segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Mensagem de Natal ao Governo e a Portugal

Votos dos Portugueses da Diáspora
Antonio Justo
Agradecemos e retribuímos a vossa mensagem de Natal e os votos nela formulados. Fazemo-lo não apenas com palavras eufemistas torcidas mas concretizamo-los também com o envio das nossas remessas diárias de 8 milhões de euros para que o Governo possa melhor equilibrar a balança comercial e financeira com o exterior.

Esta seria a altura própria de nos encontrarmos em Portugal mas o espírito de “abnegação” que levou a maior parte de nós a ter de escolher viver fora do país, na procura de “sucessos sociais” obriga-nos a poupar para que aí alguns possam sobreviver e outros mais ter. A isto talvez se refira quando testemunha a “admiração e respeito granjeados em Portugal” pelos “portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro”.

Na mensagem de Natal, o senhor Secretário de Estado Dr. António Braga revela falta de autenticidade e carência afectiva. Nela trata-nos como não-residentes que vivem “nos países onde um dia escolheram viver”. Isto surpreende-nos porque no período revolucionário o partido dizia que no tempo de Salazar a emigração era um recurso de fuga à pobreza e à guerra. Hoje que não há guerra nem Salazar ainda há mais gente a ter de fugir. Será que a pobreza terá aumentado, apesar das nossas remessas e dos apoios da União Europeia? …Não, as bocas em Portugal não aumentaram, o que aumentou foi o desgoverno e o estômago de alguns mais iguais. Fora de Portugal já andam 5 milhões de portugueses! Compreendemos que este é um assunto bastante comprometedor para os Governos e para Portugal, o que não deveria justificar o governo a manter uma má imagem do emigrante!...

Cínica e desavergonhada foi a lamentação governamental na mensagem ao queixar-se que “há um défice enorme na participação eleitoral dos portugueses não-residentes cuja superação depende apenas da vontade individual”. O senhor, habituado a passear a sua pessoa pelas comunidades migrantes, já se deveria ter dado conta do carácter disperso dos portugueses nos países de acolhimento e da distância dos consulados que ficam a muitas centenas de quilómetros. O senhor secretário de Estado, na sua mensagem, apela ao “recenseamento, um acto muito simples através do qual o cidadão fica habilitado a participar nos actos eleitorais nacionais”. Um apelo falacioso e uma mentira descarada! De facto, a ala esquerda do parlamento português, por iniciativa do Governo PS, roubou aos emigrantes o direito ao voto por correspondência, porque esta forma de votação favorecia mais os outros partidos. Assim o PS instrumentaliza o Parlamento em benefício da nomenclatura PS e esquerda bem montada em torno dos e nos consulados da Europa, regulares locais de voto.

Por outro lado, na RTPi faz campanhas de voto para as eleições europeias. Nessa catequese do faz de conta trata-nos como uns Zezinhos em que os nossos filhos e outras figuras engraçadas apelam aos coitadinhos emigrantes para votarem, lá fora. O senhor reduz-nos os direitos de cidadania e ainda tem o descaramento de dizer que o “direito constitucional” está “nas mãos de cada um”!...

Facto é que para os emigrantes e para os portugueses não-residentes o Governo, habituado a uma política de encenação, o que sabe bem é organizar acções virtuais e de relevância publicitária para inglês ver e enganar o inocente público limitado à informação da TV.

Por estas e por outras, além de cinismo, não estamos habituados a esperar muito do governo.

Esperamos sim dos portugueses e do Portugal real que nos tratem como um deles. Esperamos da TV que nos deixe de tratar como coitadinhos provincianos. Nós emigrados somos pessoas honradas e dignas, habituadas a viver do próprio trabalho, contribuindo para o engrandecimento das nações onde vivemos e para o enriquecimento dos portugueses em Portugal. Esperámos, em troca, que nos restituam a dignidade e a honra a que temos direito na opinião pública.

Desejamos a todos um feliz Natal e um muito próspero ano novo.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

domingo, 21 de dezembro de 2008

Natal Tempo Alto – Tempo de ser Presépio

Feliz Natal e um Ano Novo mais humano

António Justo
No Natal não há que estafar a razão contra o coração. Quem bem vive da “razão” tem razões para desprezar o “coração”. Porém já Pascal dizia que o coração tem razões que a razão não conhece.

Natal é o tempo alto dos pequenos e em que todos nós, mesmo adultos, temos uma criança a descobrir em nós. Natal é também o tempo da florescência do amor no estábulo da nossa vida.

Natal já era outrora o desejo dos pagãos. As pessoas de boa-vontade procuraram levar o Natal aos pequenos, numa tentativa de humanizar a humanidade; levaram a divindade humana, a dignidade do ser humano a nascer num curral. Tudo parece ter sido em vão!... Na praça pública continua a não haver lugar para os pequeninos, para os pobres. Para o Deus-menino, para o carente, não há lugar na hospedaria. Nas hospedarias da democracia e dos outros regimes também não. Tudo tem dono e cada vez há menos currais onde a esperança possa nascer. Os ocupantes da vida, do pensamento e do povo chegam sempre antes. Eles são mais rápidos e deitam a mão a tudo. Não se contentam já com as coisas materiais, querem, também a razão, só para eles!

Os depredadores da dignidade humana desdenham do coração e do sentimento. Esquecem que no coração é que se encontra o espírito. Natal é a vida a protestar! É um protesto do amor contra a morte, uma reclamação do serviço contra a violência. Natal é o amor em botão, o amor a brotar da natureza, o amor a surgir em cada coração. Natal é salvação a querer vingar em todo o ser!

O Espírito fez-se carne e habitou entre nós
Agora compete aos Homens de boa-vontade, transformar a carne em espírito, a tristeza em alegria; tornarmo-nos também no Emanuel do próximo.
Do oriente, vêem os emigrantes, os refugiados, os desempregados, os doentes, os infelizes, na fuga de situações e de sistemas injustos. É a procissão dos que passam ao lado do sistema na procura das luzes, das músicas e dos aromas do bem-viver. Não há lugar à mesa, nos hospitais nem na burocracia, para o transeunte que procura, para o menino.

Natal, és tu sou eu. Na procura do renascer juntamo-nos todos no estábulo de Belém na qualidade de: vaca, burro, camelo, Maria, José, anjinhos, pastores, ovelhas, reis, prendas. É a ânsia inata de nos tornarmos o Menino. De facto nele se realizam, a vaca, o burro, o camelo, a Maria, o José, os anjinhos, os pastores, as ovelhas, os reis, as prendas. Cada um de nós tem um bocado destes participantes a descobrir e a integrar em si mesmo.

Quando temos um contacto mais estreito com animais, por exemplo com o cão, chega-se a ter a impressão que a parte mais humana do homem se encontra no cão.

A nossa vida é presépio, é natal da humanidade, é ponto de encontro de todas as vertentes e dimensões naturais e espirituais. Aí, no curral, no altar da vida se transubstancia tudo para ganhar um novo rosto. Em cada um de nós, o mundo continua a nascer, a ter uma nova oportunidade. Quando deixarão, os farsantes da praça pública, os ocupantes do presépio humano, lugar para os interlocutores de Belém? Talvez enquanto contarem com a fraqueza do coração…
Natal é tempo alto na missão de transformarmos o mundo no processo de encarnação e espiritualização. Natal é resistência contra a entropia, é fogo contra a frieza, é desobediência.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

N A T A L 2 0 0 8

E tu, que gostavas de ter como prenda de natal?
António Justo
“Que gostavas de ter como prenda de natal?” – pergunta a mãe viúva ao filho triste que aperta nas mãos uma moldura com o retrato do pai. “ Gostava que meu pai arrombasse a moldura para me acarinhar” – responde o filho, sem hesitar.

“Que gostavas de ter como prenda de natal?” – pergunta o professor na escola. “Gostava de ter um professor que derrubasse os muros da escola para poder estar comigo” – responde o aluno no seu anonimato.

“Que gostavas de ter como prenda de natal” – pergunta o patrão. “Gostava que os muros da fábrica caíssem para a fábrica se tornar num lugar onde se ganha o pão com honra” – responde o empregado.

“Que gostavas de ter como prenda de natal” – pergunta o político ao cidadão. “Gostava de ter políticos que rebentassem as grades do partido e formassem um governo que não faça da nação uma prisão.”

“E tu, que gostavas de ter como prenda de natal?”
Eu gostava de ter uma família, uma escola, uma igreja, uma política, um patrão, um amigo que estivesse cá para mim. Tenho um desejo insaciável de alguém que me acolha e me acompanhe. Tenho saudade de alguém que saia fora do quadro, que estoire a moldura da rotina e as armações das estruturas, que deixe cair a máscara para se encontrar comigo em Belém.

“Que gostavas de ser então?” – pergunta-nos Jesus. “Gostava de tornar-me Jesus Cristo ao serviço dos irmãos” – respondes tu e eu.

Tu e eu somos Natal a acontecer!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

DIREITOS HUMANOS – DIREITOS INDIVIDUAIS EM PERIGO

António Justo
No princípio a natureza dominava sobre o Homem. Mais tarde domina a instituição também. Por fim dá-se a inter-relação equilibrada entre indivíduo e instituição ou cultura.

Depois da segunda guerra mundial, perante a deslegitimação moral das instituições, surge a necessidade dum compromisso internacional para a defesa dos cidadãos. Os direitos humanos declarados em 1948 pela ONU tornam-se, assim, um bem individual adquirido, no processo de emancipação, contra as estruturas dominantes. O Estado compromete-se a proteger, como direito natural: a dignidade humana, o direito à vida e a integridade corporal, a igualdade perante a lei, a liberdade de fé e de consciência e o direito a resistir a quem queira eliminar estes direitos.

Consignados, pelo menos no papel, tornam-se fundamento e pressuposto para uma vida humana em comum. Culturas fechadas e estruturas autoritárias continuam a impedir a aplicação dos direitos humanos.

Já o Mestre da Judeia lutou pela libertação da pessoa humana do domínio das estruturas culturais, religiosas e estatais. A natureza divina do homem, por ele defendida e nele personificada, torna-o incompatível com qualquer sujeição a uma instituição que não respeite a humanidade e divindade de cada pessoa humana; aquilo a que se chama dignidade humana. O preço que Ele pagou pela sua desobediência à instituição foi a sua condenação e morte em nome do Governo e do Sinédrio (símbolos de todos os Estados e de todas as Religiões e hierarquias). O indivíduo surge da comunidade que deve continuar mãe, para que ele se torne garante de futuro!... Resistência é a atitude do homem digno!

No Ocidente, à medida que os Estados se vão formando e estabilizando a consciência dos direitos individuais aumentam também. A dignidade humana e especialmente a consciência dela evolui com o evoluir cultural. A Magna Carta inglesa de 1215 limita os poderes do Rei em favor dos direitos dos súbditos, ainda não cidadãos…

Um grande passo no desenvolvimento da consciência individual, em relação à consciência de grupo ou cultural, foi a carta da independência americana de 1776 que consignou como direitos inalienáveis: a vida, a liberdade e a aspiração à felicidade.

A prática prova que nos encontramos muito longe da aplicação dos direitos professados. Principalmente em países árabes, China e na África a declaração tem grande dificuldade em adquirir validade. Os poderes estabelecidos vivem bem da opressão. Ainda se continua a apedrejar mulheres pelo facto de terem uma relação com um outro homem; cortam-se os membros a adultos e a crianças que cometeram actos de furto, etc. Há direitos culturais que ainda se colocam sobre os direitos individuais da mulher e da criança.

Também na Europa se assiste a um crescente desrespeito de direitos individuais, fazendo-se valer direitos do homem sobre a mulher, a mulheres que vêm de países de cultura muçulmana. Um retrocesso imperdoável contra a tradição ocidental.

