quinta-feira, 24 de junho de 2010

DÍVIDA PÚBLICA AMEAÇA OS ESTADOS

A PRAGA DA DÍVIDA PÚBLICA AMEAÇA OS ESTADOS
Uma Comparação entre a Alemanha e Portugal

António Justo
Situação na Alemanha

A dívida do estado Alemão é de 1.716.987 milhões de euros. Devido aos juros, a dívida aumenta 4.481 € por segundo. A cada um dos cidadãos alemães corresponde uma dívida de 21.003 €. E isto num estado com uma economia forte!...

O Estado não tem reserva. A poupança do Estado não chega sequer para amortizar os juros.
Na Alemanha, até hoje só o chanceler Konrad Adenauer (1949-57) conseguiu uma reserva de poupança de 4.000 milhões €.

O endividamento da Alemanha ainda merece um certo desconto. O preço da União da Alemanha com as transferências anuais de milhares de milhões de euros da Alemanha ocidental para a Alemanha socialista (antiga DDR) é horrendo. Além disso, segundo as estatísticas, um terço do que os alemães produzem, num ano, são gastos com o estado social (assistência à saúde, desemprego, etc.).

Na Alemanha o governo seguia a regra de que as novas dívidas a fazer de ano para ano não podiam ultrapassar os investimentos que o Estado faz. Tem orientado o endividamento ao crescimento do PIB. Entretanto o Tribunal Constitucional alemão exigiu um travão para o endividamento. Como consequência do travão das dívidas imposto pela Constituição, os Governos terão de cumprir o determinado a partir de 2011, isto é, com o tempo, terão de se safar sem recorrer a créditos. A Alemanha federal terá de reduzir até 2016, as dívidas novas, a um máximo de 0,35% do PIB.

A seguir-se a lógica da prática governativa, até agora, isto significarás que, a longo prazo, os governos aumentarão os impostos para contrabalançarem o travão das dívidas. Em vez disso seria necessário um Estado mais magro e políticos menos gulosos!

Por outro lado a situação mundial é mesmo má: a dívida externa total no mundo é de 98% do PIB mundial. Isto imprime, no comportamento dos países, uma dinâmica de endividamento e de inflação crescente.

Situação em Portugal


A dívida pública do Estado português cresce assustadoramente passando de 125,9 mil milhões € em 2009 para 142,9 mil milhões € em 2010 (isto é, para 85,4% do produto interno bruto).

O endividamento privado da economia portuguesa atingiu 115% do PIB em 2009. As pessoas e empresas privadas endividam-se perante os bancos nacionais e os bancos nacionais endividam-se perante os bancos estrangeiros. As nações dos bancos credores, como no caso da Alemanha, vêem-se obrigadas a apoiar as nações à beira da falência para que estas possam amortizar as dívidas dos seus bancos e assim impedir que a insolvência destes atinjam os seus. Quando as dívidas privadas e do Estado se efectuam na circulação interna do país, a situada não é muito má; o problema surge no momento em que as dívidas são contraídas no estrangeiro. Neste caso vale a lógica da economia privada. Por isso, a comparação entre países com dívidas carece de objectividade linear e conduz ao erro. As dívidas do Estado reprimem os investimentos privados. Segundo se pode verificar no diagrama do NY Times ( http://www.nytimes.com/interactive/2010/05/02/weekinreview/02marsh.html ) os empréstimos/dividas são maioritariamente intra-europeus. O mal está para os países que têm de recorrer a crédito internacional. Para a EU (União Europeia) o problema não é grande porque o proveito fica nela (nos países credores).

No que respeita ao PIB per capita com poder de compra, como refere o DN, numa escala dos países, a média europeia situa-se no índice 100; o Luxemburgo atinge o índice 268, a Alemanha 116, a Grécia 95, Portugal 78 e em situação pior que Portugal temos apenas os 8 países europeus do antigo bloco socialista.

Privadamente os portugueses encontram-se super-endividados tal como o Estado. Os portugueses têm investido em produtos consumistas e o Estado tem seguido uma política aleatória de investimentos em projectos de prestígio não produtivos. As políticas em curso são insuficientes e contra-produtivas porque sobrecarregam o consumidor e as pequenas e médias empresas. Portugal permanece incorrigível e os governos são irresponsáveis e não têm competência para governar um país que apesar da sua posição marginal tem grandes potencialidades que continuarão a ser desaproveitadas.

Na Europa, os impostos directos e indirectos são de tal ordem elevados que, feitas bem as contas, 75% do que uma pessoa ganha fica para o Estado.

De ano para ano os Governos recorrem a empréstimos servindo-se deles para descontar parte dos juros dos créditos anteriores. A montanha das dívidas cresce continuamente sem haver amortização mesmo nos anos das vacas gordas. Combate-se a crise das dívidas com novas dívidas. Já ninguém conta com a possibilidade de as pagar. Um princípio financeiro diz que as dívidas de hoje são os impostos de amanhã. O Estado financia-se através de impostos e de dívidas. O endividamento adia a carga para o futuro devido aos juros e amortizações a saldar.

Em cada orçamento de família as despesas não devem superar as entradas. Os governos contam com a falência fazendo valer uma política partidária apenas interessada em adiar a catástrofe! Para dançarinos do poder o stress da dívida conduz a irracionalidades mas não a insónias.

Uma dona de casa que se comportasse no governo da casa como os governos se comportam com o orçamento do Estado, já há muito estaria sujeita ao escárnio dos vizinhos, não teria fiadores e encontrar-se-ia em apuros com a justiça. Os políticos exploram o estado como se este fosse rico; permitem-se mordomias, carros de serviço de luxo, funções acessórias em conselhos ficais de bancos, de empresas, contribuindo assim para a corrupção das instituições.

