sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Município de Neuss destaca um Português





José Gomes Rodrigues, assistente social, foi agraciado com o Prémio Municipal de Integração pela sua extraordinária dedicação em benefício da população de Neuss, durante 35 anos. Apresento aqui um bocado de história migrante documentada e narrada pelo próprio homenageado:

            “Falar de si mesmo é ser-se suspeito, assim define a sabedoria popular sobre o que aqui irei relatar. Perdoem a minha ousadia, mas faço-o, obedecendo ao desejo de alguns amigos e instituições que solicitaram a descrição e o desenrolar dum acontecimento agradável de que fui alvo. As entidades alemãs desta cidade de Neuss, responsáveis pela inserção social dos imigrantes, decidiram agraciar individualidades e associações que se tenham notabilizado de diversas formas na integração desta população específica.

            No próprio dia em que viajava a Portugal para participar no acostumado encontro anual de ex-colegas de estudos, recebo uma carta do Presidente da Câmara desta cidade solicitando a minha presença urgente na semana seguinte, dia 14 de Maio numa das novas salas de recepção oficial da Câmara. Teria sido uma das pessoas propostas, segundo o teor do convite, para a atribuição do prémio de integração da cidade  (Integrationsförderpreis).

            Esquivar-me, seria a melhor alternativa, mas, segundo o coordenador da efeméride, a minha presença era irrefutável. Após o regresso da cidade de Viriato e vestido a rigor, de fato bem polido e engomado, de gravata a condizer com as riscas verdes da camisa, lá me apresentei no bem delineado anfiteatro, há pouco inaugurado.  A minha esposa e companheira fiel de longa data, acompanhou-me, não fosse o fato ainda engelhar ou os passos me conduzirem para outro local sem tanta praxe.

            A sala estava repleta. Muitos dos presentes eram-me familiares, pois tínhamos cooperado e partilhado experiências e vivencias do ofício ao longo destes 33 anos de serviço. O meu trabalho estava, há anos, orientado na integração de estrangeiros ou, melhor dito, concidadãos oriundos de diversas culturas e do mundo. Estes totalizam, nesta cidade, dormitório da metrópole de Düsseldorf, mais de 15% dos habitantes o que perfaz numa população de 151.000 habitantes, 20 mil com cidadãos possuidores dos de passaportes de mais  de 90 nacionalidades

            Representantes das mais diversas associações, organizações e instituições que se dedicam à promoção sócio-cultural destes concidadãos não faltaram ao evento. O diversificado colorido partidário da cidade, os representantes das Igrejas e de outras religiões, coroaram, com a sua presença, a ocorrência. Uma orquestra da câmara emoldurou o evento.

            Foram galardoados comigo, com um lindo certificado-diploma, devidamente autenticado com as insígnias da cidade e a assinatura do Presidente da Câmara, outras individualidades e grupos que se tinham notabilizado pelo esforço abnegado em prol da integração da população migrante. Ao ouvir o meu nome, entre os agraciados, alegrei-me, levantei-me do meu lugar e, após uma pequena apresentação oral sobre a minha ação profissional rebatido com algumas palmas por parte da assembléia presente.

            Ao ser-me entregue este galardão pelas mãos do Presidente Conselho de Integração da cidade, em representação do Presidente da Câmara e, perante este importante auditório, revi, como uma película a cores,  toda a minha vida profissional durante os 35 anos dedicados à emigração. Mergulhei nas minhas singulares raízes. Pensei nas gentes calejadas e bem temperadas pelo abrasador sol dos áridos campos da minha aldeia, Vila Nova do Campo, que marcaram o meu caráter e a minha maneira de atuar. Os diversos professores, os muitos colegas de escola e de seminário, os amigos que, durante tantos anos, comigo caminharam, estiveram presentes como atores neste rápido filme. Sou, nada mais e nada menos, o fruto das muitas encruzilhadas.

