domingo, 16 de agosto de 2015

Quanto recebe do Estado um Refugiado na Alemanha

REFUGIADOS DA VIOLÊNCIA E DA POBREZA

Por António Justo
A distinção entre “refugiados” da pobreza e refugiados da perseguição ou da discriminação é mais uma questão burocrática. Com a discussão na Alemanha sobre a diferenciação entre quem tem direito ou não a estatuto de refugiado político só se espalha ainda mais a confusão e torna-se num motivo de desculpa para políticos que se surpreendem dos resultados da sua acção política ou para conversas de café. Muitos dos refugiados do Kosovo e da Albânia e muitos outros da África fogem à pobreza ou à dureza da lei islâmica. De facto a Lei alemã, de benefícios mensais para requerentes de asilo corresponde ao ordenado mensal de um polícia no Kosovo e na Albânia: 359 euros

Segundo a lei alemão cada exilado tem direito a habitação gratuita, apoio em caso de doença e a 359 euros por mês para viver enquanto residirem em instalações de recepção inicial do Estado. Neste caso, da quantia 359 euros, 143 têm de ser dados em dinheiro (dinheiro de bolso para as necessidades pessoais) ao requerente de asilo, o respo pode ser entregue em dinheiro, em géneros ou em senhas. No caso de casais, cada parceiro recebe 129 euros mensais e se tiver outros familiares a viver com eles, recebe cada um deles 113€, se forem crianças recebem entre 85 e 92 euros. Quando deixam de viver nas instalações de recepção do Estado as entidades locais assumem os custos de habitação e pagam 216 euros para agregados com uma só pessoa; crianças e outros membros do agregado familiar recebem entre 133 € e 194 € cada.

Os refugiados que se encontrem na Alemanha passam depois de 15 meses a receber 392 €, isto é o correspondente aos benefícios sociais ao nível da assistência social, dos alemães.

Segundo as estatísticas alemãs, de Janeiro até 30 de Junho de 2015, foram feitos 159.927 pedidos iniciais de asilo que se distribuem pelos seguintes países de origem: 32.472 (o que corresponde a 20,3%) da Síria e da República Árabe, 28.672 (17,9%) vêm do Kosovo, 21.806 (13,6%) da Albânia, 10.126 (6,3%) da Sérvia, 8.331 (5,r%) do Iraque, 7.932 (5,0%) do Afeganistão, 4.182 (2,6%) da Macedónia, 3.582 (2,2%) da Eritreia, 2.805 (1,8%) da Nigéria, 2.701 (1,7%) do Paquistão e 37.318 (23,4%) de outros países. (Cf: https://www.bamf.de/SharedDocs/Anlagen/DE/Downloads/Infothek/Statistik/Asyl/statistik-anlage-teil-4-aktuelle-zahlen-zu-asyl.pdf?__blob=publicationFile)

Atendendo ao agravar-se da situação, os estados alemães avaliam, até ao final de 2015, entre 300.000 e 550.000 o número de requerentes a asilo na Alemanha.

Um refugiado do Kosovo ou da Síria não pode ser discriminado, devido à dignidade humana, independentemente se o movem motivos de ser perseguido ou de mera pobreza.

Como se vê os pretendentes ao direito de refugiados têm, a nível económico, no máximo o estatuto de pobres na Alemanha. Muitos deles para poderem chegar até cá, têm de pagar vários milhares de euros a transportadores ilegais, pondo a sua vista em risco como se constata pelas mortes no Mediterrâneo.

Na verdade o nosso bem-estar na Europa e na América do Norte começa a ter o seu preço directo pois tem havido muita gente que se priva para que possamos viver melhor.

A ajuda aos refugiados é uma correspondente compensação ao que ontem aconteceu e hoje acontece nas regiões da sua proveniência. Como o euro não chega a eles então eles têm de se chegar a ele. Atrás de si ficam cidades e aldeias onde o bem-estar não chegou.

Os políticos europeus chegaram ao fim do seu latim depois de tanta guerra-guerrilha que, directa ou indirectamente, fizeram ou apoiaram com os Americanos, desde o Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, até à Sérvia e à Ucrânia e o povo sente-se agora desconsolado. Agora já é tarde para se queixarem da chegada de tantos refugiados da barbaridade e da miséria.

O facto é que quem faz o negócio com as armas não pode ficar ileso; porém para fugirem com o rabo à seringa, falam da necessidade de uma distribuição “solidária” dos que procuram asilo por toda a Europa, quando apenas alguns países espalham a miséria naquelas regiões através das armas que vendem e do dinheiro que suas firmas ganham depois com a reconstrução dos países destruídos.