Cada vez há mais ameaça aos direitos humanos devido ao terrorismo e a medidas de estados ocidentais contra os cidadãos. Em nome da segurança o Estado toma medidas de controlo do cidadão, por vezes, incompatíveis com os direitos individuais. O Estado toma, muitas vezes, o terrorismo como pretexto para controlar o cidadão. A relação entre os direitos individuais e grupais não é pacífica.

A natureza expressa-se como variada e livre problematizando as ortodoxias estáticas. Ela afirma-se na diferenciação.

Torna-se, porém, difícil aceitar a diferença, sobretudo quando o direito à diferença é defendido por minorias radicais que lutam pela hegemonia cultural também contra os direitos humanos.

A época em que vivemos exige grande atenção e capacidade de resistências às superstruturas cada vez mais autoritárias.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

SÓCRATES PASSA UMA RASTEIRA A CAVACO SILVA

O Povo é Vítima duma Opinião eleitoralista transmitida pela TV
António Justo
Aproxima-se o ano das eleições. O primeiro-ministro Sócrates já tem algumas na manga para passar rasteiras ao Presidente da República. Uma delas é a atribuição de competências ao Presidente da República, no que toca ao envio de soldados para o exterior.

Com esta cajadada passa uma rasteira ao presidente e dá a impressão ao povo de querer valorizar a Presidência da República, quando com esta atribuição mais a desestabiliza. Neste caso as agressões do povo mais consciente iriam cair sobre o PR, tendo este de funcionar como guarda-chuva do senhor PM e do Governo. Uma maneira refinada de colocar o PR em cheque e de reforçar o autoritarismo do Estado.

De facto, as missões dos soldados nos Balcãs, no Afeganistão, etc. são iniciativas muito contestáveis e problemáticas; além do mais, dado que Portugal, país da periferia, só tem a perder com a intromissão em conflitos internacionais, do interesse das potências.

O envio de soldados não deveria ser legitimado autoritariamente por um chefe de Governo nem por um PR. O lugar de decisão é o Parlamento, tal como acontece em nações mais sensíveis à democracia. E mesmo neste caso qualquer partido deveria ter a possibilidade de levar a decisão ao Tribunal Constitucional, como última instância. O PM deixa o rabo de fora em muitas das suas acções. Depois os seus acólitos serão enviados para aplainar o caminho. Com…e bolos se enganam os tolos!

Sócrates, que é esperto, bonito e gosta dos cavalos troianos, conseguirá, também desta vez, desviar a discussão dos problemas da nação para o partidarismo. Lutará para que as eleições parlamentares sejam feitas o mais cedo possível, para que o povo não chegue a notar os verdadeiros problemas económicos e sociais que, posteriormente, se acentuarão, no decorrer do ano 2009 e de que ele também é responsável.

Sócrates já não precisa do trunfo Cavaco para disciplinar o PS antes dividido entre Alegre e Soares. Agora trata-se apenas da desmontagem do PR, sabendo embora que a oposição não se encontra à altura de concorrer com ele. Militante partidário, mais que governante, o PM defende a atitude correligionária na tradição republicana da arrogância exacerbada.

O que o PM precisa é de polémica barata porque esta é que mais resultado lhe trará num país em que a maioria do povo só conhece a TV como fonte de informação e de formação. A opinião pública portuguesa, em vez de se ocupar com a discussão dos problemas reais e dos factos relevantes, contenta-se em discutir os problemas e artifícios criados entre instituições e grupos políticos. Chafurda continuamente no emocional. Assim se atola um povo distraído no lamaçal da cultura meramente televisiva. Não há uma discussão séria entre as diversas forças económicas, sociais e científicas, como é natural nas grandes nações, para se reduzir a discussão dos problemas da nação aos políticos. E muitas vezes, quando há discussões entre pessoas da cultura, nota-se uma preocupação política, amesquinhante para quem não precisa de levar água ao seu moinho que provenha do rego (levada). A TV, com uma tesoura na cabeça, insinua-se na intimidade dos políticos em contínua atitude de graxa.

No reino da mediocridade televisiva quem se sai melhor são os políticos e os comediantes.

O povo português, tal como acontece em povos da periferia cultural, é obrigado a marcar passo na História. Está condicionado a ser conduzido por multiplicadores de opinião que vivem da exploração cultural, económica e social.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PISA 2008 – UM DESAFIO AO SISTEMA DO ENSINO

Requer-se uma nova Política de Ensino e um novo Sistema de Educação

António Justo
Enquanto a nação portuguesa assiste a uma disputa irresponsável entre Ministério da Educação e Professores, Portugal continua a perder todos os torneios da Liga da PISA – comparação das competências dos alunos entre as nações. A investigação das causas do mau aproveitamento e da má figura de sistema de ensino português e não o jogo do gato e do rato entre Governo e Professorado deveriam estar na base das preocupações do povo português e das suas instituições. É preciso inverter os interesses e o sistema da nação. O sistema escolar que tem está orientado para as elites à custa das vítimas do sistema e à custa duma profissionalização séria a nível médio, que não existe. A Escola só contempla a auto-estrada que conduz à universidade privilegiando os filhos das classes consumidoras de cultura. Não tem estradas nacionais nem vias distritais à altura das necessidades da nação e do povo.

A discussão em curso não deve distrair da urgência da concentração de esforços numa remodelação séria da estrutura escolar que por sua vez implicaria a criação de novos perfis de professor. Terá que ser criada uma estrutura escolar diferenciada que apanhe o aluno ao seu nível e com capacidade de desenvolver as suas potencialidades. As escolas não estão preparadas para a diferenciação. Não há escolas, nem professores, nem programas especializados para as diferentes clientelas de alunos e para as diferentes necessidades profissionais da sociedade. Um estabelecimento de ensino que, do 5°. ao 10°. ano, arrebanha os alunos com diferentes aptidões e capacidades no mesmo currículo será necessariamente uma impertinência para os mais carentes e um desengano para os mais exigentes. É como se o Estado quisesse organizar uma corrida competitiva na qual uns participantes partem a pé e outros de bicicleta, tendo todos de fazer o mesmo percurso e de chegar à mesma meta e ao mesmo tempo.

Torna-se urgente desacoplar o aproveitamento dos alunos da sua proveniência social.

Modelo Alemão de Ensino
Neste sentido, os Estados federados da Alemanha dão resposta diferenciada à situação dos alunos, a nível de currículos, de programas e de formação de professores, geralmente a partir do 5°. ano de escolaridade. Na parte da Alemanha correspondente à zona de leste, que tem um sistema de estudo dividido em dois tipos de escola, a partir do quinto ano de escolaridade, os resultados de PISA foram muito bons. Na zona ocidental da Alemanha o ensino é diferenciado em três tipos de escolas (Modelos de ensino: “liceal”, “comercial” e “industrial”). Há estados federados onde mais de 50% dos alunos conseguem atingir a universidade embora não tenham seguido a via liceal de acesso directo à Universidade. Também o ensino profissional qualificado possibilita o acesso à universidade. Assim, quem atinge o 9°. ano na escola “industrial”, com boa média, pode passar para a escola “comercial” e concluir lá o 10°. ano que dá acesso à via directa profissional de três anos (sistema dual), e ou (no caso de boas notas, em matemática, alemão e numa língua estrangeira), poder ter acesso à escola complementar que, depois de 2 ou 3 anos, possibilita o acesso aos institutos superiores técnicos ou às universidades.
Na Alemanha a orientação liceal é mais norteada pelo espírito analítico e científico, pela disciplina pressupondo-se aí um aluno consciente da qualificação a adquirir e dos limites entre professor e aluno dado a rigorosidade e as exigências curriculares não terem muito espaço para o estabelecimento de cordialidade entre eles, ao contrário do que acontece na escola de orientação profissional média. Nestas os docentes são professores e assistentes sociais na mesma pessoa. Estabelecem uma relação mais amigável com os alunos e telefonam frequentemente com os pais, no caso de deficiências ou de falta dos trabalhos de casa, etc.
Naturalmente que, também aqui, a conferencia dos professores e a direcção têm um olho sobre o aproveitamento dos alunos. Cada escola elabora os seus objectivos, importante não é a regulamentação da realização, importante são os resultados. Para isso, tendo embora a especialização e a especificação, organizam-se medidas especiais para os mais fracos. Os professores têm uma carga horária entre 26 e 30 horas lectivas semanais conforme os tipos de escola.

Também a Alemanha, um país com sete milhões de emigrantes, tem de fazer esforços muito grandes especialmente em relação à população escolar turca e árabe que além da camada social que forma se encontra renitente à aprendizagem da língua do país hospedeiro, o que prejudica imensamente o aproveitamento escolar dos alunos e os dados estatísticos.

Um Modelo possivelmente viável
A estrutura escolar deverá comportar uma componente científico-liceal que conduza directamente à universidade e uma componente profissional média que se oriente para profissões médias mas com saídas pela via indirecta para o ensino superior. Além disso, o sistema tem de criar estacões de acolhimento capazes de reorientar e capacitar alunos perdidos num determinado currículo. Seria irresponsável deixá-los abandonar a escola como demitidos sem qualificação qualquer. Um Estado que obriga o aluno a passar tantos anos nos bancos da escola tem que oferecer algo em contrapartida. O ensino profissional não tem sido prioridade dos governos devido à ideologia política que depois do 25 de Abril discriminou o ensino profissional e à mentalidade de que trabalho que suje as mãos é indigno para gente que se preze.

Portugal, depois do 25 de Abril, tem esgotado os seus esforços no debate de estruturas escolares e na aplicação de pedagogias e didácticas muito à margem da realidade dos alunos e da sociedade. Não chega que a escola se torne moderna, é preciso que qualifique e que seja eficiente. Também as novas iniciativas do Governo não revelam aferimento à realidade portuguesa e à situação dos alunos, nem tão-pouco orientação para a solução de problemas. São medidas cosméticas, para inglês ver. O sistema escolar está tão doente que já não bastam tratamentos paliativos nem placebos, tem que sofrer uma intervencao cirúrgica, à margem das mezinhas provenientes da burocracia ministerial. É preciso criar um novo sistema escolar com várias portas de entrada e várias portas qualificadas de saída que esteja preparado a receber os alunos provenientes da escola primária e dar-lhes as melhores oportunidades. O sucesso escolar depende também da personalidade do aluno. Segundo investigações científicas confirmadas, mais de dois terços do talento (inteligência) dos alunos deve-se a factores hereditários.

Para já seria urgente reduzir o número de alunos em classes que possibilitem uma assistência mais intensiva a alunos carentes. Para estes as aulas complementares poderiam ser alargadas, em casos especiais, até mesmo ao Sábado. Importante é que os grupos que precisam de assistência complementar não sejam estigmatizados mas as iniciativas possibilitem a mobilização de potenciais e de tipos de escola que possibilitem qualificações para concluir com êxito a escolaridade. Na Alemanha, cada vez é mais frequente a existência de tutores. Alunos mais prendados apoiam (apadrinham) alunos mais fracos.

Portugal poderia aproveitar-se da crise, pondo menos dinheiro à disposição dos bancos e investir na criação de escolas profissionais, na sequência duma reforma do ensino. Deste modo também daria vida à economia das empresas locais.

Naturalmente que cada modelo escolar tem os seus fracos. As melhores qualificações, segundo os estudos PISA, são atingidas pelo sistema escolar da Finlândia.

Só um sistema em que a pessoa esteja no centro das atenções e dos acontecimentos, seja ela aluno ou professor, poderá produzir resultados satisfatórios a nível individual e social. Importa fomentar os mais fortes e os mais fracos sem que isso se torne nuns à custa dos outros.

António da Cunha Duarte Justo
Professor na Alemanha
antoniocunhajusto@googlemail.com

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Portáteis de Sócrates e Ensino

Entrevista feita pela Jornalista Ana Clara a António Justo e publicada no Semanário O DIABO a 03.12.08

1. Porque não há oferta de portáteis para alunos portugueses no Estrangeiro?

Houve alunos interessados nos portáteis. As entidades interpeladas dirigiram-se ao senhor Director-Geral do GEP mas este nem sequer se dignou dar resposta às consultas feitas há já meses. Para os alunos portugueses no estrangeiro não há nem haverá nada. O Governo é que conta com a mama dos emigrantes.

