O Político - Entre condicionalismos profissionais e
Consciência cristã
António Justo
Fé e liderança
são temas diferentes mas
integráveis. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, é uma
máxima cristã que determinou o agir político da civilização ocidental. Deste
modo estimulou diferentes energias a actuar de maneira complementar.
Em política procede-se
ao exercício do poder e este implica, em democracia, o compromisso, o que pode levar
um político a entrar em conflito com as próprias convicções.
A civilização ocidental deve o seu
desenvolvimento a dois princípios: a dignidade humana e a divisão de
poderes. “A ideia de que há uma dignidade inata ao homem é religiosa, de origem judeo-cristã”, bem como
a ideia da divisão de poderes (seculares e religioso), como constata o historiador
Heinrich August Winkler. E
reconhece também que “o direito internacional é uma conquista ocidental” que
tem como “objectivo a transferência do domínio do direito para as relações internacionais”.
A História do Ocidente é o testemunho da disputa dos direitos humanos, do
domínio do direito, da divisão de poderes e da falha contra eles. (No Ocidente,
toda a pessoa tem o direito de invocar os direitos humanos em sua defesa).
O projecto
ocidental não se deixa reduzir à vontade das maiorias democráticas, sejam elas seculares
ou religiosas, esquerdas ou direitas, como demonstrou o final da República de
Veimar. Já John Stuart Mil dizia que a
tirania tanto pode ser exercida por governantes absolutistas como por maiorias.
Assim, as democracias ocidentais dispõem de meios que as protegem: a soberania
do direito e a divisão de poderes. Estes dão continuidade à sociedade pluralista.
(1)
A filosofia cristã alimenta-se da verdade e da dúvida
A sociedade do
futuro precisa naturalmente do vitalismo religioso e da energia secular, mas
não na contraposição de uns contra os outros; se não quisermos danificar o
projecto de vida ocidental, será necessária uma interacção mútua e complementar
de filosofia cristã e de poder secular, não podendo a ideologia secular
açambarcar para si também o lugar de Deus. A sociedade ocidental manterá a sua
sustentabilidade se continuar a superar o dogmatismo religioso e o dogmatismo científico
na fidelidade à sua característica filosófica que engloba uma dinâmica dialogal entre verdade e dúvida (fé e razão) que
lhe proporcionou especial desenvolvimento. (Também não será legítimo invocar os
extremistas muçulmanos para, em princípio, se difamar toda a religião, como tão-pouco
o estalinismo ou nazismo para se desacreditar a governação). Em cada época, tanto
pessoas religiosas como políticas eram filhas do seu tempo e como tal
portadoras dos vícios e virtudes da sua era.
A esquerda marxista
e o capitalismo liberal pretendem dissociar o cristianismo da pessoa e da
sociedade para mais facilmente colocarem o indivíduo sob a sua trela e melhor vaiarem
o cidadão sem a concorrência de forças que não sejam económicas ou ideológicas.
O cristianismo é a religião mais perseguida porque é a lóbi da dignidade da
pessoa, dos pobres e dos discriminados (2). Os valores cristãos (vindos dos judeus,
gregos, romanos e das várias etnias) são a alma da cultura. Já o filósofo
Augusto Comte era do parecer que uma sociedade sem religião não teria
continuidade e o Estado estaria condenado à desintegração. De facto sustentabilidade
de um estado ainda se baseia na fertilidade maternal do seu povo e na religião
como processo aberto.
O
“establishment” político quer um mundo bipolar: quer de um lado o capitalismo
liberal redutor do homem a um objecto de produção e de mercado e, do outro, o
neomarxismo redutor do homem a proletário – indivíduo singular indefeso
(indivíduo sim mas não pessoa!) - em função de uma forma de estado todo-poderoso.
As elites neoliberais e neomarxistas unem-se na mesma tarefa de desfraldarem o Homem.
Procuram até ideologizar o próprio património nacional.
O poder normativo do
cristianismo na sociedade secular
Em termos cristãos, a dignidade
humana implica o sentido da vida e a ressurreição confere-lhe optimismo.