Não se preocupam com o futuro dos outros, com o futuro da civilização. A bancarrota e a guerra são as soluções conhecidas do passado. As elites não se preocupam porque sabem que as falências e a guerra são pagas pelos trabalhadores e pelos soldados rasos. Os que provocam as insolvências safam-se a tempo!

O Estado e os seus políticos são esbanjadores vivendo em conivência com os poderosos. Apesar do momento crucial em que nos encontramos dão-se, descaradamente, ao luxo de aumentar os seus ordenados! Poupam naqueles que não se podem defender. Com o tempo não restará ao povo outra opção senão sair para a rua em defesa da justiça e da democracia. Infelizmente a lei da vida parece dar razão aos que fazem uso da violência e da exploração.

O preço da falência dos bancos foi a credibilidade da política, o preço da crise dos estados será a democracia.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajustp@googlemail.com

5 comentários:

António da Cunha Duarte Justo disse...

A dívida portuguesa aumenta cerca de 30 milhoes de euros por dia. o Estado sobrecarrega já, cada português, com uma dívida de 12.000 Euros.
O problema é que não só o estado está empenhado como não tem produção para se permitir tal.
Os políticos enganam o povo no que respeita ao estado da nação e o povo não tem noção do que se passa.

É triste para um patriota ter de ser tão realista. Na apresentação positiva da realidade só estarão interessados exploradores do país e irresponsáveis políticos.
Boa noite Portugal!
António Justo

Joaquim Ferreira disse...

Permita-me que o cumprimente com um "Olá companheiro". Sim. Olá companheiro, pelo menos em ideias. Porque tal como o senhor, Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa ! Por isso, gostei de ter recebido na minha caixa do correio a frase "o problema maior de Portugal tem sido a ideologia e a incompetência governativa". Aliás, é esta mesma em todas as áreas. Temos políticos que sao bons em tudo mas que na verdade, nao entendem de nada. Permita-me que fale do que entendo. Disso e só disso. Refiro-me, concretamente, ao campo da Educação, onde Ministros atrás de Ministros, todos da Área Socialista, têm feito este barco navegar para todos os pontos cardeais como se estivessem a desempenhar a função de um catavento. É o descalabro total. E o país ruma como o Titanic, com timoneiros a serem obrigados a obedecer às ordens de quem não sabe nada de navegação. Que ignoram o perigo na expectativa de receber mais uns aplausos estatísticos, fraudeando ou exigindo o impossível a quem trabalha nas escolas...
Acabarei este comentário agradecendo-lhe a análise realista e inequívoca que faz afirmando que enquanto o povo for inculto, enquanto o povo portugês tiver uma mentalidade tacanha segundo a qual "se há fogo na casa do vizinho deixa lá arder desde que a minha não esteja a arder", nada mudará. Tal como dizia Bertolt Brecht: "Primeiro levaram os comunistas, e eu não protestei, porque eu não era comunista. Depois, vieram e levaram os judeus, e eu não protestei, porque eu não era judeu. Depois, vieram e levaram os católicos, e eu nada disse, porque eu era protestante. Depois, vieram e levaram-me a MIM, mas nessa altura já era tarde, pois não restava ninguem para poder protestar e falar a meu favor."
Da mesma forma um dia o fogo da casa alheia vai chegar à minha... Aí, fará falta novamente "homens de coragem" e não cobardes que se colocam sistematicamente ao lado de incompetentes que nos governam atacando um dos grupos profissionais que mais dão de si e das suas vidas pela formação das camadas mais jovens a quem será entregue no futuro o destino do país: os professores. Visitem e comentem Novas Pedagogias ou Novas “correntes” da Educação ?. Ou este texto Avaliação de Professores Para Além das Fachadas

António da Cunha Duarte Justo disse...

Muito obrigado Joaquim Ferreira pelo oportuno comentário.
Só posso confirmar o que diz. Tenho 35 anos de experiência de ensino e verifiquei com espanto que o ME está totalmente na mão dos ideólogos mais radicais e esquerdistas do PS.
Os governos não estão interessados num povo com cultura: os espertos, por falta de inteligência, pensam e conseguem viver melhopr assim.
Um país sem Povo torna-se mais facilmente cativo dos dançarinos do poder.
Se o povo tivesse uma ideia do que se passa nos corredores dos ministérios, e tivesse o civismo suficiente, certamente que já teria saltado para a rua, para resolver coisas fundamentais e não se limitarem a acçõesw folcloristas só de importância para alguns.
Parbéns!
Um abraço cordial
António Justo

Jorge da Paz Rodrigues disse...

Caro amigo:

Muito obrigado por este pedagógico e esclarecedor post.

Será que os (des)governantes portugueses fazem ideia do abismo para que nos têm conduzido e ainda queriam acelerar com um TGVezinho, um aeroportozinho e uma nove pontezinha sobre o Tejo?

Um forte abraço,
Jorge da Paz.

Anónimo disse...

A Sociedade depende de cada um de nós, como o Oceano depende de cada gota de água.
Foi bloqueado, na Pessoa, o programa de orientação do SENTIDO DA VIDA.
Eu não concordo que tudo seja resultado de erros dos Governos, mas sim das Pessoas.
São as Pessoas que criam os seus Governos.
São as Instituições, os Agentes das Instituições, as Pessoas, que constituem os Pilares de um Sistema que protege o crime fomenta o confronto pessoal e social, fomenta o terrorismo global.
Procuro alguém que queira acabar com a crise, com o terrorismo, com o crime.
Mas... a globalização facilitou o trabalho e um Plano Global está a ser executado com perícia e rigor.
Ai daqueles que não têm consciência e não estão preparados.
Estão todos a IR EM FUTEBÓIS... EM TELENOVELAS... EM EMOÇÕES FORTES.
Abraço cordial
J G