Portugal não
deve tornar-se o Cristo da Europa e do Turbocapitalismo
Os Erros
feitos por todos devem ser sanados em Comunhão
António Justo
Entre os muitos E-mails
de felicitações pela “Carta aberta de um Português a Ângela Merkel” houve um que
via na “carta” uma “postura de joelhos” perante a Alemanha.
Portugal é talvez, na
Europa, o país que mantem mais vivo, no seu inconsciente, o espírito europeu,
de que foi pioneiro na época dos descobrimentos.
Portugal encontra-se, de
facto, ajoelhado, a nível internacional, cumprindo uma penitência semelhante à
que vem do pecado original mas de que se não pode limpar simplesmente.
A opinião pública, isto
é, publicada nos Media da “opinião correcta” europeia e em
Portugal, não me parece adequada à seriedade da crise que enfrentamos. Ela
perturba o espírito aberto e universal português, ao afirmar-se contra atitudes
de tendência “racista” mas, ao mesmo tempo, dando relevância ao preconceito.
O problema de Portugal é
estrutural e faz parte da crise europeia. Aquilo que leva muitas pessoas a
esperar por um D. Sebastião é naturalmente a má situação em que se encontram e
o irracionalismo da política europeia e portuguesa.
Naturalmente que se
tivermos em conta as dívidas dos Estados europeus, Japão e USA, a coisa mais
viável será, um dia, a catástrofe económica de todos; em nós (sul), o sintoma
da doença comum é mais visível e os predadores do mercado vingam-se mais ainda,
na sua caça, nos que não têm pernas tão boas para fugir.
Se Portugal reflectisse
sobre o que lhe é genuíno (Guimarães, Sagres, crença original), aquilo que o
fez grande, teria ainda muito a dizer à Europa e ao mundo. Daqui deveria partir
o que urge fazer na Europa e que a poderia unir: os valores originais da
cristandade (Síntese do espírito judaico, grego, romano e bárbaro), valores
humanistas universais e um coração onde todo o mundo e todos os povos pulsam.
Doutro modo continuarão a espalhar-se os espíritos de antanho que tinha guarida
nos castelos: o poder e o controlo! Temos que reconhecer que a EU ainda
não apresenta uma verdadeira alternativa aos Estados nacionais. Os USE não
se devem perder de vista!
O Problema de Merkel é
ser, também ela parte do problema, um elemento ao serviço do adiamento da
catástrofe comum, dum sistema europeu corrupto beneficiador da anonimidade e
das multinacionais. Como pode um português concorrer com a alta tecnologia
alemã e como ordenado dum chinês de 50 Cêntimos? Isto foi querido pelos
grandes!
“Em 1953, a Alemanha
…ficou sem dinheiro para fazer mover a atividade económica do país - tal qual
como a Grécia atualmente”. Os países credores internacionais (entre eles a
Grécia) tiveram consideração pelos problemas de reconstrução da Alemanha e
facilitaram-lhe a recuperação económica mediante renúncia a parte dos créditos.
A Alemanha deveria ter isto em conta possibilitando aos países do sul capital
suficiente para poderem mover a sua economia. Naturalmente, não se pode tornar
na fiadora de todos os países carenciados e menos ainda em seu bode expiatório!
Importante é que a Alemanha seja fiadora para proveito de Portugal e não
para que os predadores internacionais assegurem melhor o seu dinheiro, lucrando
apenas eles com isso. Importante é também que a balança económica entre
países a nível de importação e exportação seja equilibrada, favorecendo-se uma
maior importação dos países deficitários. A Troika exige reflexão e mudança mas
apenas no seu sentido. A EU é irreflectida e em muitos aspectos antieuropeia. A
Alemanha investe muito mais nos imigrantes turcos do que nos imigrantes doutras
nacionalidades. Investe onde vê contrapartidas económicas (grande mercado
turco) mas neste caso privilegia precisamente aqueles que são contra o espírito
europeu! A mera consideração económica sacrifica valores civilizacionais que
depois faltam para se conseguir um consenso baseado no génio europeu. Acusam-se
os países do sul de consumirem mais dinheiro do que o que produzem. Por outro
lado o banco central europeu cria notas do nada para apoiar apenas os bancos e
os que com eles jogam.
A emigração da indústria
empobrece ainda mais os países do sul. Encontramo-nos numa fase em que as
pessoas são preparadas para afirmarem a “opinião correcta” publicada e para se
renderem incondicionalmente a poderes anónimos: o fascismo com a sua
promiscuidade entre Estados e capital afirma-se cada vez mais no inconsciente
europeu. A nível internacional tem-se espalhado na opinião pública um
socialismo rasteiro, um turbocapitalismo totalitário aliado à ideologia árabe
sem alguém que apresente observações razoáveis ao que acontece. O problema do
futuro da Europa e de Portugal é uma questão moral e de princípios. Aqueles que
nos aparecem como inimigos não o são, na realidade. Nós é que somos demasiado
fracos e permitimos que eles avancem.