            Agradeci o gesto tão simpático das autoridades civis e dediquei-o a todos com quem convivi e servi no meu caminho profissional e que foram os sujeitos e os obreiros desta pequena festa de reconhecimento publico. A minha família teve também, nesta efeméride, um lugar de relevo, não fosse a paciência e a necessária compreensão que sempre demonstraram.

            Não sendo eu a pessoa indicada para nomear as razoes que levaram a esta nomeação, deixo aqui a tradução do alemão da proposta escrita apresentada pela responsável dos serviços de Integração sócio-cultural  da Caritas, instutuicao que servi:

            “Desde 1977 até Dezembro de 2010, o José Gomes Rodrigues foi Assistente    Social, no departamento de Integração da Caritas. Antes desta data, tinha      exercido funções pedagógicas como professor da escola complementar de    Língua e Cultura Portuguesa das crianças e jovens nas cidades de Dortmund,           Mulheim/Ruhr, Duisburg e Bochum.

            Dedicou-se exemplarmente e durante a maior parte do seu tempo de serviço     à Integração dos concidadãos com passaporte estrangeiro. Iniciou, deu forma           e levou a cabo um grande número de projetos de inserção social. Duma forma           exemplar, é de mencionar a fundação dum projeto piloto de teatro        intercultural, em colaboração com a escola superior de teatro, a OFF-Theater     da Renania do Norte e Vestfália. Ele mesmo manifestou-se talentoso como      ator em palco. Esta iniciativa obteve tanto êxito, que lhe valeram três honrosos prêmios. Transformou-se, desde então, num campo de trabalho e      um método pedagógico frutífero e  prioritário na Integração intercultural dos             concidadãos             estrangeiros que ganhou raízes.

            O diálogo entre as diversas religiões presentes na cidade constituiu também      um dos seus campos de atuação tendo, com as suas diversas iniciativas,           aproximado os indivíduos na sua diversidade biográfica, cultural e religiosa.        Provocou o conhecimento recíproco, o respeito e a aceitação mútua entre as diversas religiões de maior presença nesta sociedade: o cristianismo e o             Islão, entre outras. O interesse e tenacidade que demonstrava no seu atuar        era de tal ordem que ultrapassava o seu horário regular de trabalho.

            Apesar de desligado atualmente destas funções, por escolha própria, e por        idade, continua a dedicar-se como voluntário e mostrando muito interesse      nestes projetos de inserção”. Até aqui a responsável pelos serviços!

Termino este trabalho descrevendo o testemunho de alguém que deixou escrito no facebook.
            “O José Rodrigues vai ser, na próxima segunda-feira, homenageado pela          Câmara da cidade de Neuss, na Alemanha, com o prémio de integração           „Integrationsförderpreis „ Esta condecoração serve para reconhecer o grande contributo deste português na área das integrações dos povos e das culturas         nesta cidade germânica, na Renânia do Norte e Vestefália. Destaca-se que      José Rodrigues foi ao longo dos anos Assistente Social da Caritas.       Ultimamente, deslocou-se por alguns meses a Moçambique, onde está            envolvido em projetos de promoção social. Sem a mínima dúvida, José             Rodrigues, é na atualidade uma das personalidades da Comunidade     Portuguesa na Alemanha que mais simbolizam um espírito puro de       humanidade. Uma das suas áreas profissionais preferidas foi o diálogo      intercultural a nível religioso. O nosso parabéns e nosso reconhecimento!“
Perdoe-me quem me achar ainda suspeito, mas a minha intenção foi e continua a ser simplesmente a de elevar a comunidade portuguesa e de valorizar as nossas raízes.
            Continuo, e sem estar preso a horários a disponibilizar os meus serviços como solidariedade humana e crista. O voluntariado dá-me asas para sonhar num mundo mais justo, onde e ser cristão se traduz, antes de mais, numa maior responsabilidade na edificação da sociedade, nos moldes da fé que professo.
            Procuro libertar-me do peso dogmático e dum certo espiritualismo passivo, que me possam afastar do bater do coração do homem da rua que é meu próximo. O seu passaporte ou a crença religiosa que possam professar tem pouco ou nenhum peso nas minhas decisões.”

www.antonio-justo.eu

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