quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Tornar o Islão compatível com outras culturas e religiões



A GUERRILHA ISLÂMICA DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SECULO XXI
Ensaio sobre a situação da Síria e do Iraque como expressão da luta intercultural
Por António Justo
No mundo contemporâneo, a violência de motivação religiosa parte praticamente do Islão. Isto fomenta a incompreensão do islão e muitos muçulmanos moderados de boa-fé sentem-se colocados no pelourinho. As forças radicais e escuras estão interessadas em fomentar motivos de incompreensão porque só assim se encontram no seu Mileu e justificar o seu agir irracional. 

Tornar o Islão compatível com outras culturas e religiões

Torna-se urgente uma reforma do islão a partir do seu interior que possibilite a passagem da sociedade patriarcal e medieval para a sociedade moderna onde o centro da realidade passa a acontecer na pessoa e a expressão política se realiza numa forma de democracia (comunidade) que possibilite a liberdade do indivíduo, de modo a que este faça o que quer, desde que não incomode ninguém. 

A confusão, que se observa a nível de teoria e no âmbito da acção da sociedade islâmica, deve-se também à falta de separação nítida no Corão e nos Ditos do profeta entre religião e violência, entre regra e extremismo, o que impossibilita distinguir entre quem obedece à norma religiosa e quem não. Não se tratará de rejeitar o islão, como fazem alguns intelectuais muçulmanos, mas de o reformar com uma interpretação adaptada aos nossos tempos (reconhecendo muito embora a dificuldade dado não haver sincronização do tempo em relação às culturas). Tratar-se-ia de encontrar uma definição e uma prática islâmica aberta e compatível com outras religiões e culturas, com outros valores, outras constituições de estados e com a modernidade na aplicação dos direitos humanos. Só uma atitude tolerante e integrativa, respeitadora das religiões e do estado de direito, pode servir os muçulmanos democráticos e livres bem como as outras culturas. O islão tem de reconhecer a realidade natural da variedade e as leis da evolução, doutro modo, ao fechar-se numa visão patriarcal, apressa a sua derrocada embora englobe muita riqueza artística no mosaico das culturas.

O Terror jihadista islâmico é a Luta contra a própria Queda

Como se observa do mundo árabe ou do mundo subjugado ao islão, onde não há ditadura ou regime autoritário, abundam os movimentos extremistas que impedem a estabilidade interna. Por toda a parte, onde se encontre um vazio regulamentar político, logo a frustração é compensada religiosamente, através da violência e de mercenários cegos ao serviço duma cultura do medo. 

Toda a ideologia política ou religiosa, que considere o seu ponto de vista como a única via correcta de vida, desconhece a relação entre percepção (conceito) e realidade, vendo-se condenada a viver da guerrilha e a fracassar, dado o desejo de liberdade inato ao Homem não poder ser ininterruptamente oprimido, por um regime ou uma cultura, e, além do mais, num mundo chamado a transformar-se numa aldeia de vizinhos. Também Maomé dizia: “o que não serve o homem vai abaixo como uma onda no oceano”. Os tempos mudaram e com eles muda o Homem e as circunstâncias, tudo é processo; quem não quer ficar sob as rodas da História, tem que verificar o que então “servia” o homem e o que hoje já não serve o Homem. Recorrer sistematicamente à violência para resolver problemas é desumano e destrutivo.

O busílis muçulmano está no facto de só admitir, na sua sociedade, a curto ou a longo prazo, o falar do Deus registado no Corão, ficado assim demasiado timbrado pelo patriarcalismo do Antigo Testamento e das tribos árabes sem perspectiva para uma sociedade aberta dado não ter integrado no islão as novas culturas e geografias onde se espalhou (isto vem do facto de considerar a revelação divina como enlivração empedernida - Deus tornado livro - não integrando nela a revelação divina que se dá através da História e da natureza, como fazem os cristãos). Consequentemente, têm de viver no gueto ou transformar o mundo no seu gueto; enquanto se encontram em minoria vivem no gueto apresentando-se ad extra como conciliadores; mas, uma vez alcançada maior presença no meio, as forças extremistas impõem-se aos “outros”, aos diferentes, (este processo também se observa na mudança de atitude de Maomé quando passou de Meca para Medina e se pode observar na mudança de opinião de Deus nas Suras - tolerantes do Corão escritas em Meca e nas escritas em Medina – Suras intolerantes) de maneira a torna-los numa monocultura por imposição. O exemplo de Maomé e a doutrina hegemónica que suporta o islão também não deixa viver em paz as confissões islâmicas sunitas (cerca de 80% dos muçulmanos no mundo) nem as xiitas (cerca de 20%) e do mesmo modo os correspondentes subgrupos alevitas (o mais liberal), o wahhabismo, o sufismo, os salafitas, etc, que disputam o poder entre si em nome de Alá.

