O ATENTADO DE
SARAJEVO DÁ OPORTUNIDADE AO INÍCIO DAS CATÁSTROFES DO SEC. XX
António Justo
A 28 de Junho de 1914 um
estudante, por conta da polícia secreta sérvia, matou, a tiro, em Sarajevo
(Bósnia), o herdeiro do trono de Áustria-Hungria e a sua esposa. O conflito
entre a Sérvia e a Áustria-Hungria dá oportunidade ao início das catástrofes do
séc. XX. Inicia a primeira grande guerra mundial que terminou em 1918 com 18
milhões de mortos. A 28 de Julho Áustria-Hungria declara guerra à Sérvia.
Sarajevo, mais que a causa da
Grande Guerra foi o motivo para, as potências em efervescência e desejosas de
estabelecer uma nova ordem política na Europa, ajustarem contas e
ressentimentos entre si iniciando a era da maior violência histórica (Era dos
nacionalismos iniciados em 1848, dos fascismos e dos movimentos republicanos e
comunistas).
Segundo os historiadores Fritz
Fischer (tese da “Licitação para tornar-se potência mundial”), Kurt Riezler (no
seu diário: “política do risco calculado”), Sönke Neitzel (“Alemanha não
planeou a guerra mundial”), Christopher Clark (fala de uma “Crise
pan-europeia”), nem Londres, nem Paris, nem Viena, nem Berlim, nem Moscovo
estavam interessados em impedir a escalação militar.
A Alemanha desejava tornar-se
potência mundial e ter um lugar ao sol como os povos colonizadores (Inglaterra
e França). A sua frota de guerra ameaçava a supremacia marítima inglesa e o seu
plano de Schlieffen ameaçava a França.
A guerra tornou-se numa oportunidade
e por isso o imperador Wilhelm II da Alemanha apoiou incondicionalmente o
imperador Joseph I de Áustria-Hungria na declaração de guerra contra a Sérvia,
(28.07.1914) protegida da Rússia. A Rússia, aliada da França, mobiliza (a 30 de
Julho) os exércitos em apoio da Sérvia. A 1 de Agosto a Alemanha e a França
mobilizam os seus exércitos e a 2 de Agosto a Alemanha declara guerra à França
e a 4 de Agosto a Inglaterra declara guerra à Alemanha.
O presidente dos USA Woodrow
Wilson (nobel da paz) ao ver os navios mercantes americanos atacados pelos
alemães intervém também na guerra. O presidente francês Raymond Poincaré via na
guerra a hipótese de recuperar as áreas da Alsácia-Lorena perdidas para a
Alemanha em 1871 (objectivo conseguido pela França no humilhante tratado de paz
de Versailles e nas pesadas reparações da Alemanha que motivaram a sua
preparação para a segunda guerra mundial). O turco Ever Pasha, homem forte do
reino otomano, conseguiu que o Sultão Mehmet V declarasse a guerra santa dos
muçulmanos contra os inimigos da Alemanha e da Áustria-Hungria; A Turquia
bloqueia o acesso russo ao Mar Negro. Assim a Turquia pôde praticar o genocídio
contra os cristãos arménios com o consentimento tácito da Alemanha. A fraqueza
do czar Nicolau II e a agitação bolchevista de Petersburgo na Rússia levam o
czar a abdicar em 1917. A Alemanha, para desestabilizar a Rússia contrabandeou
para Petrogrado (Rússia) o revolucionário russo Lenine que se encontrava no
exílio na Suíça. Lenine instalou o estado ditador comunista da União Soviética
que durou até 1991.
A Europa de 1914 encontrava-se
toda ela em crise. Não se deve esquecer que na Europa de hoje, tal como outrora
há uma grande crise não só económica mas também política. Também a Rússia sonha
com o poder antigo da União Soviética, a Turquia quer-se afirmar como potência
estratégica. A Nato e a EU querem alargar o seu poder junto das fronteiras com
a Rússia. A Ucrânia encontra-se dividida entre o leste e sul de cultura
ortodoxa russa e o oeste de cultura grega-católica. Desde as guerras da
decadência da Jugoslávia em 1991 parte da península balcânica e a Ucrânia
continuam zonas instáveis e com potencialidade para desenvolver conflitos
internacionais devido à instabilidade interna e aos interesses das potências
que as circundam.
António da Cunha Duarte Justo
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