2. Na sua opinião há aqui dois pesos e duas medidas, ou seja, os portugueses, no caso, os alunos, no estrangeiro estão a ser discriminados?

Não, o triste da situação é que nem há pesos nem medidas. É um caso típico desmedido e só possível em países em que o povo tem pouca capacidade de intervenção cívica perante o Governo. A iniciativa da oferta de portáteis em Portugal está enquadrada numa manobra publicitária do governo de Sócrates ligada ao acordo com Bill Gats e respectivas contrapartidas. Quem adquire os PCs Magalhães compromete-se a fazer um contrato, creio que, com a TMN que fornece o acesso à Internet. O aluno recebe o computador barato mas, no fim, atendendo às condições do contrato, paga caro. É a mesma lógica das empresas que oferecem o telemóvel gratuito… Como se depreende, um procedimento muito tortuoso que implica muitos jogos escondidos, favoritismos e submissão por parte de empresas concorrentes e duma opinião pública carente. Atendendo ao emaranhado da questão não há viabilidade.

3. O «Magalhães» tem sido alvo de polémicas, sobretudo, porque ainda não chegou a muitas escolas e se chegou continua empacotado. Recentemente o próprio Primeiro-Ministro fez uma apresentação onde entregou alguns computadores mas, depois, foram-lhes retirados devido a processos burocráticos. Como vê estas acções do Governo?

Refere-se ao caso da Escola do Freixo, em Ponte de Lima, que José Sócrates escolheu como palco para a própria encenação. Desta vez saiu-lhe mal porque alguma imprensa atenta não se contentou com o brilho virtual das imagens da televisão. Preocupou-se também com a realidade que estava por trás do brilho ilusório da TV. É triste que os alunos, já predispostos a receberem os PCs só para a fotografia, tenham sido usados e abusados, ao serem disponibilizados no sentido da “logística administrativa”. Esta prenda veio confirmar o jogo do faz de conta dum Primeiro-Ministro de perfil bem aferido à TV e para inglês ver. O aproveitamento que o Governo faz com a distribuição dos portáteis é anacrónico. Como se pode ver continuamente na TV, o PM sabe aproveitar-se do público que tem. Apresenta-se em todo o lugar onde há algo interessante, tal como fazia o apelidado de “corta-fitas” no tempo de Salazar. Uma tristeza e uma vergonha que isto seja possível em Portugal e que o povo e a TV não dêem por ela! É surpreendente o facto de um homem que tem a certeza de ganhar as próximas eleições ter necessidade de se comportar como se andasse sempre em campanha eleitoral. Com uma oposição tão fraca e tão pouco fotogénica, o exagero da presença abrilhantada do PM na RTP até já cheira a vaidade!

4. O projecto do «Magalhães» foi bem conseguido? É essencial?

Sim, o governo consegue fazer render o peixe para si e apresentar-se de Pai Natal, mesmo fora da época natalícia! Continua a tradição do Pai Natal portador das prendas qu vêm de cima, no trenó da RTP. Essencial não é, receio é que será prejudicial. O povo menos consumidor de cultura fica com a impressão que o Governo está a investir no Ensino e nos alunos. Em termos de investimento escolar, isto não passa duma manobra de desvio das atenções duma escola em crise e incapaz de dar resposta às necessidades reais da nação. A escola precisa de grandes investimento a todos os níveis.

5. Há quem considere que o Governo, com a política seguida até agora, está a instrumentalizar as escolas para fins eleitorais. Concorda?

É evidente que sim. Num país em que a origem social continua a determinar o sucesso e o insucesso escolar, profissional e social das crianças, seria óbvio que se criassem infra-estruturas capazes de promover as crianças em situação carenciada, de maneira persistente. Em vez disso desperdiçam-se dinheiros em fogos de vista. A estratégia do futebol é programa. A magia está na tensão criada em campo e na plateia, o Governo também percebe muito de futebol. Ele sabe que o povo se contenta com a expressão dos sentimentos.

6. Como avalia a política de Educação deste Governo?

O Governo encontra-se confrontado com dois problemas: por um lado a exigência dos tratados de Lisboa e de Bolonha. Os Estados membros pretendem criar condições para que metade dos alunos por toda a Europa tenha direito e a habilitação para o ingresso na universidade. Por outro, o ensino estatal encontra-se num estado deplorável. A reforma que se exigia é substituída por medidas paliativas tendentes à socialização da mediocridade: um ensino ao nível de exigências mínimas. O Governo, em vez de reformar a escola limita-se a puxar as orelhas aos professores e a fazer-se menino bonito dos alunos. O seu proceder leviano terá como consequência o agravamento das chances para a camada social mais carenciada. A política simplicista e burocratizante seguida provocam a fuga dos melhores alunos para o Ensino privado e a consequente necessidade criação de escolas de elite. Isto conduzirá à escola estatal do resto cada vez mais impeditiva da igualdade de chances. A concorrência técnica internacional não perdoa o facilitismo. Tem de passar por um ensino de qualidade responsabilizador e não de desobriga..
Naturalmente que será necessária muita força e coragem para acordar Portugal da pasmaceira em que tem vivido. Para isso não basta espertos e meninos bonitos! É imperdoável que um governo PS de maioria absoluta, se limite à administração da miséria continuando assim a adiar Portugal. Para isso as nossas elites terão de se descobrirem primeiro como nação e povo. Portugal terá que algum dia quebrar a tradição de ser conduzido por grupos que se apoderam do Estado. Estes têm feito dele o seu pelouro! É o que tem vindo a acontecer especialmente desde as invasões francesas, na sequência de mercenários que se vão revezando.

7. E como tem o Governo português tratado os milhões de portugueses espalhados pelo Mundo?

Quando tal os portugueses estão mais fora que dentro!.. Se o Governo português já trata tão mal os portugueses que ficam em Portugal, como poderia tratar bem os portugueses fora de Portugal? Faz alguns esforços num ou noutro sector mas apenas no sentido da administração. Ultimamente até retirou ao emigrante a possibilidade de participar nas eleições com voto por carta. Isto foi mais uma medida da esquerda, mais activa e presente nos centros próximos aos locais de voto. De resto, personalidades do Governo vão passeando a sua personalidade nalgumas festas nacionais no jogo do faz de conta.

Para construirmos um Portugal moderno teremos todos que mudar de mentalidade e torná-lo a sério.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

MAOMÉ – APENAS UM AREAL DE PROJECÇÃO?

O Impasse Cultural
António Justo
Muhammed Sven Kalisc, o primeiro Professor universitário para teologia islâmica em Münster, Alemanha, duvida da existência histórica do profeta Maomé. Diz que não se pode provar a existência nem a não existência mas que ele tende para a não existência. “Maomé foi sempre uma área de projecção. Na realidade não se trata duma verdade histórica, mas duma ficção teológica” refere o professor em “DIE ZEIT”. Argumenta que uma teologia ensinada numa universidade moderna tem que se submeter aos métodos do esclarecimento (iluminismo) tal como aconteceu com o Judaísmo e com o Cristianismo.

Não será exigir demais querer aplicar a grelha modernista, também ela míope, a uma cultura ainda encerrada em plena Idade Média?

Com as suas afirmações o professor é contestado pelas organizações muçulmanas na Alemanha e desiludirá a conveniência da política alemã condicionada a dar graxa e interessada em integrar os muçulmanos no intuito de transformar os grémios muçulmanos em organizações semelhantes às cristãs. Para o professor Kalisc o problema está no facto dos grémios islâmicos titulares do ensino da religião “excluírem a investigação crítica histórica na universidade”, por estarem mais aferidos ao poder e apenas interessados em estruturas autoritárias. Kalisc justifica-se referindo-se à fidelidade à Constituição da RFA (na defesa dos direitos fundamentais do cidadão) a que também as agremiações muçulmanas se deverão submeter.

A sua missão de Professor compromete-o a tomar posição em favor da liberdade científica. Ele questiona-se pelo facto de no tempo de origem do Islão não haver fontes históricas de referência fora dele além da grande diferença entre os testemunhos arqueológicos das fontes muçulmanas e os das fontes não islâmicas. Não se encontram fontes originais escritas islâmicas nos dois primeiros séculos do islão e “onde as há põe-se a questão da autenticidade”.

À pergunta do problema da explicação da existência duma religião sem fundador, Muhammed Kalic responde “que uma nova religião pode originar-se a partir da cisão duma religião mais velha” e que vê como possível que “ o Corão, pelo menos em parte, é um texto cristão primitivo” e que no século VII, cristãos Árabes se terão separado do Irão e de Bizâncio podendo ter havido razões políticas para a variante do cristianismo para apoio do novo reino.

Para ele, o Islão seria uma forma de vida religiosa e uma tradição espiritual. Cada pessoa deve com a sua razão decidir o que deseja assumir da tradição. E continua: “A ideia de um islão uno é uma ficção cultivada tanto pelos fundamentalistas religiosos como pelos inimigos do islão.”

O Professor Kalic compreende-se como um muçulmano que apoia muçulmanos liberais.
Um islão que não coloque nada em questão e que se não deixe pôr em questão correrá sempre atrás do desenvolvimento da História entorpecendo em si mesmo. Por outro lado ao reduzir o estar do Homem à condição religiosa regulamentando-o em todos os sectores da vida criará muita frustração que se expressa depois na violência e numa sexualidade em estado de emergência. Isto conduz a uma atitude de hipocrisia que vive à custa do mais fraco. Por outro lado, o sentimento de impotência conduz à incapacidade de conseguir compreender o mundo e de o enfrentar de frente. A violência passa a ser um elemento integrante do próprio sistema, sempre à caça do mal fora dos próprios muros.

Esta crítica académica não será compreensível no meio islâmico habitualmente fechado em si mesmo e contribuirá para reacções ouriço-cacheiro e também para uma reflexão crítica por parte de muçulmanos liberais.

É verdade que a religião não pode ser submetida apenas à matriz racionalista. O agir da religião e daqueles que se reportam a ela deve ser, porém, submetido à razão. Uma pergunta à qual não escapam muçulmanos e não muçulmanos é o facto de o terrorismo a que se assiste no palco internacional ser quase de exclusiva responsabilidade muçulmana. Outra questão é o facto da exigência muçulmana de afirmar a sua religião nas sociedades para onde emigram e aceitarem, sem se pronunciarem contra, a perseguição dos cristãos em todos os estados de cultura muçulmana. Onde fundamentam a sua posição contra direitos humanos individuais bem como a discriminação da mulher. Até que ponto o Corão permite o diálogo e possibilita activamente a paz? Kalic luta, à sua maneira, pela abertura duma sociedade fechada e atolada na estagnação! Também o Cristianismo teve de dar a cara ao renascimento na passagem da Idade média para a Época moderna. Se é verdade que a filosofia renascentista se podia fundamentar biblicamente também é verdade que o Islão, se permitir o instrumentário duma teologia, não reduzida a mera jurisprudência, encontrará oportunidade de crescer na continuidade.

Quem aprisiona Deus faz do Homem verdugo do Homem
Os muçulmanos de cunho europeu poderão reformar o islão e abrir-lhe perspectivas para o futuro. Doutro modo este perpetuará a frustração e a inveja envergonhada no próprio povo e tornar-se-á um grande problema também para as sociedades para onde emigra. O potencial de conflito já presente nos guetos das grandes metrópoles, oportunistamente ignorado por políticos e intelectuais, no futuro, tornar-se-á fatal para a relação entre muçulmanos e não muçulmanos na Europa.

