segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dos Vendilhões do Templo de Jerusalém aos Vendilhões de Bruxelas

Entre Fariseus progressistas e Saduceus conservadores
Por António Justo
Situação na Polis outrora e hoje
Os Saduceus (conservadores, acreditam no livre-arbítrio, negavam a existência da alma, de espíritos e de anjos) pertenciam ao alto escalão social e económico da sociedade (aristocracia do Templo) e seguiam estritamente a Tora (Lei); os Fariseus (progressistas acreditavam na liberdade humana mas com influência do destino e na ressurreição dos mortos), fanáticos e “hipócritas” seguiam a Tora e a tradição oral, manipulando as leis no seu interesse e juntavam o poder religioso ao poder político (no Sumo Sacerdote). 

Os saduceus eram colaboracionistas dos gregos e dos romanos pelo que eram odiados pelos partidos dos Zelotes. Comportavam-se em relação ao poder ocupante romano de maneira serviçal e oportunista, acatando no Sinédrio (senado) as decisões de Roma.
Muitas das características descritas em relação aos Saduceus e Fariseus encontram-se hoje na política e nos parlamentos nacionais também no que respeita ao poder da UE e ao Grande Sinédrio de Bruxelas. 

O Modelo de Sustentabilidade que dá Perenidade ao Desenvolvimento

Parto do princípio, porém, que a sustentabilidade e sobrevivência do povo judeu, deve muito aos Fariseus. Interessante que tanto o Povo Judeu como a Bíblia (Antigo e Novos Testamentos) se tornam em protótipos do desenvolvimento histórico e humano. Em Jesus Cristo podemos reconhecer a integração e conciliação da materialidade/corporalidade e do espírito (divindade) numa só pessoa; por outro lado, o povo judeu mantem também ele na sua existência a tensão e inclusão dos extremos que lhe garante a continuidade através da História. Moral da história: só a integração, do aparentemente polar e contraditório, num processo de inclusão de complementaridades (numa realidade superior para lá das diversas perspectivas), conseguirá dar sustentabilidade à sociedade – missão essa, que o Cristianismo assume na vivência da experiência da Realidade Jesus Cristo na qualidade de comunidade e de pessoa; como realidade relacional e processual aberta, o Cristianismo contem no seu protótipo da Realidade, a fórmula que serve ao mesmo tempo de matriz de indivíduo e sociedade que comporta a antecipação do futuro garantidor de todo o Homem e de toda a comunidade humana na plataforma da divindade suporte de toda a realidade existente e não existente (fórmula trinitária) numa dinâmica do já e ainda não. 

Da Ordem natural das Coisas – Polis entre Fariseus e Saduceus

Dado que sem preconceito não se passa ao conceito, há que constatar: no discurso político é muito frequente tropeçar-se com Escribas e Fariseus: uma direita com o rei na barriga e uma esquerda com a rainha; de resto, petulâncias ou rumores intestinais.
Fariseus e saduceus, ontem como hoje, manifestam duas tendências/princípios naturais que dão continuidade a um povo numa dinâmica de preconceitos interactivos das duas partes. O erro da hipocrisia fomentadora do preconceito parece ser o óleo dos veios de transmissão entre o motor (o agente) e o carro (povo) e, como tal, o erro torna-se, a nível factual, numa constante motriz do desenvolvimento histórico.

A ordem natural das coisas dá razão e favorece os detentores do poder ou os que se encontram na sua disputa. Quem não entende isto, em termos de política, está predestinado a ser terreno onde aqueles escavam seus regos para a água deles passar. Lógica da questão: quem não entra fica como o cão à porta e por mais que ladre nunca chega a ter razão (na lógica factual do poder)!

Do mercado da polis – Hipocrisia e Iniquidade

Portugal dá a impressão de andar sempre em campanha eleitoral, sem espaço para discutir nem elaborar programas de governação; parece ser um agregado sociológico de repúblicas (povos) - sem Povo - num arraial antigo, onde ecoam os pregões e os berros.

Quem não tem acções partidárias no mercado da polis resigna, faz da tristeza raiva ou procura consolação na exclamação: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados… também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mt 23. 27-28)

Tal como nos tempos bíblicos, temos conflitos programados e de que bem vivem os escribas/saduceus e fariseus. 

