quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Líbia – A Revolta das Tribos – O Erro do Ocidente


Preparação da Guerra Civil


António Justo

Numa sociedade com 140 tribos e clãs de família rivais, é de prever-se uma guerra civil entre elas. A Líbia não tem um movimento de oposição unido e o seu exército apenas tem o uniforme a uni-lo; de resto é constituído por uma malha de representantes das diferentes tribos e clãs, até agora mantido sob o manto férreo de Kadhafi.

Por outro lado, não se avista, no horizonte líbio, uma personalidade, capaz de catalisar os interesses e as rivalidades inter-tribais e as forças de al kaeda.

Até uma intervenção militar internacional, para proteger a população, se torna propriamente inexecutável. O recurso aos militares, como parceiros de diálogo a nível internacional, torna-se impossível, ao contrário do que acontece com os outros países árabes que têm a continuidade garantida no poder militar. Na Líbia, momentaneamente, nem a ditadura militar parece viável. A formação militar encontra-se dividida numa relação proporcional às tribos. O facto de se rebelarem contra Kadhafi e saltarem para a rua, não pode servir de argumento para a interpretação corrente.

Na África, como nestes estados, não houve o processo da colonização interna. Este foi impedido, também, pela colonização externa, o que torna a questão mais complicada, em termos modernos subjacentes aos processos verificados no surgir de nações. Na Europa os grupos mais fortes subjugaram os mais fracos, formando depois nações.

Os povos árabes ainda não têm a consciência de nação nem de povo. Pensam apenas em termos de família, clã e religião. Não são “Povo” são apenas população e só têm a uni-los a consciência religiosa e algum chefe. Por isso terão ainda de suportar, por muito tempo, a mão de ferro da religião, até que uma consciência de povo/nação organize a sua justiça e as suas forças militares e policiais, tão combatidas por extremistas muçulmanos que querem ver a população abandonada à pilhagem de caciques locais. Não os assusta mais que a organização dum Estado (democrático), como se vê testemunhado no Afeganistão. Por isso também aqui o Ocidente terá de sair vencido, tal como a antiga União Soviética. Onde não há Povo reina a ditadura sobre o caos; não é possível a guerra, apenas sobrevive a guerrilha! Esta é comum tanto à fase do surgir como à da queda das civilizações!

O erro de análise ocidental e das suas relações com estes povos está no facto de não conhecer a sociologia e antropologia árabes. O Ocidente transpõe, apenas, os próprios modelos de solução para problemas que provêem duma socialização diametralmente oposta. O mesmo se diga com a sua imagem de Homem e consequentes direitos.

A sociologia nómada, própria da civilização árabe e turca, não pode ser encarada com os mesmos critérios duma civilização sedentária em que os deuses se sujeitaram a um Deus pai. Naquelas predomina ainda um politeísmo açamado pelo poder absoluto dum Deus alheio à população, mas o único subterfúgio que lhe dá consistência. Trata-se dum Deus imposto. Maomé conhecia bem as tribos a subjugar ao criar a sua religião; por isso não podia tolerar o monoteísmo mitigado cristão. Não podia servir-se da evolução histórica como era o caso do povo israelita, nem duma antropologia humana como era o caso dos cristãos. Maomé teve de criar um sistema religioso para solucionar o problema de tribos aguerridas e indomáveis; para isso precisava de estruturas culturais de carácter sociológico e não antropológico. Por isso a pessoa é considerada como objecto. Um sistema político ou religioso que não sirva a pessoa mas apenas o grupo desaparecerá com o tempo e depois não se nota a sua falta. Os árabes perderam o comboio da História continuando no deserto sob a tenda de Maomé! O Islão terá de sofrer uma revolução e integrar na sua antropologia beduína os elementos sedentários, tal como aconteceu com ocidentais e em parte com os orientais.

A insurreição árabe, e o grito pela sua liberdade, estão a dar-se em torno do mediterrâneo, nos países que têm cooperação e contacto com a Europa. Nos outros domina a paz dos cemitérios. O norte de áfrica encontra-se a caminho do Irão. A sua sorte continuará a ter de suportar a colonização externa que o Ocidente, mais cedo ou mais tarde, entregará às mãos do Irão e da Turquia.

Desde que o déspota Muammar al-Gadhafi , que domina o país há 42 anos, renunciou ao terrorismo no exterior e deixou correr o petróleo em direcção à Europa, com a promessa de impedir extremistas muçulmanos e os refugiados africanos de passar as suas fronteiras para a Europa, os políticos europeus concederam-lhe o estatuto de homem de bem.