Com a vinda de tanta gente jovem para a Europa com a população tão envelhecida, o dinheiro que agora emprega nos refugiados é um empreendimento de rejuvenescimento. O único problema virá dos muçulmanos, não como indivíduos mas como grupo que, de uma maneira geral, não se tem integrado, tendo marcado a sua presença mais pela contra-afirmação em relação à cultura acolhedora. Só na Alemanha foram presos 1.500 traficantes de refugiados em 2015.


António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
In Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu

8 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Justo

Muito obrigada por todas as informações interessantíssimas sobre os refugiados na Alemanha. Meio milhão a chegar
este ano!!!
Uma parte é consequência da Primavera Árabe fomentada pelos EUA.
A Europa envelhecida poderá acabar por ter benefício com tanta juventude a chegar. Mas quando é que os refugiados
têm direito a começar a trabalhar?
As melhores saudações

António da Cunha Duarte Justo disse...

Querida Manuela
Tens razão. A Alemanha tem estado a fazer esforços no sentido de dar formação aos que chegam e simplificar o processo de integração no trabalho.
O problema que ficará por resolver serão os guetos árabes; por vezes chega a ter-se a impressão que a estratégia dos Schlepper (rebocadores de refugiados) é desestabilizar a sociedade europeia.

Anónimo disse...

Impressionante!
Tanto a quantidade de refugiados quanto os números gastos em beneficios sociais. Dá para entender porque Angela Merkel proferiu em discurso aos imigrantes seu desejo de contenção de imigrantes. E os demais paises europeus, principalmente Inglaterra e França?
Saudações aos participantes,
Vilson
in Diálogos Lusófonos 17.08

António da Cunha Duarte Justo disse...

Os conflitos armados e a má distribuição da riqueza, a miséria económica, aliados a tradições culturais ou estados que não se preocupam com os mais fracos nem em dar chances à juventude, estão na base da situação actual. Na europa não é fácil falar sobre refugiados com objectividade por razões da opinião pública do politicamente correcto e pelo perigo de extremistas nacionalistas que gostam de usar o tema para propaganda xenófoba. De facto pela quantidade de refugiados no mundo torna-se visível a incapacidade ou não interesse das potências em arranjar soluções para o problema. O povo simples apena vê que os refugiados vêem com custos correspondentes e observam por outro lado que o Estado reduz para ele os benefícios laborais e sociais. A conclusão lógica que tiram é que o que se lhe tira é por causa dor refugiados, embora isso não corresponda em grande parte à verdade. Por outra lado os autóctones vêem na escola seus filhos sentados ao lado de colegas estrangeiros que exigem mais dedicação e por isso a velocidade de aprendizagem se torna mais lenta em termos de classe; contestam por vezes que muitos hóspedes são demasiado exigentes. A Alemanha tem estado a fazer esforços no sentido de dar formação aos que chegam e a simplificar o processo de integração no trabalho.
As elites políticas e económicas, como se vê pelas migrações, falharam redondamente em todas as intervenções armadas feitas e as empresas económicas preferem ver as pessoas a chegarem-se a elas do que irem elas para onde as pessoas necessitadas se encontram.
Enfim, muita desumanidade e problemas para onde quer que se olhe.

Anónimo disse...

O que o amigo António Justo teme é a ameaça visível da divisão norte-sul na União Europeia e, a divisão em alguns países europeus?
A Escócia, no Reino Unido e a Valônia, na Bélgica. E as divergências entre os cidadãos do norte europeu e os sulistas, que os do Norte acusam de preguiçosos e gastadores. Já na Espanha ,os catalães reclamam! E de outras regiões autonômicas da Espanha.
E agora assistimos à pressão migratória na Europa do Mediterrâneo, quando o resto da Europa mantém um certo alheamento? Este é um tema que precisamos de acompanhar e entender melhor.
Peço ao António, para nos dar notícias desta situação na Europa e da resposta ao crescente número de refugiados em países como a França, Inglaterra, Alemanha?

Agradeço ao Mauro e Vilson por terem feito a postagem sobre a crescente migração na Europa.Este é um dos temas preferenciais do dialogos.

Saudações, Margarida
in Diálogos Lusófonos 19.08.

Antonio Justo disse...

