceitam o Kosovo em organizações internacionais.

A balcanização da Europa já encontra agora os seus pontos de apoio nos guetos muçulmanos instalados nos países europeus de imigração, tal como podíamos observar na Alemanha já no princípio dos anos 90, com a recolha de dinheiros nas mesquitas para apoio da revolta muçulmana.

Se observamos a História, as revoluções não passam dum render da guarda duma elite rotativa assente no substrato duma continuidade de oprimidos. Revoluções, até agora, à margem de melhoramentos superficiais, apenas confirmam o direito dos mais fortes na confirmação e transmissão do status quo duma tradição de transmitir um estado de injustiça para outro estado de injustiça mais ou menos oportuno. O Direito internacional e a lei moral é válida para os distraídos e para os fracos. A independência do Kosovo islamizado encontra-se na linha de serviço a interesses políticos do Poder europeu e americano mas não do povo. Há que aproveitar da fraqueza da Rússia sem contabilizar a hipoteca do futuro. Esquece-se que também os Orais falam da Europa.

Na altura duma Europa sem tino nem destino, as elites apenas se preocupam em estar sem ser. Faz-se política sem nós e contra nós, capitula-se em nome duma paz aparente. O futuro da cultura cada vez se encontra mais nas mãos dos “assassinos” que o determinarão!

Seguem-se as mudanças sem as reflectir sacrificando-se assim a cultura europeia antes de se a ter descoberto. O povo europeu, comprado com benesses e necessidades artificiais, deixa violar a sua alma ao som da melodia maviosa da multi-cultura apregoada para o povo mas reprovada na antiga Jugoslávia. A plebe não se dá conta do que acontece em nome da Europa. No mundo da superficialidade, a verdade dos fortes é sempre a verdade razoável e oportuna! A verdade, porém, como o povo, é processo aberto pressupondo, por isso, uma mundivisão integral e integrativa.

António Justo

quinta-feira, 6 de março de 2008

Cura – A força do gesto e da ideia


A arte de se recriar!

António Justo

Activar as energias de auto-cura através da estimulação da competência curativa em nós é uma tarefa cada vez mais premente, num processo criativo de encontro da essência da realidade em nós e no universo. A vertigem do nosso tempo leva-nos a viver em mundos paralelos ao próprio, a viver em segunda mão. Isto provoca mais stress, destroço, desfasamento e angústia no quotidiano da vida.

Truncados da vida e escravos da matéria resta-nos uma mudança de atitude na redescoberta do espírito, a caminho da fonte cristalina do ser, onde matéria e espírito se não contradizem, vivendo na reciprocidade. Cada um de nós traz em si um potencial inesgotável de divindade a activar.

Ciências naturais, ciências humanas, política e religião já empataram demasiado tempo centradas em si, na defesa do particular desintegrado do todo, à custa do ser humano, à custa do espírito que tudo suporta. A natureza não poderá ter querido condicionar o ser humano ao médico ou ao mero negócio com a cura.

Sob a perspectiva teológica da Trindade e sob a perspectiva da nova ciência física (teorias da relatividade e teoria quântica) a essência da vida é relação, transpondo-se assim a ideia de fronteira entre espírito e matéria (encarnação - espiritualização). Teologia e ciência positiva aproximam-se, tendo como o lugar de encontro e de partida o espírito. Assim seria óbvio o emprego conjunto dos resultados das duas disciplinas, sem complexos: uns e outros motivados apenas pelo serviço e desenvolvimento do ser humano e da natureza.

Pelos resultados das observações da medicina e da religião o sucesso da cura parece depender também do ritual. Este terá a missão de usar as funções do cérebro que não distingue entre ilusão e realidade. Trata-se portanto, através da força da imaginação, da ilusão e do espírito, produzir reacções cerebrais com o mesmo efeito de medicamentos ou de criar através do rito o momento propício ao kairós. Através da física sabe-se que a matéria é informação e através da teologia sabe-se que a matéria é informada pelo espírito que nela habita. A informação tem uma grande força eficaz como cada um de nós já pode ter observado na inter-relação psico-somática que acontece no nosso estado de saúde ou de doença. A mobilização das forças do intelecto e da alma deve ser objectivo de todo o médico e de todo o padre ou espiritual. A fórmula “a fé transporta montanhas” é pura realidade. Somos condicionados do espírito, da palavra. A palavra forma a nossa realidade. “No princípio já existia o Verbo (a palavra, a vibração), e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus…” (Jo.1,1). Ele fez-se homem e permaneceu entre nós.

Religião e Ciência de mãos dadas

A essência do ser e da existência concretiza-se na relação divina trinitária, é vibração e ressonância. O Espírito está em tudo e em todos. O ser humano está chamado a emergir no seu estrato espiritual para poder desenvolver-se e assim possibilitar um salto qualitativo no desenvolvimento da natureza. Para isso é essencial a abertura ao espírito e o treino da intuição.