A palavra Fariseus ganhou a conotação de hipócrita e de confessos aparentes. Fariseus e Saduceus/Escribas fazem parte da dialética social e são adversários entre si mas quando se trata de defender os próprios interesses sublevam e dividem o povo para poderem legitimar e manter as estruturas do poder que lhes oferece palco seguro para se afirmarem (manipuladores do povo matam Jesus para depois lavarem as mãos na “inocência do povo” que os legitimou). Inteligentes como serpentes, encontraram e encontram uma estratégia comum que lhes dá segurança na ocupação dos cargos de prestígio da nação e a maioria dos postos no Sinédrio. A inveja e a ganância atiçam-nos uns contra os outros, a ver quem mais come enquanto o povo olha e ladra para enganar a fome.

A ganância humana torna-se apetite desenfreado. Se não fosse o apetite que seria do saborear!... Mas o povo cada vez mais habituado ao fastio vai perdendo o apetite e o caracter, fomentando ainda mais os apetites dos poucos. 

O apetite partidário é tanto que chega a não distinguir o que já lhe estreborda do prato. Victor Hugo dizia “em tempo de revolução, cuidado com a primeira cabeça que rola. Ela abre o apetite ao povo”. Por essa razão andará tanta gente à volta de algumas cabeças; o problema delas será nunca se saciarem; por isso se tornam cães de guarda ou feras.

Todos mereceram a crítica do Mestre da Judeia porque adorando ídolos e não Deus mostravam-se como os mais dignos de respeito entre o povo. Uma reflexão pessoal e nacional, para ser salutar a nível de comunidade, deveria passar a considerar a dialética polarizante como mal menor a ser ultrapassado processualmente no serviço de um bem maior que é o todo de tudo em todos. Premissa da relação: o outro que permite identificar-me é o tu que dá consistência à minha ipseidade (eu-tu-nós) que se expressa na relação do eu-tu inclusivo a realizar Jesus Cristo.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

PORTUGAL- UMA REPÚBLICA SEM POVO?

Por António Justo

Em Portugal não há Povo, poder-se-ia concluir da observação do discurso político e da acção política; tem-se a impressão de haver, de um lado, um povo eleitor de um certo povo e, do outro, um povo eleitor de um outro povo; como cada grupo elege um correspondente povo, temos povos mas não Povo; como o Povo não se reduz à soma dos povos eleitos, no melhor das lógicas teríamos o Povo não eleito junto com o povo que não elege.

Como os partidos só são representantes do povo governo ou do povo oposição, logicamente temos um Povo inteiro sem governo nem oposição. Como um povo, sem governo nem oposição, não carece de partidos, seria lógico acabar com os partidos para se possibilitar um Povo inteiro numa Democracia inteira com um sistema semelhante ao da Suíça.

No discurso político, agora em curso, prescinde-se do governo e da oposição; por uma razão de partido e não de Estado, até já se alega que o Povo inteiro votou mal. Repetir as eleições não seria razoável mas sim lógico porque, numa democracia onde não há Povo mas só povos, voltar-se-ia ao mesmo. O problema de Portugal não virá tanto dos partidos mas do facto de se ter uma República sem Povo. Fatalidade das fatalidades: as repúblicas da República vão-se governando num estado de Estado sem Povo.

No meio de tudo isto pode correr-se o perigo, de se ver um Portugal arruinado - as ruinas de um templo, à imagem do Mosteiro da Batalha, um templo, sempre em ruinas, começado, mal continuado e por acabar. 

Falta o homem, não há arquitectos nem engenheiros da sua estática; vamos todos preparar o terreno para que se produza homens à altura e o país volte a ser um Portugal moderno com a mesma veia que o levou à sua Fundação e aos Descobrimentos.
António da Cunha Duarte Justo
www.antónio-justo.eu

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O Dilema da Bipolaridade na Governação de Portugal

Construir um Portugal mais temperado e menos revoltado

Por António Justo
O que une o centro-direita (governo) e o centro-esquerda (PS) são o compromisso com o liberalismo económico e o consequente seguimento do imperativo da desregulação ditada por Bruxelas. Direita e esquerda do arco do poder têm assim o seu centro comum vinculativo (intervenção da EU e do FMI – as obediências orçamentais comuns que não permitem diferenciação de políticas económicas); deste modo os partidos do arco do poder de Portugal abstêm-se praticamente do predicado esquerda ou direita, o que veneficia os outros partidos da esquerda e obriga o PS a grande ginástica na estratégia de chamar as atenções públicas para si e de ocupar o país com discussões táticas sobre as diferentes personalidades e facções do PS; disto vive bem (permite-lhe também absorver desertores de esquerdas mais radicais mas com aspirações a participar concretamente no poder) ocupando a mente dos portugueses já de si perdida em debates não produtivos. O jornalismo também vê assim o seu trabalho simplificado porque para fazer notícia só precisa de andar atrás dos cabeças ou de algum que urine fora do penico.
 
