Desde 1997 tem-se dado um desinvestimento contínuo no ensino de português no estrangeiro. Esta situação, acrescida dos erros crassos duma política míope que leva os professores a abandonar os lugares de colocação, além da instabilidade criada aos docentes, conduz agora a cursos sem aulas de português e gera a necessidade do aumento da verba orçamental para o ensino em cada ano que passa.
O ME revelou não ter vocação nem competência para gerir esta modalidade de ensino. A partir de 1997 surge um partidarismo do ME no subsistema da tutela do “Ensino de Português no Estrangeiro de tal modo militante e autista que hoje será difícil reparar tão grande mal instituído. Talvez isto também explique a reserva e o medo do Ministério dos Negócios Estrangeiros em concretizar a sua integração no Instituto Camões!... Quanto mais tempo isto durar mais uma esquerda desintegrada à rédea solta e seus comparsas, se apoderam dum sector que precisa de calma para bem servir.
Apesar da Constituição Portuguesa garantir o ensino de português aos luso-descendentes e de o ano escolar já se encontrar bastante avançado, as comunidades de Kelsterbach, Hildrizhausen, Pfalzgrafenweiler, Kempten e Garmisch-Partenkirchen ainda se encontram sem aulas. Na área Consular de Frankfurt, em Kelsterbach, temos 17 alunos do 1º-4º ano e 18 alunos do 5º-10º sem aulas.Não chega a boa cabeça de algum funcionário nem de bons docentes para dar resposta aos problemas a surgir. O sistema está todo enfermo!
As propostas, feitas por políticos da emigração, de integrar o ensino de português, como língua estrangeira, nos currículos regulares do ensino na Alemanha não passam de desculpas de maus pagadores ou revelam a ignorância dos nossos políticos em relação às possibilidades que a legislação vigente oferece. Esta, duma maneira geral, possibilita de facto a criação de cursos de português integrados no currículo das escolas desde que haja pretendentes. O problema é que faltam os candidatos à aprendizagem do Português (A comunidade portuguesa na Alemanha é reduzida e encontra-se muito dispersa por toda a Alemanha, o que não possibilita a formação de cursos integrados nas escolas alemãs). Alunos alemães e alunos de outras nacionalidades optam pela aprendizagem do Espanhol surgindo assim a oferta do ensino do Espanhol por todo o lado nas escolas.
Os poucos pretendentes ao português, como não são suficientes para se poder criar um curso de português integrado no horário regular da escola optam também eles pelo espanhol. Tenho muitos alunos que no estudo complementar, optam pelo espanhol em vez do francês ou do inglês porque, não havendo número suficiente para formar uma turma de português, estes, devido à sua bagagem de português, tiram as máximas notas em espanhol, o que não aconteceria com o francês ou com o inglês se continuassem com ele. Assim melhoram a nota do fim do curso complementar, facilitando-lhes também a entrada e a escolha duma universidade a seu gosto. Certamente que, quando Angola, Moçambique e o Brasil oferecerem maior interesse pelas suas riquezas e estas sociedades oferecerem maiores garantias ao investimento alemão e europeu, o entrecâmbio aumentará e com ele a procura do português. O Brasil já é bastante atractivo.
A oferta da escola virtual através da Internet é uma boa iniciativa como apoio. De resto, por enquanto, será um segmento de procura mais aproveitável para os portugueses que residem nas Américas.
Naturalmente que o leque das possibilidades de modalidades de ensino a oferecer aos emigrantes ainda não está suficientemente explorado, no sentido da racionalização e da sua exploração e expansão. Para isso seria necessário mais sentido da realidade e uma vontade forte para se superar a mentalidade das capelinhas e maior colaboração institucional e associativa.
As soluções administrativas e muitas das propostas feitas por iniciativas migrantes na Alemanha pecam por demasiada parcialidade ou mesmo partidarismo.
Certas associações e grupos políticos, como se revela no caso do Conselho das Comunidades, são demasiadamente monolíticos, sem pluralidade partidária, tornando-se as suas iniciativas a nível de opinião pública, um meio de auto-afirmação à custa de problemas filtrados pela sua perspectiva e em serviço próprio. Por outro lado as posições dos deputados da emigração sobrepõem-se, por companheirismo e falta de interesse, agindo com accionismos à margem dos verdadeiros interesses da população luso-descendente. A sua actividade, ao longo dos tempos tem-se revelado como um álibi para a política estabelecida portuguesa. Assim nem as organizações, nem as lobies “representativas” dos emigrantes servem os luso-descendentes nem os interesses de Portugal.
Tudo isto facilita e confirma o desinteresse do governo. Ninguém está interessado em conhecer a realidade nem em contactar os que estão com a mão na massa, ou melhor, os que apenas actuam por amor à causa do ensino e dos portugueses.
Por estas e por outras, ao desinvestimento progressivo de Portugal no ensino acrescenta-se uma apresentação oportunista da realidade que a todos prejudica salvaguardando apenas os interesses de alguns funcionários administrativos e alguns funcionários sindicais que assim vão fazendo e vivendo a sua vida à custa dum mau serviço ao povo e aos governos. O problema é crónico e não terá saída atendendo ao emaranhado da rede monolítica que domina a expressão da população portuguesa na Alemanha. O mesmo ideário esquerdista constitui o substrato que vai do jornal de emigração na Alemanha aos representantes do Conselho das Comunidades Portuguesas e outras instituições.
Também os deputados se encontram condicionados por uma situação sui generis rodeando-se também eles de pessoas com interesses pessoais e assim melhor poderem atingir os seus fins imediatos sem estorvos de qualquer género. É a lei do oportunismo e um partidarismo mal entendido prejudicador e desqualificador duma política de partidos séria. Estes porém sabem-se à rédea solta sem necessidade de prestarem contas às centrais localizadas em Portugal. De facto, no caso destes se interessarem seriamente pelos interesses da comunidade portuguesa quem teria de pagar a conta, num primeiro momento, seria Portugal.
A longo prazo porém, Portugal ganharia se mudasse a sua maneira de estar!
António da Cunha Duarte Justo
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