A intuição e as forças da alma activam-se num estado entre acordado e sonho, um estado alfa ( estado de meditação ou oração) em que as ondas cerebrais atingem uma frequência entre 7 e 14 Hz (Hertz), um estar desperto, vigilante relaxado. Este estado paralelo ao estado de atenção racional, pode ajudar-nos a curar e a curarmo-nos. Através da respiração sentida, da oração, da música ou da meditação podemos desenvolver em nós um espaço, uma atmosfera criadora e geradora de energias que pode desbloquear e possibilitar, na harmonia e na ressonância do universo, um processo de cura e de harmonia não só a nível individual como social. Uma vez recolhidos neste santuário as nossas ideias tornam-se energias mais potentes ainda, do que o são normalmente. No ser só e no estar em tudo. A física quântica torna compreensível a capacidade e a potencialidade das ideias. Através do pensamento posso provocar muitas mudanças. Uma lei quântica afirma que tudo é vibração. A diferenciação estará no grau de frequência. Nas pessoas doentes a frequência é menor devido a bloqueios de energia. O mesmo se diga do corpo social e natural. Na experiência religiosa fala-se da abertura ao espírito, ao Espírito Santo, para que ele deslize em nós sem nós nem impedimentos.

O estado de ressonância seria o estado comum ao ser, como que o “sentimento” do espírito, o estado do corpo místico; falando numa linguagem cristã aquele estado corresponde à consciência de sermos não só Jesus mas também o Cristo, a unidade de matéria e espírito.

A intuição sempre levou as religiões e as pessoas sensíveis a usar a energia espiritual como meio de cura. O sacramento da unção dos enfermos, antes do racionalismo andava estreitamente aliado a uma certa magia que através da identificação com Cristo possibilitava como que a intercomunicação das duas naturezas na abertura ao fiat, às mutações proporcionasse a cura espiritual e corporal. O rito era a oportunidade corporal e espiritual na abertura ao acontecer mais profundo da realidade. A presença do ministrante, dos familiares, e o emprego de frases, gestos são o lugar próprio do sacramento onde se realiza a concatenação dos elementos. O rito da unção, imposição das mãos, palavras e gestos produzem, também eles, efeitos naturais, espirituais e sobrenaturais. A sabedoria popular conserva ainda esse saber, que por vezes discriminado, nem sempre é aplicado com a pureza e o respeito que é devido ao ser humano.

A caminho do espírito, as paróquias, clínicas e hospitais podiam tornar-se em centrais de apoio e acompanhantes de pessoas abertas ao espírito, numa tentativa de restituir a responsabilidade da cura e do corpo são em alma sã ao indivíduo e à comunidade. Importante é abrir-se para poder ouvir os queixumes do espírito através das manifestações da alma doente que deixa as suas marcas no corpo e assim possibilitar a comunicação consigo mesmo e entrar na relação com Cristo, com o todo em si. Para isso médicos, padres e espirituais terão de reportar-se aos novos resultados da física e à mística da trindade, passando a considerar o outro sujeito e não como objecto de serviços. O valor da administração terá de recuar em favor do indivíduo numa abertura absoluta para lá das incrustações dogmáticas ou científicas. No centro da religião e da medicina está o espírito, a pessoa e não a instituição ou o hábito rotineiro degradante.

Pressupõe-se para isso a vontade de aprender a usar a força da visão na procura duma outra realidade. Ciência e religião, contra a sua missão, petrificaram o ser amarrando assim o ser humano às suas necessidades primárias, à ilusão. Já Platão (séc. V-IV a.C.), que não conhecia o cristianismo, nem o mistério da trindade, afirmava que a percepção não produz saber mas opiniões enganadoras. O saber verdadeiro é adquirido com a ajuda de conceitos que ajudam ao acesso às ideias eternas. Os conceitos provêem da lembrança das ideias que a alma observou antes de ser encarcerada no corpo.

Assim, se filosofar é ultrapassar a percepção dos sentidos, também entrar no processo de cura pressupõe mergulhar no grande mar do espírito de que a doença, o mal é a ausência. O processo da cura pressupõe um recriar relações. Analogicamente ao que aconteceu com a realidade fez-se o mesmo das ideias tornando-as o invólucro estático.

Urge dar vida às ideias através de imagens dinâmicas que as torne criativas, integradas. A ideia viva possibilita a iniciacao ou continuação de processos no caminho da descoberta e do encontro de nós mesmos. Porque não sabemos, ou melhor, não temos a consciência do que somos, tornamo-nos, muitas vezes, terreno maninho, terreno dos outros, alheados de nós. Por vezes temos a sorte de sermos acordados, por algum anjo a caminho, para a saudade da ideia original. Aquela saudade nostálgica é espiritualidade (matéria espiritualizada e espírito materializado, sem preconceitos materiais ou espirituais, em diálogo libertador): fé, esperança e caridade no mesmo acto. A fonte da saúde (“Deus em nós) encontra-se mais perto de nós que nós mesmos, como dizia Agostinho.

António da Cunha Duarte Justo