quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Portugal não deve tornar-se o Cristo da Europa e do Turbocapitalismo



Portugal não deve tornar-se o Cristo da Europa e do Turbocapitalismo
Os Erros feitos por todos devem ser sanados em Comunhão
António Justo
Entre os muitos E-mails de felicitações pela “Carta aberta de um Português a Ângela Merkel” houve um que via na “carta” uma “postura de joelhos” perante a Alemanha.

Portugal é talvez, na Europa, o país que mantem mais vivo, no seu inconsciente, o espírito europeu, de que foi pioneiro na época dos descobrimentos.

Portugal encontra-se, de facto, ajoelhado, a nível internacional, cumprindo uma penitência semelhante à que vem do pecado original mas de que se não pode limpar simplesmente.

A opinião pública, isto é, publicada   nos Media da “opinião correcta” europeia e em Portugal, não me parece adequada à seriedade da crise que enfrentamos. Ela perturba o espírito aberto e universal português, ao afirmar-se contra atitudes de tendência “racista” mas, ao mesmo tempo, dando relevância ao preconceito.

O problema de Portugal é estrutural e faz parte da crise europeia. Aquilo que leva muitas pessoas a esperar por um D. Sebastião é naturalmente a má situação em que se encontram e o irracionalismo da política europeia e portuguesa.

Naturalmente que se tivermos em conta as dívidas dos Estados europeus, Japão e USA, a coisa mais viável será, um dia, a catástrofe económica de todos; em nós (sul), o sintoma da doença comum é mais visível e os predadores do mercado vingam-se mais ainda, na sua caça, nos que não têm pernas tão boas para fugir.

Se Portugal reflectisse sobre o que lhe é genuíno (Guimarães, Sagres, crença original), aquilo que o fez grande, teria ainda muito a dizer à Europa e ao mundo. Daqui deveria partir o que urge fazer na Europa e que a poderia unir: os valores originais da cristandade (Síntese do espírito judaico, grego, romano e bárbaro), valores humanistas universais e um coração onde todo o mundo e todos os povos pulsam. Doutro modo continuarão a espalhar-se os espíritos de antanho que tinha guarida nos castelos: o poder e o controlo! Temos que reconhecer que a EU ainda não apresenta uma verdadeira alternativa aos Estados nacionais. Os USE não se devem perder de vista!

O Problema de Merkel é ser, também ela parte do problema, um elemento ao serviço do adiamento da catástrofe comum, dum sistema europeu corrupto beneficiador da anonimidade e das multinacionais. Como pode um português concorrer com a alta tecnologia alemã e como ordenado dum chinês de 50 Cêntimos? Isto foi querido pelos grandes!

“Em 1953, a Alemanha …ficou sem dinheiro para fazer mover a atividade económica do país - tal qual como a Grécia atualmente”. Os países credores internacionais (entre eles a Grécia) tiveram consideração pelos problemas de reconstrução da Alemanha e facilitaram-lhe a recuperação económica mediante renúncia a parte dos créditos. A Alemanha deveria ter isto em conta possibilitando aos países do sul capital suficiente para poderem mover a sua economia. Naturalmente, não se pode tornar na fiadora de todos os países carenciados e menos ainda em seu bode expiatório! Importante é que a Alemanha seja fiadora para proveito de Portugal e não para que os predadores internacionais assegurem melhor o seu dinheiro, lucrando apenas eles com isso. Importante é também que a balança económica entre países a nível de importação e exportação seja equilibrada, favorecendo-se uma maior importação dos países deficitários. A Troika exige reflexão e mudança mas apenas no seu sentido. A EU é irreflectida e em muitos aspectos antieuropeia. A Alemanha investe muito mais nos imigrantes turcos do que nos imigrantes doutras nacionalidades. Investe onde vê contrapartidas económicas (grande mercado turco) mas neste caso privilegia precisamente aqueles que são contra o espírito europeu! A mera consideração económica sacrifica valores civilizacionais que depois faltam para se conseguir um consenso baseado no génio europeu. Acusam-se os países do sul de consumirem mais dinheiro do que o que produzem. Por outro lado o banco central europeu cria notas do nada para apoiar apenas os bancos e os que com eles jogam.

A emigração da indústria empobrece ainda mais os países do sul. Encontramo-nos numa fase em que as pessoas são preparadas para afirmarem a “opinião correcta” publicada e para se renderem incondicionalmente a poderes anónimos: o fascismo com a sua promiscuidade entre Estados e capital afirma-se cada vez mais no inconsciente europeu. A nível internacional tem-se espalhado na opinião pública um socialismo rasteiro, um turbocapitalismo totalitário aliado à ideologia árabe sem alguém que apresente observações razoáveis ao que acontece. O problema do futuro da Europa e de Portugal é uma questão moral e de princípios. Aqueles que nos aparecem como inimigos não o são, na realidade. Nós é que somos demasiado fracos e permitimos que eles avancem.

