sábado, 9 de agosto de 2008

PORTUGAL ADIADO

Cães Livres com Coleira

Estará o País preparado para a Democracia?

A Democracia é uma meta, o resultado dum desenvolvimento, um processo e não um meio. Também o povo não é um meio mas o fim.

Uma política que se permite escolher do sistema democrático só o que lhe agrada, embora legitimada pelo Povo, não é democrática. Os políticos, porém têm razão em servir-se do povo porque este os quer. A fé pôde e pode muito! O socialismo chamava-lhe ópio, hoje será partido, será governo!

A Democracia pressupõe uma consciência adulta, uma relação equilibrada entre Estado e Povo, entre dirigentes e dirigidos e das classes sociais entre si.

A doença individualista lusitana é crónica! Não tem lugar para o outro. O Povo não conhece o Estado nem este conhece o Povo. Todos se servem ou procuram servir-se. Um Nação de necessitados e comprometidos onde todos andam armados em carapaus de corrida. Só vale a opinião, a revolução parece ter prescindido da lógica e dos factos

O individualismo é de tal modo míope que só chega a atingir o alcance dos próprios passos, ou, quando muito, os da “família”. Não existe a colectividade! Dado toda a nação sofrer do mesmo mal, tem-se grande compreensão pelos oportunos governantes. Também estes são filhos envergonhados duma mãe povo, a quem consideram prostituta. Cada uma se safa como pode. Quem se safa com o colchão ao lado da estrada, ou com o colchão do Estado tem um destino comum e comunga do mesmo espírito: a oportunidade!

De facto, há eleições mas não há diferença na governação. Os eleitos procuram aproveitar o tempo do seu estado de graça para se servirem e ajudarem alguns amigos, também eles à cuca duma oportunidade. Trabalho sério, bem preparado e programado não é moderno e destoa na música do progresso. O óbvio é o fácil e leve, o rentável imediato.

A administração continua a empatar a Nação e a fazer perder tempo a quem quer trabalhar ou quem deseja cumprir as leis. Anacrónica mas convencida sente-se omnisciente; para sobreviver basta-lhe saber “o chefe disse” e… pronto!

A grande pobreza do País está na deficiência cultural, de que uns poucos vivem bem; o grande contra democrático é a carência do Estado-Direito.

Despachos e decretos criam subsídios de milhões. Porém, quando o inocente cidadão concorre ao subsídio já não há verba. Depois sabe-se, ela foi aplicada na totalidade no apoio dum beneficiado do ministério. Os moinhos da burocracia, geralmente morosos, então funcionam rapidamente, mas não a bem da nação e menos ainda a bem do povo. Há despachos a mais para despachar e legalizar ilegalidades ou compadrios…

Todos se queixam. Queixam-se os políticos dum povo estúpido e indiferente; queixam-se os ministros e secretários de Estado de publicarem Decretos a sua administração arcaica não os cumprir. Viram-se então para as novas tecnologias mas estas são feitas para um povo ainda a criar. Refugiam-se no fomento dum mundo virtual que prima pelo modernismo e pela satisfação das estatísticas altas no uso de aparelhos mais sofisticados. Ninguém se preocupa que a gente não compreenda as indicações técnicas nem a letra miúda. O governo decreta progresso e toca a flauta do modernismo; a massa embora desafinada e fora de ritmo canta e dança. Progresso é movimento e movimento é progresso, o resto é conversa! Viva a democracia e os seus tocadores! Aproveitemo-nos da festa da democracia enquanto ela dura; depois Deus dará! Resta a consolação. Casa em que falta o pão todos se queixam e ninguém tem razão, dizem os acomodados no canto com o seu naco de pão!

Um País Adiado

O País encontra-se em situação de adiado. Se vais ao Hospital e tens lá alguém conhecido és atendido; doutro modo vais para a bicha sem fim.

Se tens um conhecido na Câmara Municipal é resolvido o teu problema ou és lá metido. A instituição ainda não conhece o cidadão. Conhece apenas compadres, amigos e filiados no partido.

Vai-se à Caixa Geral de Aposentações e, mesmo antes de se expor o problema, logo a senhora no guiché 8 te fala de impossibilidades como se te conhecessem e tivessem a lei e o governo na barriga.

Portugal tem leis avançadas e até livros de reclamações. Esqueceu-se porém de criar estruturas sociais e cívicas que possibilitem ao povo a capacidade de os usar. Portugal é Lisboa, para inglês ver, o resto, verbo-de-encher!

Faz-se um requerimento ao secretário de Estado pedindo fundamentação jurídica pelo não cumprimento duma lei por parte da Tutela e logo se recebe resposta cabal: “o senhor secretário indeferiu através de despacho” e pronto!... Assim se despacham a lei e as pessoas neste país virtual!

Vais ao hospital, se tens lá alguém conhecido és servido, doutro modo vais para a bicha sem fim.

Neste país de telenovelas e de futebol, também na vida particular ninguém está disposto a ouvir o outro. Se se ouve um pouco é para o interromper e logo o abafar.

Será que o mundo está na mão de oportunistas. Isto está mesmo mal; antigamente ainda se podia dizer “valha-nos Deus”; hoje só o Diabo parece ter crédito.

Entre os ricoe e pobres que temos e somos, somos pobres com pobres à frente das freguesias, das Câmaras, dos Parlamentos e dos Governos.

Pobreza cria pobreza! Para que serve a riqueza no criticar? Os cínicos já servidos e que bem entendem dirão: para ajudar a enganar!

Valerá ainda a pena mexer as ideias e as pessoas?

Do pouco que ouvi ao PM Sócrates, nas férias que acabo de passar em Portugal, fiquei com a impressão de que ele é o ópio do povo. Neste país o dom da palavra é tudo. O sonho e a ilusão ainda acalmam. Há que mentir mas com convicção. Se se mentir com voz firme e grossa o povo aceita. Ai da verdade que tenha voz fraca e não decidida! O povo não a entende!

Da Oposição também não há nada a esperar. Sofre dos males dos da governação e pode dar-se ao luxo de impedir-se a si mesma. Assim se cria lugar para oportunistas grandes e pequenos da pobre situação (Nação).

Que nos resta?

A Virgem Maria e o futebol?... Talvez a coleira e mais nada?

António da Cunha Duarte Justo

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