sexta-feira, 30 de abril de 2010

BÉLGICA PROIBE O USO DA BURCA ISLÂMICA

Da Multicultura para a Intercultura
António Justo
O Parlamento belga decidiu ontem (29.04.2009) por unanimidade a proibição do uso da Burca em público às mulheres islâmicas. As infractoras passarão a pagar uma multa de 25 Euros ou a sujeitar-se a prisão de 7 dias. Para a Lei entrar em vigor necessita ainda da aprovação do Senado.

A sociedade vê no uso da Burca e do Lenço um sinal político reaccionário e uma expressão de repressão da mulher e dum poder machista cimentado pela religião.

Mulher prisioneira na “gaiola da virgindade” e na “gaiola do Islão”


Embora o Estado esteja obrigado à neutralidade tem que respeitar o ambiente cultural da sociedade maioritária. Não aceita que a religião determine regras humilhantes para o indivíduo ou que castigue os seus membros por infracção às suas regras. Não tolera que um grupo minoritário abuse da tolerância da sociedade maioritária para fomentar medidas intolerantes. Muitos vêem a mulher prisioneira na “gaiola da virgindade” e na “gaiola do Islão”! Muitas jovens menores querem casar para assim evitarem a lei da virgindade.

A sociedade de acolhimento observa que as pessoas chegam a um país onde há liberdades que logo são combatidas pelas organizações maometanas que dão cobertura ou fazem vista grossa a assassinatos honrosos, casamentos forçados, etc. De facto, em Berlim, onde se encontra uma forte colónia turca, só em 2007 foram registados 378 casos de casamentos forçados, segundo informação da “Casa das Mulheres” de Berlim; em 2005 tinham sido registados 330 casos. O aumento dos registos é explicado com o aumento de coragem e da consciência individual das afectadas.

Acusam as associações turcas e islâmicas de só se empenharem na defesa e imposição dos seus direitos religiosos contra os direitos individuais sem se interessarem pela criação de instituições de apoio aos membros necessitados, por exemplo, criação de casas de refúgio para mulheres ameaçadas (Casas das mulheres)…

O argumento de que há extremistas em todas as religiões não deve preparar o caminho ao islamismo militante que, sistematicamente, impede a integração dos seus membros nas sociedades em que se encontra. Facto é que, ao contrário do Islão, os crentes de outras religiões não põem em risco a vida quando não seguem as regras da sua religião. Partem do princípio que os turcos /muçulmanos desprezam as leis das culturas onde se encontram, ao contrário dos outros imigrantes.

As nações em que se encontram grandes comunidades islâmicas são confrontadas com a confissionalizacão do público em geral. Este fenómeno, porém, observa-se também no militarismo ateu contra a sociedade religiosa e em especial contra o Catolicismo. Não seria legítimo culpar monocausalmente os muçulmanos de provocarem militantismos religiosos e seculares nas sociedades para onde emigram.

Esta reacção da Bélgica, uma nação que foi exemplar nas oportunidades que deu aos estrangeiros, torna-se compreensível dado o comunidades turcas e as mesquitas só porem exigências aos estados onde se encontram, não se integrando como fazem as outras etnias. Assim assiste-se a uma importação contínua de noivas da Turquia, a exigências de nas escolas haver uma sala de oração para muçulmanos, casamento por coacção, casamentos religiosos com menores a troco de dinheiro (14 anos), etc. Imagine-se que em nações muçulmanas como a Turquia, onde cristãos são discriminados no exercício do culto e da religião, um cristão levantasse a exigência de querer na escola pública um lugar para poder rezar! Facto é que na Alemanha, pelo menos numa escola pública, os muçulmanos conseguiram um lugar de oração para eles; imagine-se que todas as outras religiões se lembrassem de colocar a mesma exigência. Tudo isto é possível devido ao desplante de uns e à falta de critério dos outros.

O assunto do interculturalismo é muito complexo atendendo aos diferentes modelos morais e às matrizes específicas de identificação cultural. O Islão, certamente conseguiria mais aceitação na Europa, se deixasse de perseguir e descriminar os cristãos nos seus países.

Facto é que, os imigrantes muçulmanos se encontram num paradoxo de sociedades com exigências contraditórias: dum lado, a sociedade islâmica que corresponde a um colectivo patriarcal religioso e do outro a sociedade maioritária que corresponde a um colectivo secularista também ele militante: Dois credos irreconciliáveis! Dum lado uma religião autoritária e hegemónica e do outro um estado laicista prosélito: um e outro de carácter ideológico; duas fés contraditórias que não se suportam uma à outra.

No aspecto da capacidade de integração, certamente que o povo português é o mais exemplar de todos, em todas as sociedades onde se encontra! É chinês com os chineses, americano com os americanos, brasileiro com os brasileiros. Certamente por isso o Luxemburgo fomentou uma política de imigração que privilegia os portugueses no acesso ao Luxemburgo.

Todos temos a aprender uns dos outros. por isso não podemos fechar-nos nas gaiolas culturais como se o mundo não existisse sendo formado dos mais diferentes biótopos em complementaridade e simbiose. Daí a necessidade do passo da multicultura para a intercultura. A identidade duma pessoa desenvolvida consta de muitas identidades subjacentes.

António da Cunha Duarte Justo

terça-feira, 27 de abril de 2010

GRÉCIA SINALIZA O INÍCIO DA FALÊNCIA DE ESTADOS


Plano de Salvação significaria nova Subvenção aos Bancos


António Justo
O Plano de Salvação para a Grécia prevê um crédito de 30 mil milhões de Euros da União Europeia (EU) e de 15 mil milhões do FMI (IMF). A Grécia tem de pagar, pelo empréstimo, uma taxa de 5% de juros à EU e de 3% ao FMI. Este empréstimo dá a possibilidade à Grécia de pagar, durante algum tempo, os juros aos bancos credores.

Mais precisamente, a Grécia vai precisar da EU e do FMI, até 2012, um crédito de 120 mil milhões de Euros. A União Europeia e os seus governos escondem aos cidadãos os sacrifícios que o Plano de Salvação acarreta consigo.

Os gregos viveram para lá das suas possibilidades com o dinheiro dos outros e usaram dinheiros da EU em pseudo investimentos. Atenas nunca mais poderá reembolsar os seus credores das dívidas que fez. Outros países também já se encontram a caminho disso. Os especuladores internacionais acelerarão o processo para mais se aproveitarem dos políticos.

No final de 2009 a Grécia devia 177 mil milhões de Euros a Bancos estrangeiros. Segundo a imprensa alemã, a dívida total grega é actualmente de 300 mil milhões de Euros. A Grécia já não consegue pagar os juros dos empréstimos. Para receber dinheiro emprestado, tem de pagar, no mercado livre, juros de 10 a 15%.

