A GUERRILHA
ISLÂMICA DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SECULO XXI
Ensaio
sobre a situação da Síria e do Iraque como expressão da luta intercultural
Por António Justo
No mundo contemporâneo, a
violência de motivação religiosa parte praticamente do Islão. Isto fomenta a
incompreensão do islão e muitos muçulmanos moderados de boa-fé sentem-se
colocados no pelourinho. As forças radicais e escuras estão interessadas em fomentar
motivos de incompreensão porque só assim se encontram no seu Mileu e justificar
o seu agir irracional.
Tornar
o Islão compatível com outras culturas e religiões
Torna-se urgente uma reforma do
islão a partir do seu interior que possibilite a passagem da sociedade
patriarcal e medieval para a sociedade moderna onde o centro da realidade passa
a acontecer na pessoa e a expressão política se realiza numa forma de
democracia (comunidade) que possibilite a liberdade do indivíduo, de modo a que
este faça o que quer, desde que não incomode ninguém.
A confusão, que
se observa a nível de teoria e no âmbito da acção da sociedade islâmica,
deve-se também à falta de separação nítida no Corão e nos Ditos do profeta
entre religião e violência, entre regra e extremismo, o que impossibilita
distinguir entre quem obedece à norma religiosa e quem não. Não se
tratará de rejeitar o islão, como fazem alguns intelectuais muçulmanos, mas de
o reformar com uma interpretação adaptada aos nossos tempos (reconhecendo muito
embora a dificuldade dado não haver sincronização do tempo em relação às
culturas). Tratar-se-ia de encontrar uma definição e uma prática islâmica
aberta e compatível com outras religiões e culturas, com outros valores, outras
constituições de estados e com a modernidade na aplicação dos direitos humanos.
Só uma atitude tolerante e integrativa, respeitadora das religiões e do estado
de direito, pode servir os muçulmanos democráticos e livres bem como as outras
culturas. O islão tem de reconhecer a realidade natural da variedade e as leis
da evolução, doutro modo, ao fechar-se numa visão patriarcal, apressa a sua
derrocada embora englobe muita riqueza artística no mosaico das culturas.
O
Terror jihadista islâmico é a Luta contra a própria Queda
Como se observa do mundo árabe ou
do mundo subjugado ao islão, onde não há ditadura ou regime autoritário,
abundam os movimentos extremistas que impedem a estabilidade interna. Por toda
a parte, onde se encontre um vazio regulamentar político, logo a frustração é
compensada religiosamente, através da violência e de mercenários cegos ao
serviço duma cultura do medo.
Toda a ideologia política ou
religiosa, que considere o seu ponto de vista como a única via correcta de
vida, desconhece a relação entre percepção (conceito) e realidade, vendo-se
condenada a viver da guerrilha e a fracassar, dado o desejo de liberdade inato
ao Homem não poder ser ininterruptamente oprimido, por um regime ou uma
cultura, e, além do mais, num mundo chamado a transformar-se numa aldeia de
vizinhos. Também Maomé dizia: “o que não serve o homem vai abaixo como uma onda
no oceano”. Os tempos mudaram e com eles muda o Homem e as circunstâncias, tudo
é processo; quem não quer ficar sob as rodas da História, tem que verificar o
que então “servia” o homem e o que hoje já não serve o Homem. Recorrer
sistematicamente à violência para resolver problemas é desumano e destrutivo.
O busílis muçulmano está no facto
de só admitir, na sua sociedade, a curto ou a longo prazo, o falar do Deus
registado no Corão, ficado assim demasiado timbrado pelo patriarcalismo do
Antigo Testamento e das tribos árabes sem perspectiva para uma sociedade aberta
dado não ter integrado no islão as novas culturas e geografias onde se espalhou
(isto vem do facto de considerar a revelação divina como enlivração empedernida
- Deus tornado livro - não integrando nela a revelação divina que se dá através
da História e da natureza, como fazem os cristãos). Consequentemente, têm de
viver no gueto ou transformar o mundo no seu gueto; enquanto se encontram em
minoria vivem no gueto apresentando-se ad extra como conciliadores; mas, uma
vez alcançada maior presença no meio, as forças extremistas impõem-se aos
“outros”, aos diferentes, (este processo também se observa na mudança de
atitude de Maomé quando passou de Meca para Medina e se pode observar na
mudança de opinião de Deus nas Suras - tolerantes do Corão escritas em Meca e
nas escritas em Medina – Suras intolerantes) de maneira a torna-los numa
monocultura por imposição. O exemplo de Maomé e a doutrina hegemónica que
suporta o islão também não deixa viver em paz as confissões islâmicas sunitas
(cerca de 80% dos muçulmanos no mundo) nem as xiitas (cerca de 20%) e do mesmo
modo os correspondentes subgrupos alevitas (o mais liberal), o wahhabismo, o sufismo,
os salafitas, etc, que disputam o poder entre si em nome de Alá.
