Conflito israelo-palestiniano importado para a Europa
O acto terrorista e vil do Hamas de 7.10
no festival em Israel (com 1.400 barbaramente executados, crianças decapitadas
e 199 sequestradas para a Faixa de Gaza), vem mostrar a impossibilidade de
resolução do conflito na Judeia/palestina. O Hamas encontra-se na linha do daesh/isis.
Simplificando:
na Judeia/Palestina decorre uma guerra por procuração onde se encontram
representadas duas civilizações em luta: de um lado o islão e o socialismo e do
outro Israel e o capitalismo liberal; daí o seu significado mundial
geoestratégico e daí o perpetuar-se de uma situação desumana e fatídica. Todo
mundo está lá envolvido, atuando pela calada da noite e à margem do povo, sob o
manto de uma mixórdia de interesses onde se procura agradar a Deus e ao Diabo. Por outro lado, na discussão do drama da Judeia/Palestina resume-se a
manifestações de tendências geralmente tidas como objectivas. O fatal, numa
sociedade de tendências (e esta é a única que temos) é que o tendencioso
evidencia a tendência que já se tem: afirmando-a ou questionando-a, mas sem
efeito, o que no final de contas vem justificar a acção violenta e a razão de
interesses desumanos.
Interesses representados em núcleos
(potências aliadas a ideologias) expressam-se de maneira especialmente cruel
nos conflitos da Judeia/Palestina e na Ucrânia. Os interesses dos EUA (Nato), muçulmanos, russos e chineses são os
mais evidentes nos conflitos atuais. Conflitos de interesses hegemónicos não
têm resolução militar e menos ainda nos povos de cultura árabe onde
política, religião e comércio fazem parte do espírito do povo.
Agora
que Israel se mostra decidido a bloquear Gaza, a Arábia Saudita, a Rússia e a
China apelam para o cessar-fogo e o fim do bloqueio de Gaza. Por seu lado
Israel sabe do inimigo cruel que tem pela frente e dos erros que cometeu no
passado contra o povo palestiniano e está certo que, se não desalojar os
terroristas de Gaza, o contencioso Israel-Palestina continuará como dantes (e
para mais na fase de tentativa de nova ordenação do mundo entre Brics... e G7...).
Facto é que o Hamas está a ganhar a guerra ideológica ao conseguir unir o mundo
árabe e parte do não árabe em torno de si conseguindo a liderança na abertura
dos telejornais mundiais.
Um efeito colateral grave das lutas
económico-culturais vem-se acentuando mais e mais depois da segunda guerra
mundial. Os interesses político-económicos que abateram a cultura judia em
Auschwitz são os mesmos que deram a entrada a 20 milhões de muçulmanos seus
figadais inimigos. O conflito israelo-árabe já há muito que chegou à europa
especialmente através da emigração muçulmana e cada vez se faz sentir mais nas
escolas alemãs e na sociedade em geral.
Também a Europa está vocacionada a tornar-se cada vez mais uma zona de
conflitos atendendo à sua política de migração, importando de maneira
sustentável os conflitos inerentes ao islão (nação islâmica”, Ummah).
No ponto
de encontro ou de eclosão de interesses contraditórios torna-se difícil
determinar quem está no lugar certo e no lugar errado. Esta incerteza fomenta
as certezas de um e do outro lado; estas são, porém, certezas que se excluem e
criam escravos de um lado e do outro, como é próprio da lógica do poder. Grupos
hegemónicos só conhecem o caminho para a victória final e este é assinalado por
intransigência, povo morto e sacrificado.
Há que considerar que onde há escolha há
interesse que se quer ver legitimado pela liberdade. A questão permanece,
porém, nas certezas que por sua vez pretendem legitimar interesses. O cum
quibus da questão é que conjecturas são apresentadas pelos formadores de
opinião e media como dados certos.
A defesa
de um valor ou direito abstracto não pode servir para justificar a existência
da violência concreta. Nem a violência
do movimento terrorista do Hamas nem acções terroristas nem acções de
retaliação vitimadoras de inocentes dos povos israelita e palestiniano são
legítimas. Por outro lado, há que
aceitar a história, doutro modo continuaremos num dilema justificador da
violência de parte a parte que se resume na opinião pessoal de Benjamin Netanyahu:
“Se os árabes depusessem hoje as suas armas não haveria mais violência. Se os
judeus depusessem as suas armas não haveria mais Israel”.
O fatal
no meio de tudo isto é viver-se de correlações fora de qualquer causalidade.