Cria-se assim uma dinâmica de contínua necessidade de perfilagem dentro e fora do partido. Certamente por isso se movem tanto as ondas da emoções nacionais tendo-se a impressão (a quem viveu no estrangeiro) que Portugal se encontra em contínua campanha eleitoral sem grande tempo para dar suficiente atenção às questões fundamentais da economia e da cultura. Mesmo agora, que deveria ser tempo útil de discussão da negociação de programas para se encontrar compromissos para a governação dos próximos quatro anos, assiste-se, como de costuma, à discussão sobre personalidades partidárias e não sobre temas discutíveis do programa.

O Norte europeu orienta-se por Programas o Sul por Partidos

Os partidos da Alemanha, para defenderem o bem-estar do país, passam muito tempo na discussão e elaboração de programas de governo e na formação de coligações governamentais; isto porque cuidam pelo futuro do país em vez de dividirem a nação nos da manjedoura da direita ou da esquerda. Por isso os partidos alemães preferiram fazer uma grande coligação que preparou responsavelmente um programa de governo que precisou de 80 dias de conversações até chegar ao dia do compromisso; depois passou à governação abandonando a discussão. Na Suécia seis partidos conseguiram elaborar e comprometer-se num programa que é válido até 2022; isto independentemente dos governos que surjam. 

Urge ultrapassar a mentalidade política bipolar de um Portugal desde sempre afirmada pelo sistema partidário a viver da polarização. Já vai sendo tempo de construir um Portugal mais temperado menos revoltado. A vida é curta, não olhes para trás senão tropeças nos que se te adiantam.

O problema dos partidos à esquerda do PS (e dos radicais do PS) é quererem continuar a levar uma vida de alto nível à custa do capitalismo liberal pautado pela Zona Euro e no seu interior regalar-se com a satisfação de ideias contraditórias puras e inocentes ou com postos públicos que lhes dão imunidade em relação às ideias que defendem (a viver do sistema) que criticam mas não solucionando os problemas da pobreza. 

O ser humano é um consumidor de histórias e o que o mais distrai são histórias, por isso há tantas que se tornam verdadeiras porque mal contadas…; uma delas: "Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz." Com isto fomos ensinados a aceitar e justificar a violência do poder. A teoria é bela, o problema só está na prática (Veja-se a saga das personalidades do 25 de Abril e seus discípulos – afirmaram-se contra o capitalismo e à custa dele enriqueceram mantendo a conversa de esquerda para inglês ver e a sapata do povo carente que tudo sustenta).
 
Uma política partidária responsável deveria constituir uma coligação, pelo menos, dos dois partidos mais votados. Com isso ganhariam, naturalmente, os partidos mais à esquerda mas Portugal ganharia mais ainda. Com uma grande coligação talvez se iniciasse em Portugal uma política e um discurso menos partidário, mais objectivo e mais no sentido de todo o povo português.

Tudo isto contribui para a maneira de ser do nosso país que Miguel Torga tão bem define:” Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados” e que eu comentaria com as palavras: Somos um grupo de colectividades civis sem a consciência de povo, por isso sempre descontentes e revoltados.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

terça-feira, 6 de outubro de 2015

GRANDE COLIGAÇÃO DOS PARTIDOS DO ARCO DO PODER COMO NA ALEMANHA?



Resultados das Eleições legislativas- Tendência no Sentido da Grécia?
António Justo
A coligação Portugal à Frente (PSD e o CDS-PP) conseguiu 36.83% dos votos (99 deputados); o PS segue-se-lhe com 32,38%32 (85 deputados); o Bloco de Esquerda (BE) com 10,22% (19 deputados); a CDU (coligação PCP/PEV) com 8,27% votos (17 deputados); o PPD/PSD com 1,51% (5 deputados) e o PAN  (Pessoas Animais e Natureza) com 1,39% (1 deputado); o PDR de Marinho e Pinto conseguiu 1,13% mas nenhum deputado e igualmente o partido Livre de Rui Tavares com 0,72%.

43.07% do povo português optou por não votar, talvez por: confiança na governação, desinteresse, ou protesto (Dos 9.439.651 portugueses inscritos com direito a voto, só votaram 5.374.363). Além disso houve 1.61% nulos e 2.09% votaram em branco. Faltam os resultados sobre os 4 mandatos eleitos pela emigração.  