O cristão é chamado a preocupar-se sobretudo com a parte da vida que passa
na terra; se o faz com responsabilidade, o resto ser-lhe-á dado por
acréscimo. Um provérbio português recorda: “religião quer-se como o sal na
sopa”… sem ela a vida não teria sabor, mas em demasia, como se verifica da
experiência muçulmana e da guerra dos 30 anos, torna a vida salgada.
O cristão é um ser aberto em
diálogo, que forma e se forma na interlocução com a natureza, com o outro e com
ele próprio em Deus; por isso não se define através de uma cultura. É uma
proveta reagente de terra e céu em contínuo processo de desenvolvimento. Os
seus instrumentos de abordagem da realidade e de realização são os sentidos e
em especial a razão e a fé; estes não precisam de contradizer-se, são ao mesmo
tempo luz e energia no processo de desenvolvimento individual e social.
A fé cristã é global (daí o termo
“católica”, “universal”) e, como tal, a igreja tem que estar disposta a fazer compromissos,
porque é integral, não exclui ninguém na consciência de que todos somos filhos
de um Deus sem crenças (a revelação divina também se verifica na natureza e na
História). Sim porque Jesus Cristo, o ser humano é feito de céu e terra! Para o
político cristão, toda a pessoa, todo o cidadão tem filiação divina e constitui
o centro da política. Já São Paulo dizia que o ser humano está chamado à
liberdade na solidariedade com o Homem na qualidade de companheiro; o Homem é portanto o lugar da liberdade.
O poder normativo judeo-cristão
espalhou-se por toda a Europa e por todo o mundo. Na sua visão holística,
embora com muitos momentos de história escura e triste, influenciou e
influencia o agir mundial individual e socialmente: liberdade, democracia,
Direitos humanos, Estado de Direito, a igualdade dos géneros, uma solidariedade
social que ultrapassa a sebe do crente, desenvolvimento sustentável e boa
governação. Um “Deus pai” implica a visão global do Homem como irmão e uma
comunidade católica (cosmopolitismo, globalismo) baseada na ética do amor ao
próximo (estranho) e a Deus. Os direitos individuais são sagrados. O
cristianismo é uma religião do chamamento; missionar o mundo dá-se como oferta,
sem coacção. O político cristão está consciente do cristianismo como seu tecto
espiritual que dá consistência e identidade a um povo chamado a espalhar a Boa
Nova.
No contexto das civilizações, a
mensagem cristã subsistirá sempre como a religião do Homem e da humanidade, não
podendo ser reduzível a uma cultura; neste sentido a teologia fala também dos
cristãos anónimos; o protótipo do Homem é Jesus Cristo (que une em si Céu e Terra)
e não uma cultura.
O político cristão está chamado a
propagar a ética cristã como directriz da sua política. Cristo assume responsabilidade por si e pelos outros o que quer dizer
que o cristão não pode ser indiferente ao que acontece politicamente “lá fora”.
Para ele, fora e dentro são partes da mesma realidade. A consciência é a
directriz da acção cristã e o bom agir a sua prova.
O papa Bento XVI resume a
tradição humanista da igreja, já repetida originariamente na teologia e por
outros papas da Idade Média, nas palavras seguintes: "Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é preciso
obedecer em primeiro lugar; se fosse necessário, até contra o que disser a
autoridade eclesiástica." Isto mostra a dignidade da Igreja Católica
no respeito pela pessoa humana; a instituição, a religião não se coloca sobre o
Homem; a sua matriz é o Homem, por isso não se reduz a uma doutrina, como
revela a pessoa do Mestre. “Cristo é tudo e em todos” (Col 3,11). A sua pessoa (independentemente
do religioso) é programa para todo o Homem e para todas as instituições do
mundo sejam elas políticas, religiosas ou ideológicas (Nele se processa a
inclusão do humano e do divino). A interpretação disto depende como sempre do espaço
individual e da consciência humana no “aqui e agora”.
Uma política do desenvolvimento só
é possível mediante o compromisso necessário perante
a diversidade de situações e de pessoas. Por isso o político age no sentido do
melhor compromisso de responsabilidade moral e não apenas pragmático.
A realidade humana exige compromisso e responsabilidade não deixando ninguém
inocente. Nas decisões parlamentares, determinam-se leis, como o
exporte de armas, o aborto, em que o cristão se torna também culpado. É contra
o aborto mas tem de respeitar as decisões maioritárias para a generalidade. Na
qualidade de cristão deve trabalhar para que a sociedade adquira uma outra
atitude e, para isso, o cristão só possui o instrumento da palavra e do
exemplo.