Caríssima Dra. Margarida,
O que observo é um mundo cada vez mais caótico em que as linhas divisórias culturais e religiosas entre os seus tradicionais territórios não se abrem ao nível das mentalidades (Até a Turquia já esteve muito mais moderna e aberta que hoje está!) e provocam-se umas às outras, numa estratégia de multicultura contra a intercultura e numa atitude de sobranceria de uns contra os outros! As emigrações em massa hoje em acção em todo o mundo, numa fuga à guerra e à miséria, é de tal ordem que vem fomentar ainda mais os guetos transportando assim as fronteira de mentalidade das diferentes tradições culturais religiosas para o interior de uma Europa que se considera ainda aberta. As fronteiras religiosas/culturais combatiam-se fazendo guerras. No futuro não haverá guerra entre territórios e nações mas guerrilhas dentro das nações. Naturalmente tudo isto acontecerá só sob o pressuposto de não se dar uma transformação radical do islamismo nem uma abertura de mentalidades umas em relação às outras.
O assunto dos refugiados políticos e económicos é muito complicado e controverso. As pessoas não mantêm a cabeça fria ao falar dele ; o fenómeno é tão complicado que os políticos evitam falar dele porque teriam de concluir do falhanço redondo de toda uma política económica seguida em relação aos países menos desenvolvidos e de todas as intervenções militares de resultados desastrosos. Um outro problema tem-se com a opinião pública muito virada para o choradinho. Como resultado de tudo isto a imprensa europeia traz com ela a tesoura na cabeça. Uma conversa sobre refugiados é bastante controversa e leva cada vez mais pessoas a não falar sobre este tema ou evitar falar dele; o mesmo acontece em assunto de religião e de política (Os mais jovens acham estes assuntos muito complicados e preferem a abstenção e as pessoas mais pensativas não estão para entrar em discussões que se poderão tornar azeda, além disso tenho a impressão que a sociedade é, intelectualmente, cada vez mais intolerante com cada um virado para as suas coisas. “Na casa onde falta a razão (pão) todos ralham sem razão”!
Segundo as últimas estatísticas só na Alemanha entraram em Julho 3.700 refugiados por dia. Momentaneamente 40% deles vêm do Kosovo e da Albânia. Por vezes dá a impressão que se assiste a uma estratégia nova do islamismo. A Alemanha tinha feito para 2015 um prognóstico de entrada de 300.000 refugiados; entretanto as prognoses oficiais partem já de 800.000, o que exige uma grande correcção do orçamento a nível de Estado e comarcas. Infelizmente as pessoas falam de refugiados quando deveriam falar do islamismo e da hipócrita política do ocidente em relação ao um mundo também ele falso porque não conhece o compromisso nas mesas de conversação, segundo a ideia aceitar um compromisso significa perder a honra.
Saudações cordiais
António Justo

Anónimo disse...

Meu pai, imigrante, com apenas 4 anos de escolaridade, mas que desde os 14 anos trabalhava e lia tudo que lhe vinha à mão para se instruir ( era um bem informado autodidata), quando via discursos políticos com caris populista, dizia na sua visão de homem simples mas perspicaz:
“ Minha filha, já viste algum partido político querer se suicidar? Se eles resolvessem inteiramente os problemas que afligem as nossa vidas, não precisariam mais existir...”

Eduarda

António da Cunha Duarte Justo disse...

Prezada Eduarda,
Seu pai era sábio porque entendia da conexão das coisas e da realidade do Homem e da sociedade.
Certamente que todo o cidadão consciente da realidade social democrática e dos diferentes interesses presentes na sociedade tem de reconhecer o valor dos partidos como representantes catalisadores de diferentes interesses. A exigência crítica do cidadão contra a corrupção institucional e partidária tem que ser cada vez mais alargada e organizada para entrar na consciência popular. O Brasil tem um grande exemplo de pessoa honesta e isenta que é o juiz Sérgio Moro. Pessoas destas são necessárias em todas as esferas da sociedade. No passado quem orientava o mundo era a economia e a ética religiosa; hoje quem cria a consciência social que orienta o mundo é a economia e a ideologia marxista (esquerdismo sub-reptício por vezes necessário mas em demasia estraga). A escola e a imprensa têm aqui uma grande função. Estas encontram-se porém sob o jugo de ideologias espalhadas por organizações de topo internacionais. Uma grande parte de políticos servem interesses anónimos sem reflectir pensando que seguem interesses imediatos próprios ou de partidos. O valor da pessoa e o bem comum são-lhe apenas de interesse na medida em que os servem individualmente ou na escala para assumir poder.
António Justo