Pedro Passos Coelho teve uma vitória relativa mas, ao perder a maioria absoluta, terá dificuldades em continuar com o programa de poupança porque pelo resultado das eleições o povo mostrou que não quer continuar a política de poupança. A esquerda teria a possibilidade de formar governo dado ter a maioria no parlamento. Se pensarmos na Grécia e na maneira como a UE a está a favorecer em relação aos países com dificuldades económicas, pelo facto de o governo grego não querer cumprir as regras da UE, Bruxelas está a dar razão indirectamente às forças de esquerda que lutam contra a política de poupança. A lógica a seguir: desobedecer às regras de estabilidade europeia para se receber mais apio económico de Bruxelas. Neste sentido a predominância da esquerda tem o seu sentido.

Uma grande Coligação ajudaria o País a acordar para a Realidade

Uma acção política proveitosa para Portugal teria de comprometer os dois partidos do arco do poder numa agenda que transponha as visões meramente polares ou partidárias para as poder flexionar numa perspectiva de Estado e País. Para isso seria necessária uma reflexão de óptica nacional e não meramente partidária.

Uma política partidária responsável, na situação em que a sociedade portuguesa se encontra, deveria constituir uma coligação, pelo menos, dos dois partidos mais votados. Naturalmente que com isto ganhariam temporariamente os partidos mais à esquerda, mas Portugal ganharia mais ainda. Talvez assim também se iniciasse em Portugal uma política e um discurso menos partidários e mais nacionais (no sentido do povo).

Seguir como até aqui equivale a continuar a viver no jogo do rato e do gato entre partidos e eleitores seguindo-se a estratégia de consolidar a alternância partidária do poder (a nível popular mantem-se a consciência infantil da pertença ao partido certo). Doutro modo os partidos continuarão a ser parte do problema português e não parte da sua solução. E Portugal continuará a ser encantado pelo ritmo sem despertar para o tom da música.

Só assim se poderiam juntar forças para poder tomar medidas que permitam maior inovação e maior decisão no combate à corrupção institucional. Um governo de minoria seria solução talvez durante dois anos podendo até aí obter soluções compromisso com o parlamento mas passado esse tempo, a oposição provocaria uma instabilidade tendente a novas eleições por razões de chances eleitorais partidárias.

A Alemanha, consciente de que uma melhor forma para enfrentar a crise seria juntar o poder da direita e da esquerda, é governada por um governo de grande coligação, já não pela primeira vez. Assim conseguiu elaborar leis que transcendem os interesses dos partidos do arco do poder. Observando o panorama partidário português e a mentalidade de grande parte do eleitorado não vejo outra estratégia capaz de interferir no sistema. Uma grande coligação poderia ajudar também maior objectividade na discussão pública e a superar o espírito de clientela, do adepto ou do correr simplesmente por amor à camisola.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

PORTUGAL VOTOU REVELANDO QUE QUER MAIOR DIFERENCIAÇÃO E MENOS INGERÊNCIA DA UE



 Explicação remota para o resultado das eleições em Portugal 

António Justo
Os conservadores perderam a maioria absoluta, o que causará grande dificuldade na formação do próximo governo e na implementação a 100% da política económica da UE durante a próxima legislatura. Se observarmos o espectro dos partidos e não contarmos com a gorda abstenção a maioria parlamentar é de esquerda. Pedro Passos Coelho teve uma vitória relativa mas terá dificuldades em continuar com o programa de poupança porque pelo resultado das eleições o povo mostrou que não quer continuar a política de poupança. A esquerda teria a possibilidade de formar governo dado ter a maioria no parlamento. Se pensarmos na Grécia e na maneira como a UE a está a favorecer em relação aos países com dificuldades económicas, pelo facto de o governo grego não querer cumprir as regras da UE, Bruxelas está a dar razão indirectamente às forças de esquerda que lutam contra a política de poupança. A lógica a seguir: desobedecer às regras de estabilidade europeia. Neste sentido a predominância da esquerda tem o seu sentido.
Para quem quer ter uma visão mais alargada das causas tradicionais dos resultados das votações pode clicar o seguinte Link que é muito enriquecedor também a nível sociológico.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