É irresponsável continuar a haver crianças turcas (da terceira geração) que nascidas na Alemanha chegam à escola sem saber alemão. Fechadas na sua sociedade não estão preparadas para responder aos desafios da sociedade maioritária. Sem perspectivas reais resta-lhes a frustração, o horizonte da Mesquita ou o ressentimento contra uma sociedade que os não soube defender e promover, ou ainda a revolta inconsciente contra os pais que os mantiveram prisioneiros no hermetismo da própria cultura.

Nenhuma cultura, nenhuma religião tem o direito de aprisionar Deus para depois, em nome dele, aprisionar o Homem. O mesmo se diga em relação à política – Estado e Povo. Deus não quer súbditos nem a nação precisa de escravos. Também, nenhum pai ou ideologia deve arrogar-se o direito de acorrentar o filho, o membro à própria mundivisão, tolhendo-lhe um caminho e um horizonte próprio. Toda a religião tem muita riqueza a transmitir. Perde porém a razão quando se torna um estorvo à emancipação e não se deixa questionar criticamente por conhecimentos novos. Ela terá de manter a balance da relação indivíduo-comunidade, apostando prevalentemente na pessoa para que esta se descubra comunidade.

A religião corre o perigo de se tornar anacrónico quando se tem de argumentar com a Constituição para defender o cidadão de arbitrariedades da religião, como acontece na questão da discriminação da mulher e da privação de direitos humanos. O islão é intrinsecamente contra a laicidade, não admitindo a liberdade de pensamento e de consciência, nem outra referência ética e religiosa que não seja Maomé e Corão no sentido duma hegemonia teocrática. O Islão terá que ter lugar para a sociedade civil com espaço para o cidadão.Tal como ocidente foi a religião que deu orige

António da Cunha Duarte Justo

domingo, 30 de novembro de 2008

OPORTUNISMO DE ESQUERDA FALA DE “GOVERNO DE DIREITA”

Um Estado para Cidadãos de Luxo
António Justo
Há por aí gente distraída que não sendo embora comunista assume a sua terminologia dizendo que a maioria socialista é “um governo de direita.

Uma armadilha para incautos! Com a confusão de conceitos e expressões como “governo de direita”, os estrategas da retórica social conseguem, incutir a ideia, pela porta traseira, que o socialismo é bom e o mal que faz é da direita. Esta é uma táctica fomentada por abrilistas habituados a actuar sem pensar e a responsabilizar a direita pelas próprias tontarias. Como se o mal de cada facção não fosse suficiente.

A justiça e a injustiça não são apanágio de direita ou de esquerda. São a sua prática e oportunidade. Quem conseguiu chegar às rédeas do poder já tem muitos mortos na cave não se preocupando com distinções entre esquerda ou direita. Eles são os eleitos. Essas distinções ficam bem para o Zé-povinho que ainda acredita na integridade pessoal e nas mensagens de salvação das ideologias.

Parasitas do sistema em vez de se aproveitarem da crise para remodelar os males do sistema turbocapitalista, remendam-no limitando-se a tapa-lhe os buracos onde mete água, até à próxima rotura no dique. O turbocapitalismo tem já tanta força que chega a colocar ao seu serviço o Estado e as práticas marxistas de nacionalizações, enquanto lhe interessar.

A “crise financeira” foi tomada a sério como crise a solucionar. Ninguém se lembrou, até hoje, de acautelar a crise da Saúde e do Ensino. Para estes não há dinheiro. A crise da saúde e do ensino não é tomada a sério porque os “eleitos” não estão dependentes delas. Os detentores de poder sabem que a maior parte do sabor do bom estar vem do mel que se tira às abelhas. O povo não é o objecto directo de interesse do socialismo nem doutros governos, doutro modo teria havido para esses fins talvez o dinheiro que de repente o Estado tem para fazer de bombeiro e fiador dos bancos. O Estado sabe que salvando os bancos e mantendo ilesos os seus responsáveis irá indirectamente meter a mão no bolso do cidadão. Os bancos recebem dinheiro barato que depois emprestam caro; as seguradoras aumentam as taxas de segurança; o estado vai lá buscar o seu através dos impostos pagos pelo cliente.

O governo tem, por natureza, dois pesos e duas medidas. Trata mal o contribuinte pobre devedor do fisco e nacionaliza as dívidas dos banqueiros e bolseiros. Assim se hipoteca o futuro e fomenta o desemprego. O governador do Banco de Portugal implicado nos desfalques bancários (BPN e BCP) ainda tem o desplante de se queixar do apoio estatal aos dependentes do fundo de desempregado. A arrogância do poder já perdeu a visão do mundo em que vive.


António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A ESCOLA DE QUE SE PRECISA

Chega a hora das escolas de elite, a hora das Escolas Privadas

António Justo
A formação é cara mas a falta de formação ainda se torna mais cara, como confirmam os orçamentos dos estados sociais! Muitos estados, em vez de aumentarem o orçamento destinado à formação e ensino, procuram circundar a precariedade escolar com medidas acidentais. A degradação do ensino conduz à necessidade de criação de escolas de elite, à liberdade de escolha do estabelecimento a frequentar e logicamente à exigência dos estudantes terem a possibilidade de escolherem os seus próprios professores.

Na Sombra dos Tratados de Lisboa e de Bolonha
As orientações da EU consignadas nos tratados de Lisboa e de Bolonha pretendem que, num futuro próximo, metade dos alunos na Europa tenham o direito e a habilitação para o ingresso na universidade. Só assim se poderá manter o nível europeu no futuro dado o envelhecimento da sociedade prever a falta de muitos lugares de alta competência ao entrar na reforma.
Nas nações mais desenvolvidas europeias os educadores de infância devem, já no Jardim Infantil, ensinar línguas estrangeiras e entusiasmar as crianças para a experimentação com fenómenos da natureza. Neste sentido, a frequência do jardim infantil deve tornar-se gratuita a partir dos 4 anos.

A formação profissional terá de ser ancorada nas regiões e nas empresas, tal como acontece aqui na Alemanha com o sistema dual de ensino baseado no “saber de experiência feito”. O formando tem uma componente lectiva e uma componente de aprendizagem em firmas reais.

A Matéria-prima que temos é a Inteligência e a Formação
Os recursos naturais, as florestas e as matérias-primas cada vez se tornam menos para uma população mundial sempre crescente. Daí a necessidade premente de se investir nos recursos da inteligência. O futuro estará para aqueles que mais inovações criarem e para aqueles que souberem criar novas necessidades nas pessoas. A sociedade de mercado do futuro estará cada vez mais dependente do saber e da criatividade dos seus empregados. As nações que derem resposta a este dado continuarão a ser a ponta de lança do futuro.

Assim, no século XXI, incrementar a política social significará investir na política de formação, investir nas escolas e nos laboratórios de investigação. Não chega passar da época da Burguesia e dos Trabalhadores para a época dos Novos-ricos e do Proletariado.

Em quase todos os países, a origem social continua a determinar o sucesso escolar, profissional e social das crianças. Assiste-se a uma política que, para responder aos maus resultados dos alunos, provenientes de camadas sociais mais carenciadas, simplifica as exigências para a passagem de ano em vez de investir verbas em medidas de apoio aos alunos mais carenciados. Assim a mediocridade escolar chega a atingir galardões de nível médio mas sem pressupostos para responder às exigências dum ensino superior digno do nome. O governo apadrinha esta filosofia facilitista, possibilitando mesmo a entrada na universidade a pessoas sem currículo capaz. Ao socializar-se a mediocridade engana-se a sociedade e a nação. Os mais enganados serão os mais desprotegidos porque não têm a visão de conjunto e pensam que escola é igual a escola e outros não têm dinheiro para a poder escolher.

Para responder aos buracos criados pela política simplicista e às altas qualificações exigidas pela nova economia, surge cada vez mais a procura e a exigência de escolas de elite. A necessidade de instituições de formação exigentes e de alto nível torna-se assim a consequência duma política socialista que irresponsavelmente conduz o ensino para o nível de exigências mínimas. As instituições universitárias estatais terão de dar acesso às formações facilitadas aparecendo, colateralmente, institutos de ensino superior também facilitistas orientados apenas para o diploma. Com o tempo, mais que o título universitário valerá apenas o nome da universidade em que se estudou. Esta é a factura da política de ensino, iniciada com a revolução do 25 de Abril. Assistiremos a uma fuga crescente dos alunos mais capazes para o ensino privado tradicional. Consequentemente, as camadas sociais mais carenciadas manter-se-ão democraticamente afastadas da igualdade de chances. O socialismo, em nome da liberdade e da democracia, estabiliza uma carência que manca atrás dos beneficiados do sistema.

Fundos europeus mal aproveitados
O mundo é conquistado pela competência e não por títulos académicos sociais. Os governos sabem que podem permitir-se o prolongamento sucessivo do estado deficitário da nação porque contam com a resignação do povo, com o tubo de escape da emigração e das suas receitas e com os apoios da União Europeia para tapar os buracos resultantes da impotência política. Também os apoios específicos da EU para a formação profissional continuam a ser, em grande parte, mal empregados. O povo trabalhador e o portador de títulos universitários facilitados irão então para o estrangeiro ocupar lugares carentes. O orgulho português compensará a depressão nacional com a honra de nomes portugueses que conseguiram medrar na terra estranha. Muitos dos Novos-ricos da política e da cultura ocupam postos facilitados pela origem e pelo partido, desconhecendo, por isso, o esforço e o mérito que provém da produtividade.

Os subsídios económicos da União Europeia para promoção da formação profissional são mal aproveitados servindo até de álibi para o Estado português não ter de fomentar um ensino profissional regular sério e duradouro. Espera-lhes o mesmo destino que tiveram certas formações de professores subsidiadas pela EU. Acabado o subsídio acabam-se as formações, passando a ministério a ir à caça de outros dinheiros destinados a outros fins. Assim se vai mantendo a plêiade de formadores dependentes dessas fontes e do beneplácito partidário que está por trás. (Pude observar isto em relação a muitos cursos de formação contínua para professores e em que participei na qualidade de formando). As medidas de formação promovidas pela União Europeia não são suficientemente aplicadas e desviam as atenções da necessidade de fomentação de escolas profissionais. Os responsáveis políticos adoptam os rituais mas sem conteúdos nem aplicação de dinheiro útil. De projecto em projecto subsidiado lá vão adiando Portugal.

A política portuguesa em vez de apostar em Portugal encosta-se demasiado à União Europeia. Eles lá sabem e para o bom comportamento português sempre cairão algumas migalhas choradas para a classe política. A EU, nesta primeira fase de implementação, precisa também de chulos.

Desregulamentar a Escola e a Universidade
As escolas a tempo inteiro, de manhã e de tarde, terão de ocupar o tempo todo em actividades com sentido (sem tempos mortos que fomentem o vício) abrindo possibilidades à capacidade criativas e dando resposta às carências individuais e locais. A escola deverá tornar-se numa casa da porta aberta. Não poderá continuar um reservado de professores e alunos; terá que abrir as portas a mestres, assistentes sociais, outros técnicos e iniciativas privadas.

Enquanto que em países como a Alemanha as escolas e as universidades são cada vez mais libertadas da estreiteza regulamentar, tendo grande competência também na escolha dos professores, em Portugal só existe Lisboa, expandindo-se cada vez mais um centralismo possibilitador de influências partidárias nas direcções das escolas. A elite portuguesa continua a copiar os erros e as virtudes francesas, esquecendo a componente anglo-saxónica a nível de ensino e de política.

Os professores são ainda a pedra angular das escolas. Em vez de se apostar neles formando-os e motivando-os, o governo humilha-os e cria empecilhos burocráticos sem um conceito político e pedagógico de base. Aplicam-se apenas normas no sentido de dar resposta às orientações dos tratados de Bolonha e de Lisboa. Tenta-se aplicar cegamente medidas burocráticas julgando assim dar resposta às necessidades duma sociedade cada vez mais tecnocrata. A consequência será: o abandono das escolas estatais pelos mais competentes, a fomentação dos medianos oportunos e uma carência de professores a longo prazo que depois só poderá ser preenchida por medidas de exigências simplicistas. O Estado sabe que o contingente de professores na bicha de espera nunca faltará!

