segunda-feira, 17 de abril de 2023

A EUROPA AUTODESTRÓI-SE SE CONDUZIDA POR UMA VISÃO UNILATERAL AMERICANO-ALEMÃ


Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã fez má Figura na China

As últimas visitas da França (Emmanuel Macron) e da Alemanha (Annalena Baerbock) à China são sintomáticas e expressão de dois polos europeus (nórdico e latino) que, no fundo, se contradizem, quando seria da sua natureza complementarem-se. De um lado Mácron e do outro lado a ministra alemã dos Negócios Estrangeiros (1): o francês representando mais a diplomacia europeia foi recebido na China em festa e despedido honrosamente e a alemã mais representante dos anglo-americanos, foi recebida com distância e despedida sem sequer um aperto de mão, como se pode ver na conferência final de imprensa comum. A política alemã ao identificar-se com a política militar americana já não tem muito a dizer numa política mundial a delinear-se na multipolaridade. O fatal na questão não é tanto o problema alemão, mas o facto de com ele ser também arrastada a política europeia. Um vislumbre de esperança oferece a posição do presidente francês para a Europa que poderia levar os governantes europeus a deixarem de ser meros atrelados da visão anglo-saxónica.

A sobranceria do comportamento germânico repetidamente manifestada nas “aparições” da sua ministra Baerbock é descabida porque de facto, a Alemanha  não tem força nem peso militar, perdeu a energia barata da Rússia e com isso a força económica, não tem conceito político próprio,  tem uma cultura  cada vez mais enfraquecida com o paulatino abandono do idealismo alemão em benefício da anglo-saxónica (2);  na pessoa de Baerbock a Europa arvorou-se em juíz da China sem atender sequer aos bons  costumes da diplomacia seguindo as pegadas da arrogância provinciana e teatral de Zilenskyl! Baerbock e com ela a Alemanha pouco tem a dizer aos chineses e menos ainda quando reduzida (pelo menos exteriormente) a mera embaixadora da atitude militar americana. A China sabe que a administração americana não respeita ninguém e por isso pode permitir-se não tomar a sério a representante da Alemanha.

No que toca à guerra entre os EUA/OTAN e a Federação Russa na Ucrânia, a China sabe também que a opinião pública europeia se encontra equivocada devido a uma comunicação social europeia profundamente comprometida com os interesses americanos e por isso mais interessada em induzir em erro do que interessada numa discussão pública objecctiva.

Em nome de uma crise que nós mesmos provocamos com o boicote económico sacudimos do próprio capote os males que encomendamos ao, desavergonhadamente, explicar-se o encarecimento da vida com a culpa de outros! Vamos esperando que esta loucura passe.

No meu entender, a China ao contrário dos EUA tem apostado na economia e numa relaç1bo económica interesseira mas séria com outros países e não na força militar como cuidam os EUA; por isso a China que se transformou em primeira potência económica mundial tem a melhor posição para se tornar numa verdadeira medianeira da paz! Na Ucrânia os sinos já tocam a finados para a despedida do século americano no mundo! A má informação europeia relativamente à guerra da OTAN e da Federação russa na Ucrânia não tem em consideração o desenvolvimento das nações a nível de blocos no mundo nem a geopolítica a jogar-se na Ucrânia que não considera os interesses vitais da Rússia na passagem para o Mar Negro, contencioso semelhante ao que se está a preparar no estreito de Taiwan (Formosa) devido aos interesses do Ocidente no estreito, como estrada comercial importantíssima onde passa 50% das mercadorias mundiais. Só uma política de paz poderá resolver de modo a respeitar os interesses da Federação russa numa região e os interesses ocidentais na outra. Doutro modo a seguir à guerra na Ucrânia teremos a guerra na Formosa.

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8462

 

(1)  Com a passagem do poder da Chanceler Angela Merkel para Olaf Scholz a Alemanha consumou a traição do idealismo alemão iniciada em 9.11.1989 com a absorção da DDR na BRD (a). Em vez de se completar fazendo a síntese de socialismo e capitalismo a Alemanha unida adoptou o capitalismo liberal e a ideologia anglo-americana, contrariando o ideal da União Soviética que via na casa europeia a sua chance. Com a viragem militarista de Olaf Scholz em 2022 a Europa iniciou um capítulo que não promete futuro para a Europa. Brilha uma luz no fim do túnel ao pensarmos que a Europa do Sul com o presidente da França, Mácron, poderá ajudar a corrigir e a dar volta à roda da história.

(2) Cfr. meu Artigo „Wohin Deutschland? Der Verrat am deutschen Idealismus“ na revista „Gemeinsam“ Heft 6, März 1990.

O Presidente Mácron solicita mais soberania para a Europa irritando assim a Alemanha: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/quem-sao-os-rivais-se-a-europa-e-considerada-inexistente

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