O cristão é um ser inacabado,
feito de sagrado e profano; aberto e em aberto, com uma referência: JC a síntese
da matéria e do espírito.
Nas coisas do mundo, quanto menos
sei, mais sei que sei! Mas se mais reflito, quanto mais sei, mais sei que não
sei! Logo, quanto mais sei menos sei que sei... O físico e matemático Isaac
Newton dizia: “O que sabemos é uma gota de água; o que não sabemos é o oceano”!
De facto, só quem perde a inocência pode permanecer virgem!...
A doutrina do pecado original quer-nos dizer que a vida e o desenvolvimento
provêm do jogo entre tentativa e erro, não deixando
muito lugar para moralistas demasiado distantes da realidade. Adão na tentativa
de comer a maçã da árvore da vida atingiu a faculdade da razão que o torna
estranho à própria natureza e o leva a levantar a cabeça para a voz que o
chama, “Adão onde estás?”. Ele que vivia num estado simbiótico com a natureza, não
conhecendo lugar nem tempo, vê-se agora num novo estado, em diálogo, entre
certeza e dúvida revelando-se como consciência aberta. O chamamento da fé e da
razão leva-o a acordar para o mistério não podendo mais voltar ao paraíso
perdido.
A certeza é a fronteira do desenvolvimento e do saber! Se não
reconheces que a realidade acontece no ponto de intersecção dos diferentes
interesses, passas a vida a fugir dela ou a combatê-la.
A vivência cristã não se esgota na certeza intelectual, ela intui-se também
como desígnio de algo já experimentado (na compaixão). Isto
confirma-o também a psicologia budista ao recomendar que para se resolver um
problema ou sentimento negativo é preciso primeiro percebê-lo (senti-lo), depois
visualizá-lo e finalmente explorá-lo em sintonia/simpatia consigo próprio;
depois desta sequência o sentimento negativo pessoal dissolve-se.
Em muitos assuntos, o político
cristão tem a vantagem de não se encontrar sozinho na sua opinião individual,
ele tem atrás de si uma fábrica de pensamento que é a Igreja com suas
encíclicas sociais e uma experiência e saber milenário que o podem ajudar na
tomada de decisões. Dietrich Bonhofer dizia: “encontramo-nos aqui sendo só
competentes nas penúltimas coisas”; as outras pertencem a Deus.
O imperfeito não pode gerar a
perfeição. Por muito controverso que pareça, Deus também pode falar através dos
contrários à minha opinião e até mesmo através do mal. A opinião é livre, se regada pelos sentimentos, mas só o sol do
pensamento a fará crescer. Reconheço opiniões boas mas não faltam as melhores.
Ao definir só alargo a cerca do meu jardim. Uma opinião profunda será
aquela que surge da liberdade acreditada no comprometimento com o JC, a melhor
Realidade e o melhor símbolo de liberdade e compromisso. Para isso será preciso aprender a andar não só em solo seguro mas também
sobre as águas do Mar, como fez o mestre da Galileia. Quem tem a coragem de
andar sobre a água não é nenhum fantasma mas portador de inovação e de futuro.
O problema da liberdade surge
sempre que cada um eleve a sua opinião a sentença certa. Liberdade total é
impossível porque contradir-se-ia, não permitindo orientação. A capacidade de
escolha já seria uma limitação. A dúvida em geral e em especial a dúvida
metódica, própria do pensar ocidental, possibilitam a crítica que leva ao
desenvolvimento; a crítica confere à
civilização ocidental um estado de contínuo processo (“ecclesia” semper
renovanda) de modernização e, deste modo, possibilita a antecipação à
revolução. Numa democracia o povo não forma uma unidade; o reconhecimento da
soberania da consciência individual possibilita a crítica social e naturalmente
a necessidade de se aprender a lidar com ela.
A liberdade para ser sentida e
despreocupada coloca o peso da própria vida no cabide da confiança: uns confiam
em Deus outros na ideologia ou no interesse imediato. No cristianismo resta,
mesmo assim, uma conta a saldar que é como dizia o filósofo Kant “o dever para
consigo mesmo”. Uma sociedade livre e
aberta possibilita a vida também aos adversários. O princípio da tolerância não
deve porém neutralizar o da própria crença.
