Estados fortes e Plutocracia
contra Estados débeis e Pobres
Recuperar a Honra de Portugal
António Justo
“Temos uma mentira institucionalizada no país… que não deixa que as coisas
tenham a pureza que deviam ter" ”, diz o general Pires Veloso. Quando, os
bem alimentados da nação, se atrevem já a falar assim é mesmo grave o estado da
nação e justificada a insatisfação. O actual regime democrático, mais que
fruto do desejo de liberdade e de bem comum, foi cinicamente construído
amoralmente e baseado na manipulação ideológica que permitiu muitos
“iluminados” arrogantes apoderarem-se do Estado, e manter o povo na submissão,
já não sombria mas risonha. Pessoas corruptas, com o apoio militar,
instauram um estado corrupto, sem razão crítica, sob o pretexto dos abrilistas
serem os libertadores de Portugal. Sanearam Portugal à sua imagem e semelhança!
O povo, atraiçoado pelas elites conservadoras e pelos oportunistas engravatados
da ocasião, deixou-se enganar e agora acorda molhado. O maior roubo que se pode
fazer a um país é tirar-lhe a esperança, a autoconfiança e a dignidade.
Construímos uma democracia duvidosa em que políticos não são responsabilizados
pelo seu mau comportamento mas o cidadão sim. As ideologias e os interesses
pessoais e de coutos sobrepuseram-se aos de povo e nação.
Urge sanear o País desde o Estado
à Constituição
A atitude do ministro Nuno Crato, mandando reavaliar todas as licenciaturas
que foram atribuídas com recurso à creditação profissional, deveria ser um
primeiro passo no saneamento do Estado no sentido de desinstitucionalizar a
corrupção; deveria passar-se a rever também as medidas que possibilitam tal
creditação. O trabalho seria colossal porque teria de chegar também aos
diferentes órgãos de Estado e a uma revisão da constituição portuguesa, nascida
sob auspícios ideológicos e partidários! O resto é só maculatura.
O saneamento da nação implicaria coragem e vontade para o abandono de
regalias adquiridas na base de legislações nepóticas (favoritismo!) e de acções
como as de forças de pressão orientadas apenas pela ganância à custa da
destruição da economia nacional, tal como acontece com a greve dos maquinistas
e outras. Um país que orienta a sua acção na base de aquisição de regalias mata
de início a solidariedade e destrói-se a si mesmo impossibilitando a
governação.
Há muitos portugueses que anseiam pela revolução, esperando que a rebelião
comece em Espanha. Os alemães, os franceses e os Ingleses temem a instabilidade do Euro; mais
que a desgraça da Grécia ou de Portugal, preocupa-os sobremaneira a
insatisfação popular incontida duma Espanha ou duma Itália. As consequências
para o projecto EU (Euro) seriam catastróficas. Por enquanto entretemo-nos com
a periferia; com o tempo também a França passará a entrar na dança.
Uma Alemanha que exige contenção económica aos países menos fortes como
Grécia, Portugal, Espanha e Itália, continua a endividar-se apesar duma
economia florescente. Endividando-se aposta já na inflação que aos outros não é
permitida devido a um Euro de várias velocidades! (A RFA, no seu orçamento
federal para 2013 prevê, nos seus gastos totais, 33,3 bilhões com a dívida
federal que ocupa o terceiro lugar, depois da defesa também com 33,3 bilhões e
dos gastos no âmbito laboral e social com 118,7 bilhões). No que respeita a
endividamento para empréstimo, o Estado alemão não tem dificuldade com isso,
porque ganha com a diferença do crédito (pede dinheiro emprestado a 2% e
empresta-o a 6% ou mais). Por outro lado o banco central europeu empresta
dinheiro aos bancos a 1% em vez de o emprestar directamente aos Estados
deficitários, favorecendo assim a usura dos bancos que depois concedem créditos
a terceiros a preço especulativos. Não será que no caso duma reforma
monetária quem mais sofrerá será quem mais poupou? O Japão e os USA não se
encontram em melhor situação que a EU. Só que o dólar é suportado mundialmente,
podendo os USA produzir bilhões de notas por mês sem que o mundo berre, ao
contrário do que faz com a Europa. É que a Europa apesar das diferenças
gritantes ainda reserva um bom óbolo para os desfavorecidos do sistema e da
natureza e isso desagrada aos tubarões do mercado.
Povo vítima de Instituições
corruptas e da própria Apatia
Os responsáveis pelo colapso económico não são chamados à responsabilidade
pelo Estado português que, ao contrário do que acontece na Islândia, assalta a
carteira do povo, poupando a dos que se encheram. Facto é que o povo
português foi vítima dos governos de Portugal e da especulação financeira
internacional. O apoio da EU (União Europeia) e a concessão de créditos aos
países pobres parece ter sido para estes poderem fazer compras aos países ricos
e ao mesmo tempo terem a oportunidade de beneficiarem as grandes empresas para
a competição internacional da nova realidade global (turbo-capitalismo).