sábado, 3 de outubro de 2015

CONTENDAS EM CASAS DE ACOLHIMENTO DE REFUGIADOS NA ALEMANHA

Polícia toca Alarme - Quem é Agressivo tem Vantagens

António Justo
Só no mês de Setembro entraram na Alemanha mais de 270.000 refugiados. Mais de metade dos refugiados tem idade inferior a 25 anos. Devido à “política de bem-vindos” de Merkel, aumenta o borborinho na sociedade alemã; o grau de popularidade da chanceler Merkel já desceu 9 pontos passando para o 4° lugar quando antes mantinha sempre o 1° lugar (Conta agora, apenas com 54% de cidadãos que aprovam a sua política, Wolfgang Schäuble passou para 1° lugar). Reformados e grupos carentes vêem cada vez menos dinheiro no orçamento alemão e contam já no próximo ano com pioramento da sua situação. O interesse e o medo tendem a desequilibrar-se. Em vários centros de acolhimento de refugiados há pancadarias entre grupos de refugiados; há médicos que já só querem entrar em centros de refugiados se acompanhados pela polícia. O sofrimento cria sofrimento.

Custa à imprensa alemã informar sobre tais casos para não fomentar sentimentos de agressão contra os refugiados mas atendendo à frequência das acções violentas entre estes, vê-se obrigada a deixar passar alguma informação em primeiro plano.

Em muitos casos, refugiados já traumatizados trazem os conflitos consigo, acrescentados por situações que não correspondem ao que tinham sonhado quando se puseram a caminho da Europa. A potencialidade dos conflitos é grande, se atendermos aos traumas da guerra, à longa caminhada até cá e que nos mesmos alojamentos se encontram muçulmanos sunitas e xiitas em guerra entre si, etnias e nações com interesses e costumes diferentes, cristãos que tiveram de fugir dos países devido à perseguição muçulmana, sofrendo agora a continuação da violência nos alojamentos, além do mais também os refugiados do Leste Europeu sem direito a asilo que esperam da sua estadia uma mesada superior à que recebem no emprego nas suas terras. Por estas e por outras o governo já determinou medidas tendentes a apressar o processo de asilo e em determinados casos optou por distribuir géneros em vez de dinheiro.

Para ajudar os estados federados e os municípios, o governo federal reembolsa-os em 670 euros por mês e por cada refugiado, comparticipando assim nos elevados custos dos estados federados e dos municípios. O apoio é concedido até que termine o processo de asilo de cada um. Uma vez reconhecido o direito a asilo, os asilados entram no sistema geral alemão de apoio social Hartz IV, tal como qualquer alemão necessitado.

Nalgumas casas de acolhimento de refugiados as contendas têm escalado. No alojamento de Calden-Kassel que foi concebido para 1.000 refugiados, agora com 1.750 refugiados de 20 nações, deu-se agora, depois de outras querelas, uma pancadaria com paus e gás de pimenta em que participaram 370 refugiados (albaneses e paquistaneses) e a que acorreram 50 polícias; 14 refugiados e três polícias foram feridos (http://zu.hna.de/calden2909). Polícias queixam-se que para acorrerem aos alojamentos já lhes falta o tempo para observarem os meios da droga e outros sectores de observação.

Nas palavras de Rainer Wendt chefe do sindicato da polícia, no “Passauer Neue Presse”, revela-se muita experiência recalcada e frustração acumulada, partilhada pelos colegas polícias nas suas intervenções em casas de alojamento de refugiados: "Temos experimentado essa violência durante semanas e meses. Juntam-se em grupos de acordo com etnias, religião ou com estruturas de clã e vão uns contra os outros com facas e armas caseiras”. "Islamitas querem impor lá os seus valores e a sua ordem". A minoria dos cristãos deveria, ser colocada, nas casas de alojamento de refugiados "sob protecção especial" porque é, muitas vezes, perseguida de forma maciça.

Muitos não se comportam como hóspedes e muitos refugiados alemães que depois da segunda guerra mundial vieram para a Alemanha (11 milhões) e viveram durante anos em alojamentos muito precários para refugiados, custa-lhes a compreender o comportamento e exigências de muitos refugiados de hoje.

Com a miséria e despovoamento da Síria, a longo prazo ganham os que querem lá a guerra. A Alemanha com tanta imigração rejuvenesce-se e cria maior concorrência no mercado de trabalho e deste modo disciplina o próprio operariado na concorrência europeia e globalista que quer uma precaridade comum aos diversos Estados. Assim evita uma flutuação de carentes entre os vários sistemas de apoio social da União Europeia.

Porque não se dá o mesmo direito aos que solicitam asilo nas embaixadas como aos que são transportados por quadrilhas que rebocam fugitivos que tiveram de pagar entre 4.000 e 8.000 euros aos que organizaram o seu transporte?

