sexta-feira, 28 de maio de 2010
OS DANÇARINOS DO PODER E AS REPÚBLICAS (2)
O Mal da Nação é a sua Governação
António Justo
No poleiro da nação, de “revolução” em “revolução ”, os galos continuarão a cantar sucessivamente a repetida canção contra os regimes anteriores, encobrindo a sua miséria ao povo e não dizendo porque este continua, como então, na companhia das nações da cauda da Europa. Vive-se dum facilitismo de conteúdos abrilhantados por requintes administrativos caprichosos e da fulgurância de rostos mascarados nas televisões. Há a ideia de que, para o proletariado, chega um pouco de futebol e de sexo (preservativos nas escolas) como se bastasse a Portugal tornar-se dia e noite num bordel.
A nível interno, destruíram-se as escolas profissionais e humilharam-se as pequenas e médias empresas em favor das multinacionais; a rudimentar agricultura que tínhamos foi destruída em favor das potências agrárias europeias; as pescas também. As pequenas e médias empresas são regulamentadas de cima para baixo sem experiência nem visão nacional. Políticos tornam-se comparsas de secretária emanando projectos e projectos-lei, preparados por assessores, à margem da realidade, contra a vontade dos empresários. Amigos do fácil julgam que um estado se põe em ordem com leis de controlo empresarial, num Estado sem política profissional nem empresarial. O mesmo se constata na política de ensino.
A inveja e um espírito rival tacanho, visível também a nível de académicos e de administração, não reconhece a necessidade dum empresariado e dum operariado forte queixando-se até que não possuem o privilégio destes, o privilégio de poder fugir aos impostos; como se na fuga aos impostos estivesse a oportunidade da nação. Não há colaboração e intercâmbio entre poder político e empresarial; apenas a subjugação ou uma relação de cumplicidade com as empresas grandes que proporcionam tachos parasitas a políticos e comparsas. Fora disto, cada qual que se safe. Na Alemanha as pequenas e médias empresas são apoiadas e respeitadas pelo Estado. Constato que empresas pequenas alemãs que empregam emigrantes portugueses os levam para Espanha, Arábia Saudita, Itália, onde trabalham para elas. Portugal exporta pessoas à deriva que outros aproveitam. Uma Universidade abstracta e não relacionada com empresas locais, produz bons técnicos teóricos que depois se corrompem nas filas do desemprego ou se perdem nos meandros da emigração. As remessas emigrantes superiores a um bilhão e meio de Euros por ano não deveriam desobrigar a elite portuguesa de continuar a adiar Portugal.
No centenário da República o único facit possível seria: acabar com o nepotismo, com o espírito capelinha e com a patidocracia para começar com uma república nas mãos de pessoas com espírito de povo e não de jacobinos seculares ou quejandas. Os festejos da República provarão o contrário.
Portugal sobrevive na dependência das remessas da União Europeia e de Emigração, com boas estradas e uma tecnologia moderna da administração do Estado, a troco da soberania e da própria iniciativa na qualidade de país. Não avança porque não tem ideia própria de si e dos outros; abdica de pensar para se deixar levar por uma elite de espírito parasita com mentalidade de feitores. De feitores de ideias e de interesses estrangeiros num país violado.
Um Portugal novo precisa duma nova geração com uma mentalidade que rompa com a tradição oportunista e com o nepotismo vaidoso em vigor. Portugal não pode continuar envelhecendo no piso da maratona, sempre a correr, a correr sempre e só atrás do progresso.
O sacrifício dos portugueses tem-se repetido ciclicamente como as repúblicas e tem sido em vão. Só serve uma elite arrogante e persistente de sempre novos-ricos (na sequência dos antigos barões gerados à custa dos bens roubados à Igreja) que traduz mal as novidades do estrangeiro.
Um grande problema da sociedade portuguesa é o facto de ser pequena e as suas elites se encontrarem aparentadas entre si continuando a tradição da velha sobranceria dos de “sangue azul” ou duma honra empolgada herdada dos mouros. O entrelaçamento de interesses políticos, económicos e culturais num parentesco elitista médio-superior impede a criatividade e a concorrência, reduzindo a administração e as empresas a lacaios da política. Esta situação dá continuidade ao espírito senhorial de feitores. A nossa elite progrediu de barões para novos-ricos superficiais que se contentam em boiar na onda internacional com uma democracia de Antónios, Josés e Maneis, à imagem das telenovelas: uma democracia proletária “progressista” que acabou também com o rosto individual do nome de família. Este reserva-se aos doutores e às vedetas de casa.