A Grécia apenas revela antecipadamente a fraude e a cumplicidade em que vivem Bancos e Estados. Ela só exagerou no modus faciendi em relação às nações “sérias”. O seu estado de asfixia, devido aos juros que tem de pagar e à falta de confiança dos seus credores, atingiu o limite. Os credores compram acções gregas porque sabem que os países europeus irão em socorro da amiga Grécia. Quem ganha com tudo isto são os especuladores porque a política já não tem mão neles.

Políticos da União Europeia atraiçoam os seus Cidadãos


A decisão de concessão de empréstimo a Atenas, feita pelos ministros da finanças da EU, viola a clausula de não auxílio na União Monetária. Consequentemente deveriam ser levantadas acções jurídicas nos países da EU contra tal propósito. Na Alemanha, o Prof. Dr. Wilhelm Hankel anunciou levantar queixa constitucional caso os Estados do Euro ou o Banco Central Europeu apoiem a Grécia financeiramente. A influência política talvez consiga iludir a Justiça.

Na realidade este plano de salvação não passa de mais uma tentativa de impedir uma crise dos Bancos que tinham comprado acções ao estado grego. Um atrevimento!...

No caso de falência do Estado grego quem perderia seriam os Bancos. Além disso causaria uma desvalorização do Euro em relação ao Dólar e outras moedas, que por sua vez iria beneficiar os estados exportadores para fora da EU. A desvalorização do Euro alegra os exportadores europeus porque podem vender nos mercados estrangeiros com preços favoráveis. Este foi um truque usado pelos chineses; mantiveram a sua moeda subvalorizada artificialmente para poderem excluir a concorrência com preços baixos e cativar os compradores. Também os Estados Unidos da Anérica queriam desvalorizar o Dólar relativamente a outras moedas para fomentarem a exportação. Todos os Estados gostam de desvalorizar a sua moeda mas não o podem fazer ao mesmo tempo porque a desvalorização duma moeda implica a valorização da outra. A única moeda contra a qual todos podem desvalorizar ao mesmo tempo é o ouro e a prata (metais nobres).


Entretanto a Grécia desespera à espera do apoio financeiro. Portugal, que luta com imensas dificuldades financeiras, irá disponibilizar 770 milhões de euros em 2010 para a Grécia. Se Portugal conseguisse empréstimos no mercado internacional inferiores a 5% não faria mau negócio. Porém, a AgênciaStandard & Poor’s desceu a credibilidade de Portugal para o nível A –. No futuro Portugal terá de pagar mais de 5%, pelo endividamento que faz para socorrer a Grécia. Este é um negócio negativo para Portugal e estimulador dos milhafres internacionais em relação a Portugal! Para os Alemães o empréstimo seria positivo, dado eles pagarem menos de 3% pelo dinheiro que pedem emprestado. Portugal para fazer o empréstimo terá aumenta as contribuições e os impostos e arranjará meios de o ir buscar, levantando dinheiros com portagens em estradas construídas com os impostos dos cidadãos, favorecendo a especulação e a exploração de serviços subornadores, etc.

A Alemanha concederá um crédito de 8.300 milhões de euros à Grécia em 2010. Porém no caso de falência do Estado Grego os bancos alemães entrariam em crise atendendo ao capital que investiram no Estado Grego.

Apesar disso a Chanceler alemã não se tem mostrado disposta a ceder porque sabe que quem pagará a fava será, de novo, o povo contribuinte e tem medo das consequências das eleições num dos seus Estado federados, que se vão realizar em Maio. O povo é contra o empréstimo à Grécia.

Os Bancos produzem dinheiro em papel (dinheiro virtual) sem valor real que o suporte. “A maior parte do “Dinheiro” é produzido electronicamente (Girageld)” como revela o cientista de informática Elias da Silva. Todo o sistema bancário de hoje, só se baseia na confiança. Confiança de que o comerciante da esquina ao lado troque a sua nota, sem valor real, em mercadoria.

Uma firma que se comportasse como se comportam os Estados, na administração da coisa pública e nas dívidas, já há muito teria entrado em descrédito e dado falência.

Quem paga a conta é o povo e as gerações vindouras. Alguns, mas muito poucos, que se deram conta da verdadeira dimensão da crise compram ouro e prata, guardando-os bem guardados. Sabem que a maior parte do dinheiro só são números em notas, ou em transacções virtuais, sem valor real.

Os Bancos compraram grande quantidade de acções ao estado grego. Sempre que depositamos dinheiro num banco tornámo-nos credores dele e o Banco pode fazer com o dinheiro o que quiser. No momento em que se deposita o dinheiro no banco tornamo-nos credores desse banco. O dinheiro pertence ao banco e ele compromete-se a restituí-lo, caso possa.

Enquanto a Grécia pertencer à EU não pode declarar bancarrota; isto seria uma catástrofe para o Euro.

Se o mundo financeiro fosse um mundo real e sério e os políticos que dirigem os Estados se se interessassem realmente pelo bem do Povo, teriam de deixar a Grécia ir à bancarrota. A EU teria de expulsar a Grécia da União Euro. Para começar de novo teria de roer a soga e não pagar a as dívidas a ninguém. A Grécia teria de reintroduzir a moeda nacional Dracma e recusar-se a pagar não só os juros aos seus credores como o capital emprestado. Especialistas internacionais dizem que a Grécia teria de reduzir os salários da população em 22 – 30%.

A falência da Grécia provocará um aumento drástico dos juros que Portugal terá de pagar aos Bancos internacionais. Os Bancos especularam com a Grécia para ganharem à sua custa. As aves de rapina já rondam sobre Portugal, Irlanda e Espanha, tendo estes países de pagar já maior taxa de juros no mercado bancário internacional. Já se preparam para tornar Portugal a próxima vítima

O sistema bancário é um sistema corrupto e os Estados tornam-se corruptos ao apoiarem-no tão disfarçadamente. Os Governos apoiam o sistema corrupto e são parte da corrupção. Delegaram o poder monetário nos bancos privados para depois lhes pedirem dinheiro. Um sistema que só poderá ter um mau fim.

António da Cunha Duarte Justo
Alemanha, 27 de Abril de 2010
http://antonio-justo.eu/

segunda-feira, 26 de abril de 2010

EU QUER LIMITAR AS HORAS EXTRAORDINÁRIAS DE SERVIÇO

RESTITUIR A DIGNIDADE AO TRABALHADOR
António Justo
A União Europeia quer reduzir as horas extraordinárias de serviço, bem como o trabalho ao Domingo.