A
“Casa da Submissão” a Alá e a “Casa da Guerra”
A falta de honestidade ética,
identifica o islão como religião da paz mas não esclarece que entende por paz a
sua paz muçulmana (a paz da Umma) e mesmo assim guerreiam-se uns aos outros. O
Evangelho já avisava: “Quem vive pela espada, pela espada morrerá” (Mt 26:52).
Naturalmente a esmagadora parte dos muçulmanos é inocente e não conhece sequer
a filosofia ambivalente do Corão ou dos que o aplicam ou utilizam.
Ao contrário do Ocidente que
acentua o ideário da pluralidade de nações como factores de identificação e de
identidade (sociedade aberta), a civilização árabe tende, duma maneira
geral, a identificar nação (a nação árabe ou muçulmana) com a religião, o que
cria problemas com as culturas que incorpora (como sociedade fechada).
Na falta de uma consciência nacional tão diferenciada acentua a consciência da
Umma (a comunidade dos crentes muçulmanos) que os distingue doutras pessoas: ‘a
casa do islão’ = “Dar ul-Islam” em contraposição com a ‘casa da guerra’ = “Dar
ul-Harb”). Divididos entre o desejo de autodeterminação (individualidade) e
comunidade abdicam da individualidade que colocam incondicionalmente ao serviço
de um grupo (ex. os mártires assassinos, semelhantes aos Kamikazes -
"vento divino" japoneses), que tenta democratizar a violência. A Umma
tem a vantagem de dar consciência a uma massa que, doutro modo, andaria à
deriva e apresenta-se como contrapeso à (comunidade) sociedade ocidental que,
talvez peque pelo outro extremo e se esvai no indivíduo. Líderes muçulmanos
parecem apostar num deus guerreiro e na religião como tecto cultural, enquanto
líderes ocidentais parecem apostar nas armas, na economia e na democracia como
tecto cultural.
A fortaleza e a fraqueza do mundo
islâmico parecem vir-lhe do aspecto confuso que não permite localizar
concretamente os conflitos.
Também nos países de imigração de
muçulmanos, estes sobressaem pela reivindicação dos próprios direitos em
contraposição aos da sociedade acolhedora. Procuram organizar uma justiça
paralela ou alcançar nos sistemas judiciais dos países de imigração,
contrapartidas de cunho religioso conseguindo penas mais leves para delitos
provindos de casamentos forçados ou de violência do homem para com a mulher
(aqui o direito penal entra em conflito com a Constituição que defende a
integridade corporal e a liberdade individual e a lei islâmica passa
sobrepor-se à lei do Estado; tal comportamento dificulta a integração, encoraja
o gueto e até a conversão para homens que queiram ter mais direitos em relação
à mulher). Exigem tribunais próprios para arbitragem de litígios entre eles
estabilizando assim a vida social paralela de gueto e uma justiça paralela. O
problema não está nas exigências nem na diferenciação mas no facto de se
criarem espaços vazios do direito em que se desfavorece o direito individual
para se favorecer o direito cultural religioso.
Muitos organizam manifestações
públicas contra Israel e contra a proibição do lenço mas não protestam
publicamente contra os correligionários que usam a sua religião para fins
terroristas (sentem-se depressa numa situação de vítimas e de coitadinhos,
porque ‘de-finem’ a sua identidade pela religião e em contraposição aos que
vive fora dos seus muros). Isto é compreensível a nível individual e
psicologicamente mas a nível social torna-se conflituoso.
Na Alemanha, Wupertal, grupos
Salafistas não se comportam em conformidade com a lei e já se manifestam como
“Scharia Police” para controlarem lugares públicos frequentados por muçulmanos.
Os salafistas, um movimento
extremista financiado especialmente pela Arábia Saudita, e espalhado por todo o
mundo, tem uma mundivisão simples com um sistema de pensar só a preto e branco.
Têm aceitação entre os povos carentes porque também prestam auxílio com
projectos caritativos em nichos que os Estados não cobrem. Na Europa, segundo
uma investigação, dirigem-se a grupos marginais e com pouca formação cultural,
onde recrutam os seus seguidores que “com prazer são enviados para ataques
suicidas, porque não são bons para mais nada”.
Torna-se anacrónico que, em
países desenvolvidos, a polícia estatal, tenha medo de entrar em certos
bairros. O vigilantismo familiar e grupal tem tradição na “vergonha da honra
familiar” que se sente ultrajada por costumes diferentes dos seus. Na Alemanha
ainda não houve ataques terroristas concretizados porque o país tem um sistema
de organização muito efectivo que trabalha silenciosamente e de modo
preventivo.