Se o governo está tão interessado em defender os alunos à custa dos professores porque não permite que os alunos, a partir do décimo ano, ou melhor, que os estudantes escolham os seus professores? Porque é que ainda há escolas, em que os alunos dos professores se encontram prevalentemente em determinadas turmas?

Porque é que o Estado em democracia ainda continua a apostar num professorado subserviente de funcionários públicos? Antigamente era o estado autoritário que estava interessado em controlar a nação e as ideias através do controlo dos seus funcionários; em democracia continua-se o mesmo espírito, o espírito burocrático e de projectos, ao serviço dum Estado partidário.

Porque não se premeiam os professores que tragam actividades especiais para a escola em vez de os humilhar a todos com um sistema de prémio aberto a influências? Porque não organizar a competência do ensino em três zonas possibilitando-lhes o aferimento regional e a concorrência entre elas? Porque há-de continuar Lisboa a sorver e a abafar as outras regiões? Portugal teria muito a aprender da Alemanha. Aqui PISA contesta os resultados nos estados de concentração estrangeira, especialmente turca, resultados também explicáveis por uma sociedade fechada nela mesma!

Num esforço central em conjunto com os Conselhos Municipais, a Alemanha investe 7% do produto bruto nacional na formação. Toda a nação está empenhada numa discussão produtiva, também com o contributo de posições partidárias mais selectivas ou mais permissivas.

Risco de brincar à Escola como se brinca à Democracia
O ME não se sente bem numa sociedade em que tudo é permitido e só a escola é obrigatória. A reforma em curso não é séria porque de tipo mercenário e porque apenas orientada para resultados ao serviço dum sistema económico-financeiro em ruína. Não podemos fazer com o ensino o que fizemos com a democracia. A sociedade só perderia continuando a jogar ao faz de conta como fizeram os políticos surgidos do 25 de Abril com a democracia.

O governo quer voltar ao dito de Salazar:”o que honra o trabalho do professor é o sucesso dos alunos” só que o faz com meios errados, roubando a honra aos professores e não tomando os alunos a sério. O “Estatuto do Aluno” está mais para inglês ver num país de maravilhas formais do que para os alunos reais. Desautoriza-se o professorado em vez de o apanhar por dentro, para ser renovado sim mas não à chicotada. A escola tem de ser repensada novamente. Não é com controlo dos professores e desobriga dos alunos que se dá resposta às exigências do século XXI. O professorado também tem muitíssima culpa no cartório. A força agora manifestada deve ser empregue para remodelar o sistema escolar radicalmente. Amanhã, não poderemos ter os mesmos professores nem os mesmos alunos!... A nação não pode permitir-se continuar a assistir ao jogo de forças dum lado e do outro.

Escola – Uma Comunidade Educativa alargada
A Escola é o lugar de encontro dos problemas do nosso tempo proporcionando um retrato bastante adequado da sociedade. Se queremos ganhar o futuro teremos naturalmente de mudar o sistema e especialmente as mentalidades.

Também os bispos portugueses, na sua carta pastoral (CEP), se manifestam preocupados com a situação das escolas. Em nome da diversidade uniformizam-se as escolas sem respeito pelos contextos, “ desprezando a liberdade de actuação dos professores, pais, autarquias e outros agentes locais com projectos educativos próprios”, como advertem os bispos portugueses. Estes vêem a escola como “comunidade educativa alargada, que integra alunos, a entidade responsável pela escola pública, estatal ou privada, os educadores e pessoal não docente, os pais e outros encarregados de educação e a comunidade circundante”.

Pretende-se no centro da discussão a “comunidade educativa” e não apenas o mero funcionalismo. Por isso os bispos esperam uma educação “antropologicamente fundada” orientada para a “inserção social participativa, crítica e criativa”.

Tanto o utilitarismo como o funcionalismo imediatos não deixam espaço para o Homem nem para disciplinas como música, arte e actividades criativas fomentadoras da dignidade humana.

Só uma escola aberta fomenta a autoconfiança e a capacidade de opiniões ousadas capazes de se auto-questionarem também.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

BOCA DO CIDADAO EUROPEU VAI SER MAIS DISCIPLINADA

“Polícia europeia do Gosto”
António Justo
A Comissão da União Europeia vai decidir, o mais tardar no princípio de 2009, uma Directiva europeia sobre o perfil do valor nutritivo dos produtos alimentícios que além de terem de apresentar uma relação detalhada das substâncias alimentícias verão limitada a possibilidade de fazer reclames, no caso de excederem a norma.

Assim, pão que tenha mais sal do que o previsto verá limitada a sua publicidade. 100 Gramas de massa não devem ter mais que um grama de sal. A arbitrariedade burocrática leva a considerar recomendável o pão branco que efectivamente não é saudável mas tem menos sal que o saudável pão integral com 1,5 gramas de sal em 100 gramas.

Na realidade um nonsens. Uma baguette de pão branco francês, não recomendável para a saúde, ganha contra a saudável fatia de pão escuro alemão. Se os padeiros alemães deixarem!...

Padeiros alemães ridicularizam as pretensões da Comissão designando a iniciativa como “polícia europeia do gosto” que quer uma “uniformização europeia do gosto”.

A posição indiferenciada que se tem observado em directrizes do género possibilita uma campanha contra a produção de víveres tradicionais. O mesmo que se assiste nas campanhas contra as culturas nacionais em benefício dum internacionalismo colectivista observa-se também contra a agricultura: maçãs de cara lavada sem borbulhas e a correspondente descriminação das pequenas ou deficientes, etc! O progressismo parece estar de relações cortadas com a cultura; por enquanto ainda vai poupando as culturas migrantes exóticas de fora!

Nesta luta encontram-se da parte da Directiva as organizações de defesa do consumidor contra a obesidade tensão arterial e doenças de circulação. De facto há produtores que abusam na sua propaganda louvando certas substâncias saudáveis mas calando quantidades excessivas de açúcar, gordura ou outras substâncias indesejáveis.

Para se impedir um erro comete-se outro. Colocam sob tutela todo o cidadão que cada vez se vê mais privado da sua responsabilidade. O estado começou por nos proibir o porte de armas prometendo-nos justiça, depois meteu-nos a mão no bolso prometendo mais solidariedade, depois até na cama e na vida de relação sexual entrou. Só parece terminar quando nos possuir todo.

A União Europeia determina e depois o ministério da saúde em Portugal que se arme em polícia. Haverá então muitas surpresas quando muitas especialidades da região, forem postas na lista negra.

O problema da pobreza não é regulamentado! De facto, muita da gordura que se vê especialmente nos bairros sociais das cidades é fruto dos produtos baratos que consomem. Uma das boas medidas preventivas seria: proibida a entrada a pessoas em bairros sociais; proibida a exploração do Homem pelo homem!...

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

LAVRADORES DEMASIADO CAROS À UNIAO EUROPEIA

Portugal por cultivar por falta de fundos
António Justo
A União Europeia continua a despender, para a agricultura, 43% do seu orçamento (53 biliões) até 2013. 37 biliões destinam-se a subvenções directas e o resto vai para um pote destinado ao desenvolvimento rural.

A comissão europeia queria alcançar maior justiça na distribuição das subvenções directas da UE aos agricultores. Pretendia uma redução de 22% nos subsídios directos aos grandes produtores de leite. Os ministros europeus da agricultura reunidos em Bruxelas a 20.11 conseguiram um compromisso menos duro para os grandes produtores. É também recusada a utilização dos fundos da política agrária comum (PAC) para acções fora da União Europeia.

A Alemanha, que recebe 5,4 biliões de euros da União Europeia conseguiu, com outras nações de grande produção de leite na Europa, que lavradores que recebam mais de 300.000 euros de subvenções anuais renunciem apenas a 14 % o que corresponde a menos 240 milhões de euros para a Alemanha contra os 425 milhões (22%) que a Comissão europeia pretendia. Os lavradores que recebiam 5.000 euros de subvenção anual não vêem reduzidos os subsídios.
Apesar destas medidas o futuro dos consumidores e dos agricultores europeus não é seguro.

O que se poupa com a redução será aplicado em programas de protecção ambiental e num fundo do leite. No passado, quase todos os membros da UE produziram mais leite do que as quotas nacionais permitiam, concorrendo isto para o embaratecimento do leite. A quota de produção de leite passa a ser aumentada anualmente de um por cento nos próximos cinco anos. Prevê-se para 2015 a desistência das quotas de produção. Os produtores de leite protestam porque temem uma concorrência muito forte. Segundo eles há leitarias a pagar 25 cêntimos por litro quando os custos de produção andam pelos 40 cêntimos.

Subvenciona-se a grande produção agrária ficando as zonas de minifúndios desprotegidas. O Interior e o Norte de Portugal continuam a sofrer a sangria dos seus trabalhadores que têm de emigrar. É a luta da metrópole contra o campo.

A regulamentação da qualidade estética dos produtos a comercializar ainda continua adversária à produção de géneros agrícolas sem emprego de produtos químicos. Tudo medidas que beneficiam os grandes produtores contra os pequenos. Uma maçã tem que ser lisinha para se poder pôr no mercado. Por um quilo de maçãs pagam-se dois euros no mercado e por um quilo de bananas paga-se um euro.

António da Cunha Duarte Justo

A CRISE INSTITUCIONAL DO ENSINO TEM UM NOME: SÓCRATES

A Ministra faz Parte do Problema – Governo, Sindicatos e Professores também

António Justo
Portugal encontra-se mal aproveitado. Quem vive fora do país, quem lhe quer bem e lhe reconhece grandes potencialidades, sofre, ao ver os descalabros que nele acontecem. Sofre mais do que os que vivem nele, pelo facto de poder confrontar e comparar maneiras de resolver os mesmos problemas em países diferentes, com mais ou com menos eficiência com mais ou menos diálogo, com mais ou menos respeito. Isto é possível na União Europeia porque os diferentes governos ocupam a maior parte do seu tempo a aplicar as mesmas directivas da UE. O que mais faz doer na comparação das atitudes dos governantes alemães com os portugueses é a diferente relação e atitude entre Estado e povo, entre governo e cidadão.

Tal como em Portugal, também a generalidade dos países da União Europeia se encontram empenhados na reforma do Ensino e com o problema da avaliação dos professores. O que contrasta e choca profundamente em Portugal é o autoritarismo e arrogância com que os criadores dos factos actuam. O comportamento ministerial e dos parceiros seria incompreensível num país como a Alemanha. Aqui a discussão não acontece apenas entre instituições couto, numa rivalidade de interesses de pelouros mas dá-se dentro da sociedade e dentro dos grupos de interesse institucional, para o melhor da nação que consta de todos.

Em Portugal todos falam muito bem, mas cada qual no seu poleiro!... Parece só haver galos em galinheiros sem galinhas! Apenas um exemplo: Há anos, na Alemanha, o Chanceler Schröder disse que os professores eram “Sacos preguiçosos” (noutra tradução possível “Sacos podres”). Logo o povo e o próprio partido lhe tapou a boca não aceitando inventivas ideológicas contra um grupo profissional, que, pelo que conheço, é muito empenhado e mais perto do aluno do que o docente português. A distância que se encontra em Portugal entre professor e aluno ainda é maior entre elite política e povo. Tal como os governantes portugueses, naturalmente que o professorado do quadro, ganha muito bem em termos de comparação com o operariado, não dando rendimento satisfatório em termos concretos e estatísticos.

A irresponsabilidade duma discussão pública de afronta directa, que procura, mono-causalmente, responsabilizar o professorado pela miséria do ensino nas escolas estatais portuguesas, só pode levar à confrontação. Afirmações incautas da ministra reduziam os docentes a bode expiatório, degradado ideologicamente, ainda mais a sociedade portuguesa. O grande responsável directo de tudo isto tem um nome: Sócrates. Se pensasse em termos de bem-comum nacional já há muito que deveria ter interferido qualitativamente na discussão. Assim, depois de batalhas desonrosas para todos, só o PM pretende sair ilibado, sacrificando possivelmente, também a ministra, quando bem lhe convier. (Naturalmente que o PS saberá arranjar uma boa esponja política para ela cair bem.)