A Comissão da EU chegou à conclusão de que pessoas que trabalham demasiadas horas prejudicam a sua saúde. Segundo o Comissário Europeu do Trabalho, 10% dos trabalhadores trabalham mais de 48 horas por semana. Isto observa-se especialmente no “sector da saúde, bombeiros e polícia”. O Comissário também quer que os 27 países membros tenham, como regra, um dia livre por semana; este deve corresponder à tradição cultural do país. As Igrejas e os Sindicatos exigem o Domingo como dia, na regra, sem trabalho.

Os lobistas, interessadas apenas no comércio e na comercialização da vida e do Homem, tinham impedido uma proposta de directiva semelhante em 2009.
Entretanto prepara-se um novo projecto de lei a aprovar nos finais de 2010. As consultas devem ser concluídas no fim do Verão.

VICTÓRIA CONTRA A COMERCIALIZAÇÃO DOS DOMINGOS NA ALEMANHA


As Igrejas Católica e Evangélica na Alemanha, para defesa do descanso dominical, meteram em tribunal o Estado de Mecklenburg-Vorpommer. Este tinha permitido a abertura das casas de negócio em 45 Domingos do ano e em 110 localidades. Com esta medoda o Estado queria fomentar o turismo da região. O Tribunal Superior Administrativo em Greitswald decidiu as favor das Igrejas. Na decisão o Tribunal argumenta que a abertura de comércios ao Domingo só pode ser uma excepção. Os sindicatos tinham-se mostrado solidários com a acção das Igrejas.

A tradição religiosa bíblica reservou sempre um dia da semana livre de trabalho para os animais e para as pessoas. Ao sábado / Domingo não trabalharás! O dia santo corresponde, na prática, à dimensão divina do Homem que não se deve perder no dia a dia.. O ser humano tem uma dimensão sagrada e uma dimensão profana, religiosa e secular, que devem ser mantidas em equilíbrio no sentido da saúde corporal e mental, tal como a sabedoria religiosa concretiza na frase: Alma sã em corpo são, os dois formam uma unidade inseparável

Na Idade Média surgem dias festivos por toda a parte, assistiu-se a um aumento incontrolável. Então, o Papa Urbano VIII reserva-se o direito de estabelecer festas (Cf. Prof. P. Dr. Joaquim Teixeira in “Festa e Identidade”.

De facto, no século XV, chegou-se ao exagero de, em cada três dias, um ser dia festivo. A autoridade queria mais racionalidade na organização da vida humana. No século XVI, os protestantes fizeram uma grande monda nos dias festivos ao abolirem as festas dos santos. A economia ganha com esta medida! O utilitarismo racionalista iluminista, de carácter anti-popular, encarregou-se da abolição de outros dias santos. Em Portugal, depois de se implantar a República, os republicanos queriam que em alguns Domingos se trabalhasse para o Estado. Dum extremo passou-se ao outro. Hoje o capital apoderou-se do Homem transformando-o em mero factor de trabalho.

A sociedade profana interessada pelo carácter utilitário do Homem e pelo lucro. Está interessada na profanação total do Homem. Querem o Cidadão à sua disposição e fazer dele um ser civil meramente servil. Actualmente, a renúncia aos dias festivos corresponde a uma desumanização do Homem e da sociedade. O cidadão não pode abdicar do seu carácter divino.

António da Cunha Duarte Justo
http://antonio-justo.eu/

quinta-feira, 22 de abril de 2010

REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL: UMA HISTÓRIA MAL CONTADA


O Povo Português não gera Revoluções
António Justo
As revoluções portuguesas são comoa ponte de Lisboa. Antes do golpe de estado chamava-se “Ponte Salazar” depois passou a chamar-se“Ponte 25 de Abril”. Apenas mudam a fachada e a lata. O povo, tal como o rio Tejo, cansado de inúmeras voltas e de tantos despejos, sempre pacífico e adaptado, tem permanecido igual a si mesmo, ao longo da História: vagaroso mas internacional(1).

De época para época, alguns insatisfeitos do sistema, os filhos dos senhores do regime, provocam um golpe de estado, apoderam-se dele e mudam-lhe o nome. Povo e golpistas conhecem-se de ginjeira: aquilo a que dão o nome de revoluções, pouco mais se trata do que da troca de nomes, dum acerto de contas e de acomodação à história dos vizinhos; o mérito do acontecimento está em dar ocasião à necessidade do povo festejar e aplaudir ou, quando muito, resolver alguns deveres de casa esquecidos. Os actores sabem que a injustiça não é boa mas a justiça seria incómoda. Optam então pela vida dos dos “brandos costumes” sem a preocupação de fazer justiça.

Arranjam um nome monstro para justificarem as suas acções e branquearem as suas intenções. No caso do 25 de Abril, um grupo de cretinos (2) aplicou ao regime autoritário de Salazar o nome explosivo de fascismo, metendo-o (internacionalizando-o) assim no mesmo rol de Franco, Mussolini, Hitler e Pinochet. Então, a nação inteira passou a dar-se conta do monstro e resolveu dar caça ao fantasma. Este vai recebendo cada vez mais atributos até que passa de lobo a Minotauro. A partir deste momento o povo perde a ideia passando a viver do medo do labirinto. Entretanto vão surgindo alguns lobitos e o povo vai distraindo o medo no “Jogo ao Lobo”!

O país da Europa com as maiores desigualdades sociais entretém-se em argumentações opiniosas deixando as coisas importantes para os nomes engordados em nome das classes desfavorecidas. Já habituado à humilhação e à atitude governativa arrogante e distante, o povo servil, filho da “revolução da liberdade” até aceita a censura em nome da democracia. O estado português já há séculos não tem povo, chega-lhe a população. A população já há séculos que abdicou de o pretender ser, contentando-se em viver na sombra da Face Oculta do Estado. Deixou o palco da nação aos dançarinos do poder!

O 25 de Abril passou – A Revolução está por fazer
Golpistas abusam do Nome Revolução
Com o golpe de estado de Abril, o regime autoritário é acabado no meio da guerra colonial. O povo português, o que quer é esquecer a guerra e os políticos o que querem é a confusão para se poderem organizar e não terem de assumir responsabilidade pela traição dos interesses da nação, dos retornados e do povo nativo. Segundo o reconhecido historiador José Saraiva, o abandono das províncias ultramarinas constituiu “a página mais negra da História de Portugal”. Disto não se fala; reduz-se a história a folclore e a governação ao jogo do rato e do gato…

O 25 de Abril assenta em pés de barro. Fez um golpe de Estado e deu-lhe o nome de revolução. Os seus actores não pensavam em revolução. Foram surpreendidos pelos acontecimentos que eles próprios provocaram e alguns, entre eles, (especialmente Otelo S. de Carvalho) serviram-se do comunismo/socialismo para legitimarem e darem uma projecção histórica ao movimento dos oficiais descontentes. O 25 de Abril foi um golpe de Estado que surgiu de motivos pessoais e antipatrióticos de alguns, mas nunca uma revolução. O novo regime começou mal e com actos inglórios tal como acontecera na implantação da república. Mas disto não deve rezar a História, o povo precisa de festa e os governantes de distarcção. Não importa viver, interessa é ir-se vivendo!