A “Casa da Submissão” a Alá e a “Casa da Guerra”

A falta de honestidade ética, identifica o islão como religião da paz mas não esclarece que entende por paz a sua paz muçulmana (a paz da Umma) e mesmo assim guerreiam-se uns aos outros. O Evangelho já avisava: “Quem vive pela espada, pela espada morrerá” (Mt 26:52). Naturalmente a esmagadora parte dos muçulmanos é inocente e não conhece sequer a filosofia ambivalente do Corão ou dos que o aplicam ou utilizam.

Ao contrário do Ocidente que acentua o ideário da pluralidade de nações como factores de identificação e de identidade (sociedade aberta), a civilização árabe tende, duma maneira geral, a identificar nação (a nação árabe ou muçulmana) com a religião, o que cria problemas com as culturas que incorpora (como sociedade fechada). Na falta de uma consciência nacional tão diferenciada acentua a consciência da Umma (a comunidade dos crentes muçulmanos) que os distingue doutras pessoas: ‘a casa do islão’ = “Dar ul-Islam” em contraposição com a ‘casa da guerra’ = “Dar ul-Harb”). Divididos entre o desejo de autodeterminação (individualidade) e comunidade abdicam da individualidade que colocam incondicionalmente ao serviço de um grupo (ex. os mártires assassinos, semelhantes aos Kamikazes - "vento divino" japoneses), que tenta democratizar a violência. A Umma tem a vantagem de dar consciência a uma massa que, doutro modo, andaria à deriva e apresenta-se como contrapeso à (comunidade) sociedade ocidental que, talvez peque pelo outro extremo e se esvai no indivíduo. Líderes muçulmanos parecem apostar num deus guerreiro e na religião como tecto cultural, enquanto líderes ocidentais parecem apostar nas armas, na economia e na democracia como tecto cultural.

A fortaleza e a fraqueza do mundo islâmico parecem vir-lhe do aspecto confuso que não permite localizar concretamente os conflitos.

Também nos países de imigração de muçulmanos, estes sobressaem pela reivindicação dos próprios direitos em contraposição aos da sociedade acolhedora. Procuram organizar uma justiça paralela ou alcançar nos sistemas judiciais dos países de imigração, contrapartidas de cunho religioso conseguindo penas mais leves para delitos provindos de casamentos forçados ou de violência do homem para com a mulher (aqui o direito penal entra em conflito com a Constituição que defende a integridade corporal e a liberdade individual e a lei islâmica passa sobrepor-se à lei do Estado; tal comportamento dificulta a integração, encoraja o gueto e até a conversão para homens que queiram ter mais direitos em relação à mulher). Exigem tribunais próprios para arbitragem de litígios entre eles estabilizando assim a vida social paralela de gueto e uma justiça paralela. O problema não está nas exigências nem na diferenciação mas no facto de se criarem espaços vazios do direito em que se desfavorece o direito individual para se favorecer o direito cultural religioso.

Muitos organizam manifestações públicas contra Israel e contra a proibição do lenço mas não protestam publicamente contra os correligionários que usam a sua religião para fins terroristas (sentem-se depressa numa situação de vítimas e de coitadinhos, porque ‘de-finem’ a sua identidade pela religião e em contraposição aos que vive fora dos seus muros). Isto é compreensível a nível individual e psicologicamente mas a nível social torna-se conflituoso.

Na Alemanha, Wupertal, grupos Salafistas não se comportam em conformidade com a lei e já se manifestam como “Scharia Police” para controlarem lugares públicos frequentados por muçulmanos. 

Os salafistas, um movimento extremista financiado especialmente pela Arábia Saudita, e espalhado por todo o mundo, tem uma mundivisão simples com um sistema de pensar só a preto e branco. Têm aceitação entre os povos carentes porque também prestam auxílio com projectos caritativos em nichos que os Estados não cobrem. Na Europa, segundo uma investigação, dirigem-se a grupos marginais e com pouca formação cultural, onde recrutam os seus seguidores que “com prazer são enviados para ataques suicidas, porque não são bons para mais nada”.

Torna-se anacrónico que, em países desenvolvidos, a polícia estatal, tenha medo de entrar em certos bairros. O vigilantismo familiar e grupal tem tradição na “vergonha da honra familiar” que se sente ultrajada por costumes diferentes dos seus. Na Alemanha ainda não houve ataques terroristas concretizados porque o país tem um sistema de organização muito efectivo que trabalha silenciosamente e de modo preventivo. 