A situação de injustiça criada em que estão
envolvidas as duas partes não pode justificar o agir delas: nem a violência dos palestinianos nem a política israelita de colonização. Os meios de comunicação social e os
políticos comportam-se como têm feito no conflito da Ucrânia: em vez de
fornecerem informações factuais e justas, criam informações de campanha militar
mais apelativas ao sentimento do que à razão. Só uma atitude que conduza à compreensão
das duas partes poderá ajudar a resolver o problema à margem da ocupação e do
terror.
A Faixa de Gaza com o Hamas é a ponta de lança do islão e a Liga Árabe tem mais de 360 milhões de cidadãos...
Como têm
mostrado as guerras com o islão (Iraque, Líbia, Afeganistão) este não perde.
Ele tem uma dinâmica de poder resiliente e de sustentabilidade garantida pela
religião/povo.
Em termos de civilização o Alcorão está
para os árabes, como a Mensagem bíblica está para os europeus. O Corãoé
político e privilegia os direitos
culturais árabes em detrimento dos direitos individuais e o Cristianismo favorece
os direitos humanos individuais, de uma maneira geral, o que, no contexto
social em que vivemos e em termos políticos o enfraquece. É por isso que o
Islão é uma religião sobretudo política e o estado islâmico defende o derrame de sangue inocente como se prega em
muitas mesquitas; segundo os livros sagrados do islão, o muçulmano recebe a sua
dignidade através da pertença à religião (Ummah) e não conhece o amor ao
próximo nem a ideia de uma humanidade toda ela feita de filhos de Deus (a
solidariedade é limitada ao grupo crente); assim, a vida e o cidadão são concebidos em termos de
função institucional e daí a indiferença
perante a vida e o indivíduo. Os radicais matam sem medo nem dores de
consciência porque ao fazê-lo servem o islão e são premiados com o paraíso como
promete o Corão.
A estratégia
e finalidade do Hamas é espalhar o islão e destruir Israel. Apesar dos intrincados interesses geopolíticos na região quem apoia o Hamas
apoia o terrorismo de um grupo que não representa o povo palestiniano. O
extremismo despreza os próprios membros de religião usando-os como escudo pois
tudo o que serve o avanço do islão é legítimo (até a mentira) o que impede a
maioria dos muçulmanos de tomar partido ou de se manifestarem. Naturalmente que
aqui falo do islão e não dos muçulmanos em geral porque na generalidade são muito
mais humanos do que muitas das premissas da sua religião e no seu dia-a-dia têm
as mesmas preocupações que todos os outros. O problema vem das mesquitas e de
associações que se aproveitam da sociedade europeia aberta para afirmar a sua
sociedade fechada (Gueto) e assim, com o tempo, criam problemas étnicos como
vimos documentado no processo de fragmentação da antiga Jugoslávia.
Em 629 um exército árabe islâmico tentou invadir a Palestina,
mas foi derrotado pelas tropas romanas. O
Corão da fase de Meca reconheceu a Palestina como terra dos judeus! Como a
Palestina estava então fora da sua esfera de influência, o Corão reconheceu aquela
terra aos judeus dizendo na Sura 17: "E dissemos aos Filhos de Israel:
'Habitem a terra!... Tome esta cidade para sua habitação." E uma das
últimas suras de Meca (parte do Corão escrito na época pacífica) diz: “E demos
ao povo oprimido as partes oriental e ocidental da terra (isto é, toda a terra)
como uma herança que abençoamos. E a boa palavra (promessa) do teu Senhor veio
a ser transmitida aos filhos de Israel (como recompensa) pela sua
paciência." A veneração de Jerusalém pelos muçulmanos é um fenómeno
forçado após a fundação do Estado de Israel.
A
contradição que se encontra na geopolítica Judeia/Palestina encontra-se,
importada nas ruas da Alemanha e nas declarações do governo! Enquanto os políticos na Alemanha fazem declarações políticas afirmando
que a defesa de Israel faz parte da razão de Estado alemão, nas ruas é
festejado o ataque vil do Hamas contra o festival da juventude e nas escolas
aumentam as expressões de ódio contra os judeus. Na Alemanha, as instituições
judaicas devem ser protegidas pela polícia. Karl Lagerfeld dizia: “Não podemos matar milhões de judeus e
permitir que milhões dos seus piores inimigos entrem no país”. Uma
sociedade que pretende ser multicultural desresponsabiliza-se ao não exigir
responsabilidade aos imigrantes árabes que se afirmam contra ela.
António
CD Justo
Pegadas do Tempo:
https://antonio-justo.eu/?p=8794