O programa MFA (Movimento das Forças Armadas) pretendia Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Os primeiros dois anos foram uma confusão maluca. Tudo era facho e qualquer jovem adolescente se armava em guarda de comícios, por vezes até de metralhadora na mão. Recordo que quem tinha um emprego bom, ou uma casa digna, logo era apelidado de “facho”, pelo povo gozador, num misto de atmosfera de inveja e admiração. Depois com a nova constituição tudo ficou camarada e irmão: camarada de facho na mão!

Os partidos, sem mérito, passam a viver do prazer de terem organizado as suas fileiras. Desfavorecem a politização do povo para fomentarem o partidarismo e um discurso público dirigido à conservação do poder.

Entretanto, o povo sente-se humilhado e deprimido; o seu sentimento de identidade definha, sendo compensado apenas no sentimento duma grandeza promissora dos irmãos da lusofonia e da madrasta União Europeia. O sentimento de identidade nacional baseado no cristianismo, na cultura nacional e na ideia das grandezas dos descobrimentos não agradam às novas elites internacionalistas. A má experiência do povo com a própria elite, sem sentimento de nação nem de povo, leva-o a sentir-se apenas como inquilino anónimo de alguns senhores da praça pública, dos canonizados da democracia. Sente-se filho de pai incógnito!

Portugal continua preso numa mentalidade de arrendatário de ideologias e senhorios mercenários que o povo tem de acatar para ir vivendo! Portugal, apesar de golpes de estado e de pseudo-revoluções, continua a sofrer na pele a experiência de outrora: a experiência dos ingleses senhores das quintas do vinho do porto que viviam na Inglaterra e tinham em Portugal os seus feitores portugueses a cuidar dos seus interesses. O Estado português tornou-se numa feitoria de alguns mercenários. Daqui vem a sabedoria portuguesa que, muitas vezes, diz: “ isto é para inglês ver”.

As nossas elites intelectuais não são em nada inferiores às europeias. O problema está no seu individualismo e na sua falta de consciência de povo, e de espírito colectivo! As elites políticas vivem do nome, interessando-se, a nível de país, apenas por terem Lisboa, como sala de visitas de Portugal onde elas podem receber vaidosamente os amigos. Colaboram com um internacionalismo interessado em destruir as nações para depois poderem surgir como salvadores e implantar um governo mundial de burocratas e tecnocratas contra os biótopos nacionais.

O povo, antigamente, sofria sob a bandeira do trono e do altar; hoje sofre sob a lama das massas a toque de caixa partidária que segue o ritmo das multinacionais.

A grande diferença: Hoje o povo não se pode queixar, porque os seus opressores vêm do seu meio e parte deles são eleitos democraticamente.


Já Ovídeo escrevia nas Metamorfoses: “O destino conduz os de boa vontade e arrasta os de má vontade”. Com a celebração do 35° aniversário do golpe, já seria tempo de Portugal ir à cata dos de boa vontade!...

O aniversário do golpe de estado poderá deixar de ser um pretexto para se tornar numa oportunidade. Urge descobrir a nação e ter a vontade de se assumir como povo. O grande povo e a nação valente que “deu novos mundos ao mundo” tem-se manifestado incapaz de se descobrir a si.

Um Estado é como uma planta. Se adoece, os parasitas cobrem-na facilmente. O país tem-se modernizado; não tem inimigos nem ódios mas encontra-se apático e doente. Depois do golpe de Estado, o fanatismo republicano e o oportunismo continua a tradição da “apagada e vil tristeza” dum conservadorismo míope e dum progressismo cego! Os cães de guarda do Estado contentam-se em morder e em ladrar alto e o rebanho atemorizado lá se vai movendo no respeito à própria lã que vê nos dentes deles!

Acabe-se com o louvor do golpe e dos golpistas. Não notaram ainda que a revolução se encontra, desde há séculos, por fazer! Para nos levarmos a sério teremos de descobrir primeiro o povo e a nação. Então seremos capazes de enfrentar as desgraças históricas, sejam elas progressistas ou conservadoras. Há que aceitá-las, para nos podermos mudar e assim mudar o rumo português para o bem-estar de todos, nacionais e estrangeiros. Para isso precisam-se mulheres e homens adultos! “O povo unido jamais será vencido”, cantam as sereias, na certeza de que ele se embala na música e não se descubre como povo! Não vale a pena o queixume. Quem se queixa é pobre ou não pode! Trata-se de mudar mudando-se! A nação precisa de todos.

António da Cunha Duarte Justo



(1) Salvaguardem-se as diferenças regionais da população. Esta é muito diferenciada e rica, tal como os seus rios e a sua paisagem!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ulisses o Modelo do Homem Ocidental


Ulisses ou a Mediania

António Justo
Conta a lenda que Ulisses, numa viagem à península ibérica, fundou no Tejo a cidade Olissipo, hoje Lisboa.

Ulisses foi um rei lendário de Ítaca e grande herói do cerco de Tróia onde se distingui pela excepcional coragem, prudência e sagacidade.

Ele é a figura central da Odisseia (parte da Ilíada) onde Homero ( 700 a.C.) conta a viagem de Ulisses, no seu regresso de Tróia para a pátria. Até chegar à sua terra Ítaca, na Grécia, teve muitas aventuras e dificuldades. A odisseia dura dez anos.

Aportado à ilha da deusa Circe, esta advertiu-o dos perigos que o esperavam ao longo da sua viagem. Falou-lhe do perigo das Sereias que “com suas vozes enfeitiçantes criavam o desejo ansioso de escutá-las sempre” e alertou-o para os monstros Sila e Caribdes. Apesar de avisado, Ulisses conta, com tristeza, que Sila, o monstro das seis cabeças, atacou o barco “e em cada uma das suas bocarras ávidas sumiu-se um dos meus companheiros”.

A viagem é o símbolo da vida de cada um de nós e Ulisses é o símbolo do homem que acorda para a vida, desperta para si mesmo. Circe (a inteligência) ajuda a prever os perigos.

Ulisses, depois de ter vencido os outros, acorda para si e para a vida adulta, começa a viagem de regresso; põe-se a caminho, na procura da sua terra. A sua terra (Ítaca) significa o seu eu (a descoberta da sua pessoa). A viagem significa o seu caminho (currículo), a sua vida. Ulisses procura, na vida, o seu eu mais profundo (a ipseidade).