O sentimento de pertença a uma
casa ampla com um tecto metafísico transparente fomenta a auto-estima que
protege do medo e permite o autodesenvolvimento e o evoluir da própria opinião;
esta deve ser expressa de maneira determinada, doutro modo o adversário
sente-se emocionalmente encorajado ao ataque. A crítica pessoal só complica,
por isso a crítica construtiva é baseada no problema e na sua solução.
O Cristianismo é transcultural não se define por reinos
nem repúblicas cristãs
No cristianismo não há reinos nem
repúblicas cristãs, não há união de
política e religião como nas bases da religião islâmica que identificam cultura
com religião nem tão-pouco na união de Estado e ideologia. Naturalmente também
os cristãos não estão imunes das tentações do poder embora a sua filosofia os
não legitime ao abuso nem à promiscuidade de poderes. O político cristão
compromete-se a fomentar o politicamente possível, numa atitude ética
proveniente da fé. É consciente da complexidade social e seus condicionalismos
na tentativa de fazer o melhor e o justificável para o bem-comum.
Não é possível definir-se uma política cristã; esta pressupõe, nos seus
actores, uma atitude humana de base de dedicação especial pelos mais indefesos
da sociedade. Não há uma política cristã nem um cristão pode
reivindicar para si o direito de fazer política cristã.
A fé cristã tem motivações ideais
que favorecem uma orientação e critérios de valor para a acção: o Sermão da
Montanha. A convicção cristã pode, porém, conduzir a diferentes posições,
atendendo ao caracter soberano da consciência individual. Por vezes, o cristão
confronta-se a si mesmo, entrando em conflito
com uma ética de convicção e uma ética de responsabilidade social; estas
conduzem a decisões de compromisso, numa tentativa de ultrapassar fronteiras
denominacionais, tendentes a respeitar a dignidade e a liberdade humana do
próximo. Tudo se torna pressuposto preliminar à avaliação.
Uma atitude cristã política
caracteriza-se pelo princípio da dignidade inviolável da pessoa (dignidade de
imagem de Deus – independentemente de credo - e como tal sujeito e não objecto)
que se expressa no “amor ao próximo”); primeiro
está a pessoa, só depois a instituição; outro princípio é o da
complementaridade baseada no protótipo JC que integra o divino e o humano;
todos são chamados à liberdade e a realizar o “reino de Deus”. A “ecclesia” é
formada por indivíduos em comunidade convergente, na realização mútua de indivíduo
e comunidade.
A consciência de comunidade, de
que o todo também é formado pelas margens, torna a igreja advogada dos mais
fracos na prática do princípio da solidariedade. A Igreja é a voz dos sem lóbi,
dos marginais. Quando se declara p. ex. contra o aborto, ela torna-se a lóbi destes
seres sem voz. Mais que o credo importam as obras: "Pelos seus frutos os
conhecereis!“ (1.Jo. 2,1-6).
O Mestre reivindica que amemos os nossos inimigos mas não exige que nos
deixemos matar por eles nem que o amor aos inimigos aconteça à custa de amigos.
No meio está a virtude (como nos ensina a filosofia aristotélica) e só o divino
é o lugar da perfeição. O político cristão procura estabelecer
harmonia entre os polos. Isto dá-lhe uma
posição demarcada e competência de sustentabilidade histórica na tentativa
de resolver os problemas sociais e na capacidade de intermediário nas posições
antagónicas entre os partidos. O político terá de ver o que é justificável e
depois decidir segundo a própria consciência no respeito pela dos outros. Ele, na qualidade de político, tem de se
preocupar em estabelecer relações estáveis, também no interesse dos
contribuintes não se podendo deixar levar por idealismos passageiros que
poderiam prejudicar o povo no seu todo, a longo prazo. Política, religião, ciência
e sociedade devem consciencializar-se da sua situação de interdependência e de processo.
