quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Norte da Europa não se quer responsabilizar pela Carência do Sul


Entre o Fundo de Resgate Euro e a Criação de Títulos-Euro

António Justo

O pacote de resgate é uma medida provisória para salvar, do risco da bancarrota, economias fracas da zona euro. Países, como a Finlândia, que não querem ver o seu empréstimo reduzido a fundo perdido, exigem garantias para o seu próximo empréstimos de emergência à Grécia. Torpedeia assim as intenções dos parceiros europeus. Estes não têm tido coragem para enfrentar os problemas inerentes à criação do Euro. Têm-se limitado a circundar o problema como o gato à volta do leite quente.

Também a ampliação do fundo de resgate (EFSF/ESM), agora em negociação, não é mais que a tentativa de adiar soluções, além de se revelar ineficiente para os próximos candidatos (Espanha e Itália).

Títulos do tesouro da EU serão a melhor maneira de se criar um instrumento equilibrador de diferentes economias e, ao mesmo tempo, fomentador de regiões com estruturas deficitárias. Isto terá como consequência maior inflação e o enfraquecimento do Euro, o que não agrada às economias fortes interessadas num Euro forte e estável. Com a criação de títulos EU (Euro) toda a Comunidade seria chamada a contas. Os países mais ricos passariam a ser os credores (assumindo o risco) e ao mesmo tempo co-financiadores dos juros dos países com défices estruturais. Isto impediria os especuladores globais de levarem os países endividados à ruina com juros astronómicos e obrigaria os países fortes a deslocar empresas para a periferia. Os países fortes receiam que os países devedores, com a introdução de Títulos a nível de EU, deixariam de ter pressão para evitar fazer dívidas.

O preço da EU e do Euro traz consigo a solidariedade dos mais ricos para com os mais pobres exigindo aqueles, em contrapartida, mais disciplina destes. As tácticas dilatórias de países nórdicos, como a Alemanha, só serão compreendidas em sociedades disciplinadas e habituadas à estabilidade económica e social; tal não se dá nas sociedades latinas, o que explica animosidades entre as nações latinas e as nórdicas. Aqui não se poderá esperar justiça equitativa. Quem trabalha e tem mais produtividade terá que pagar mais!

Para se salvar a EU e o Euro, os países fortes não têm outra alternativa senão aceitar Títulos-Euro ou fazer transferência de dinheiro e bens para os países da periferia. Quem suporta a maior carga são e serão os alemães. Se quiserem estabilidade na EU terão que a pagar ou optar por adequarem os seus costumes aos latinos, o que corresponderia a um empobrecimento da Europa.

A distribuição da carga na união monetária traz consigo mais centralismo e mais dirigismo dado que quem paga quer receber algo em troca. O Sul terá mais dinheiro na algibeira mas mais presença nórdica na direcção dos destinos da EU. A situação é tão complicada e as economias do norte e do sul são tão diferentes que, neste processo, numa primeira fase, só poderá haver descontentes dum lado e do outro. O maior problema estará na perda de independência nacional e na destruição dos diferentes biótopos culturais europeus. Tudo cada vez mais igual, tudo em serviço de Mamon.

O descontentamento já chegou aos andares superiores dos Estados

Ontem, o presidente da RFA, Christian Wulff, homem reservado, criticou o Banco Central Europeu (EZB) por ter comprado títulos (bonds) de alguns Estados. O Artigo 123 do tratado sobre o modo de trabalhar da EU proíbe, para assegurar a independência do Banco Central, o EZB de comprar títulos de dívidas. Wulff critica também a política dos governos: “O pecado contra a geração jovem tem que acabar”. O desenvolvimento faz lembrar um jogo de dominó: “Primeiro os bancos salvaram outros bancos e depois os Estados salvaram os bancos, depois uma comunidade de Estados salva alguns Estados. Quem salva no fim os salvadores?” A política não se deve deixar “conduzir (como puxados) na argola do seu nariz, por gerentes de bancos, por agências Rating ou por Media voláteis”. A política tem actuado como um acossado. De facto não tem defendido as aquisições da economia social de mercado, como protectora da necessária solidariedade, nem impede a ganância anti-social dos jogadores globais.

Todas as iniciativas, como o plano de resgate do euro para tornar a zona euro resistente às especulações tem deixado todos descontentes. A Europa e os europeus encontram-se a saque.

A repartição da dívida por todos os Estados da zona euro através de obrigações-euro constitui um sapo difícil de engolir especialmente para a Alemanha. A queda do euro ou a exclusão de países da zona euro teriam consequências sociais irreparáveis para a estabilidade europeia. Será óbvia a cooperação na política económica e fiscal. Para defender o espaço económico europeu não chega defender o Euro, é urgente uma política de transferência de riqueza para os países pobres ou através de Euro-Bonds (títulos) assumir a responsabilidade das dívidas dos países mais carentes. Doutro modo estes serão impossibilitados de equilibrar os seus orçamentos estatais, por terem de pagar juros usurários a especuladores sem escrúpulos.