Geralmente as pessoas passam a vida sem se descobrirem a si mesmas, são levadas a distrair-se com o que aparece e acontece no seu caminhar; confundem o ter com o ser, conseguem apenas o caminho do combate até Troia. Fazem o que os outros mandam ou esperam delas. Subjugam-se às necessidades imediatas ou superficiais, procurando compensar desilusões com ilusões. Mesmo na escola não aprendem a aprender, nem a conhecerem-se a si mesmas. Aprendem coisas sobre as coisas para melhor poderem servir os interesses daqueles que guiam a sociedade e aprendem competências para se poderem safar na vida com um emprego.

Ulisses, para se conhecer bem a si mesmo, quer investigar a realidade até ao fundo e as ilusões que a acompanham. No seu caminhar descobre que o sentido não vem das coisas (de fora) mas que ele é que dá sentido às coisas (o sentido vem de dentro). A autoridade é ele.

Ao aproximar-se da ilha das sereias que, com o seu canto, o queriam desviar do seu caminho, Ulisses deu ordem aos marinheiros para o amarrarem ao mastro do navio e tapou os ouvidos dos companheiros com cera. As Sereias gritavam bem alto: “Não fujas, Ulisses, generoso Ulisses, Ulisses famoso, honra da Grécia! Pára defronte da praia, para ouvir a nossa voz.” O barco de Ulisses, porém continuava a sua rota. De facto todo o mortal que até aí passara pela ilha das sereias não tinha conseguido libertara-se delas, não chegando mais a casa, à sua terra. Ulisses, com a sua táctica, conseguiu gozar da melodia das sereias e ao mesmo tempo não se arredar do caminho da sua vontade. A sensualidade e o espírito, o exterior e o interior são integrados no Homem com inteligência e vontade. Sem uma meta acompanhada da razão e da vontade não se vai longe.

Para não ser dominado pelas influências exteriores (ilusões) e para se poder tornar ele mesmo compromete-se com algo superior. Não chega seguir só a linha horizontal da vida (o instinto, a opinião ocasional); Ulisses amarra-se, com a ajuda do próximo, ao mastro do navio que significa a linha vertical, a esfera superior que lhe dá força para ser livre muito embora reconhecendo-se como parte do todo. Assim pôde saborear o prazer da música e a beleza das sereias. Manteve, ao mesmo tempo, a sua liberdade sem se perder nelas. O seu eu profundo conseguiu dominar o seu ego superficial, impedindo que o barco, seu corpo, se perdesse nas bocarras ávidas de Sila.

Ulisses dignifica o corpo e o espírito! O seu eu adulto, orientado pelo espírito da liberdade, consegue viver na harmonia dum corpo são em alma sã.

Os cristãos chamam a esse espírito da liberdade e da união de tudo em todos, a aquisição da natureza de Cristo. Nela a corporeidade (Jesus) complementa-se na espiritualidade (Cristo); nela se acaba com a polaridade dos contrários, com a polaridade de espírito e matéria.

A Odisseia prepara-nos o caminho para a realidade da complementaridade de instinto e vontade, sentimento e razão, de corpo e espírito. Nós somos ao mesmo tempo actores e espectadores da vida. Para descobrirmos o nosso verdadeiro eu temos que descobrir o mundo em nós, não nos limitando ao ser de espectadores.

A sociedade Oriental está mais virada para o destino, subjuga-se mais à natureza, deixando-se viver mais no nós, na família, no grupo. A sociedade Ocidental fixa-se mais na afirmação do eu e da vontade; não aceita o destino, quer a emancipação do Homem, quer transformar o mundo. Por isso o Ocidental criou toda uma tecnologia que o ajuda no alcance da meta que se propõe.

A vida é esforço e compromisso! Com Ulisses não há crise!

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista Livre

sábado, 10 de abril de 2010

NOS MEANDROS DO SEXO

SOCIEDADE SEXISTA MELINDRADA
António Justo
Segundo a revista Psychologie Heute, de Março 2010, “na Alemanha anualmente há, aproximadamente, pelo menos 300 a 600 casos de contactos sexuais entre psicoterapeutas e pacientes”. Por muito que isto seja lamentável devido à relação de dependência do paciente para com o terapeuta, não é legítimo estigmatizar os psiquiatras e psicólogos, como a imprensa tenta fazer com os padres. A Universidade de Colónia investigou 77 vítimas de terapeutas verificando que 86% das vítimas eram femininas. Das 77 vítimas 30% já tinham sido vítimas de abusos sexuais na infância. 71% dos terapeutas eram homens com uma idade média de 47 anos. Na Alemanha, segundo a lei, terapeutas que tenham relações sexuais com pacientes tornam-se puníveis. O abuso sexual está na ordem do dia na nossa sociedade.

O abuso sexual de menores nas famílias, independentemente da Pedagogia Reformista, alcança percentagens impensáveis. O sofrimento das vítimas prolonga-se, geralmente, por toda a vida. A libertação sexual e a luta contra os tabus sexuais não deve criar e alimentar o tabu do sofrimento e a escravidão sexual que graça como praga social. Os crimes de alguns padres poderá ter a vantagem de alertar a sociedade a não desviar o olhar e não se tornar cúmplice com o que acontece nas famílias, nas escolas, nas prisões e na justiça. A maioria do abuso de menores dá-se no seio familiar.

É verdade que também na Igreja as vítimas foram ignoradas. A Igreja perdeu de vista as pessoas, ao calar-se e ao desviar o olhar dos abusos. O amor e a confissão não podem levar ao esquecimento das vítimas. Não se justifica porém a campanha intensiva dos Media durante semanas contra a Igreja.

Também nas escolas públicas estatais cada vez mais se tornam públicos casos de abuso de crianças por parte de professores. Associações de Pais e de Educadores na Alemanha exigem a criação de Hotline para o caso de abuso sexual nas escolas, para que crianças vítimas se possam manifestar sob anonimato. Continua discutível se a Hotline será domiciliada no Ministério da Educação ou numa repartição de aconselhamento independente.

Uma disputa séria chama a atenção para a necessidade de se centrar a discussão na situação pessoal da criança. Segundo a Comissão europeia, pelo menos 10 a 20% das crianças menores de 14 anos sofreram de abusos sexuais. Bruxelas quer agravar sanções contra a pedofilia nos estados membros.

Para se ter uma ideia da campanha tendenciosa contra a Igreja e a instrumentalização ideológica dos casos de pedofilia na Igreja, basta referir as estatísticas da USA onde em 42 anos 958 padres católicos e pastores protestantes foram acusados de abuso sexual de menores, tendo sido 54 condenados.

