RAZÃO PORQUE PORTUGAL NÃO SE ENDIREITA
António Justo
Se Portugal durante o Estado Novo se encontrava torto à direita, com o 25 de Abril tornou-se torto à esquerda! Um país que obriga o povo a safar-se pela esperteza e não pela inteligência só poderá produzir governantes espertos! A esperteza vive do provisório, sempre sem tempo para viver mas para se safar.
Segundo os resultados eleitorais para o Legislativo, de 27 de Setembro último, Portugal continua um país de esquerda e a Alemanha um país de centro direita.
Em Portugal a esquerda conta com 118 deputados (PS 97, BE 16 e CDU (Comunistas) 15), e o Centro Direita com 102 (PSD 81 e CDS-PP 21), no Parlamento. Portugal, na sua maioria é esquerda e a administração, de maneira geral encontra-se nas mãos de partidários. Na praça pública a vida da nação é discutida sob a perspectiva de interesses partidários. Em Portugal o povo não está presente na opinião pública nem no discurso político. Presentes estão os políticos! Os políticos só parecem conhecer-se e acreditarem em si mesmos. Para os políticos portugueses a nação é uma coisa ultrapassada, o futuro vem do estrangeiro, das remessas dos emigrantes e dos apoios da União Europeia!
Na Alemanha o Centro Direita conseguiu para o Parlamento 330 deputados (União de Cristãos democratas - CDU e sociais democratas - CSU 237 e Liberais - FDP 93) e a Esquerda 290 deputados, dos quais SPD 147, Verdes 67 e Esquerdos-Linke 76.
De notar que na Alemanha o partido da esquerda SPD que corresponderia, diria eu, a nível de família política ao PS, na realidade está mais perto do PSD português do que do PS. O SPD é pragmático enquanto que o PS é ideológico! Os Verdes alemães integram neles elementos conservadores e progressistas.
A Alemanha, na sua maioria é conservadora e na sua administração encontram-se cidadãos com consciência técnica. Na praça pública alemã a vida da nação é discutida pelos políticos e pela sociedade, sob a perspectiva dos interesses do país. Na Alemanha o povo está presente na opinião pública e na política e há uma vida cívica muito organizada: poder-se-ia dizer: cada alemão é uma associação! Os políticos mantêm-se reservados. Na Alemanha os políticos acreditam na nação e vêem o futuro nela.
Estas são apenas algumas impressões provocantes sobre algo do que observo em Portugal e na Alemanha. Se comparo os noticiários dum país com o outro, tenho a impressão que, enquanto na Alemanha se relatam mais os assuntos objectivos nacionais, no telejornal português dá a impressão de Portugal andar em campanha eleitoral durante toda a legislatura. Na Alemanha, as notícias são narradas, em Portugal são encenadas: mais que as notícias o que parece de importância são as cores, o locutor e os sentimentos! Dum lado cultiva-se a razão, do outro a paixão!
Dois povos, dois destinos. Como é sabido os conservadores sabem criar riqueza e os progressistas sabem gastá-la.
Sócrates, na nova legislatura teria a oportunidade de deixar de ser um socialista jacobino para se tornar num homem der estado. A mentalidade oportuna e correcta obrigará, porém, esta elite portuguesa a continuar a optar pela esperteza à custa da inteligência e da nação. A esperteza aconselhá-lo-á a fazer coligação com o CDS-PP para depois se poder rir dum centro direita sem espinha dorsal, a quem poderá dar alguns postos para assim contaminar o espírito conservador português!...
O PS sabe que o país votou esquerda e chega-lhe para poder fazer o que quiser. Fará acordos ad hoc com os partidos da esquerda desacreditando-os e responsabilizando-os também pelas incompetências dum Estado demasiado caduco para se poder erguer.
No próximo Domingo, haverá eleições para as autárquicas! Naturalmente que o povo continuará a fazer o que aprendeu: jogar às eleições. Será que quem nasce torto não terá hipótese de se endireitar? Porque não deixamos de ser um país de ilusão, de desiludidos
e de invejosos?
Portugal sofre altamente de esquerdismo. Ele precisa das duas pernas; da esquerda e da direita, de ambas fortes! Portugal não pode continuar como até aqui! No tempo de guerra não se limpam armas! Portugal tem uma grande cultura e um grande povo com imensas potencialidades adormecidas. Diz-se que Portugal não tem tiros para melros!... Um povo que lá fora enriquece outros povos não pode continuar a suportar chicos espertos e cucos. En casa também se podem fazer milagres! Para isso pressupõe-se a distinção entre politiquice e política.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
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