Por isso o Governo alemão
determinou a 12.09.2014 que, a partir de agora, ficam proibidos os símbolos da
milícia terrorista IS, como seja, a Bandeira, qualquer participação na IS,
propaganda na Internet ou nas manifestações, recrutamento de combatentes,
trazer símbolos ou recolher ofertas. Na Alemanha os salafistas são o grupo
extremista talvez mais organizado, dedicando-se ao recrutamento e autoafirmação
saindo do seu meio jihadistas que lutam especialmente no Médio Oriente.
Na Europa a
economia e a política têm agido irresponsavelmente no que toca à defesa do povo
e do cidadão pelo facto de não se preocupar com a comunidade; reduz o ser
humano a uma força de trabalho em conivência com o sistema árabe que o reduz a
força religiosa. Grande parte do povo, nas grandes cidades já tem
medo de se movimentar em certos bairros. Com a cumplicidade política e dos
governantes, que olham de longe o problema, sem se preocuparem com estratégias
de reciprocidade, criam-se os pressupostos para a organização de bandos como
acontece em favelas. A situação precária de tais grupos torna-se mais
complicada ainda porque além dos muros da pobreza tem o muro da religião, o que
dificulta uma solidariedade isenta.
Continua em: “O Caos da
Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das Armas e do Sexo”
©António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
1 comentário:
Mais uma ótima contribuição do sr. Antonio Justo.
Ficou muito evidente o uso desta religião (Islamismo) para fins divergentes daqueles aos quais uma religião deve convergir, ou seja, religação do homem com Deus. Em nome dessa religião lamentavelmente cometem-se infindáveis atrocidades.
É realmente curioso como em religião os mecanismos são repetitivos, seja para o bem ou para o mal. O que choca é que hoje, ao par de todo o desenvolvimento no campo das idéias, do humanismo, dos conceitos filosóficos, do pensamento sensato, e de toda a tecnologia e conhecimento cientifico alcançado pela humanidade ainda ocorra o uso de um “meio” voltado justamente para o combate daquilo a que uma religião se presta.
O Islã, de modo “talvez” mais chocante, pois os fatos ocorrem do ponto de vista de um observador contemporâneo aos fatos, nos dias de hoje, repete as mesmas atrocidades que outras religiões já cometeram, ou melhor, pessoas que delas se apropriam e fazem mal uso de seus princípios e mesmo agem evocando-os, com fins destrutivos, o fazem e agem visando a satisfação de interesses totalmente divergentes da causa original da religião que estes desvirtuam.
Não tenho dúvidas que parte do erro é estrutural nestas religiões. São formadas em caráter altamente hierarquizado, verticalizados, os quais algum “espertalhão de plantão”, ao apropriar-se de algum elevado cargo “sacerdotal”, percebe-se com capacidade real de influir em toda uma cadeia de lideranças eclesiásticas de maneira a influir no melhor que a criatividade permitir no intuito de dar a cabo seus objetivos escusos, e de quem os apóie, objetivos nos quais os seguidores religiosos passam a serem meros recursos para fins obscuros.
Por isso, as novas religiões que surgirem devem realmente ser estruturadas de outra forma, justamente para coibir a repetição deste viciado mecanismo. É nesta lógica que a religião brasileira foi pensada. Nada de verticalismos ou categorias de subordinação hierárquica. Poda-se parte das asas da corrupção pela raiz. O “modus operandi” das futuras religiões vai mudar muito. Fiquei, recentemente sabendo, que já está em estudo a formação de uma versão, nos moldes da religião brasileira, para Portugal. Os estudos da “psique” necessários a formação do padrão de manifestação está sendo feito. Daqui a algo entre 150 (cento e cinqüenta) anos e 200 (duzentos) anos, ocorrerão as primeiras manifestações em solo português de uma religião mais adstringente ao modo português de se viver a vida. O mesmo ocorrerá em paises com a Rússia.
A forma básica deste modelo já opera no Brasil a cerca de 100 (cem) anos. Esta forma básica é uma espécie de prototípica, pois sei que será bastante melhorada. Sua codificação remonta o período colonial brasileiro. Engana-se quem pensa que religião nasce do dia para a noite. Religiões levam anos de estudo e desenvolvimentos até serem manifestadas, e só o são quando surgem condições para isso. Muito antes do Judaísmo, Cristianismo e tantas outras religiões surgirem, seus estudos, de cada uma delas, haviam sido feitos.
Mas, nesta lógica, o que teria ocorrido com o Islamismo? Erro de “projeto”? Erro de conceituação? Penso que não. Quem executa uma religião é o homem. E este, erra. Por isso o modus operandi deve mudar. No futuro (já presente no Brasil), a religião mudará a maneira de agir. Passará a ser mais focada no sujeito, no individuo, de maneira “customizada”. Este é o caminho “natural”, tão diferente do modo “mental-abstracionista” que hoje reina mundo afora.
Abraços aos participantes,
Vilson
Em Diálogos Lusófonos18/09/2014 14:25
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