O que é de admirar é o facto de serem referidos mais casos de pedofilia entre pastores do que entre padres. Também, contrariamente ao resultado de investigações científicas, se procura estabelecer uma conexão causal entre celibato e abuso de crianças.

No mesmo espaço de tempo foram condenados 6.000 professores de ginástica e treinadores desportivos na USA. Disto ninguém fez notícia. A campanha secularista contra o cristianismo tenta deslegitimar a moral da Igreja católica na sua diaconia em hospitais e escolas… Estão-se marimbando para os réus ou para as vítimas. Um laicismo agressivo e militante propaga a ideia de que as crianças se encontram em perigo nas escolas da Igreja. Esquecem que, pelo facto de haver pedófilos na escola do Estado, ninguém diria que a escola é um perigo.


Do Fanatismo Religioso para o Fanatismo Ideológico

Também o ressentimento dos adversários da Igreja conduz ao esquecimento das vítimas. A rede de propaganda é de tal ordem e tão cerrada que, qualquer pessoa com formação média poderá constatar, sem mais, a lavagem ao cérebro do cidadão, em via. A acção coordenada de campanhas cíclicas anticristãs a nível de toda a União Europeia são o melhor testemunho da boa organização e das redes de uniões secretas, grupos marxistas materialistas e ateus. Para isso bastaria fazer-se um estudo comparativo dos títulos de todos os meios de comunicação social, em todos os jornais da Europa; quase se repetem. Quer-se, a todo o custo uma União laicista baseada num republicanismo jacobino. O capitalismo e o progressismo não admitem rivais!

O fanatismo que na Europa já parecia ter superado renasce com a União Europeia no fanatismo secularista e partidário contra a Igreja; desvia assim a atenção do cidadão, da criação duma sociedade base cada vez mais pobre e da bancarrota dos Estados. A pretexto de alguns padres pedófilos, a opinião publicada na TV, Internet, rádio e jornais fomenta o preconceito de que a igreja é o vale dos hipócritas e dos pedófilos. A má consciência e a má intenção são capazes de tudo!


Os militantes do fanatismo em vez de coordenarem forças, com todas as pessoas de boa vontade, em defesa das vítimas e dos oprimidos aproveitam-se dos crimes de alguns para incriminar toda uma instituição. A eles só lhes importa assunto para fomentar o seu poder seja à custa de quem for. A igreja já ultrapassou o seu fanatismo religioso militante, agora encontramo-nos, a nível europeu, na era do fanatismo militante secularista e ateu. Sabem que o povo mais desacautelado, é inocente, se deixa levar! Muitos aproveitam-se do carrossel dos média e outros aproveitam a boleia. Por isso falam da responsabilidade da Igreja e calam a responsabilidade dos criminosos, como se estes fossem menores. O cardeal alemão Karl Lehmann diz num artigo do DIE ZEIT: “já há muito que se procura a culpa primeiramente no colectivo e quase sempre no Sistema”.

Apoio a Igreja mesmo que ela não me apoie a mim. Antes combatia a instituição eclesial como era moda nos anos 70. Tenho experiência a nível de Igreja e de alguns partidos. A Igreja, nalguns pontos, a nível superficial, é retrógrada; porém, a nível da visão do Homem e da sociedade (cf. Encíclicas da doutrina social da Igreja) é, de longe, mais progressista e avançada que qualquer partido. A sociedade só conhece dela o folclore e aquilo que lhes importa para se afirmarem à sua custa. A Igreja é, ao mesmo tempo, pecadora e santa como toda a pessoa de boa vontade. Já os Padres da Igreja falavam da Igreja “casta prostituta “. A Igreja, como instituição, é tão pecadora e tão santa como a sua comunidade, os seus membros. Estes são homens e mulheres com tudo o que lhes pertence: o bem e o mal.

Os fariseus secularistas cospem no farisaísmo da Igreja; o mal está presente em toda a parte mas na Igreja brilha mais. Por todo o lado cheira a próximo. Ela é prostituta mas só ela é mãe e pode proteger e guardar o tesouro da fé cristã; sem a mae, com a morte do indivíduo, morria a tradição. A fé mantém-me na Igreja. Eu manteria a fé na Igreja de Jesus Cristo, mesmo sem a instituição. Admiro na Igreja a adoração dum Deus que é todo Homem e dum Homem que é todo Deus.

Precisamos de crentes e ateus, precisamos de todas as vozes que clamam à terra, vozes que clamam ao céu, para juntos tornarmos o mundo melhor!

A doença da pedofilia, no dizer dos peritos, é muito difícil de diagnosticar e corresponde a uma inclinação profunda e incurável. Pedófilos exploram a necessidade de dedicação das crianças.

António da Cunha Duarte Justo
Alemanha, Jornalista Free
http://antonio-justo.eu/

domingo, 4 de abril de 2010

Os Poderosos não gostam de Corajosos – Medo é o seu Negócio


PÁSCOA É TEMPO DE MUDANÇA – RESSURREIÇÃO LIBERTA DO MEDO

António Justo
Morte e ressurreição fazem do Cristianismo uma impertinência, uma afronta. Unir a morte à ressurreição torna-se numa exigência a cada pessoa, um apelo à mudança radical de vida (metanóia) para a responsabilidade. “Fazei jejum e estai atentos” apela a Boa Nova. A compreensão do acontecimento pascal pressupõe o à-vontade com a vida, uma relação aberta com a morte, uma recusa ao medo.

A razão foi crucificada pelos poderosos. A história repete-se ininterruptamente. Quem se encontra do lado dos vencedores tem dificuldade em compreender o povo crucificado, os que perdem. Reprimimos o perder porque este faz parte de nós e está presente nas nossas fraquezas não assumidas: medo da velhice, medo de perder o emprego, medo da separação, de adoecer, da pobreza, das catástrofes climáticas, da má figura, etc. Por medo, se desprezam os velhos, os fracos e doentes e se evitam os pobres. A nossa vaidade e superficialidade leva-nos a viver na escravidão, a viver fora de nós, a desmiolar-nos da nossa dignidade e dela abdicarmos para os vendilhões se mascararem com ela e nos venderem a ilusão.

Os Media vivem da mensagem “tende medo”, “sêde ovelhas”. Antigamente também a religião ganhava pontos com o medo do inferno; hoje o negócio com o medo passou para os Media e para a política que, com diversos medos, alienam o povo de si mesmo, da sua ipseidade e do Estado.

Páscoa, morte-ressurreição significa encarar o medo de frente e vencê-lo. Assumir o próprio ser investindo na diferença. Afinal nós só temos medo de perder o que outros nos roubaram! A Páscoa ajuda-nos a dar conta disso! “Fazei jejum e estai atentos”!