Os países do sul encontram-se num beco sem saída. Portugal deveria recusar-se a pagar as dívidas. Os credores ao exigirem juros exagerados assumiram também o risco que qualquer fiador corre. Porquê esta promiscuidade entre Estados e bancos? O pior que Portugal poderia fazer seria aceitar renegociar as dívidas, como fizeram impensadamente os Gregos. Através das últimas negociações responsabilizaram a nação grega e assumiram a responsabilidade, a posteriori, também pelos causadores do desastre de que também eles são vítimas, coisa que não estava prevista nos acordos anteriores. Com os novos asseguraram os seus direitos os dinossáurios financeiros internacionais.

Não questiono a escolha das elites, o que questiono é a mentalidade que as envolve e o facto da generalidade dos que as escolhem se encontrarem demasiadamente condicionados e longe do acontecer económico e político para poderem formar opinião à altura do problema. A opinião pública corresponde à opinião publicada e não à realidade factual!

Não me ajoelho perante Merkel mas pelo que oiço na imprensa portuguesa e agressões latentes em muitas pessoas, preocupa-me, o espírito que chega a atingir, por vezes, a expressão racista. Estou bem consciente de que o que acontece agora nas margens da Europa atingirá também o centro; a intensidade da crise será só uma questão de tempo. A irresponsabilidade como Mário Soares e outros falam, que deveriam saber um pouco mais do que o geral da população, é preocupante; isto leva-me a apontar, em artigos de perspectivas diferentes, para a complexidade do problema.

O problema europeu, para mim, é uma questão de consciência/identidade europeia que tem actuado sem uma ética de base, e por isso decadente. Destrói sistematicamente a herança judaico-cristã e greco-romana em favor duma ideologia pragmatista, bárbara,  sem tecto metafísico que a cubra. Portugal segue a mesma onda de derrocada e de abdicação que a Europa segue, perdendo, deste modo, qualquer autoridade moral para chamar a atenção da Europa para os seus grandes ideais atraiçoados. Compreendo a queixa de Portugal mas não o que faz para se recuperar os valores que o tornaram grande, como civilização.

Ao observar o discurso do dia-a-dia ganha-se a impressão de que “casa em que não há pão todos berram e ninguém tem razão”. Neste momento difícil em que nos encontramos seria importante a activação da inteligência emocional para não cairmos no preconceito banal.
Naturalmente que a Alemanha tem sido muito radical e unilateral nas exigências que tem feito. A política e as instituições europeias têm falhado e poem os custos dos erros institucionais na conta do povo e dos países desprotegidos. De facto, em nome do bem-comum, os Estados europeus encontram-se atolados pelo próprio paternalismo e têm aturdido o povo com a opinião publicada; os portugueses têm aguentado corajosamente as investidas dum turbo-capitalismo radical e desumano. Quem mais se aproveitou das instituições e mercados comunitários terá de assumir responsabilidade e também  ceder a muitas das exigências de países que se encontram na eminência da falência.

O facto de Merkel não ter razão (por só adiar a derrocada em que nos encontramos), a crítica que se lhe faz também não é razoável. Não se constrói uma USE sem compromissos vinculativos. Uma crítica a fazer-se terá de ser dirigida aos proteccionismos que protegem os países e as firmas mais fortes e destroem empresas e países sem capacidade investidora. Os paternalismos nacionais chegam a usar os dinheiros dos impostos para subsidiar interesses de multinacionais farmacêuticas, etc. impedindo assim uma concorrência leal.

Os países fortes subsidiam fiscalmente as suas empresas, o que países menos fortes não o fazem e isso cria uma situação de desequilíbrio na concorrência das economias entre países. As empresas ainda rentáveis para os Estados pequenos são-lhe tiradas em nome duma privatização que não é leal dado vir encher apenas os bolsos dos predadores do alheio. Destrói-se assim a classe média e a colectividade. A legalidade em que se baseia a EU com a sua Troika está ao serviço da imoralidade de elites anónimas que engordam à custa do mal que fazem a outros.

Países em perigo de falência pensam que se a Europa alterasse os critérios de convergência de défice de 3% para 5%, relativamente aos critérios de convergência, resolveriam metade do problema! Isto porém concederia uma vantagem também aos povos mais fortes e apressaria a derrocada conjunta.

Portugal para voltar a ter o brilho do Ocidente em questões de génio e de identidade ocidental terá de abandonar o jacobinismo de que se infectou com a revolução francesa, terá que trabalhar de maneira a produzir o suficiente para se alimentar sem precisar de recorrer continuamente à emigração usada como credora (com remessas) de uma sociedade que vive acima das suas possibilidades.

O espírito português assim como nasceu das gentes galaico-portuguesas do norte, também morrerá com elas. Os ventos de Bruxelas e de Lisboa têm-se revelado contra o génio português!

António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

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