Os estados da União Europeia continuam desunidos no que toca a uma estratégia a seguir, preferindo manter-se na indecisão e continuar a jogar com as brasas pelo facto de Gaddafi ter ameaçado a EU de rescindir o contrato de impedir o fluxo de emigrantes ilegais do norte de África.

A líbia com 1,8 milhões de Km2 tem 6,5 milhões de habitantes. 90% do território é deserto com grandes reservas de petróleo. A Itália importa 40% do seu óleo e a Alemanha 12,8% da Líbia. Em 2010 a EU negociou com Gadhafi uma “cooperação de migração”; até 3013 a líbia devia receber da EU 50 milhões de Euros para o controlo das fronteiras. Na cimeira EU-África realizada em Novembro 2010 em Trípoli, Gadhafi exigiu, para impedir o fluxo migratório de africanos para a Europa, 5 mil milhões de Euros, por ano, doutro modo deixa a europa cristã branca tornar-se negra!

Berlusconi, ter-se-á inspirado na Líbia no seu culto Bunga-Bunga com prostitutas jovens.

As insurreições populares podem vir a impedir o fornecimento de petróleo e de gás. O preço do petróleo sobe e já atingiu o valor máximo atingido em 2008.
A revolta popular já custou centenas de mortos. Como é próprio desta cultura também o próprio assassino de massas populares se encontra disposto a derramar o sangue de mártir” até à última gota”! Reina o caos na Líbia. A cidade de Bengasi já se encontra nas mãos dos adversários de líder líbio com desertores de parte do exército e várias tribos aliaram-se aos adversários de Gadhafi. Há representantes políticos que criticam abertamente a atitude assassina do líder que mata o povo. De facto, nas estradas corre o sangue de centenas e familiares têm medo de ir buscar os cadáveres com receio de serem tiroteados. O ministro da justiça demitiu-se protestando contra a excessiva violência empregada contra os demonstrantes; o mesmo declararam muitos diplomatas líbios junto da ONU.

Ao ditador só resta o suicídio, ou ter de se entregar ao Tribunal Internacional. Gadhafi, como preanunciando o seu fim declarou: “Eu morrerei como mártir, tal como meu avô”! Resta a guerra civil. Alguns diplomatas líbios já apelam á “responsabilidade da comunidade internacional para intervir para acabar com o correr do sangue”. Os actos do déspota “podem constituir crimes contra a humanidade”. Para a Alemanha a era de Gadhafi já acabou e exige sanções contra o seu regime. Itália, Malta e Chipre impediram que a EU ditasse sanções contra o regime líbio. A Alemanha é de opinião que a EU possa ditar sanções sem o acordo dos três países.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com
in Pegadas do Tempo, www.antonio-justo.eu

4 comentários:

Anónimo disse...

E se a Alemanha financiasse a aquisição de submarinos e fragatas a Portugal, Espanha, Itália e Grécia?

Pagavam-se as dívidas! E estancava-se a invasão!

António da Cunha Duarte Justo disse...

A União Europeia não ultrapassou a fase nacionalista dos Estados que a integram! A lei da razão do mais forte é a que vigora.

Anónimo disse...

Então é preciso que nós lhe apresentemos a factura dos descobrimentos: “ quantas mães em vão choraram para que fosses nossos ó mar!” e não dizimámos Nações!

Por isso é preciso fazer-lhe chegar a factura: PONTE AÉREA DO MAGREB PARA BERLIM! JÁ!

António da Cunha Duarte Justo disse...

Nós nem folha temos onde escrever.
Se os nossos representantes atraiçoam os interesses de Portugal, como poderemos esperar dos alemães a nosso favor. Um exemplo: Agora que se tratava no Parlamento Europeu de defender a língua portuguesa na questão do regime europeu das patentes, o Português foi excluído com a cumplicidade do nosso governo. Ficou só a ser em inglês, francês e alemão.
A EU está-se marimbando para a protecção da igualdade e a não descriminação no mercado interno. Com estas medidas os fortes ficam ainda mais competitivos. Facto é que o Instituto Europeu de Patentes tem seis mil funcionários.
Portugal foi traído no Parlamento Europeu. Fonte competente revela que só votaram “a favor do interesse nacional, só CDS (Nuno Melo e Diogo Feio), PCP (Ilda Figueiredo e João Ferreira) e dois PSD (Carlos Coelho e Graça Carvalho); contra o interesse nacional, todo o PS e a maioria do PSD.
Esperemos que os espanhois levem a coisa a tribunal!