Sócrates sabe que voltará a ser eleito novamente e tornará a ocupar o lugar por uma nova legislatura. É de desejar que então aproveite a oportunidade para se tornar mais um homem de Estado e menos um homem da ideologia e do burocratismo de tipo mercenário. Portugal mereceria mais e melhor. Portugal precisa de politicos menos vaidosos, menos absorventes dos ecrãs das TVs para dar oportunidade ao povo para pensar. Precisa de mais trabalhadores, no governo e nas instituições portuguesas. Precisa de pessoas à medida dos trabalhadores simples que têm de emigrar de Portugal para enriquecerem outros povos com o seu trabalho abnegado e sério e que ainda enviam o resto amealhado para ir ajudando a manter um Portugal já há muito distraído de si mesmo.

Não chega que a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues consiga desviar a chuva do capote do senhor Primeiro-ministro e que venha agora dizer o dito pelo não dito, tentando precipitadamente e mesmo fora de horas, sob pressão, corrigir o decreto-lei com um despacho. O que o orgulho e a arrogância de estilo não deixaram fazer, faz agora a necessidade.

A reforma não se faz contra os docentes mas com eles. Talvez também os sindicatos, que agora tiveram de correr atrás da multidão dos docentes, apanhando o comboio já em andamento, consigam manter mão nos professores para depois os obrigarem a aceitarem decisões incómodas. Para se imporem terão de aprender a ser menos coutada, menos ideologia, menos oportunidade para carreirismo político e libertação de aulas nem meros defensores de aumentos salariais duma classe. Terão de, a partir da escola e da sociedade, passar a dar resposta às necessidades da escola e do povo português.

A reforma não pode partir apenas de ideias abstractas e dum proceder tecnocrata orientado para postos. A sociedade portuguesa tem sido devastada com os ventos da ideologia e do moralismo. Não chega aferir a escola a um sistema económico em crise sem ter em consideração as condições de ensino. Não se trata de negar o velho em nome do novo, nem de destruir um sistema para construir outro – somos comunidade. Se os professores tivessem mais ligação com os pais certamente que não se sentiriam tão inseguros. Os professores têm de sofrer, tal como os pais, com o insucesso dos alunos. O facilitismo e a lei do “desenrasque-se quem puder” não leva longe. A ideologia continua a ser o cancro de Portugal. Com ela é fácil enriquecer, como provam muitos políticos. No século quinze eramos orientados pela ideia do comércio. Especialmente a partir do século dezanove Portugal a casta política portuguesa tem feito a experiência de que apostar na ideologia cria riqueza sem se sujar as mãos e o povo vai nela. Basta para isso apoderar-se dos meios de comunicação e apreguar o facilitismo.

Naturalmente que é necessário acordar a pasmaceira em que Portugal vem vivendo, há já séculos. Em especial a escolas públicas portuguesas têm vindo progressivamente a ser mais desautorizadas. PISA cria muito stress a uma sociedade, até agora, abandonada a si mesma. Não chega a contínua importação de modelos implementados de cima para baixo. Trabalho, disciplina e riqueza eram, para os nossos revolucionários, símbolos de fascismo. No tempo da revolução todo o que mostrasse um pouco de bom senso era chamado “facho”. Causa dor constatar que a revolução engole os seus próprios filhos! Naturalmente que hoje é difícil agarrar as “rédeas” dum povo à solta! O problema é que não temos elites com capacidade para isso, encontram-se acomodadas, demasiadamente habituadas a viver na administração da miséria, porque sabem estar à frente dum povo que nada exige deles. O “patrão” tem sempre razão.

Já temos um povo em grande parte vítima! Será que as nossas elites terão uma necessidade intrínseca de vítimas para poderem subsistir? Temos Sócrates, temos que viver com ele, porque também faz trabalho sério. Sócrates tem que contar também com o povo que tem. Se este fosse diferente também Sócrates seria diferente. Os erros dum são os erros do outro!

O problema de Portugal não é geográfico, é de sistema e de mentalidades.


António da Cunha Duarte Justo

domingo, 23 de novembro de 2008

PCs Magalhães não chegam às Escolas de Português no Estrangeiro!!!!

O Governo faz render o peixe da “sua dele” oferta de computadores
António Justo

Em Portugal, o Carnaval e o Natal anteciparam-se, pelo que o Pai Natal tem andado, pelas escolas, a distribuir PCs Magalhães às crianças.

Se antigamente os presentes eram trazidos por um menino Jesus, apoiado pelo esforço escondido da família, que descia enfarruscado pelas chaminés, hoje são-nos trazidos por um Pai Natal polido a expensas do Contribuinte e com o trenó da TV.

Uma das razões, porque não haverá oferta de portáteis para alunos portugueses no Estrangeiro, estará no facto de aqui o Carnaval e o Natal terem datas fixas.

Além disso, as más-línguas explicam que os filhos dos emigrantes, obrigados a sair de Portugal à procura de trabalho, já pertencem à categoria dos felizardos e, para mais, vivem em Países em que já não se acredita no Pai Natal. Pessoas mais ligadas à administração explicam a posição governamental com a impossibilidade técnica da RTP poder fazer a cobertura de tantas acções de distribuição em tão pouco tempo. Gente mais ligada à política explica a discriminação governamental dos emigrantes com o medo do Governo devido aos perigos provenientes do descontentamento migrante com a última medida do governo que os impede de votarem para as eleições por carta. Pessoas mais simples e mais idosas limitam-se a dizer que o Estado português em relação aos emigrantes só conhece a mama.

Margarida Davim, em SOL 17.11.2008, refere que o palco, desta vez, escolhido por
José Sócrates, para entrega de computadores a alunos do 1.º ciclo, foi a Escola do Freixo, em Ponte de Lima. Esta encenação promotora do brilho do PM vai sendo feita a conta-gotas e sempre sob os projectores da televisão para que o povo distraído não esqueça quem é pai. A RTP não mostrará o desengano dos alunos que receberam os PCs para a fotografia, porque Sócrates já não se encontra lá. De facto, depois da encenação televisiva, as crianças tiveram de devolver os portáteis. No dizer do conselho executivo da Escola do Freixo, a distribuição «depende da logística administrativa» e a escola terá de «preencher toda a papelada e os pais que não estiverem abrangidos pelo 1.º escalão da acção social escolar vão ter de fazer o pagamento do computador».

Tudo isto até pareceria uma paródia feita por gente adversa à governação de Sócrates se esta gente não tivesse a experiência do comportamento doutros governos europeus e se a realidade da cena política portuguesa não lhes desse razão. As pessoas de meia-idade ainda se lembram do corta-fitas e de políticos que pareciam não ter mais que fazer senão passear a sua personalidade de inauguração em inauguração, sempre presentes nos ecrãs da RTP. Em Portugal parece confundir-se modernidade e realidade com virtualidade.

Parece termos um Primeiro-ministro para inglês ver! Só que quem vê o teatro português de fora fica enjoado. O pior de tudo é que a malta nem nota. Parece vivermos num país do faz de conta e numa democracia para inglês ver. Temos uma elite política mediana com tiques de rico homem e um povo alheio e sistematicamente alheado. O que os nossos políticos se permitem em Portugal seria ridículo numa Alemanha: Um primeiro-ministro em continua campanha eleitoral, uma ministra da educação autoritária e tão segura da sua fé que, ao ser entrevistada, até faz engasgar a entrevistadora, um governador do Banco de Portugal que se arma em representante da Organização dos Patrões e tem o desplante de culpar os desempregados pelo desemprego por receberem subsídio a mais.

Os nossos políticos conseguem viver bem com meias verdades. Constituem a classe que em nome e à custa do proletário consegue viver melhor em Portugal.

A entrega virtual dos PCs e outras vaidades governamentais ficam mal num PM que poderia ser um bom primeiro-ministro se não fosse o vírus inerente a certas elites portuguesas. Senhor PM, para quem pretende ser sério e quer ser levado a sério, fica-lhe mal tais bizantinices. Fica-lhe mal reservar para si o anúncio das boas notícias e deixar as más para os outros. É verdade que assim o povo é levado mas já não estamos no tempo em que o anunciador da má notícia era morto. Para mais, a oposição é tão fraca que o senhor não precisaria de usar de estratagemas cínicos para a vencer!

Se queremos um país moderno temos todos que mudar de mentalidade e tomá-lo a sério.

António da Cunha Duarte Justo
antóniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

QUEM PRECISA DE SER AVALIADO É O GOVERNO

120.000 Docentes protestam contra o Cinismo do Ministério da Educação

Antonio Justo
Na primeira manifestação, saem 100.000 professores a protestar para a rua. São enxovalhados pelo Ministério da Educação (ME) e a Nação assiste a discussões degradantes para um Estado que se preze. No passado dia 15, protestam 120.000 docentes em Lisboa. Esta manifestação foi convocada por movimentos independentes de professores preocupados com a degradação do ensino em Portugal.

A apoiar os professores, manifestam-se os sindicatos e todas as facções políticas, menos a maioritária PS que governa. As direcções escolares, para não serem desobedientes perante o governo queixam-se do clima de tensão e mal-estar nas escolas, clima esse que impede a sua boa gestão.

O Governo de Sócrates quer avaliar, mas foge a qualquer critério de avaliação e não conhece a pedagogia nem a dinâmica de grupo. Em nome da remodelação de Portugal, refugia-se em estratégias autoritárias e demagógicas, próprias dos tempos dum Portugal antiquado e analfabeto.

Assiste-se a um excesso de exigências mas para as quais falta o sentido. O problema da avaliação dos professores que obriga, uma classe acomodada a protestar em peso, talvez seja um sinal duma certa consciência cívica nascente. Talvez Portugal comece a acordar.
Sem discussão nem preparação, o Ministério da Educação impõe medidas nascidas de reuniões burocráticas ao serviço duma realidade virtual. O Governo Português, no seguimento duma política da aparência, já que não tem muito para apresentar aos parceiros europeus, quer melhorar as estatísticas e mostrar zelo na aplicação de intenções da Uniao Europeia.

O ME, habituado a ter os sindicatos como acólitos encontra-se agora em maus lençóis. Os sindicatos são obrigados a deixar de andar debaixo das saias do poder, tendo agora de correr para acompanhar a pedalada dos professores.

Dum lado os professores de pele fina sensível, do outro a ministra com pele de lobo, e de premeio pais e alunos com pele de elefante.

A situação está tão má para o Governo que Vitorino, o jogador avançado do governo na TV, até já propôs na entrevista televisiva, que a avaliação fosse examinada por uma “Comissão de Sábios”. Camufladamente, o Governo apresenta, ao público distraído português, uma solução que vem salvaguardar os interesses do ME e dos seus cúmplices. Assim poderão salvar a imagem da Ministra da Educação e a superficialidade dum chefe do Governo, que se permite continuar, por tanto tempo, um espectáculo triste, só possível em Portugal.

Para melhor iludir o povo, e dar a impressão de espírito de diálogo, a ministra reúne-se com organizações e instituições para ganhar tempo e não ter de dar a mão à palmatória. Um abuso e um cinismo que só um povo português, com pele de elefante, poderá aguentar. No fim o ME em sintonia com os Sindicatos optarão pelo tal “Comissão dos Sábios” e assim o senhor primeiro-ministro poderá seguir a sua estratégia de reservar para si as melhores sardinhas, podendo então anunciar a expulsão do problema para a tal comissão. A política de ataque seguida pelo Governo em tempo u´til e pelo ME só seria compreensível em contexto de campanhas eleitorais. Confundem a mudança que o mundo moderno exige com dirigismo e facilitismo escolar.

