Da Documentação
filmada “Escolhido e marginalizado” - União antissemita alarmante entre extrema
esquerda e extrema direita
António Justo
A palavra de ordem “Judeus para o
gás” que partiu de uma manifestação pro-palestinense em Berlim em 2014 parece
constituir método e lema antissemítico cultivado nas comunidades muçulmanas e
em ambientes extremistas da Alemanha. Judeus que tragam a gorra judaica na
cabeça são frequentemente vítimas de discriminação especialmente por árabes.
O Centro de Pesquisa e Informação
sobre Antissemitismo (Rias) apresentou um artigo sobre o antissemitismo em
Berlim em 2017 segundo o qual houve 947 incidentes e, destes, 288 foram
considerados crimes antissemitas (1).
O ódio aos judeus na Europa
testemunhado no documentário “Povo escolhido e marginalizado” (“Auserwält und
ausgegrenzt “) mostra uma perspectiva chocante do avanço do antissemitismo (2).
A documentação filmada surpreende pela anuência antissemita implícita à extrema
direita, à esquerda radical e a muitos dos palestinenses.
Em tempos de crise (3) o
antissemitismo aumenta e exige mais bodes expiatórios a ser sacrificados.
Geralmente na opinião pública discutida, filmes contra
Israel não são analisados sob o aspecto do anti judaísmo. Esta documentação, ao
contrário, entre propaganda e jornalismo, procura alertar para o tradicional
antissemitismo na Europa acrescido pelo antissemitismo árabe. A documentação
embora trate do antissemitismo na Europa teve de dar espaço ao Próximo Oriente
porque de lá se alimenta atualmente grande parte do anti judaísmo europeu. O
filme pode contribuir para uma certa balance nas opiniões e para impedir a
espiral do ódio em via contra os judeus. A dependência do petróleo e o peso dos
muçulmanos nas perspectivas partidárias pesam muito na formação da opinião
pública.
O filme pretende chamar a atenção para o anti-semitismo
galopante na Europa e para o tornar compreensível aponta para o Médio Oriente
que o fomenta. Um problema que é tabuizado na nossa sociedade porque não se
encaixa no alvo das nossas noções…. Tem-se a impressão que os Estados para
poderem continuar a subsidiar indiscriminadamente a causa dos palestinenses não
estão interessados em que se mostrem os aspectos negativos deles.
Seria mais interessante mostrar as falhas das duas
partes, mas como a documentação partiu da realidade de uma opinião pública de
informação de tendência propalestinense e módica em publicar o terrorismo
palestinense, os organizadores da documentação não se preocuparam em mostrar os
aspectos de que geralmente a imprensa fala.
A redacção da ARD queria boicotar a emissão, mas Bild
Zeitung publicou imagens da reportagem, forçando a ser publicada apesar da
maioria da opinião pública alemã ser pró palestinense. A reportagem chama a
atenção para o antissemitismo na Europa o que não se encaixa na nossa
imaginação. Vitimamos os judeus e consideramos vítimas os que os atacam,
assumindo assim o papel de traumatizados como que num desejo inconsciente que
outros os vitimem para podermos sentir-nos entre iguais.
Naturalmente, o que acontece em Israel/palestina
influencia a opinião pública e encontra eco na população muçulmana emigrada
para a Europa, de modo a Europa cada vez se tornar mais em palco dos problemas
do Médio Oriente. Em Berlim têm sido queimadas bandeiras de Israel em
manifestações pró Palestinenses. Em reacção ao reconhecimento de Jerusalém como
Capital de Israel por Donald Trump, também então manifestantes queimaram
bandeiras de Israel. Querem com isto demonstrar a negação de Israel. É
lamentável que a Europa se torne palco de situações como esta; não nos
encontramos em Teerão onde a tolerância se limita à própria religião. É fatal
quando demonstrantes não reconhecem o direito de existência a outros. Na Suécia
também houve, na altura, um ataque a uma sinagoga.
O medo de errar na apresentação de um assunto onde há
injustiças de um e do outro lado, não legitima a transmissão de uma injustiça e
calar a outra.
Urge discutir factos e contextos de antissemitismo aberta
e honestamente e sem adornos nem despeitos. Na Alemanha discutiu-se muito sobre
a documentação apresentada e pouco sobre o tema do antissemitismo. Por
aqui se nota quão longe estão os judeus de poderem ter uma vida normal e
tranquila entre nós.
O presente antissemitismo na Europa obriga muitos judeus
a ir para Israel (4). Tanto israelitas como palestinos cometem erros, não
podendo isso servir de desculpa para uns nem para outros.
A educação muçulmana, o conflito no Médio Oriente com a
humilhação dos palestinenses, a negação do direito de existência aos judeus em
Israel, o Corão e outros escritos do islão têm claras instruções antijudaicas
que favorecem a antissemitismo. No Corão são vistos como “macacos e porcos”.
Em Israel, o único Estado democrático na região, também
há judeus comunistas e anti sionistas.
A demonização dos judeus já é velha (vindo dos primórdios
em que judeus e cristãos se debatiam pela existência e posteriormente o lado
escuro da cristandade em relação aos judeus). O facto de hoje lhes ser negado o
direito a ter um país, segundo a opinião de muitos muçulmanos, corresponde a
uma posição de antissemitismo eliminador.
Também se usam medidas duplas em relação às falhas dos
soldados judeus sem se falar do que fazem outros soldados em África, etc...
Muitos israelitas sentem-se tratados como bichos-papões. Um outro preconceito é
ver os judeus no estrangeiro como cúmplices da política Israelo-palestinense.
Muitos outros escondem o seu antissemitismo na posição contra o capitalismo
internacional. Depara-se com um antissemitismo imanente como se os judeus não
tivessem direito a defender-se e tivessem de assumir o papel que tiveram no
nazismo.
Em vez de se fomentar o encontro e a permuta fica-se pelo
sentimento de impotência.
Os velhos ressentimentos da Europa em relação aos judeus
serão difíceis de se extinguir, apesar da Europa e do mundo deverem tanto aos
judeus.
Da educação para o ódio e do terrorismo do Hamas não se
fala, não passa bem na opinião pública europeia que se quer preconceituosa em
relação aos judeus. O discurso do ódio e da intolerância também é transmitido
sub-repticiamente com imagens de crianças que choram em reportagens que não
mostram que elas são vítimas das duas partes.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=5628
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