segunda-feira, 11 de abril de 2011

A ALEGRIA DUM POVO PEREGRINO

A ALEGRIA DUM POVO PEREGRINO
À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

António Justo

O grande sábio da Idade Média, Tomás de Aquino, dizia: “Nada se consegue com êxito, a não ser que se realize com alegria!”

A atmosfera que se respira em torno do Estado e das instituições, na Europa e especialmente em Portugal é escura e depressiva. Fracasso, medo e frustração grassam no meio da população. O horizonte é curto e a visão fraca, não se descortinando já o sentido!

Nesta hora nacional ensombrada, em que estrangeiros vêem impor a Portugal a sua disciplina, será importante, mais que nunca, redescobrir o brilho do sol em nós e no nosso povo. O sol da alegria move a força da esperança tal como o raio de sol atrai o rebento. As estruturas tornam-se frias e pesadas, sem a alegria de membros que se saibam respeitados e apreciados.

A nação é um biótopo natural condicionado pelo seu clima envolvente; o biótopo cultural é codificado em sentimentos, costumes e mentalidade. Como tal, para viver, precisa do sol da esperança e da alegria de vida.

Talvez, depois dum período de reflexão e de análise, o país encontre o seu sentido, não apenas num projecto político, mas numa realidade orgânica com um tecto metafísico cristão, onde todos os portugueses, crentes e não crentes, tenham lugar e se sintam em casa, protegidos dos assaltantes e das saraivadas da noite. Então, no sorriso do cidadão, brilhará o Sol da nação e a alegria será o sol a brilhar em cada irmão.

O povo tem andado ao som da música dos outros. Sem reconhecer nela a própria música, sente-se agora cansado e burlado. Procurou fora o que se encontra dentro. A alegria não se encontra na carreira, no sucesso nem na posição. Teresa de Lisieux dizia que “A alegria não se encontra nas coisas mas no íntimo da nossa alma”. Alegria é sorrir, apesar de tudo.

Na minha alegria encontra-se, de mistura, o meu carácter, as circunstâncias envolventes e a minha atitude perante a vida. Mesmo na adversidade há um contentamento interior a descobrir, longe do barulho das inquietações e dos regozijos. A alegria interior é relação; manifesta-se na relação pessoal e processa-se em diálogo de mudança. Se sentirmos com a natureza verificaremos um processo contínuo de mudança, da tristeza para a alegria, do inverno para a primavera, de incarnação para ressurreição. “Nada se cria e nada se destrói, tudo se muda” ensina-nos a física.

Às Trevas da Semana Santa segue-se o Amanhecer da Ressurreição


Para nos levantarmos e nos pormos a caminho, com optimismo, teremos de deixar de pintar o diabo nos outros. Deixaremos a inveja e o snobismo, para nos encontrarmos como povo e como nação de todos. No momento da metanóia descobriremos em nós o diabo que vemos nos outros, tornando-nos assim aptos a descobrir, em nós e neles, a divindade comum a tudo e todos. “Quem procura Deus encontra alegria”, dizia a experiência de Agostinho de Hipona, no seu peregrinar pelas sendas do mal e do bem! Então tornar-nos-emos na comunidade da alegria e, como ele, seremos o defensor do seu povo.

Nesta Páscoa de 2011, Jesus Cristo (JC) é protótipo e a realidade que integra o êxito e o fracasso, a matéria e o espírito, a humanidade e a divindade, num processo ascendente que resolve a visão bipolar e dialógica na realidade trinitária.

Em comunidade na Trindade antecipamos a Páscoa. Comunidade na Trindade significa, sempre a caminho, realizar o JC e com ele a sua presença. Então, a nação erguida, em sentimento de agradecimento da vivência do chamamento comum, participará na eucaristia universal a plasmar-se no universo, na natureza, e em cada um de nós. Não tenho problema de delegar em Cristo o que não consigo fazer no dia-a-dia. Sou não só instrumento divino, mas também parte da sua realização.

Então, de consciência tranquila, faço o que posso, só na obediência ao meu interior que reconhece também fora o JC encontrado. Isto cria paz e a alegria da ressonância com o todo numa relação vertical e horizontal. O JC torna-se a medida de todas as coisas. Não haverá superiores nem inferiores, governantes nem governados, crentes nem descrentes, mas só cidadãos a seguir o mesmo chamamento.

Então não abuso dos outros nem das coisas em meu favor. A minha alegria alimenta-se da tua, da nossa alegria! Ela cresce no serviço a ti, ao próximo. A alegria é a chave da realização.

Então, passamos a abraçar as pessoas com o sorriso; nele passamos a abraçar a natureza, num contínuo erguer de sol que tudo inebria.


Para Erich From “Alegria é o sentimento que se sente a caminho da auto-realização”. A realização de cada membro vai no sentido da ressuscitação. Ao encontrar o tesouro perdido no campo (Mt 13,44) entro na relação profunda com a natureza sentindo nela o coração do JC a palpitar na continuação da experiência dos discípulos de Emaús (Lc 24,41); aqui, no encontro, na relação profunda acontece a alegria, num brilho de fé, que se torna no princípio interior da vida que transforma a vida e põe o mundo em comunhão. Surge uma atitude interior na experiência dos limites e, ao mesmo tempo, na experiência da presença de Deus como oferta. Realiza-se, simultaneamente, incarnação e ressurreição em processo de salvação, natal e páscoa a acontecer. Daí surge a alegria que se apega e testemunha. Como a Realidade Trinitária, a unidade plural, entramos em triálogo de uns com os outros celebrando e comungando a natureza inteira em JC, no mesmo chão da divindade. A fé torna-se em alegria que transborda tal como o amor de Deus transbordou na natureza.

Mas afinal quem é esse JC? Ele é a “água viva” que nos (Samaritana) apaga a sede de felicidade; é a “luz” que ilumina as trevas do nosso coração (cego); é a vida que nos (Lázaro) levanta da cova do medo e da morte; é a videira que faz correr em nós o elixir da felicidade; és tu, ele e eu a caminho. Na sequela Christi vivemos o equilíbrio, estamos em paz com Deus e com o mundo. Com ele e nele somos “o caminho, a verdade e a vida”.

António da Cunha Duarte Justo
antóniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu

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