Enquanto outros países tomam a sério o resultado do estudo comparativo do aproveitamento escolar (PISA), o nosso Governo anda na caça das bruxas!

Há mais marés que marinheiros!...

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A COR DO PRESIDENTE

Uma Era Incolor
António Justo
Afinal o mundo não parece tão mau como é. Desenvolve-se, pouco a pouco, devido à coragem e ao espírito de resistência de alguns. A eleição de Obama para Presidente só pode ser compreendida no processo de desenvolvimento humano manifestado na luta de Martin Luther King.

Não sei se o problema da designação da cor da pele constituirá só um problema dos “brancos” e da sua má consciência ou também estará carregada de sentidos para os “pretos”. Pelo sim e pelo não, o facto de se colocar a questão revela que não nos somos indiferentes e mostra a vontade de queremos ser mais justos uns com os outros e o desejo de nos entendermos. De facto, a ideia leva à acção, como demonstra o hipnotismo.

Objectivamente falando Obama não seria preto atendendo a que o pai era preto e a mãe era branca. Apesar de filho de mãe branca Obama Barack é tido como preto ou negro. Para alguns a palavra preto está sobrecarregada de ideologia discriminatória. Recorda uma história que deveria colorir o rosto dos brancos.

Há sessenta anos era moda dizer-se “de cor” em substituição da palavra “negro”. Há 15 – 20 anos, procurou-se evitar a palavra preto substituindo-a por “afro-americano”. Também esta designação conota a origem geográfico-cultural com que muitos se não identificam.

Embora Obama lute pela superação das barreiras das cores, ele declara-se pertencente à comunidade preta, designando-se a si mesmo como “a black man” e sente-se como fazendo parte da comunidade preta (black community”). A sua esposa é preta e os seus filhos são pretos também. Ele mesmo diz: “Que eu sou designadamente um preto, noto-o, o mais tardar, então quando em New York procuro fazer um sinal a um táxi”.

Na discussão das cores cada um dá às palavras que as designam a sua coloração afectiva que tem a ver com a própria experiência e cultura. As conotações projectadas no adjectivo vão da escravidão, à separação racial, à exploração económica, etc. Cada povo, cada pessoa tem uma relação especial com determinadas palavras. Assim, um chinês associa ao branco qualidades que o Ocidente atribui ao preto. Enquanto que o brando é uma cor do luto para o chinês, para os ocidentais o luto é associado com a cor preta.

A mesma subjectividade se dá também na palavra América (USA) que para uns é conotada como “país da liberdade”, para outros como o “reino do diabo”, para outros como um país num continente, etc., etc. Cada um se agasalha debaixo dos seus preconceitos. Em certo contexto, chamar Homem ao ser humano poderia também tornar-se uma ofensa ao hominídeo. A linguagem que usamos revela muito sobre nós mesmos. Não somos eunucos quando falamos.

A questão não está na cor da pele mas no que ela tem significado para muitos. O apostar na cor preta pode implicar, em certos casos, uma posição contra o racismo, uma opção pela mudança.

Tal como em muitas outras coisas usam-se designações sem rigor sujeitas às mais diversas conotações e generalizações. Problema seria sem em nome duma definição objectiva se entrasse na guerra por uma definição, sem contemplar o Homem. O colocar-se o problema tanto pode revelar o preconceito, como uma tomada de consciência para o significado das palavras e para o que elas podem provocar. O reconhecimento de preconceitos individuais e culturais é o primeiro passo no longo caminho do encontro duns com os outros. O problema está já no nosso sistema de pensamento: o preconceito é inerente ao conceito. Importante é reconhecer-se este condicionalismo humano. A questão está também no objecto do nosso motivo e interesse. O que importa é defender a humanidade que se encontra por baixo das cores das peles.

Gandhi conta na sua autobiografia que estava convencido que o Cristianismo era a resposta para o flagelo do sistema das castas na Índia. Ele pensava seriamente em tornar-se cristão. Um dia, na África do Sul, dirigiu-se a uma Igreja para participar numa missa. À entrada foi-lhe dito parta ter a bondade de participar numa missa reservada a pretos. Gandhi foi-se embora e nunca mais voltou. As ideias e os ideais podem ser o melhor; quem estorva são muitas vezes as pessoas.

Na discussão do espectro das cores a palavra preto ou branco parece-me a mais neutra embora cada biótopo geográfico e cultural tem a sua dinâmica a respeitar. O problema está latente em todo o ser humano que reage com medo ao desconhecido. Assim a experiência com bebés brancos e pretos mostra que o bebé preto reage com medo perante o branco e o bebé branco reage com medo perante o preto. Se virmos bem o homem branco não é mesmo branco nem o homem preto é mesmo preto.

Obama tem a cor da esperança, da justiça e da mudança. Ela é um protesto contra uma humanidade que tem abdicado de ser humana no sentido digno do termo. Ela é protesto, resistência e constitui programa para um mundo mais colorido, onde cada qual receba a possibilidade de se tornar ele mesmo. Como nele se combinam as cores, a nova era terá que deixar de continuar o diálogo perspectivo (dualista) para se iniciar a Era do triálogo relacional aperspectivo (integral trinitário).

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A AMÉRICA ELEGEU UM PRESIDENTE PRETO

América mais universal e menos americana

António Justo
Os Estados Unidos da América elegeram o seu primeiro presidente preto, 150 anos depois da libertação dos escravos. A América apresenta-se com um rosto novo ao mundo! Ao eleger um presidente preto, reconcilia-se consigo mesma e com o mundo.


Barack Obama conseguiu entusiasmar a América pela política. A participação eleitoral alcança um novo recorde. 153 milhões de cidadãos participaram nas eleições conseguindo Obama 52 % dos votos para si. A 20.o1.2009 tomará posse como presidente. O 44.° Presidente da USA apresenta muitas semelhanças com o presidente Kennedy que então foi o símbolo duma nova América.

Com a derrota de McCain a USA despede-se duma era histórica nostálgica de vitória e de força no mundo.

Num momento em que o sonho americano sofre as primeiras arranhaduras com a crise financeira, a USA procura um novo papel na história. Barack Obama personifica o sonho americano de vida, liberdade e felicidade. Ele consegue subir, com o próprio esforço, duma situação modesta ao mais majestoso cargo da América. Os votos em Obama são mais que os votos num partido. São os votos dum movimento, o grito da esperança que surge da profundeza da sociedade americana. Na vitória do partido democrático está presente a desilusão de políticas falhadas e a esperança daqueles que levantam a mão, no desejo de verem os seus interesses chegarem à ribalta da nação. Por todo o lado se torna latente o desejo dum novo começo.

Obama, na sua campanha eleitoral, procurou um novo estilo de discurso. Tentou superar os clichés ideológicos de direita e de esquerda, de Etablishment e de carenciados. Com estilo deixou alguns alertas dignos de escrita no álbum dos partidos: “Não há uma América liberal e uma América conservativa – há os Estados Unidos da América”. Aqui, Obama não se revela como um político normal. Ele quer construir pontes para melhor servir o povo americano.

Às águias do poder, que questionavam a sua experiência, ele responde:”Trata-se da capacidade de discernimento e não da experiência”. A América, tal como ele, é jovem e na sua juventude antecipa o futuro. Obama fala, no plural, dum futuro melhor onde “nós todos encheremos o sonho americano com nova vida, onde todos terão, verdadeiramente, as mesmas chances”. A América é sempre jovem porque a sua elite sonha e com ela o povo também. Nela a elite, com todos os seus paradoxos, não deixou de ser povo.

O povo americano elegeu uma biografia e não um programa. Na sua pessoa os americanos vêem a história da América, reconhecendo-se na sua mensagem de esperança e entusiasmo.

Todo o Mundo olha para a América porque sabe que grande parte do seu destino depende dela.

A concorrência da Rússia e da China, o ressentimento árabe, o terrorismo e a inveja europeia terão um novo peso na nova era que agora se anuncia.

Embora o tema da guerra do Iraque tenha estado ausente durante a propaganda eleitoral, o seu fim não pode ser adiado indefinidamente. A sua vontade de reformar o sistema de saúde é mais que pertinente. Embora se incline para o proteccionismo económico (o que assusta os chineses) mostra-se mais liberal na política de segurança. Com ele talvez a presença militar da USA no mundo, com as suas 761 bases militares em 151 países, se faça sentir menos e a ideia imperialista presente em todas as civilizações se comece a embaçar. Com ele, os europeus querem ser tomados mais a sério. Esperam uma política que não se aproveite da rivalidade entre os Estados europeus e que assuma compromissos internacionais em questões de protecção do clima e do controlo de armamento. (O problema para Obama em relação à União Europeia será saber o que esta quer!) Os poderes que Obama tem de enfrentar são hercúleos: um mundo contraditório em si, os serviços secretos, as forças militares e económicas e uma pratica mundial em que o ser humano ainda não é tema prioritário.

Obama, filho de pai queniano e de mãe americana, desperta muitas esperanças também na África. Espera-se que ele não escreva apenas história americana. Os russos esperam, com ele, ser mais fácil recuperar o velho brilho de potência que tinham no tempo da União Soviética.

Obama não será nenhum santo. Neste sentido fala a sua carreira de político. Consta que nas escadas do poder partidário ninguém sobe sem cadáveres na cave. Além disso, as esperanças, nele colocadas, tornarão mais difícil o seu papel de presidente. As projecções colocadas no presidente eleito são de tal ordem que exigiriam dele uma pessoa sobre-humana para as satisfazer. Só resta lugar para o desencanto.

A crise financeira mostrou a necessidade duma nova ordem mundial. Uma mudança radical seria mais que óbvia.

Obama encontra, como hipoteca, a guerra do Iraque que terá de pôr fim em tempo determinado. O conflito israelo-árabe espera também por solução. A necessidade da USA se libertar da dependência dos regimes do petróleo possibilitará o renascimento da ecologia. Ele quer “um governo do povo para o povo”. A crise histórica em que o mundo se encontra não facilita o papel do presidente. Não será fácil tirar o carro da lama. A mudança em curso na América terá de se dar nas outras potências também, doutro modo o mundo não avança.

O novo presidente pode tornar-se numa oportunidade de reconciliação de muitos países com os Estados Unidos. Ele é o símbolo da nova era. Nele pode torna-se possível a integração da potência e da impotência e assim se passar da era do diálogo para a era do triálogo. A chama da liberdade deixará então de ser tão deslumbrante.

A sua vitória, integrada na sua biografia, revela a possibilidade de integração das forças do Sul com as do norte. Na sua personalidade se encontra a mistura americana, a mistura racial e religiosa. Barack Obama representa na sua pessoa a post-américa, a vontade de integração do mundo do norte e do mundo do sul. A América permanecerá sempre uma nação universal, um luzeiro que integra em si todas as culturas.

A América continuará a ser a AMÉRICA: talvez mais universal e menos americana!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

A AMÉRICA ELEGEU UM PRESIDENTE PRETO

América mais universal e menos americana

António Justo
Os Estados Unidos da América elegeram o seu primeiro presidente preto, 150 anos depois da libertação dos escravos. A América apresenta-se com um rosto novo ao mundo!

Barack Obama conseguiu entusiasmar a América pela política. A participação eleitoral alcança um novo recorde. 153 milhões de cidadãos participaram nas eleições conseguindo Obama já 57,7 % dos votos para si. O 44.° Presidente da USA apresenta muitas semelhanças com o presidente Kennedy que então foi o símbolo duma nova América.

A América ao eleger um presidente preto reconcilia-se consigo mesma e com o mundo.

Com a derrota de McCain a USA despede-se duma era histórica nostálgica de vitória e de força no mundo.

