Na Controvérsia entre
Acontecimentos e Factos alternativos esvai-se a Verdade
Os peritos da rectórica descobriram que, para se
levar o cidadão a fazer o que se pretende dele, se torna mais eficiente o uso
do discurso/notícia emocional do que o uso do discurso racional argumentativo...
Outras análises científicas chegaram à conclusão
que se torna até “racional usar as emoções como meios de comunicação política
porque estas favorecem processos de deliberação” (1). Esta
tática política é de observar nos métodos empregados nos discursos dos
políticos e dos Media em relação à informação sobre a pandemia e a Ucrânia onde
se procura motivar as populações a apoiarem todas as medidas políticas tomadas
ou a tomar.
Um discurso “emocional” tenta, em geral,
apresentar o facto ou descrever a situação de maneira a obter-se um juízo de
valor que leve o grupo ou a colectividade a aceitar o transmitido como se fosse
norma moral ou social...
Ao contrário, o discurso racional assenta num
diálogo argumentativo em que se discute a validade de afirmações e a
legitimidade das normas discutidas...
Chegou-se a uma
prática discursiva desenvergonhada com base no maquiavelismo de que os fins
justificam os meios e como tal utilitarista para uma das partes e ao mesmo
tempo grosseira. Neste sentido é de
observar uma lamentável aproximação dos discursos, do populismo dos de cima ao
populismo dos de baixo!...
Neste sentido é de observar uma lamentável
aproximação dos discursos, do populismo dos de cima ao populismo dos de baixo! A política tem verificado que é mais simples
e proveitoso mover a emoção do que a razão. Temos assim um discurso cada vez mais maniqueísta e assalariado sobre
realidades reduzidas a preto e branco, o que é uma expressão sintomática da
entropia em que estamos envolvidos e do autoritarismo para que caminhamos...
“Sócrates já observava que entre os doces de um
confeiteiro e os remédios de um médico, não há dúvida quanto à escolha das
crianças. Mas os senhores
do espectáculo não se contentam em considerar seus espectadores como crianças. Um mestre na manipulação das almas, Adolf
Hitler, dizia: “diante de uma plateia, para conseguir adesão, viso o mais
estúpido e, nele, o que existe de mais baixo: as glândulas lacrimais ou
sexuais... E ganho sempre. À minoria crítica, cuido dela de outra maneira” ...
A Europa
encontra-se no mau caminho! O discurso político atual assumiu o papel de condutor
cego alheado e alienante! E o mais trágico é constatar-se que as populações devido
a um complexo de inferioridade não veem ou não se atrevem a dizer que os “reis”
que nos governam vão nus!...
Michel Foucault e Jean-Francois Lyotard (2) constatam
que não existem factos incontroversos, empiricamente provados. Pelo contrário, os factos são apenas
interpretações de certos acontecimentos ou casos que também podem ser
interpretados de forma diferente, ou alternativamente...
O difícil da
questão está em verificar se uma interpretação ou narrativa considerada
verdadeira está inserida na grande narrativa ou acontecimento...
Cada ordem implica um viver em relação e,
consequentemente, ter a percepção da realidade não só na parte, mas também no
seu todo...
Não chegam as próprias narrativas da realidade é
preciso reconhecê-las integradas num texto ou contexto. O contexto aproxima-nos
mais da realidade/verdade...
Na nossa época devido à exuberância do eu, à
acentuação do ego, somos tentados a tornarmo-nos só verbo e como tal sem frase,
sem comunidade que nos dê prospecção e sentido...
O artigo, o substantivo, a preposição, a
conjunção, o verbo, considerados isolados em si mesmos, perdem o seu sentido
que é ser elemento vivo da frase ou do texto, seja ele gramatical, social,
político ou religioso...
Nem os ricos nem os pobres, nem os governantes nem
os súbditos, nem os religiosos nem os ateus, nem os do Norte nem os do sul
global se encontram do lado errado. Errado é o caminho que não nos leva a
unir-nos nem a sermos fraternais e solidários!...
No meio de toda a discussão haverá que compreender
por que é que os sentimentos nos motivam a agir, mas para
tal também compreender o que está por trás dos sentimentos e qual a razão que
nos leva a reagir como reagimos ou a sentirmos como sentimos. Só então
estaríamos preparados para elaborar decisões com um fundo racional (mental que
ilumina) e um fundo emocional que motiva a agir de modo adequado e equilibrado.
Doutro modo, na
controvérsia de acontecimentos e factos alternativos esvai-se a Verdade para
ficar a dúvida ao serviço do engano.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
Texto completo e
notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=7738