segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Traição de Segredos como Prova de Democracia
WIKILEAKS - O SENTIDO DUM SENTIR UNIVERSAL
António Justo
Julian Assange e seus colaboradores fazem tremer o mundo dos poderosos com as suas revelações na sua plataforma WikiLeaks.
Por toda a parte surgem cada vez mais alertadores (Whistfleblower) que chamam a atenção da opinião pública para questões que põem em perigo o Homem e o seu ambiente. Tornam públicos males e actos ilegais, corrupção, etc. que observam.
O” Expresso” teve acesso aos 722 telegramas dos EUA sobre Portugal recolhidos pelo WikiLeaks. Isto manifesta qualidade e profissionalismo jornalístico, ao dedicar capital ao jornalismo investigativo.
Muitas das revelações de WikiLeaks já eram conhecidas em países onde a imprensa vai funcionando razoavelmente.
Em geral, a documentação dos WikiLeaks revelou um certo autismo da administração americana. Os comentários dos americanos em relação aos europeus, reflectem também a agressividade de muitos europeus contra a América. Não passam de ofensas suportáveis entre amigos, atendendo à comunidade de destino de que participamos e participaremos.
WikiLeaks tornou mais consciente a gravidade da situação no Médio Oriente. Nas suas revelações também se deu a conhecer a impotência dos Estados contra o rearmamento nuclear no mundo. O Irão já possui raquetes que podem atingir a Europa. A Arábia Saudita e outros Estados árabes já fazem, há muito tempo, pressão para que os Estados Unidos da América intervenham contra o programa atómico do Irão.
Pelo que se vê da documentação, os dirigentes dos Estados revelam-se impotentes para resolverem os problemas. Isto obrigará o Presidente dos Estados Unidos e o Ocidente em geral a optarem por uma estratégia de diálogo entre os povos, já que o diálogo com os corifeus representantes dos povos tem levado, ciclicamente, ao fracasso, demonstrando, assim, o erro da política seguida.
Ao mesmo tempo que o mundo desejoso de transparência informativa rejubila, reagem outros contra a revelação posta ao público em geral. Surgem então, por todo o lado, ataques a Julian Assange, o chefe de WikiLeaks. Atacam Assange de autista como se grandes personalidades da História e da arte não tivessem sido autistas e maníacos e como se a sociedade não se encontrasse toda ela doente!
É interessante verificar que neste fenómeno, quem cometeu o erro da indiscrição foram diplomatas, políticos e sua administração, mas quem é atacado é o jornalista.
Em democracias, que ainda se prezam do nome, a liberdade de imprensa tem um significado constitucional, devendo o jornalista defender os seus informadores não os atraiçoando. A Alemanha, que dentro do sistema democrático em vigor tem uma das Constituições mais maduras do mundo, está do lado do jornalista. O jornalista tem o direito e o dever de recusar o depoimento relativamente aos seus informantes. Informação é um dever do cidadão dado o Estado receber a sua legitimação democrática duma informação ampla. A revista semanal alemã “Der Spiegel”, no seu número 50 defende: “A traição de segredos é uma legitimação da qualidade duma democracia”.
A informação é sempre boa; o problema encontra-se no detalhe e a dificuldade reside no facto de poucos terem tempo ou se encontram à altura de conseguir ver a conexão de factos e saberes. O Diabo encontra-se sempre nas entrelinhas e para as perceber será necessário ter já avistado as zonas avernais de sociedades e ideologias. A quantidade de informação não é acompanhada pela capacidade de compreensão. De costume, o denominado povo, anda sempre, atrás do acontecimento, a ladrar a qualquer coisa que se mecha, a nível de interesses imediatos e de sentimento mas, os malandros da informação sabem disso e também sabem que assim é mais fácil ganhar dinheiro e garantir melhor o emprego. Normalmente a realidade encontra-se em fora de jogo. O campo de jogo é a TV. O povo que lê não é tão influenciável, mas muito escasso. De resto, sabe-se que a opinião é que vale e esta prescinde de fundamento. Eticamente grave é a aceitação popular de que “para se ser político tem de se ser mentiroso”.
Quem decide sobre boa ou má informação na formação da opinião pública? Esta é uma avalanche determinada pelos que dominam a sociedade. Estes estão bem servidos e sabem que o povo come o que lhe dão.
Neste contexto, é de lamentar que o jornalismo português não tenha capital nem interesse em fazer investigações sérias, em casos importantes como os faxes do freeport e as irregularidades comuns nas empresas do Estado e PPP.
De resto sabemos já os rituais vigentes: Afirmações são desmentidas mas depois não aparecem factos a provar o desmentido!
A internet revelou-se num grande factor de democracia. A identidade da nova juventude passa pelo Facebook criando-se assim uma nova Ágora. (China e Irão bloqueiam-no).
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário