sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Cimeira de Bruxelas começa hoje em Pulgas
Cimeira de Bruxelas - A EU e o Euro sairão fortificados
António Justo
Merkel não se encontra muito preocupada com o estilo político e por isso já deixou perceber que esta cimeira não se poderá limitar a troca de meras simpatias descomprometidas. Prevêem-se rajadas fortes para a cimeira esperando-se conceitos muito concretos, porque se não os houver o tempo depois dela revelar-se-á muito tempestuoso para todos. O epicentro será a Alemanha e Franca. São os dois que determinam o estado do tempo na EU. A experiência, de terem sido arrastados por Atenas e afins, mais os empertiga agora a eles. Merkel no seu egoísmo suave quer acabar com os puros egoísmos nacionais. Não será fácil atendendo ao facto dos ingleses só verem a sua perspectiva e a dos americanos e muitos outros já sentirem a água nas orelhas. Trata-se nesta cimeira de salvar a zona euro e impedir a bancarrota de alguns Estados. Um empreendimento difícil. Para isso os chefes de governo teriam de se transformar num governo económico que impõem nos seus países o que determinam juntos. Os Estados, que, de facto, já se tornaram sombras de si mesmos, terão de delegar ainda mais poderes na EU, desmiolando ainda mais as soberanias. De facto, as nações também já não têm competência para resolverem, sozinhas, os seus problemas. Há problemas que são universais e que as ultrapassam e que lhes fogem.
Não chegará uma política de poupança se não forem dominados os mercados financeiros. Uma Agência Rating europeia já há muito deveria ter surgido. Para já bastaria, a nível de lei retirar os direitos que se concederam às Rating alheias, que defendem o seu monopólio e dos seus em favor do dólar contra um Euro forte que lhe mete medo pela concorrência fática que se tornará.
A crise foi provocada por grandes e pequenos. Muitos aproveitam-se dela hoje tal como antes dela se aproveitaram todos da abundância de dinheiro. É preciso fazer investimentos nos países fracos, doutro modo asfixiarão nas próprias dívidas. A providência social é a que mais sofre. Os direitos dos trabalhadores são reduzidos enquanto a especulação dos accionistas põe em perigo Estados e a economia de mercado social, que era um exemplo para os outros continentes.
Na Alemanha, governo e oposição engalinham-se cada vez mais. Na Alemanha fala-se do documento desenvolvido pelo presidente do conselho da EU (Herman Van Rompuy), pelo chefe da Comissão (José Manuel Barroso) e pelo presidente do Grupo Euro (Jean-Claude Juncker) como típico “saco de truques de Bruxelas”. Estes procuram adiar os mecanismos da crise contra a intenção forte de alemães e franceses de estruturar melhor a zona euro. Se as coisas corressem como o governo alemão quer a cimeira transformar-se-ia num conclave à semelhança da eleição papal, em que, depois de longas reuniões com vaporadas do fumo negro da crise, surgirá por fim o fumo branco e a frase do habemus euro.
A Alemanha tem medo de ser desqualificada pelas agências Rating, caso a Europa não dê passos decisivos na solução da crise; quer salvar o Euro a todo o custo.
No meio destas turbulências os chefes de governo têm marginalizado os actores e o papel de Bruxelas. A intenção de rever os Tratados Europeus é muito controversa e penso que irrealista. A EU ir-se-á construindo, pragmaticamente, à margem do povo e da democracia; finalmente o povo aceitá-la-á. A crise ajudará a dar à luz os Estados Unidos da Europa.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
www.antonio-justo.eu
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Caro Antonio Justo,
Diz que
"No meio destas turbulências os chefes de governo têm marginalizado os actores e o papel de Bruxelas. A intenção de rever os Tratados Europeus é muito controversa e penso que irrealista. A EU ir-se-á construindo, pragmaticamente, à margem do povo e da democracia; finalmente o povo aceitá-la-á. A crise ajudará a dar à luz os Estados Unidos da Europa."
Mas haverá construção da UE sem povo e sem democracia? Haverá líderes europeus à altura das decisões exigidas?
in Diálogos Lusófonos
Cimeira de Bruxelas
Muito bem visto, prezada Margarida,
Sim, os pragmáticos e tecnocratas querem transformar o grupo dos 17 estados/governos numa espécie de governos fiscais e financeiros. Depois os outros 10 segui-los-iam, puxados pelo sucesso daqueles. Naturalmente que a questão democrática na constelação europeia tem sido bastante maltratada e por vezes ignorada. No meio de tudo isto encontram-se interesses poderosos e os nacionalismos/egoísmos dos Estados que ainda não acordaram verdadeiramente para um estado federado onde os ressentimentos nacionais ainda fervem (norte-sul). Desde o princípio da EU a Inglaterra assume o papel de travão do desenvolvimento institucional para um estado federado; procura sempre reservar para si privilégios que os outros estado têm de pagar; representam na Europa mais os interesses da USA e os seus em nome de tratados, o que ajuda a que ela esconda pot trás disso os seus verdadeiros interesses. Naturalmente que é um facto que os parlamentos nacionais têm sido mantidos nas sombras dos governos tornando-se em instrumentos deles. Os governos transformam-se em regentes. Nesta altura da crise, na Europa fala-se dos chefes de governo, fala-se de Berlim e Paris e muito pouco de Bruxelas!
A construção de povo cívico e democracia depende das elites. Por outro lado a democracia é o fruto do bom trabalho das elites. Geralmente o que o povo quer é pão. Em tempo de crise o povo não está atento a bens por muitos considerados de luxo.
Facto é que muito embora eu seja um defensor da democracia, tal como a Margarida, vejo que neste momento ela sofre juntamente com os mais carentes. O grande perigo que se está a correr é de querer igualizar a EU à USA, destruindo para isso o estado social que era um modelo para o mundo. Vejo também que os egoísmos nacionais legitimam, por vezes, comportamentos não democráticos, mais pragmáticos. Nos países da EU, mesmo naqueles com mais dificuldades, o nível de vida é dos mais altos a nível mundial e o povo observador sabe disso, por isso fecha os olhos a muita coisa. Atendendo ao emaranhado de interesses contraditórios na Europa, a construção da EU terá dar-se-á em grande parte, infelizmente, à margem dos parlamentos. A USA e a Inglaterra estão interessados na fraqueza do Euro. A União Europeia só se poderá manter e afirmar através dele, com ele cai ou ergue-se a EU. Se a luta continuar e não se seguir em grande parte a política de Merkel, Miss Europa, dar-se-á uma divisão da Europa a duas velocidades. Mais tarde, o sucesso do núcleo europeu será adaptado pelo resto dos Estados. A realidade é entremeada de erros, e só quem conversa tem razão embora quem prevalece é a realidade e esta pode apenas ser iluminada pela razão.
Abraço justo
Estimados membros deste forum.
Neste texto falta uma definição: O que aqui se entende por democracia !?
Tenho visto muitas decisões ditas “democráticas”, o que me parece um tanto dissonante da definição clássica: Poder emanado do povo , voz e vontade do povo.
De que democracia se comenta na UE ?
Atenciosamente,
Vilson
in Diálogos Lusófonos
prezado senhor Vilson,
No texto procuro fazer apenas uma descrição do que tem estado a acontecer de facto na EU. Referi claramente que assistimos a um processo de esvaziamento das soberanias o que tem implicado o desrespeito das democracias. A constelação EU não provem duma vontade democrática no sentido original do termo e o Parlamento europeu é extremamente limitado nas suas funções. Na EU, todos os Estados são democráticos, mas o organigrama da EU não é o resultado da democracia (poder emanado do povo). O Tratado de Lisboa (espécie de constituição europeia) não foi posto, duma maneira geral, a plebiscito. Em muitos países o povo votaria contra. Assim arranjaram um constructo para poder levar à frente a Ideia da EU. Neste momento a democracia não é tema mas o sucesso ou insucesso dum projecto. A instituição EU não é comparável com a de um Estado qualquer. Encontra-se num processo de passagem da fase de estados soberanos para uma supra-estrutura estatal regional.
Quanto à democracia, ela não é um estado mas processo. Basta olharmos para as diferentes “democracias” que conhecemos no mundo…
De resto, Margarida também já tinha colocado a questão do problema democrático, ao dizer “Mas haverá construção da UE sem povo e sem democracia? Haverá líderes europeus à altura das decisões exigidas?” A supra-estrutura encontra-se em correlação com as infra-estruturas, há estados e estados, democracias e democracias, votantes e votantes num emaranhado de diferentes consciências e interesses. A praxia e a doxia complementam-se. O problema não está na falta de líderes mas na situação complexa que exige compromisso a todos os níveis. Além disso o que está a acontecer na Europa é paradigmático para um mundo de amanhã que exige a superação dos nacionalismos, como tentei já apontar no “A Hora Lusófona está a chegar (1°)”. Para melhor explicar o que disse penso ser importante ler o que respondi à prezada Margarida
in Diálogos Lusófonos
Enviar um comentário