Inteligência e Burrice da
Nação espelham-se nos Governantes e vice-versa
António Justo
Quando se desce
à rua, seja em África, Venezuela, Brasil, nas alas do governo ou da oposição, tem-se
a impressão de vivermos numa sociedade doente e de atmosfera infectada. Nela,
frequentemente, a alegria de uns constitui a tristeza de outros e o que sobressai
na população é a tosse da acusação e da queixa.
Em sociedade o
que mais conta é a luta de interesses de grupos numa estratégia de afirmação de
uns contra os outros. O povo é o tapete
onde os interesses se jugam e realizam. Cada grupo organizado puxa na corda a
que se agarra e o que passa a valer é a corda e o que ela arrasta, por isso a
sociedade, como todo, pouco adianta.
Uma mentalidade
cultural baseada em vencidos e vencedores legitima o direito do vencedor a
desrespeitar o vencido que se encontra sempre na massa anónima, que é povo
repartido!
O povo
repartido na perspetiva da sua parte acusa a injustiça que vê da outra parte.
Daí não poder haver revolta popular contra o sistema político que apenas se
reveza na luta da insatisfação repartida e na consequente distribuição da presa
à clientela vencedora (Esta parece ser, por enquanto, a lei do progresso!).
É legítima a
exigência de que se mudem as regras de jogo na luta social e política, mas
ineficiente porque o poder vive do princípio da divisão “Divide se queres
imperar” e isto porque o todo é feito de partes (grupos que se afirmam numa
dinâmica do contra, de interesses contra interesses e por isso não ganha o todo,
mas sim o interesse da parte mais forte).
A alternativa
seria diminuir a burrice de maneira à esperteza se ter de transformar em
inteligência. Mas também a inteligência pressupõe ver mais longe e como tal
passa também ela a viver e usufruir do privilégio do avanço que a caracteriza e
que o povo, numa das suas partes, legitima.
A parte que ganha vive do benefício da posição
da força de interesses maioritários que a legitimam a explorar o grupo perdedor
e ao grupo que perde resta-lhe o apelo à moral e ao barulho da praça. (Cada um
parece só ter para dar e receber o que é do outro sem pensar nem prover pelo
que é nosso!) Em termos reais o povo é que paga a conta.
Às vezes
fica-se com a impressão que o povo (grandeza anónima) funciona para muitos
espertos como uma offshore. Um exemplo perfeito
do que acontece a nível de economia temo-lo nas Offshores (Panama Papers: aprender
a roubar em cinco minutos) onde o profissionalismo da corrupção e do
roubo é institucionalizado pelos bancos, com a bênção da política (onde se lava
o dinheiro, se cria anonimidade e os vestígios dos criminosos são safados).
O sistema
favorece os espertos e os corruptos, mas esse sistema é fruto de um povo que
gera o governo e o possibilita do nível de corrupção ou de transparência que
merece (por isso também há grande diferenca entre os povos e os governos das
diferentes nações!).
Para a prática da
corrupção pressupõe-se a existência de energia criminosa mais ou menos latente
em cada pessoa. Em geral, a corrupção de cima é mais evidente e mais execranda que
a de baixo, mas a caracterização da diferença depende também do caracter e da
possibilidade que o grau do posto proporciona. Também “a oportunidade faz o
ladrão”! A diferença qualitativa do corrupto de baixo da do corrupto de cima
vem do grau de consciência, da necessidade e das consequências que provoca (um talvez
roube para matar a fome e o outro para esbanjar, com a fome dos outros).
Em nome da generalização
se condenam as acusações placativas aos políticos e em nome do povo enriquecem
os predadores da sociedade. O político corrupto além de corrupto é traidor… além
do compromisso de servir o bem-comum e de ser exemplar, ele tem o poder e o
dever de mudar as coisas a um nível que a pessoa privada não tem.
As regras de
jogo são feitas por espertos para os espertos que as usam sendo justificados por
um povo plateia que estimula o jogo. Eles têm o proveito e o povo fica com a satisfação
de ir vivendo ao sol do debate sobre moral. A esperteza junta-se à burrice na
anonimidade! Que seria dos espertos se não fossem os burros!...
Na “matilha„ não importa a dignidade humana o que conta é o osso.
O problema não está na carroça, mas sim nas “bestas”! “Ai dos vencidos”!
© António da Cunha
Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4251
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