Os países do sul
encontram-se num beco sem saída. Portugal deveria recusar-se a pagar as
dívidas. Os credores ao exigirem juros exagerados assumiram também o risco que
qualquer fiador corre. Porquê esta promiscuidade entre Estados e bancos? O pior
que Portugal poderia fazer seria aceitar renegociar as dívidas, como fizeram
impensadamente os Gregos. Através das últimas negociações responsabilizaram a
nação grega e assumiram a responsabilidade, a posteriori, também pelos
causadores do desastre de que também eles são vítimas, coisa que não estava
prevista nos acordos anteriores. Com os novos asseguraram os seus direitos os
dinossáurios financeiros internacionais.
Não questiono a escolha
das elites, o que questiono é a mentalidade que as envolve e o facto da
generalidade dos que as escolhem se encontrarem demasiadamente condicionados e
longe do acontecer económico e político para poderem formar opinião à altura do
problema. A opinião pública corresponde à opinião publicada e não à realidade
factual!
Não me ajoelho perante
Merkel mas pelo que oiço na imprensa portuguesa e agressões latentes em muitas
pessoas, preocupa-me, o espírito que chega a atingir, por vezes, a expressão
racista. Estou bem consciente de que o que acontece agora nas margens da Europa
atingirá também o centro; a intensidade da crise será só uma questão de tempo.
A irresponsabilidade como Mário Soares e outros falam, que deveriam saber um
pouco mais do que o geral da população, é preocupante; isto leva-me a apontar,
em artigos de perspectivas diferentes, para a complexidade do problema.
O problema europeu, para
mim, é uma questão de consciência/identidade europeia que tem actuado sem uma
ética de base, e por isso decadente. Destrói sistematicamente a herança
judaico-cristã e greco-romana em favor duma ideologia pragmatista, bárbara,
sem tecto metafísico que a cubra. Portugal segue a mesma onda de
derrocada e de abdicação que a Europa segue, perdendo, deste modo, qualquer
autoridade moral para chamar a atenção da Europa para os seus grandes ideais
atraiçoados. Compreendo a queixa de Portugal mas não o que faz para se
recuperar os valores que o tornaram grande, como civilização.
Ao observar o discurso do
dia-a-dia ganha-se a impressão de que “casa em que não há pão todos berram e
ninguém tem razão”. Neste momento difícil em que nos encontramos seria
importante a activação da inteligência emocional para não cairmos no
preconceito banal.
Naturalmente que a
Alemanha tem sido muito radical e unilateral nas exigências que tem feito. A
política e as instituições europeias têm falhado e poem os custos dos erros
institucionais na conta do povo e dos países desprotegidos. De facto, em
nome do bem-comum, os Estados europeus encontram-se atolados pelo próprio paternalismo
e têm aturdido o povo com a opinião publicada; os portugueses têm aguentado
corajosamente as investidas dum turbo-capitalismo radical e desumano. Quem mais
se aproveitou das instituições e mercados comunitários terá de assumir
responsabilidade e também ceder a muitas das exigências de países que se
encontram na eminência da falência.
O facto de Merkel não ter
razão (por só adiar a derrocada em que nos encontramos), a crítica que se lhe
faz também não é razoável. Não se constrói uma USE sem compromissos
vinculativos. Uma crítica a fazer-se terá de ser dirigida aos proteccionismos
que protegem os países e as firmas mais fortes e destroem empresas e países sem
capacidade investidora. Os paternalismos nacionais chegam a usar os dinheiros
dos impostos para subsidiar interesses de multinacionais farmacêuticas, etc.
impedindo assim uma concorrência leal.
Os países fortes
subsidiam fiscalmente as suas empresas, o que países menos fortes não o fazem e
isso cria uma situação de desequilíbrio na concorrência das economias entre
países. As empresas ainda rentáveis para os Estados pequenos são-lhe tiradas em
nome duma privatização que não é leal dado vir encher apenas os bolsos dos
predadores do alheio. Destrói-se assim a classe média e a colectividade. A legalidade
em que se baseia a EU com a sua Troika está ao serviço da imoralidade de elites
anónimas que engordam à custa do mal que fazem a outros.
Países em perigo de
falência pensam que se a Europa alterasse os critérios de convergência de
défice de 3% para 5%, relativamente aos critérios de convergência, resolveriam
metade do problema! Isto porém concederia uma vantagem também aos povos mais
fortes e apressaria a derrocada conjunta.
Portugal para voltar a
ter o brilho do Ocidente em questões de génio e de identidade ocidental terá de
abandonar o jacobinismo de que se infectou com a revolução francesa, terá que
trabalhar de maneira a produzir o suficiente para se alimentar sem precisar de
recorrer continuamente à emigração usada como credora (com remessas) de uma
sociedade que vive acima das suas possibilidades.
O espírito português
assim como nasceu das gentes galaico-portuguesas do norte, também morrerá com
elas. Os ventos de Bruxelas e de Lisboa têm-se revelado contra o génio
português!
António da Cunha Duarte
Justo
www.antonio-justo.eu
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