Será que os melhores que Portugal produz emigram!
António Justo
Da realidade que se observa da presença de personalidades portuguesas a
actuar no palco internacional, fica-se, por vezes, com a impressão que “Portugal” é bom para governar o mundo e
mau para governar o país. Parece fatídico que Portugueses desenvolvam a sua
categoria de grandes personalidades fora de Portugal, quando o ambiente
político português só lhes possibilitaria o papel de personagens unilaterais de
mérito nacional a nível de partido ou de ideologia.
Portugal dá tudo, dá os melhores emigrantes e as melhores personalidades
para um mundo que ainda se preocupa em colocar personalidades de países menos
relevantes em posições onde os seus interesses são jogados. Ao contrário, a
Alemanha manda para as instituições internacionais o seu pessoal de reserva,
mantendo para as internas o melhor.
O Conselho de Segurança das
Nações Unidas (CSNU) nomeou, de forma definitiva e oficial, António Guterres
como seu escolhido para Secretário-geral.
A partir do dia
da comemoração da República (5 de Outubro) ficamos a saber que António Guterres
ocupará o cargo de cimeira das Nações Unidas a partir de 1.01.2017 por cinco
anos, sucedendo a Ban Ki-moon. Foi proposto, pelo CSNU, à Assembleia Geral da
ONU, onde será eleito seu Secretário-geral. Depois de lhe ter sido aplanado o
caminho pelo decisivo Conselho de Segurança com 13 a favor dos 15 votos (todos
os estados membros permanentes do Conselho de Segurança, China, EUA, França, Reino
Unido e Rússia votaram a favor), será certa a sua eleição onde precisa de uma
maioria simples de 193 votos.
Sem medo de se opor aos poderosos como demonstrou no cargo de Alto-comissário
para os Refugiados, de 2005 até 2015, a
ONU escolhe agora para seu chefe, um homem que se encontra mais perto do mundo
porque anda com o povo, com os pobres. Aprendeu
a humildade e a ajuda nas favelas de Lisboa quando aí trabalhava no movimento
estudantil Católico. Manteve a humildade que evita populismos e reúne em si
o idealismo e o pragmatismo numa vida guiada pela utopia.
Compreende o seu papel de Secretário-geral no sentido de "Aparecer com humildade sem
arrogância, sem dar lições a ninguém, mas atuar como um facilitador, como um
catalisador. Como um mediador honesto, um construtor de pontes e como uma voz
para a paz."
Com a escolha do engenheiro Guterres afirma-se a competência e o empenho pessoal,
além do bom trabalho da diplomacia portuguesa. Com a derrota da candidata concorrente
Kristalina Georgieva, apoiada por Merkel e a vitória da personalidade de
Guterres, temos bons sinais de que a ONU, no futuro, será menos instrumentalizada.
Com Guterres a ONU ganha o campeonato da conciliação. Como candidato prometeu
ocupar metade de todas as posições de topo com mulheres.
O perfil de Guterres, socialista
católico, é um exemplo prático e apelativo para as elites portuguesas em geral
e para os socialistas em particular. É uma personalidade rara na esquerda
portuguesa devido à sua capacidade de integrar a tradição católica e o progressismo
socialista e deste modo dar o bom exemplo de mais que um personagem do partido
ser uma personalidade patriota. Consegue unir exemplarmente na mesma pessoa a tradição e o progresso, o
povo e o mundo, consegue o que os partidos lusos não conseguem numa sociedade
extremamente dividida pelos fossos da república mais interessada em dividir
para reinar do que em unir para progredir (1). Guterres é o exemplo de um homem
fazedor, moderado e conciliador para Portugal e para o PS, numa comunidade
ainda por construir.
O antigo Primeiro-ministro
de Portugal de 1995 a 2002, continuou sempre fiel ao seu dizer: “não quero ser
árbitro, quero jogar à bola, quero estar no campo, ter acção, intervir
constantemente”. Até parece paradoxal o facto de um homem inteligente e simples
conseguir colocar Portugal nos cornos da lua.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do
Espírito no Tempo http://antonio-justo.eu/?p=3886
(1)
Tive o prazer de conhecer António Guterres e
de ser tradutor dele numa reunião realizada em Dortmund. Apoiei-o no início dos
anos 90 nas eleições do congresso para secretário-geral do PS por ver,
representada nele, aquela parte de Portugal que a ala mais esquerda desprezava
e despreza. Depois do Congresso voltei desiludido à Alemanha por ver o espírito
jacobino de grande parte do PS; decepcionado, por considerar o PS incapaz de
unir um povo estruturalmente fraco porque demasiadamente dividido, coloquei o
partido ad acta. Tive na altura a impressão que também radicais da esquerda
portuguesa se aproveitavam do ingresso no PS porque lhe oferecia mais
oportunidade de postos do que partidos sem coligações governamentais; observei
como representantes do partido se aproveitavam do estatuto para as suas
excursões de interesse privado.
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