Um dia
sem riso é um dia enevoado e sonolento
António Justo
À primeira vista, a celebração do
dia do riso parece descabida; mas até não é, porque pode tornar-se em ocasião
para pensarmos sobre os seus efeitos e deste modo tornarmo-nos mais saudáveis,
alegres e sociais.
O riso activa as hormonas que
actuam nas células. É comunicativo, espalha alegria e faz bem à saúde do corpo
e do espírito. Estimula o sistema imunológico, desce a pressão arterial e
activa as energias de auto-cura; fomenta o optimismo, a coragem, a serenidade e
facilita o contacto e confere sucesso social.
A Gelotologia é a ciência que
estuda os efeitos do riso (terapias do riso e do humor). Investigadores
científicos descobriram que um minuto de riso pode ser tão refrescante como o
exercício de 45 minutos de relaxamento. O riso é o melhor meio contra o
estresse porque aumenta a endorfina, a hormona da felicidade. Massageia 70
músculos do rosto e movimenta outros 80. Irradia simpatia e benevolência.
Já os romanos sabiam que o bom
humor (humor = seiva do corpo) estimulava corpo e alma. Na Idade Média havia os
bobos da corte, especialistas em fazer rir em função terapêutica.
O riso muda ideias fixas e cismas
e altera a maneira de ver as coisas. Pessoas com tendência a fixar-se em ideias
podem recorrer ao exercício do riso porque este abre as portas do coração,
fortalecendo a comunidade e a participação em grupo, além de libertar agressões
estancadas. Corta todo o nó criado por pensamentos e hábitos ao criar a
distância necessária para se poder reconhecer melhor as coisas. Rir liberta o
cérebro irrigando-o com oxigénio; fomenta a criatividade e aumenta a actividade
(Cheguei a fazer exercícios de risadas nas aulas, com espanto dos estudantes,
mas com bons resultados, quando observava o seu cansaço). Quem ri cria conexões
encontrando no riso o melhor remédio que nos torna soberanos em relação a tudo.
“Muito
riso pouco juízo” dizem os desmancha-prazeres ou aqueles que observam alguém
que ri por tudo e por nada. Aristóteles (na Poética) dava um lugar
mais alto aos temas sérios/nobres (tragédia e épica heroica como género
elevado) e um lugar baixo aos temas risíveis – sátira e comédia (imitação de
condições inferiores). Talvez isto expresse um sentimento geral que a nossa
cultura acentuou.
Tudo isto tem também a ver com os
diferentes sentimentos que podem estar na origem do riso e com as intenções
individuais e sociais a ele ligadas. O riso leva a transcender os sentimentos
embora se descubram diferentes sentimentos em diferentes espécies de riso: riso
amarelo, de escárnio (ofensivo), ridicularizador, inocente, disciplinado,
descontraído, condescendente, aberto, irónico… O riso mais saudável será aquele
onde se ri para alguém e não de alguém! Um bom exercício, ao levantar será rir
ou fazer que ri, porque o simples gesto facial de rir engana o cérebro,
activando nele os mecanismos correspondentes.
Rir chega até a ser factor democrático; nele nos abrimos
descontraidamente e nos tornamos iguais no grupo e, por vezes, até contagiosos,
num tipo de comédia inclusiva.
Rir às gargalhadas é vento quente
que leva toda a nuvem colocando toda a gente sob o mesmo sol. Como a chuva do
choro confere o verde à planta assim o sol do riso lhe dá o colorido das
pétalas. Um dia sem rir é um dia sem sol, um dia enevoado e sonolento. O rir
provoca o bom humor porque não se leva a sério.
Quando passar por alguém sorria;
esta é a melhor maneira de saudar alguém que não conheça; além de se tornar em
luz para alguém ilumina o seu próprio corpo.
O cúmulo da seriedade seria não
rir para evitar rugas na cara!
António da Cunha Duarte Justo
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