Entrevista feita pela Jornalista Ana Clara a António Justo e publicada no Semanário O DIABO a 03.12.08
1. Porque não há oferta de portáteis para alunos portugueses no Estrangeiro?
Houve alunos interessados nos portáteis. As entidades interpeladas dirigiram-se ao senhor Director-Geral do GEP mas este nem sequer se dignou dar resposta às consultas feitas há já meses. Para os alunos portugueses no estrangeiro não há nem haverá nada. O Governo é que conta com a mama dos emigrantes.
2. Na sua opinião há aqui dois pesos e duas medidas, ou seja, os portugueses, no caso, os alunos, no estrangeiro estão a ser discriminados?
Não, o triste da situação é que nem há pesos nem medidas. É um caso típico desmedido e só possível em países em que o povo tem pouca capacidade de intervenção cívica perante o Governo. A iniciativa da oferta de portáteis em Portugal está enquadrada numa manobra publicitária do governo de Sócrates ligada ao acordo com Bill Gats e respectivas contrapartidas. Quem adquire os PCs Magalhães compromete-se a fazer um contrato, creio que, com a TMN que fornece o acesso à Internet. O aluno recebe o computador barato mas, no fim, atendendo às condições do contrato, paga caro. É a mesma lógica das empresas que oferecem o telemóvel gratuito… Como se depreende, um procedimento muito tortuoso que implica muitos jogos escondidos, favoritismos e submissão por parte de empresas concorrentes e duma opinião pública carente. Atendendo ao emaranhado da questão não há viabilidade.
3. O «Magalhães» tem sido alvo de polémicas, sobretudo, porque ainda não chegou a muitas escolas e se chegou continua empacotado. Recentemente o próprio Primeiro-Ministro fez uma apresentação onde entregou alguns computadores mas, depois, foram-lhes retirados devido a processos burocráticos. Como vê estas acções do Governo?
Refere-se ao caso da Escola do Freixo, em Ponte de Lima, que José Sócrates escolheu como palco para a própria encenação. Desta vez saiu-lhe mal porque alguma imprensa atenta não se contentou com o brilho virtual das imagens da televisão. Preocupou-se também com a realidade que estava por trás do brilho ilusório da TV. É triste que os alunos, já predispostos a receberem os PCs só para a fotografia, tenham sido usados e abusados, ao serem disponibilizados no sentido da “logística administrativa”. Esta prenda veio confirmar o jogo do faz de conta dum Primeiro-Ministro de perfil bem aferido à TV e para inglês ver. O aproveitamento que o Governo faz com a distribuição dos portáteis é anacrónico. Como se pode ver continuamente na TV, o PM sabe aproveitar-se do público que tem. Apresenta-se em todo o lugar onde há algo interessante, tal como fazia o apelidado de “corta-fitas” no tempo de Salazar. Uma tristeza e uma vergonha que isto seja possível em Portugal e que o povo e a TV não dêem por ela! É surpreendente o facto de um homem que tem a certeza de ganhar as próximas eleições ter necessidade de se comportar como se andasse sempre em campanha eleitoral. Com uma oposição tão fraca e tão pouco fotogénica, o exagero da presença abrilhantada do PM na RTP até já cheira a vaidade!
4. O projecto do «Magalhães» foi bem conseguido? É essencial?
Sim, o governo consegue fazer render o peixe para si e apresentar-se de Pai Natal, mesmo fora da época natalícia! Continua a tradição do Pai Natal portador das prendas qu vêm de cima, no trenó da RTP. Essencial não é, receio é que será prejudicial. O povo menos consumidor de cultura fica com a impressão que o Governo está a investir no Ensino e nos alunos. Em termos de investimento escolar, isto não passa duma manobra de desvio das atenções duma escola em crise e incapaz de dar resposta às necessidades reais da nação. A escola precisa de grandes investimento a todos os níveis.
5. Há quem considere que o Governo, com a política seguida até agora, está a instrumentalizar as escolas para fins eleitorais. Concorda?
É evidente que sim. Num país em que a origem social continua a determinar o sucesso e o insucesso escolar, profissional e social das crianças, seria óbvio que se criassem infra-estruturas capazes de promover as crianças em situação carenciada, de maneira persistente. Em vez disso desperdiçam-se dinheiros em fogos de vista. A estratégia do futebol é programa. A magia está na tensão criada em campo e na plateia, o Governo também percebe muito de futebol. Ele sabe que o povo se contenta com a expressão dos sentimentos.
6. Como avalia a política de Educação deste Governo?
O Governo encontra-se confrontado com dois problemas: por um lado a exigência dos tratados de Lisboa e de Bolonha. Os Estados membros pretendem criar condições para que metade dos alunos por toda a Europa tenha direito e a habilitação para o ingresso na universidade. Por outro, o ensino estatal encontra-se num estado deplorável. A reforma que se exigia é substituída por medidas paliativas tendentes à socialização da mediocridade: um ensino ao nível de exigências mínimas. O Governo, em vez de reformar a escola limita-se a puxar as orelhas aos professores e a fazer-se menino bonito dos alunos. O seu proceder leviano terá como consequência o agravamento das chances para a camada social mais carenciada. A política simplicista e burocratizante seguida provocam a fuga dos melhores alunos para o Ensino privado e a consequente necessidade criação de escolas de elite. Isto conduzirá à escola estatal do resto cada vez mais impeditiva da igualdade de chances. A concorrência técnica internacional não perdoa o facilitismo. Tem de passar por um ensino de qualidade responsabilizador e não de desobriga..
Naturalmente que será necessária muita força e coragem para acordar Portugal da pasmaceira em que tem vivido. Para isso não basta espertos e meninos bonitos! É imperdoável que um governo PS de maioria absoluta, se limite à administração da miséria continuando assim a adiar Portugal. Para isso as nossas elites terão de se descobrirem primeiro como nação e povo. Portugal terá que algum dia quebrar a tradição de ser conduzido por grupos que se apoderam do Estado. Estes têm feito dele o seu pelouro! É o que tem vindo a acontecer especialmente desde as invasões francesas, na sequência de mercenários que se vão revezando.
7. E como tem o Governo português tratado os milhões de portugueses espalhados pelo Mundo?
Quando tal os portugueses estão mais fora que dentro!.. Se o Governo português já trata tão mal os portugueses que ficam em Portugal, como poderia tratar bem os portugueses fora de Portugal? Faz alguns esforços num ou noutro sector mas apenas no sentido da administração. Ultimamente até retirou ao emigrante a possibilidade de participar nas eleições com voto por carta. Isto foi mais uma medida da esquerda, mais activa e presente nos centros próximos aos locais de voto. De resto, personalidades do Governo vão passeando a sua personalidade nalgumas festas nacionais no jogo do faz de conta.
Para construirmos um Portugal moderno teremos todos que mudar de mentalidade e torná-lo a sério.
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1 comentário:
O 5º funcionário publico
Aplica-se não só à função pública mas a todo o país.
ERA UMA VEZ... 4 funcionários públicos chamados Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém.
Havia um trabalho importante para fazer e Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém o faria.
Qualquer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez.
Alguém se zangou porque era um trabalho para Toda-a-Gente.
Toda-a-Gente pensou que Qualquer-Um podia tê-lo feito, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria.
No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez o que Qualquer-Um poderia ter feito.
Foi assim que apareceu o Deixa-Andar, um 5º funcionário para evitar todos estes problemas.
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