Que se faz contra os bandos de candongueiros ou traficantes? A proposta de lei do governo contempla um mínimo de três meses de cadeia para tais delitos. Porque é que alguns partidos de esquerda se opõem a medidas concretas contra os traficantes?

A crise dos refugiados continuará enquanto as potências continuarem a lucrar e ganhar créditos com a desestabilização dos países através da guerrilha e da morte.

O problema dos refugiados sírios resolve-se quando os governos dos USA, Rússia, Arábia Saudita e Irão se juntarem a uma mesma mesa; para isso a elite europeia terá de deixar de jogar com eles o jogo sujo e disser à população o que verdadeiramente se passa e os motivos que a levam a actuar assim. Os responsáveis conduzem lá fora a guerra sangrenta de que os países e os refugiados são vítima e cá dentro na Europa conduz-se a guerra mediática de que somos nós as vítimas. Na realidade, a política internacional conflituosa e de rivalidade entre os USA e a Rússia, entre os xiitas e sunitas, são os responsáveis por uma situação de destruição de nações e por uma nova situação na sociedade europeia de consequências futuras imprevisíveis. O vice-presidente do Parlamento Federal, Singhammer solicita a limitação do direito dos refugiados ao reagrupamento familiar. Refere que os 200.000 refugiados da síria na Alemanha trariam consigo um "potencial de reagrupamento ” para a Alemanha de 600.000 familiares.

A Liga dos Direitos Humanos IGFM em Frankfurt expressou que a proteção do direito de asilo exige um não ao abuso. A maioria dos migrantes vem de países seguros onde não há perseguição política. Há dias em que entram na Alemanha 10 000 refugiados.

O político dos Verdes Jürgen Trittin acaba de afirmar: "A Alemanha está a desaparecer a cada dia que passa". Claudia Roth, do mesmo partido, comentou: "Alemães são Não Migrantes. Nada mais." A sociedade europeia, devido à irresponsabilidade política cada vez se radicalizará mais.
António da Cunha Duarte Justo
“Pegadas do Tempo” www.antonio-justo.eu

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

CONSTITUIÇÃO ALEMÃ EM ÁRABE PARA REFUGIADOS

As mesmas regras de jogo para alemães e estrangeiros – Iniciativa para evitar a desculpa do “não sabia„

António Justo

Quem vem para a Alemanha deve saber que “os princípios da nossa sociedade democrática são válidos para todos”.

O vice-chanceler alemão Sigmar Gabriel (SPD) mandou traduzir os primeiros 20 artigos da constituição alemã e imprimir 10.000 exemplares em árabe para serem distribuídas nos centros de acolhimento de refugiados e aos deputados na Alemanha. Junto toda a Constituição em árabe (دستور جمهورية ألمانيا الاتحادية): http://www.fes.de/international/nahost/pdf/GGArabisch.pdf

Deste modo os refugiados poderão saber quais são os princípios que regulam a sociedade alemã. Ninguém poderá mais tarde argumentar que não sabia as regras do jogo (traduzo): “A Alemanha não é um país qualquer. Aqueles que vêm para cá precisam de saber como é a cultura da convivência entre nós”, declara agora Gabriel em entrevista ao Bild Zeitung (2.10.2015). Defende a cultura dominante argumentando: „Existe uma cultura de liberdade e responsabilidade, de direitos e deveres de que não queremos abdicar. As pessoas que vêm para cá devem não só aprender a língua alemã, mas também saber as regras de jogo da nossa coexistência”.

E concretiza: “Ninguém é forçado, quando vem para a Alemanha, a mudar de religião, ou a mudar a sua vida privada. Mas que, é importante para a nossa convivência, que os princípios da nossa sociedade democrática, se apliquem a todos. A todos aqueles que já se encontram cá e a todos os que vêm. Que, entre nós, Religião e Estado são separados, que homens e mulheres têm os mesmos direitos, que cá a homossexualidade não é nada anormal, que as parcerias de vida podem ser escolhidas livremente, que somos um país com liberdade de expressão, que também inclui a crítica à religião, também mostramos nenhuma tolerância perante anti-semitismo, todos estes são os princípios que temos de declarar/explicar - mas cuja aceitação esperamos daqueles que vêm até nós. Também na integração se aplica: exigir e promover.”

Na Alemanha, atendendo à grande afluência de imigrantes (este ano conta-se com um milhão de pretendentes a asilo) e aos muitos problemas de convivência não resolvidos, a política começa a falar texto claro.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu