Penso logo existo – Quem não pensa não tem direito a existir?
António Justo
Uma vaca gera tantos gases de escape (azoto, anidrido carbónico, metano, etc.) num ano como um automóvel que anda 18.000 km. Segundo a FAO a produção dum quilo de carne prejudica tanto o ambiente como uma viagem de 250 km com o carro. Um alemão consome 90 kg de carne por ano e os americanos, no mesmo espaço de tempo, uma média de 120 kg por habitante. Em 2008 foram consumidas no mundo 280 milhões de toneladas de carne e 700 milhões de toneladas de leite.
Segundo uma investigação das UN a agricultura ocupa metade da área da terra e utiliza 70% da água consumida globalmente; produz 20% das emissões de gases estufa, 60% de emissões de fósforo e azoto e 30% de emissões de venenos.
O olhar dum animal, a sua expressão de sentimentos revelam-nos uma sensibilidade que não pode continuar a ser encoberta pela razão humana. Razão e emoção podem-se manifestar não só na empatia duma pessoa com um animal doméstico como até ser verificada em plantas. Observações confirmam que até as plantas brilham mais e dão melhores frutos quando recebem dedicação carinhosa de alguém. Na dedicação cresce uma relação digna a nível profundo onde flúi muito de comum à nossa alma.
“Penso logo existo” é o slogan que nos tem conduzido também a uma certa unilateralidade cruel no agir. Na prática, a inteligência emocional é recalcada e quem não pensa não tem direito a existir. Isto vê-se confirmado nos grandes “campos de concentração” que a indústria agrária cria para os animais e na quantidade de animais que os talhantes imolam sem pudor nos seus matadouros, para depois serem expostos como cadáveres e vendidos nos talhos. Sem honra nem dignidade, os animais são anonimamente criados para se tornarem em bifes e chouriços, depois comidos, sem o mínimo de respeito e de sintonia com eles.
O ser humano ao resumir a sua identidade na fórmula filosófica “penso, logo existo” limita a humanidade à sua espécie, esquecendo que antes do pensar vem o sentir: sinto logo existo. A falta de solidarização com os animais e a carência de compaixão tornam-se num índice da desumanização do homem e consequente violação da natureza por ele. A filosofia e a ciência estão interessadas em considerar a vida emocional dos animais como inferior ou como insuficientemente investigada, para poder continuar a abusar dela e justificar a sua desumanidade como natural. Desde René Descartes fomos instruídos que decisões racionais são o ideal e que decisões do sentimento não valem muito. A injustiça e o opróbrio causado aos animais bradam já aos céus. A maneira como são tratados até ao matadouro não respeita a sua natureza nem os seus sentimentos. Somos campeões em recalcar os nossos sentimentos para com a vaca, o porco, a galinha, etc. Se víssemos neles o destino do nosso cão ou do nosso gato, talvez o sentimento acordasse a nossa razão embotada! Vai sendo tempo da política e da religião dar voz a estas vítimas sem voz. Se não ouvimos a voz da natureza também não nos podemos ouvir a nós! Nas suas veias corre parte do nosso sangue! A nossa desumanidade para com os nossos irmãos de espécie não é argumento para continuarmos a não ouvir a voz dos nossos irmãos da natureza!
A legitimação do ser é mais abrangente do que a razão tem demonstrado. No sentir se encontra a compaixão e a complacência dos seres uns com os outros.
Um aumento da sintonia do Homem com a natureza e consequente alargamento da consciência poderia conduzir à redução do consumo da carne. Se reduzíssemos o consuma da carne no mundo a 10%, o aquecimento da Terra seria evitado e a maioria dos problemas ecológicos seriam resolvidos.
O movimento dos vegetarianos deve ser visto com respeito e implementado, sem entrarmos no jogo de pingue-pongue da culpa, e à margem de qualquer moralismo elitista.
Se os consumidores de carne passassem a ser vegetarianos seria poupada 21% da área que hoje é utilizada para a criação de gado, uma área correspondente à Índia (www.provieh.de). Numa população mundial de 6,7 mil milhões de habitantes, há 75 milhões de vegetarianos, 1,45 mil milhões são tão pobres que não se podem dar ao “luxo” do consumir carne; 500 milhões comem raramente carne e 4,6 mil milhões comem-na regularmente.
Quem não pode ser vegetariano pode, pelo menos, reduzir o seu consumo!
Se quisermos salvar o Homem comecemos já empenhando-nos em favor dos animais e das plantas!
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
Pegadas do Espírito
http://antonio-justo.eu/
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