Por isso o Governo alemão determinou a 12.09.2014 que, a partir de agora, ficam proibidos os símbolos da milícia terrorista IS, como seja, a Bandeira, qualquer participação na IS, propaganda na Internet ou nas manifestações, recrutamento de combatentes, trazer símbolos ou recolher ofertas. Na Alemanha os salafistas são o grupo extremista talvez mais organizado, dedicando-se ao recrutamento e autoafirmação saindo do seu meio jihadistas que lutam especialmente no Médio Oriente. 

Na Europa a economia e a política têm agido irresponsavelmente no que toca à defesa do povo e do cidadão pelo facto de não se preocupar com a comunidade; reduz o ser humano a uma força de trabalho em conivência com o sistema árabe que o reduz a força religiosa. Grande parte do povo, nas grandes cidades já tem medo de se movimentar em certos bairros. Com a cumplicidade política e dos governantes, que olham de longe o problema, sem se preocuparem com estratégias de reciprocidade, criam-se os pressupostos para a organização de bandos como acontece em favelas. A situação precária de tais grupos torna-se mais complicada ainda porque além dos muros da pobreza tem o muro da religião, o que dificulta uma solidariedade isenta.
 
Continua em: “O Caos da Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das Armas e do Sexo”
©António da Cunha Duarte Justo
Jornalista

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma ótima contribuição do sr. Antonio Justo.
Ficou muito evidente o uso desta religião (Islamismo) para fins divergentes daqueles aos quais uma religião deve convergir, ou seja, religação do homem com Deus. Em nome dessa religião lamentavelmente cometem-se infindáveis atrocidades.
É realmente curioso como em religião os mecanismos são repetitivos, seja para o bem ou para o mal. O que choca é que hoje, ao par de todo o desenvolvimento no campo das idéias, do humanismo, dos conceitos filosóficos, do pensamento sensato, e de toda a tecnologia e conhecimento cientifico alcançado pela humanidade ainda ocorra o uso de um “meio” voltado justamente para o combate daquilo a que uma religião se presta.
O Islã, de modo “talvez” mais chocante, pois os fatos ocorrem do ponto de vista de um observador contemporâneo aos fatos, nos dias de hoje, repete as mesmas atrocidades que outras religiões já cometeram, ou melhor, pessoas que delas se apropriam e fazem mal uso de seus princípios e mesmo agem evocando-os, com fins destrutivos, o fazem e agem visando a satisfação de interesses totalmente divergentes da causa original da religião que estes desvirtuam.
Não tenho dúvidas que parte do erro é estrutural nestas religiões. São formadas em caráter altamente hierarquizado, verticalizados, os quais algum “espertalhão de plantão”, ao apropriar-se de algum elevado cargo “sacerdotal”, percebe-se com capacidade real de influir em toda uma cadeia de lideranças eclesiásticas de maneira a influir no melhor que a criatividade permitir no intuito de dar a cabo seus objetivos escusos, e de quem os apóie, objetivos nos quais os seguidores religiosos passam a serem meros recursos para fins obscuros.
Por isso, as novas religiões que surgirem devem realmente ser estruturadas de outra forma, justamente para coibir a repetição deste viciado mecanismo. É nesta lógica que a religião brasileira foi pensada. Nada de verticalismos ou categorias de subordinação hierárquica. Poda-se parte das asas da corrupção pela raiz. O “modus operandi” das futuras religiões vai mudar muito. Fiquei, recentemente sabendo, que já está em estudo a formação de uma versão, nos moldes da religião brasileira, para Portugal. Os estudos da “psique” necessários a formação do padrão de manifestação está sendo feito. Daqui a algo entre 150 (cento e cinqüenta) anos e 200 (duzentos) anos, ocorrerão as primeiras manifestações em solo português de uma religião mais adstringente ao modo português de se viver a vida. O mesmo ocorrerá em paises com a Rússia.
A forma básica deste modelo já opera no Brasil a cerca de 100 (cem) anos. Esta forma básica é uma espécie de prototípica, pois sei que será bastante melhorada. Sua codificação remonta o período colonial brasileiro. Engana-se quem pensa que religião nasce do dia para a noite. Religiões levam anos de estudo e desenvolvimentos até serem manifestadas, e só o são quando surgem condições para isso. Muito antes do Judaísmo, Cristianismo e tantas outras religiões surgirem, seus estudos, de cada uma delas, haviam sido feitos.
Mas, nesta lógica, o que teria ocorrido com o Islamismo? Erro de “projeto”? Erro de conceituação? Penso que não. Quem executa uma religião é o homem. E este, erra. Por isso o modus operandi deve mudar. No futuro (já presente no Brasil), a religião mudará a maneira de agir. Passará a ser mais focada no sujeito, no individuo, de maneira “customizada”. Este é o caminho “natural”, tão diferente do modo “mental-abstracionista” que hoje reina mundo afora.
Abraços aos participantes,
Vilson


Em Diálogos Lusófonos18/09/2014 14:25