Ressurreição, libertação significa dizer sim à vida, lutar contra a banalidade do factual, contra o politicamente correcto (o medo de não ser como os figurinos querem!). Morte e ressurreição acontecem aqui e agora. O amor não conhece o medo. Porque temos medo de despir os vestidos da desonra que nos vestiram?

Martin Heidegger dizia “ O ter medo é o estar-no-mundo como tal”. Ao considerarmo-nos como “ser e tempo” reduzimos a perspectiva da nossa existência, reduzimos a vida a espaço e tempo. O medo torna as coisas e as pessoas insignificantes, deixa-nos abandonados a nós mesmos, ao anonimato da gota no oceano.

A TV fomenta o medo é histérica tornando-se na escrava dos políticos e da economia ajudando os políticos a impor programas antipopulares e anestesiando o povo para aguentarem a injustiça e o roubo da sua dignidade . Um provérbio alemão afirma: “diz-me de que tens medo e eu digo-te o partido que eleges”. A opinião é o dogma da (des)informação!

A ciência e a técnica prometem acabar com medos existenciais. O medo porém permanece constante. O desconhecido e o incerto metem medo e a autoridade confunde respeito com medo. Se hoje temos mais medo é porque temos mais que perder, é porque queremos ter e não ser.

Somos emigrantes da vida,sempre a caminho… Vivemos de esperanças ilusórias no mercado das vaidades, tudo à margem da Esperança, por isso, esta é defraudada na espera. E quem espera desespera! “Deixai os mortos enterrar os seus mortos”. Vós estais vivos. A Páscoa é mistério de Vida. Ressurreição é libertação dos medos e dos entorpecimentos da vida. O fundamento do cristianismo é fé, esperança e amor, tudo na dinâmica e perspectiva da trindade, o outro lado do medo, no mistério do ser.

Na ressurreição, os cristãos crêem que com a morte a vida continua duma outra forma. Por isso a Páscoa é a festa mais importante da cristandade. A morte faz parte do dia a dia da vida.

Não podemos continuar a deixar o céu para os pardais e o povo para as elites. No mistério não há garantias nem receitas. O programa é soltar-se da violência de pressões exteriores e interiores. O perfeccionismo, a hiperactividade, o desejo de glória provêm do medo da morte. Não à subjugação ao medo! Não aos bonzinhos do poder! Só assim poderemos acordar para o amanhecer do novo dia.

Sexta-feira Santa e Domingo de Páscoa formam um só dia. Deus surge na manhã de cada um de nós. A manhã brilha, torna-se dia na criação; no interior da humanidade deixa de escurecer! As preocupações juntam-se no fumo do incenso e ao sair do turíbulo, dissipam-se e cantam “Lumen Christi”, aleluia. Nesse dia grande, sente-se o pensar da natureza ao passar do vento na copa das árvores, ouve-se a sua voz no chilrar dos passarinhos e um sol de primavera se levanta baixinho no coração do Homem a aquecer a natureza.

No Domingo de Ramos o povo glorifica e aplaude o Mestre de Nazaré que entra em Jerusalém e arruma com os vendilhões da capital e do templo, arruma com os comerciantes e traficantes da vida humana. Estes, hoje como ontem, não suportam ser desmascarados perante o povo. A vingança dos poderosos conduz sempre ao calvário dos simples. Em todas as instituições, do Estado à religião, vivem os parasitas da vida e do povo, os cães de guarda da instituição! A viúva, a pecadora, o povo, Jesus, morrem fora dos muros dos ministérios e do templo. Para estes a ressurreição para os dignitários (cães de guarda) a opressão.

O teólogo Alfred Loisy também afirma:”Jesus anunciou o Reino de Deus e quem veio foi a Igreja” e eu continuaria: os políticos anunciaram a democracia e quem veio foram os partidos!

Todos somos testemunhas duma história de morte e ressurreição, do bem e do mal na comunidade de santos e pecadores. Cada um traz em si a vela divina acesa da fé e da esperança, resta apenas soprar as cinzas que a cobrem. Depois a lei será: ama e faz o que queres!
António da Cunha Duarte Justo

OVOS DE PÁSCOA SÃO SÍMBOLO DA VIDA


O Coelho é Símbolo de Fertilidade
Do ovo, aparentemente vida morta, surge a vida viva, tal como da gruta da terra, do túmulo de Jesus ressuscita a vida em Cristo. Do túmulo da nossa vida pode amanhecer um novo eu, um novo dia.

Antigamente os cristãos, durante os quarenta dias da Quaresma, renunciavam a carne e ovos. Por isso na Páscoa havia ovos em abundância. A fertilidade é fruto de esforço e catarses.

Também o coelho era um símbolo da vida devido à sua fertilidade. Aqui na Alemanha, no dia de Páscoa, é costume as crianças irem procurar os ovos coloridos (amêndoas e doçarias), escondidos pela casa fora ou pelo jardim, aí deixadas pelo coelho da Páscoa. As pessoas costumam enfeitar as árvores, ainda sem folhas, com ovos de plástico multicolores.

António da Cunha Duarte Justo

quinta-feira, 1 de abril de 2010

PÁSCOA É A PRIMAVERA DA NATUREZA E DA HUMANIDADE


O Espírito é a Alma da Matéria
António Justo
A Primavera é a Páscoa da natureza e na Primavera dá-se a Páscoa humana. Tudo se encontra a caminho em conjunto, de forma mais ou menos consciente, mais ou menos rápida.

A Páscoa é passagem e transformação; expressa o caminhar da humanidade e o caminhar da criação com o criador do ponto alfa para o ponto ómega. Nela os cristãos procuram acordar para a natureza de Cristo que reúne tudo em todos.

Pessoas em diferentes situações de vida e nos seus sistemas de pensar e interpretar exprimem Deus e salvação à medida da sua linguagem e mentalidade. A vivência concreta predispõe para a ideia de Deus. A experiência da separação de Deus deu-se de modo traumático na nossa civilização ocidental. Os evangelhos correspondem a diferentes interpretações, diversas vivências da Vida de Jesus. O Novo Testamento é uma casa com muitas mansões: “Na minha casa há muitas mansões”dizia o mestre de Nazaré!

O Deus de Jesus Cristo é o Deus do filho pródigo, o senhor da vinha e dos vinhateiros. O Deus vivido para lá do Deus pensado em conceitos demasiadamente gregos. Jesus procurava abrir os corações do povo para Deus, um Deus familiar e libertador a quem chamava “paizinho”; por isso as elites políticas, religiosas e económicas não o podiam suportar e quem perturba a ordem, estabelecida pelos mais fortes, é oprimido, expulso ou linchado. A experiência do reino de Deus torna-se, com ele uma realidade, mais ou menos consciente, no coração de cada um, na comunhão com o irmão e o samaritano.