“Confiaram” na capacidade política e financeira dos políticos estatais e
agora vem a Troika, controlar a nação sem se interessar pelo Estado nem para
onde foi o dinheiro. Como precisam dos seus mercenários governamentais para
executarem as suas exigências não lhes tocam.
Os povos da periferia, com uma elite política não habituada a deitar contas
à vida, deixaram-se iludir com promessas e histórias de paraísos turísticos,
etc. Esta elite, “comprada”, com postos e ordenados especulativos
internacionais, permitiu a destruição das pescas, agriculturas, têxteis e das
pequenas e médias empresas da nação; pior ainda, concretizam, ainda hoje
com zelo, medidas europeias tendentes a destruir as regiões e os seus produtos
específicos em benefício das grandes multinacionais estrangeiras e de
latifundiários. Agora que a periferia (Grécia, Espanha, Portugal, Itália,
etc.) se encontra na dependura especula-se no centro da Europa, se não seria
melhor estes Estados optarem pela antiga moeda para melhor regularem o próprio
mercado, ou se não será melhor um euro “duro” e um euro “macio”! Tudo desculpa
para manter o terreno conquistado!
As multinacionais receberam parte dos apoios da EU, destruíram as pequenas
e médias empresas e foram-se embora deixando os consumidores dependentes da
importação que essas mesmas firmas agora servem, a partir do estrangeiro. Um
enredamento bem perpetrado! O chanceler Helmut Kohl preparou as grandes
empresas para a concorrência internacional e o chanceler Schroeder açaimou o
operariado para a concorrência com o operariado exterior...
As nações ricas, cada vez mais ricas ainda, criaram nelas também uma pobreza
cada vez mais à medida da pobreza da periferia. A introdução do Euro
correspondeu ao abandono da economia social tradicional em favor dum
liberalismo económico americano (anglo-saxónico), tendente a criar os Estados
Unidos da Europa à medida dos USA.
Porque há-de pagar a crise quem não tem dinheiro? Porque não se põem os
mais ricos a contribuir para se resolver a crise? Estes já não trazem benefício
para o Estado, numa fase em que o capitalismo comunista de Estado (China) tem
poder económico e político para aniquilar o capitalismo de cunho privado (de
multinacionais internacionais). Os magnates do dinheiro e as nações mais
fortes têm-se permitido humilhar os povos da periferia porque ainda notam que
estes se mantêm ordeiros. A situação está a tornar-se tão séria que só uma
revolta popular séria poderá levar muitos representantes do povo (políticos
mercenários) a arredar de caminho, porque a credibilidade internacional
destes só vale na medida em que conseguem manter o próprio povo sem a revolta.
A não ser que se aceite o surgir de grupos radicais no Ocidente à imagem dos
grupos Al Qaida (sistema de guerrilha!).
Os que se assenhorearam do Estado português (revolução de Abril no seu
aspecto de assalto às instituições) começaram por, da sua janela, anunciar o
poder e a liberdade para o povo e por roubar-lho pela porta traseira! A fusão
de interesses mafiosos entre políticos, instituições, administradores de
empresas públicas e conluio com a justiça inviabiliza um Portugal honrado.
Chegou a hora da mudança (conversão) ou da revolução! Como podem ricos e
políticos dormir, quando há já gente com fome! Será que a globalização, a EU
terá de acontecer à custa da fome. A Europa conseguiu a paz acabando com a
fome; agora, que a fome vem, prepara-se a guerra. O povo começa a perceber que
os seus governos têm os seus interesses salvaguardados sob a capa dum Estado
“padrasto”.
O problema não está tanto na escolha de alternativas mas na mudança de
mentalidade das elites governamentais (partidárias) que nos têm governado e
administrado e dum povo habituado a dançar ao ritmo duma música tocada por
outros. Não tempos tido governos nem partidos com capacidade para
administrar um Estado e menos ainda uma nação. Os mesmos parlamentos que
levaram o país à ruina perderam a autoridade para governar Portugal e a Troika
que o governa agora não está interessada nem no povo nem na nação.
Resta ao povo a metanoia, não comprar produtos estrangeiros e chamar o
Estado e os gestores financeiros ao rego da nação. Estes porém sabem que o povo,
como a criança, só berra e não actua. Daqui a falta de esperança com a
agravante de que a reconciliação do povo com o seu Estado significaria mais uma
vez abnegação. As pessoas sérias do Estado deveriam proceder a um saneamento
do Estado e das leis que protegem os que vivem encostados a ele. Só assim
poderiam os administradores da miséria readquirir a honra perdida para Portugal
poder voltar a cantar “Heróis do mar” e da terra também!
António da Cunha Duarte Justo