Num momento em que o sonho americano sofre as primeiras arranhaduras com a crise financeira, a USA procura um novo papel na história. Barack Obama personifica o sonho americano de vida, liberdade e felicidade. Ele consegue subir, com o próprio esforço, duma situação modesta ao mais majestoso cargo da América. Os votos em Obama são mais que os votos num partido. São os votos dum movimento, o grito da esperança que surge da profundeza da sociedade americana. Na vitória do partido democrático está presente a desilusão de políticas falhadas e a esperança daqueles que levantam a mão, no desejo de verem os seus interesses chegarem à ribalta da nação. Por todo o lado se torna latente o desejo dum novo começo.

Obama, na sua campanha eleitoral, procurou um novo estilo de discurso. Tentou superar os clichés ideológicos de direita e de esquerda, de Etablishment e de carenciados. Com estilo deixou alguns alertas dignos de escrita no álbum dos partidos: “Não há uma América liberal e uma América conservativa – há os Estados Unidos da América”. Aqui, Obama não se revela como um político normal. Ele quer construir pontes para melhor servir o povo americano.

Às águias do poder, que questionavam a sua experiência, ele responde:”Trata-se da capacidade de discernimento e não da experiência”. A América, tal como ele, é jovem e na sua juventude antecipa o futuro. Obama fala, no plural, dum futuro melhor onde “nós todos encheremos o sonho americano com nova vida, onde todos terão, verdadeiramente, as mesmas chances”. A América é sempre jovem porque a sua elite sonha e com ela o povo também. Nela a elite, com todos os seus paradoxos, não deixou de ser povo.

O povo americano elegeu uma biografia e não um programa. Na sua pessoa os americanos vêem a história da América, reconhecendo-se na sua mensagem de esperança e entusiasmo.

Todo o Mundo olha para a América porque sabe que grande parte do seu destino depende dela.

A concorrência da Rússia e da China, o ressentimento árabe, o terrorismo e a inveja europeia terão um novo peso na nova era que agora se anuncia.

Embora o tema da guerra do Iraque tenha estado ausente durante a propaganda eleitoral, o seu fim não pode ser adiado indefinidamente. A sua vontade de reformar o sistema de saúde é mais que pertinente. Embora se incline para o proteccionismo económico (o que assusta os chineses) mostra-se mais liberal na política de segurança. Com ele talvez a presença militar da USA no mundo, com as suas 761 bases militares em 151 países, se faça sentir menos e a ideia imperialista presente em todas as civilizações se comece a embaçar. Com ele, os europeus querem ser tomados mais a sério. Esperam uma política que não se aproveite da rivalidade entre os Estados europeus e que assuma compromissos internacionais em questões de protecção do clima e do controlo de armamento. (O problema para Obama em relação à União Europeia será saber o que esta quer!) Os poderes que Obama tem de enfrentar são hercúleos: um mundo contraditório em si, os serviços secretos, as forças militares e económicas e uma pratica mundial em que o ser humano ainda não é tema prioritário.

Obama, filho de pai queniano e de mãe americana, desperta muitas esperanças também na África. Espera-se que ele não escreva apenas história americana. Os russos esperam, com ele, ser mais fácil recuperar o velho brilho de potência que tinham no tempo da União Soviética.

Obama não será nenhum santo. Neste sentido fala a sua carreira de político. Consta que nas escadas do poder partidário ninguém sobe sem cadáveres na cave. Além disso, as esperanças, nele colocadas, tornarão mais difícil o seu papel de presidente. As projecções colocadas no presidente eleito são de tal ordem que exigiriam dele uma pessoa sobre-humana para as satisfazer. Só resta lugar para o desencanto.

A crise financeira mostrou a necessidade duma nova ordem mundial. Uma mudança radical seria mais que óbvia.

Obama encontra, como hipoteca, a guerra do Iraque que terá de pôr fim em tempo determinado. O conflito israelo-árabe espera também por solução. A necessidade da USA se libertar da dependência dos regimes do petróleo possibilitará o renascimento da ecologia. Ele quer “um governo do povo para o povo”. A crise histórica em que o mundo se encontra não facilita o papel do presidente. Não será fácil tirar o carro da lama.

O novo presidente pode tornar-se numa oportunidade de reconciliação de muitos países com os Estados Unidos. Ele é o símbolo da nova era. Nele pode torna-se possível a integração da potência e da impotência e assim se passar da era do diálogo para a era do triálogo. A chama da liberdade deixará então de ser tão deslumbrante.

A sua vitória, integrada na sua biografia, revela a possibilidade de integração das forças do Sul com as do norte. Na sua personalidade se encontra a mistura americana, a mistura racial e religiosa. Barack Obama representa na sua pessoa a post-américa, a vontade de integração do mundo do norte e do mundo do sul. A América permanecerá sempre uma nação universal, um luzeiro que integra em si todas as culturas.

A América continuará a ser a AMÉRICA: talvez mais universal e menos americana!

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Crise Financeira é uma Crise do Capitalismo e do Socialismo

UM ESTILO DE VIDA PROGRESSISTA MAS SEM FUTURO
António Justo
Com a crise do sistema financeiro, a globalização do medo real tornou-se um facto palpável. Não há civilização que não esteja implicada nas causas e consequências do furacão que teve origem na Wall Street. Esta crise financeira transforma-se numa crise económica universal que tocará com o preço das matérias-primas, com o bolso dos empregados, com a localização dos centros de produção das grandes multinacionais que privilegiarão as nações de proveniência contra as economias mais fracas. Ai dos países endividados! A recessão em curso atingirá as camadas mais fracas da sociedade ocidental e os países mais carenciados. Tudo isto é a consequência do agir de elites que, num mundo da quimera, trocaram a realidade pelo virtual.

Pouco a pouco também a cidadania se torna virtual e o povo vive em segunda mão. No passado o Homem era a medida de todas as coisas. Agora na era da nova espécie, no tempo do Homem cliente – consumista, e duma elite de Zés Pereiras, tudo vale; não há medidas, não há normas nem há regras. E o Zé Povo, condenado a acreditar, a confiar na fé de construção duma sociedade progressista baseada numa ética barata e oportuna, já não à medida do cidadão mas do proletário. A chanceler alemã, Ângela Merkel, ao afirmar que “o Estado tem de ser o protector da ordem” tocou um ponto nevrálgico da sociedade ocidental. Para se chegar porém a esse facto, pressupõe-se que o sistema partidário descubra primeiro o povo e a nação.
Os Estados estão a saque
Na Europa, os Estados, especialmente depois da queda do muro vermelho (muro da vergonha), passaram a estar cada vez mais a saque de ideologias políticas que ocuparam a ideia de democracia, instalando democracias de cariz partidário autoritário e monopolista, cada vez mais longe da realidade e do povo. Um socialismo rasteiro infiltrou-se nas mentalidades e nos quadros da sociedade ajudado pelo descrédito da velha sociedade do período fascista europeu. Na desordem e na confusão prosperam e legitimam o ilegitimável e os conservadores fracos passam a correr atrás de franco-atiradores.

Ao mesmo tempo a economia divorcia-se da cultura. O globalismo congrega então os interesses dum turbo-capitalismo desregrado e a ideia dum internacionalismo militante contra a terra e contra a cultura. Esta união de forças e de interesses acelera os problemas ecológicos. Não há forças conservadoras com coragem de defender a terra, o povo e a cultura. A política passou a andar ao sabor da ideologia e a economia acabou por depender da ideologia financeira, destruindo-se então a economia social.

O mundo financeiro desligou-se da economia produtiva e consequentemente também o mundo da política se desligou do cidadão considerando-o apenas sob a perspectiva do homo contribuinte. Na nova Europa, a escola e as universidades têm-se vindo a tornar em estaleiros para a indústria e para o comércio. Tudo tem de trabalhar a tempo pleno, correr de empreg para emprego, sem respeitar os tempos sagrados de descanso do Homem nem a sua dignidade. Tudo se sacrifica à produtividade, na banalidade dum factual alheio à realidade da natureza e do Homem.

As elites económicas e políticas tinham-se unido premiando o endividamento do povo, pretendendo criar um homúnculo consumidor e gastador em função das receitas da empresa e do Estado. O seu conceito fazia lembrar uma equipa de futebol em que só os jogadores marcadores de golos têm direito a ganhar, e para melhor em campo sem árbitro! Agora que os avançados se encontram aparentemente atolados na lama, os políticos procuram o assobio entretanto substituído pelo barulho das próprias claques.

A especulação chegou a tal ponto que, em vez de se fortalecer o poder de compra do consumidor, através dum ordenado justo, se despreza o trabalho do operário e se especula com trabalhadores mais pobres ainda doutras terras. Se antigamente as guerras se davam entre povos na defesa dos interesses das elites dos respectivos povos, hoje as guerras são realizadas entre as classes mais baixas dos diferentes povos para que as novas elites de mercenários beneficiem delas, dando-se também ao luxo de marginalizar a classe média, o verdadeiro motor das sociedades.

À semelhança dos fanáticos das montanhas do Afeganistão, também a nossa elite, por nós alimentada e legitimada, se refugia nas suas torres de marfim. Cada um olha do seu alto a realidade do mundo e do cidadão com altivez e desdém! A exploração ideológica e económica nunca andaram tão juntas e nunca foram tão descaradas como são hoje.

A Europa, nos últimos vinte e tal anos, tem destruído a sua personalidade e desmantelado o seu rosto humanista. O turbo-capitalismo e o socialismo uniram-se contra o Homem, contra a natureza e contra os biótopos culturais e humanos. Já não há sagrado, não há pátrias nem família que se não ponham à disposição. Da colonização externa passa-se à colonização interna. Com a morte de Deus morre o Homem, morre a sua interioridade, a sua ipseidade, aquilo que lhe dá dignidade! O Olimpo foi assaltado por novos deuses que nem a alma já respeita da pessoa agora socializada e reduzida a opinião de cliente.

Tudo cede às leis do mercado especulador. A nossa sociedade continua a recusar tornar-se adulta e ainda se arroga a vaidade de se comparar com outras. Prefere viver entre o medo adolescente e a exploração. De facto, nela tudo se torna cada vez mais instável: a vida social, a vida profissional, a vida familiar e a própria vida existencial. Se antigamente se pagava o medo com o Paraíso hoje paga-se com o voto e com o mercado. Viver torna-se num risco cada vez mais presente e consciente porque se opta por uma forma de vida em segunda mão. Se nas sociedades primitivas o Homem tinha medo das feras ameaçadoras hoje tem de recear os monstros que ele mesmo criou. As pessoas, com o medo, fogem à vida, tornando-se vítimas de muitas das ideias e das estratégias de fuga.

Assim, abdica-se da humanidade, no medo de perder o emprego, na insatisfação de ver o custo de vida aumentar e na insegurança duma reforma hipotecada. O Estado e a economia tornaram-se, também eles, nossos rivais. São, por vezes, mais um factor de insegurança do que de segurança. A lei da concorrência, a todos os níveis, parece ter-se emancipado da biologia já de si selectiva para se tornar na prática da concorrência pela concorrência. Cada vez se exige mais, se trabalha mais e se vê menos. Se antigamente o homem lutava primariamente contra as adversidades da lei da natureza, hoje, além desta, tem a luta contra as adversidades das forças institucionais que se apoderaram da cultura.

Também o sistema de saúde, que deveria sanar igualmente o medo dos pacientes, se torna, cada vez mais, no purgatório destes e no paraíso da indústria farmacêutica e de políticas de clientelas elitistas. A sociedade actual, em vez de tentar orientar-se para o fomento duma sociedade média mais estável, alargada e humana, nivela-se pela camada mais precária.

Se queremos a globalização, teremos antes de humanizar a economia e a relação social no respeito pelas ecologias. Agora que o homem vai atingindo uma consciência global torna-se mais premente a necessidade dum governo mundial mas que parta do Homem para o Homem, doutro modo o anonimato das superstruturas farão definhar os vestígios de humanismo ainda presentes nalgumas instituições. Apesar do vírus da rotina e do acomodamento não estará tudo perdido e o Homem encontra sempre uma saída. Há que encontrar primeiro o Homem para depois se recriarem as instituições.

António da Cunha Duarte Justo