Todos terão de participar na solidariedade: países, bancos, credores, contribuintes e não contribuintes. A situação é demasiado problemática para nos fecharmos em nacionalismos ou em receitas simplistas.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu

4 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo
Professor António Justo,

Meu Bom Amigo,

Perante a eloquência, o brilhantismo, a lucidez e a frontalidade do seu pensamento, só me resta curvar-me e parabenizá-lo!

Pouco ou nada mais me permito acrescentar.

Simplesmente, diria, apenas, que vivemos num mundo caracterizado por “fugas para a frente”, onde aqueles em quem depositámos a nossa confiança política, para nos representar, servir, defender e proteger, deixaram de pensar com a massa encefálica (com a cabeça) para, agora, passarem a pensar e a decidir pelas suas próprias “barrigas” e pelos seus próprios “pés”, o que significa dizer que o Mundo, particularmente, a Europa está a ser dominada pelos “espertos”, pelos incompetentes e oportunistas.

Tanto mais, porque de inteligentes e de honestos nada revelam, nada têm revelado!

E, mais grave, recusam-se a ouvir a voz da sua própria razão!…

Os Povos, esses, vão continuando com as “canga” às costas, até quando? Não se vislumbra o seu fim…

Eles, os “ditos” políticos, inconscientemente, porque assim o querem, vão continuar a bater com as cabeças nas paredes até que, finalmente, se estatelarão inanimados no chão…

Por favor, por muito que lhe possa custar, NUNCA SE CALE ou deixe de nos iluminar!

ESCREVER TAMBÉM É LUTAR!

A LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS, PELA VIDA, PELA PAZ, PELA PROSPERIDADE ENTRE OS HOMENS DE BOA VONTADE, CONTINUA!

SEMPRE PODERÁ CONTAR COMIGO, SEMPRE AO SEU LADO!

SEMPRE!

Queira aceitar o meu mais fraterno abraço! “Aquele abraço!”

Paulo M. A. Martins
Fortaleza, Brasil, temporariamente, em Portugal.

António da Cunha Duarte Justo disse...

Caríssimo Jornalista Paulo M. A. Martins,
Muito obrigado pelas palavras de encorajamento e apoio. Aprecio-as sabendo que vêm dum jornalista sempre empenhado na " LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS, PELA VIDA, PELA PAZ, PELA PROSPERIDADE ENTRE OS HOMENS DE BOA VONTADE!" e não só! Essa é também a minha luta. Nos tempos confusos em que vivemos é muito importante falar texto claro na esperança da verdade. São insignificantes os nossos erros se vivemos no esforço contínuo por sermos honestos!
Todo o tempo é pouco para amar. No fim só nos resta o que não fizemos!
Costumo visitar a sua página que admiro muito!
Um abraço muito cordial
António Justo

Anónimo disse...

Olá António,

Quem não tem cães caça com gatos. Os países pobres e latinos, para além da corrupção, ao tentar dar melhores condições de vida aos seus cidadãos, muitas vezes seguindo políticas mal estruturadas e deficientemente planeadas, acabam por se endividar e no final, apesar da contribuição a contragosto dos países ricos, quem paga é o ze´povinho.
No entanto concordo com o que dizes.

Cumprimentos,

António da Cunha Duarte Justo disse...

Olá, Adel,
É verdade. Os países fortes ainda ganham com os empréstimos. Eles pedem o dinheiro a investidores internacionais a juros baixos e disponibilizam o dinheiro (através dos mesmos investidores internacionais) aos países em crise a juros altos. Ganham a diferença. Só correm um risco como fiadores. No caso dum país não poder pagar as dívidas, os países fiadores terão que as assumir. Por outro lado, pelo facto dos países fortes se tornarem fiadores de países fracos, as agências Rating classificam-nos mais baixo, tendo também eles de pagar mais juros pelo dinheiro que pedem emprestado para refinanciar os países em bancarrota. Por outro lado se os países da zona euro não refinanciassem os países em falência, estes não poderiam pagar as reformas ao povo nem os salários aos seus funcionários o que implicaria uma instabilidade total na EU e a queda abrupta do Euro e com isto um desastre para toda a EU.
Os países em falência só terão uma oportunidade se a política da EU se deixar levar pelo que falo no artigo ou se emprestarem dinheiro a juros baixos. Doutro modo o país só trabalha para pagar os juros e, mesmo assim, não chega. Já não falo de fazerem desconto do saldo devedor inicial. Já há anos que os países juntam dívidas a dívidas sem saldarem um cêntimo do empréstimo.
A situação não é risonha para ninguém. Pior ainda daqui a um ou dois anos quando a sirtuação se agravar e outros países entrarem na fila dos insolventes!
Um abraço apertado