terça-feira, 2 de julho de 2013

A um Papa Doutor segue-se um Papa Reformador



A Verdadeira Promoção é a Promoção à Humilhação...
António Justo
Ao Papa Doutor Bento XVIII sucede um Papa Reformador. O papa Francisco está empenhado em criar clareza nos “ministérios” do Vaticano e as reacções já se fazem sentir.
Ao assumir o pontificado pediu aos membros dos dicastérios para ficarem “provisoriamente” nos ofícios até nova decisão. Deste modo revelou logo a sua intenção de renovar a cúria.
Este papa latino-americano que vem do “fim do mundo”, ao não querer ir viver nos tradicionais aposentos do Papa mas na Casa de Santa Marta, demonstra que quer ser um papa sem corte e distanciar-se do poder curial que atafegava outros papas.
A cúria vaticana, demasiado burocrática e italiana precisa dum novo organigrama. A melhor maneira de marginalizar o poder da Cúria foi criar, fora da Cúria, um gabinete mundial de oito cardeais provindos de todos os continentes “para o aconselhar no governo da igreja universal”. São cardeais abertos ao novo e de grande peso mundial. Com este acto demonstra a sua intenção de reformar o Vaticano e corresponde às espectativas de críticos do vaticano como Hans Küng que dizia que o novo papa teria de eleger um gabinete independente por causa da coabitação com a Cúria: „O Papa precisa dum gabinete com homens competentes (e porque não também mulheres) para sair da crise”.

Acusações de Fraude no Banco do Vaticano IOR
Francisco quer que o Banco Vaticano (IOR) responda às exigências cristãs, criando para o efeito uma comissão de 5 personalidades (4 homens e uma mulher) para o investigar e elaborar uma reforma estrutural do mesmo. O Banco existe para facilitar transações económicas de instituições religiosas e administra seis mil milhões de euros. Pouco depois de nomeada a comissão, o núncio Scarno, responsável pelo banco e mais dois homens, foram presos no dia 28.06.2013, devido a investigações contra o Banco, por corrupção. Trata-se aqui dum transporte de 20 milhões de euros. Editores, cineastas e autores que ganham milhões com especulações sobre o Vaticano encontrarão aqui matéria propícia para os seus intentos. Os ingredientes com que se criam as histórias são: poder, dinheiro, sexo e controlo. A maior parte das histórias enriquecem pessoas à custa das especulações…
Com a criação da comissão examinadora do IOR, Francisco manifesta uma postura crítica não só em relação ao banco do vaticano mas também relativamente ao mundo bancário em geral que se manifesta corrupto e déspota e se tornou no albergue da corrupção instalada a nível mundial.
Francisco chama-nos a descer à realidade. (Os bancos transformaram-se na boca desenfreada dos ricos. O problema do nosso mundo está no facto de ninguém compreender os ricos mas o dinheiro os compreender. Porque hão-de os peixes grandes comer os pequenos quando um grande seria a festa da pequenada?)
O banco do Vaticano não pode seguir as práticas comuns noutros bancos dado a conduta cristã dever ser o critério de acção de tal instituição. Prisões em relação com o banco são sinais inequívocos de que Francisco quer clareza e limpeza. 
Francisco critica o carreirismo e dirige-se ao âmago da Igreja com a atitude do franciscano, Santo António de Lisboa que, no século XIII, também expressava a necessidade duma mudança institucional e moral, dizendo: “Livre de vícios tem de estar quem tem o cuidado da correcção das faltas alheias... Se o pregador fala somente sem que a sua vida também se faça ouvir, não sai água da pedra... A linguagem é viva quando falam as obras. Cessem, por favor, as palavras; falem as obras. Estamos cheios de palavras, mas vazios de obras…”. 
Papa com um estilo próprio
Referindo-se a uma mãe solteira a quem fora negado o batismo do filho, Francisco admoestou os clérigos que se comportam como “fiscais da fé”, pedindo que estes se transformem em “facilitadores da fé das pessoas”. . Já Bento XVI dizia “Há tantos caminhos para Deus como há pessoas”. A fortaleza da fé da Igreja Católica é importantíssima no mundo. As alternativas evangélicas não apresentam estabilidade suficiente e têm dificuldade em definirem o que são. São vias paralelas legítimas mas não podem ser o exemplo da Igreja católica. Para mais Lutero não queria formar uma nova igreja.
O carisma deste papa vem-lhe da fé e da experiência da realidade das comunidades e manifesta-se na palavra e no Espírito. Como reformador apela para começarmos por nós mesmos tal como dizia a Madre Teresa: „o Homem tem de se mudar para que as instituições se mudem”. De facto não são as instituições que pecam mas as pessoas; sendo ilegítimo a separação entre os de dentro e os de fora da instituição.
“O papa toma decisões próprias e contacta pessoas, pega no telefone e fala com quem quer, encontrando-se com muitas pessoas, não só com cardeais. Isto cria instabilidade no Vaticano”, testemunha o padre Bernd Hagenkord da Rádio Vaticana.
Este papa simples é um exemplo duma religiosidade profunda, exemplar para toda a Igreja. Ele recomenda: “Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum”… “A luta pelo poder na Igreja não é coisa destes dias”… “Ah, esta mulher foi promovida a presidente daquela associação e este homem foi promovido... Este verbo, ‘promover’: sim, é um verbo bonito; sim, deve usar-se na Igreja. Sim: este foi promovido à cruz, este foi promovido à humilhação. Esta é a verdadeira promoção, aquela que melhor se assemelha a Jesus”.
Também o franciscano António de Lisboa denunciava: “Os prelados do nosso tempo (...) nas cúrias episcopais fazem grande ruído com a lei de Justiniano e não com a lei de Cristo” e acrescentava “os 7 predicados necessários ao prelado da Igreja são: pureza de vida, ciência da divina Escritura, eloquência de língua, instância de oração, misericórdia para com os pobres, disciplina para com os súbditos, cuidado solícito do povo que lhe foi confiado”.
Francisco tem a sorte de ter o papa Bento XVI que o poderá aconselhar. Com ele inicia-se uma nova era na História eclesial e civil.

António da Cunha Duarte Justo

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