Em Cristo consumou-se a salvação. Ele é o protótipo de todo o ser humano. Ele libertou-se da maldição e do pecado da natureza humana e da pena de morte da humanidade. Páscoa é vida na pujança; ela manifesta o processo de libertação dos males da natureza humana em processo de realização da natureza de Cristo.

A consciência da morte surgiu com o alvorecer da consciência humana que floriu pela primeira vez em Eva que ao pecar se separa da unidade natural que antes comparticipava com os animais. Alcança assim a idade da razão, a capacidade de pecar, isto é de assumir responsabilidade por si mesma, tal como a criança que uma vez atingida a idade da razão começa a questionar o paraíso paterno em que até aí vivia. Na semana pascal celebra-se o expirar da natureza e num certo sentido a morte de Deus.

Oh félix culpa que acordaste a humanidade para a responsabilidade em liberdade e que atingiste a máxima expressão no calvário e resumes a história da humanidade e da criação no alfa e ómega, protótipo de toda a realidade em processo, à imagem da economia da Trindade. O nosso caminho é uma via-sacra de purificação até à reconciliação com tudo em todos, em Deus. A Páscoa, Jesus Cristo é o exemplo da ponte, da metamorfose humano-divina, matéria -espírito.

Na transubstanciação da comunhão destroem-se todas as cancelas entre a substancialidade e o Espírito. O pão, a terra, o universo tornam-se o corpo e o sangue de Cristo, tornam-se a divindade. E isto não é só simbologia mas realidade, realidade da criação e de todos nós. Nele e com ele somos um, em comunhão com toda a criação. Na comunidade, em comunhão com ele e com o outro tornamos a Realidade presente.

A Quaresma é o tempo da experiência da purificação do ego a caminho e ao encontro do verdadeiro eu, da ipseidade. Durante ela aprende-se a renunciar à carne e ao fazê-lo a respeitar os animais e a vida digna a que estes têm direito: vivemos também com eles na complementaridade. Exercita-se a libertação da inveja, da avareza e da cupidez e deste modo a respeitar e considerar todos os seres vivos na sua substancialidade e na sua espiritualidade. Isto leva-nos a purificar-nos de nós mesmos e daquilo que assumimos dos outros e que nos leva à doença do ter.

O próprio consciente e até o inconsciente devem ser colocados no cadinho da procura da verdade. Na renúncia a si mesmo, ao ego aprendemos a ter menos necessidades, a libertar-nos delas. A liberdade conduz-nos ao amor, à sintonia que se pode traduzir em compaixão e misericórdia (sintonia e ressonância). A ausência de necessidades acorda-nos para a realização do Reino de Deus.

O cristianismo recomenda o exercício das virtudes, a observação dos 10 mandamentos, a oração, a esmola, a meditação, o jejum corporal e espiritual, o exame de consciência a nível de pensamentos palavras e obras, como exercícios de purificação a caminho e na realização da salvação: esta é processo. Trata-se de passar do tempo cronológico, e mesmo do kairós para o tempo parusia, o tempo fora do tempo, o “tempo” acção amorosa.

Não há caminho feito, faz-se caminho andando, e cada um tem o seu caminho pautado pelo do Mestre de Nazaré que nos antecipou. O ego supera-se no amor ao próximo, no amor a todo o ser humano, a todos os seres como se pode ver na prática das bem-aventuranças. O tempo da Quaresma aponta para a reflexão e meditação desta realidade, o outro lado do viver na procura intensiva da verdade, da descoberta da ipseidade na ressonância com a ipsidade dos outros e na vivência e sintonia comum da caritas/ágape. A paz interior que ressalta das bem-aventurados que reconhecem que tudo lhes foi dado e por isso o atingir duma consciência de entrega e a compreensão (sintonia) com o samaritano e o universo.

Jesus queria conduzir a humanidade a Deus, queria encorajar cada um a libertar-se das cargas da lei e de tudo o que causa sofrimento e por isso resume toda a sua vida e filosofia no amor a Deus, a si mesmo e ao próximo, especificando que o próximo é o estranho, o Samaritano. A sua visão da realidade e do Homem é tão pacífica e abrangente que exige dos seus seguidores o amor ao inimigo. O sermão da montanha (bem-aventuranças) pressupõe a libertação do ego (alcance da perfeição, êxtase), num processo de libertação do ter para se poder realizar o Reino de Deus já aqui na terra (Mc 1,15). Trata-se de experimentar a união com tudo, com Deus, da vivência do divino: “Deus é amar, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1.Jo 4,16).

No processo de salvação (libertação), através da cruz, os cristãos fizeram a experiência que a vida implica a morte. O Filho do Homem, o protótipo de toda a criatura, é vida apesar da morte. A vida é ressurreição. A morte que primeiramente parecia o verdadeiro inimigo da humanidade revela-se no Homem Adulto já não como pena mas como parte da vida. No momento da queixa do Homem “Meus Deus, porque me abandonaste” está já a divindade a irromper tal como o botão de rosa, a experiência da mãe num esforço de dar à luz, de acordar para a nova realidade. Deus morre por momentos em Jesus Cristo para a criatura, com ele ressuscitar em Deus. “Eu vivo e vós vivereis”(Jo. 14,19);”eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós”. “Deus faz a sua morada” naquele que se puser a caminho e assim entrar no processo trinitário.

Deus é a videira e nós as suas varas (Jo. 15, 4-8). Entre a divindade e a sua criação há uma relação de complementaridade. A relação divina que tudo sustena é amor; de resto, a doutrina reduz-se a pedagogia. Cristo está presente nas acções, na palavra, no indivíduo e na comunidade, em toda a criação.

Jesus dizia muitas vezes: “que te aconteça como crês”. O mesmo será antes, na e depois da morte. “A tua fé te salvou”, repetia também. A percepção, seja ela religiosa ou científica, tem como base a fé como arroteadora da realidade que no fundo permanece sempre mistério. Em Jesus encontramos a expressão (modelo), do caminho de Deus connosco até “que Deus seja tudo em todos” (1 Cor. 15,28) já em processo no mistério da trindade de que fazemos parte.

É o caminho do despir do eu na metamorfose até à natureza de Cristo.

No desbravar do mistério da vida, cada um precisa de símbolos e modelos da realidade, que são ao mesmo tempo expressão (em imagens e ideias) de vivências individuais e culturais.

Há muitos caminhos de salvação que conduzem a Deus, ao homem e à natureza. A realidade é tão ampla que não basta o olhar da razão; é preciso também o olhar místico, o olhar do amor que supera o tempo e o espaço. O espírito é a alma da matéria, revela-nos a realidade da Páscoa.
António da Cunha Duarte Justo
Alemanha, 1.01.2010