Em tempos idos, tudo era mais
fácil: bastava seguir um rei, um pastor; hoje, que somos chamados a
tornarmo-nos individualmente mais responsáveis, somos puxados por forças
anónimas em diversas direcções e sentidos, o que exige, de cada um, maior
balance e equilíbrio, maior sentido de orientação e responsabilidade. Peter
Sloterdijk diz: “A modernidade evidencia-se como a época dos projectos, e a
época pós-moderna como a dos consertos”. Com o rápido desenvolvimento e
mudanças da vida moderna, a realidade movimenta-se mais depressa do que a
consciência comum, criando empasses e assimetrias inevitáveis.
Uma actualidade
que não respeite a herança torna-se subversiva, criando um hiato entre o antes
e o depois num agora caótico e desorientado. Jesus foi o grande radical da
História quebrando com muitas
tradições e com a moral tradicional, já ao nascer de uma virgem. Com ele todos são filhos de Deus,
independentemente de estirpes ou famílias.
Na política e em
lugares chave da sociedade, precisam-se, hoje mais que nunca, cristãos e
pessoas de boa vontade com capacidade para se consciencializarem da chantagem a
que a sociedade se encontra submetida.
O projecto ocidental
dá resposta ao sentido da vida na universalidade da dignidade humana. As
instituições e sociedades poderão morrer mas a ideia da dignidade humana não
morrerá. O hindu Mahatma Gandhi, que conhecia bem o induísmo, o budismo e o cristianismo,
constatava: “Cristo é a maior fonte de força espiritual que a humanidade
conheceu.”
A mundivisão que tornou a Europa
grande, no concerto das nações, deixou de estar presente na consciência pública
actual devido ao
jacobinismo ideológico.
Joachim Gauck,
presidente de uma república descongestionada como é a alemã, não tem vergonha
de testemunhar, na força do cargo que ocupa: "A política precisa de
pessoas que acreditam em algo
que é maior do que elas mesmas. Precisa de pessoas que têm uma atitude e a defendem com coragem. Precisa
de personalidades convictas e,
deste modo convincentes, como as que,
para o nosso bem, vieram do ambiente cristão e do compromisso cristão”… „Sem
cristãos este país seria diferente na política e na sociedade!... Acções e decisões
políticas encontram, na Doutrina Social católica, padrões confiáveis da fé
". Um presidente da república portuguesa ou francesa nunca diria
tal, por jacobinismo político ou, possivelmente, porque não teria razão para o
dizer!
Cristo transcende todo o ser e
permanece para sempre um desafio para toda a política e para todo o cidadão.
António da Cunha
Duarte Justo
Teólogo
(1) A França
é o exemplo de um estado laico puro enquanto a Alemanha, tendo também ela a
divisão de poderes de estado e religião, age em parceria com a religião em sectores sociais, o que
facilita uma vida social mais harmoniosa e o melhor aproveitamento de recursos
humanos e económicos. Os estados da França e de Portugal são mais orientados
pela ideologia republicana exacerbada, enquanto, na Alemanha, domina o
compromisso social que deu origem à economia social de mercado e ao milagre
económico alemão.
(2) O
neo-marxismo e o neocapitalismo tornaram-se duas ideologias irmanadas, que
seguem uma estratégia de ocupação da administração pública e dos lugares
centrais do saber, da política, da economia, dos Media e da arte. Sob a aura da
arte escondem-se interesses ideológicos vestidos com o talar da inocência e da
individualidade. O marxismo (comunismo) surgiu das necessidades da época,
revelando-se então oportuno no sentido de consciencializar e organizar o
operariado que era vítima da revolução industrial nascente (1760 – 1820). Hoje
expressa-se como corrector da ideologia económica vigente continuando a
deixar-se reduzir a uma perspectiva das redes económico-sociais da polis. Em
nome do progresso usam como subterfúgio o ataque ao conservadorismo; em nome
dessa luta pretendem irradiar o catolicismo que defende valores e direitos
humanos individuais inalienáveis A Europa no seu processo de secularização
conseguiu secularizar muitos dos valores cristãos. “Liberdade, igualdade,
fraternidade” colocados sob a autoridade suprema da razão e da lei do estado,
são a consequência lógica da liberdade, irmandade e igualdade dos filhos de
Deus, propagada pela religião a nível individual e da comunidade. A aculturação
de valores sublimes processa-se ao longo dos séculos.
PS: este texto
encontrar-se-á num livro a publicar.
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