Encontramo-nos num sistema de espírito golpista que só conhece o Estado e, por falta de ideias próprias, aposta na confusão. Tudo vem de cima como se constata numa mentalidade de vaca leiteira política, económica e cultural. O tecto metafísico do Estado é constituído por uma perspectiva superior de bocas direccionadas para as tetas da vaca leiteira. Os mamões encontram-se conectados ao Estado, o resto é vaca (Povo) a pastar na relva (Nação). A moral é o leite pasteurizado, já tão avançado e espiritualizado que não deixa reconhecer o espírito da teta. A crise do sistema acentua-se porque já não só as elites mamam o povo como também parte do povo já se ajeita a seguir o exemplo dos grandes, querendo para ele um Estado vaca também.
Portugal tem uma face moderna, à frente na moda; apraz-se nos seus peritos, aceita tudo o que vem de fora porque não tem nada para guardar ou defender. A elite política esforça-se apenas por jogar na liga internacional. O povo educado para a ingenuidade deixa-se levar pelos espertos e já se sente contente em poder assistir ao jogo nas bancadas. Aposta no internacionalismo e nos da gala internacional participando em objectos de prestígio ou em projectos estranhos como o Afeganistão destinado à derrota, e na compra de armamento estratégico como se tivéssemos algo português a defender e o povo fosse rico. As nossas águas foram entregues às frotas dos vizinhos, a agricultura aos franceses, o comércio aos chineses e a indústria às internacionais; tudo isto sem compensações.
A elite atraiçoou a alma atlântica de portugal para seguir os ventos de Leste e depois encostar-se à Europa central, esqueceu-se da América Latina, da Ásia e da África e com isto abandonou o futuro.
O Estado, na falta duma política lusa, refugia-se agora na vaidade das grandezas da língua e na figura que alguns portugueses fazem pelo mundo. Gloria-se por ser pioneiro na aplicação das tecnologias na administração estatal (que favorece ainda mais o centralismo hegemónico) como se a nação fosse apenas constituída pela sua administração. A partidocracia com os seus barões e os seus “boys” serve-se, não fomenta a consciência de cidadania. Basta-lhe apoiantes, coladores de cartazes e os ardinas da política e do Estado.
Até gente bem formada repete, como o papagaio, os refrães de Abril sem base nem capacidade crítica. A maioria vive do ouviu dizer, do “está escrito” ou do “tem que ser”.
A pobreza obriga. Trabalha durante a semana na perspectiva do “Domingo”. Não há reflexão nem consciência de nação. Vive do dia a dia. Não nota a destruição sistemática do ensino e da família; sem bases analíticas, não suporta modelos nem exemplos, vive da ideologia com seus santos. Pensa-se que no estrangeiro, para se viver, basta abanar a árvore das patacas. O irrealismo das nossas elites e o seu distanciamento do povo verifica-se também nas discrepâncias de salários e nos vencimentos que as elites exigem para os seus serviços, muitas vezes superiores aos do estrangeiro. Cobertos pelos mantos da política e das ordens (advogados, médicos e alguma “confraria”) constituem guetos desintegrados da República. Falta a coesão social e política.
Exploram as pequenas e médias empresas sem lhes deixar possibilidades de fundo de meneio para inovar e investir. Uma mentalidade de honra empolgada em bacharéis, professores, mestres e doutores não suporta a honra do trabalho manual. A ilegalidade torna-se para o trabalhador numa necessidade e na procura desesperada da honra numa nação violada.
Na realidade, tal como à superfície do mar, nas ondas, assistimos a duas forças aparentemente contrárias: coesão e dispersão das quais surge harmonia e vida como podemos verificar na praia. O problema da harmonia social está na dispersão sem uma força coesiva integradora e numa matriz de pensamento também ele de carácter polar (Divide para definir, divide e impera). Falta a visão da perspectiva do profundo que reconhece todo o movimento, todo o desejo como complementar. Na falta desta consciência dominam as forças contraditórias repetitivas de afirmação/negação à custa do próximo. Água reúne força e fraqueza numa união integral que reconhece conexões e integra toda a realidade; o mesmo se deveria dar dentro dum povo e entre todos os povos. A realidade da superfície supera-se na experiência da profundidade comum a tudo. Não chegam as forças (horizontais) bipolares do diálogo mas sim a realidade bipolar da relação eu – tu integrada na dimensão do nós (todo integral). A matriz político-social e de pensamento que orientou a História das nações e dos povos não tem respeitado o princípio da coesão. Para a ultrapassar teríamos de passar da matriz bipolar da dimensão do diálogo Eu – tu (egoísmo - altruísmo), para a matriz integradora do terceiro elemento, a dimensão complementar do triálogo eu-tu-nós. A filosofia subjacente ao partido (não inteiro), apesar da nova consciência subjacente à física quântica e à Trindade, continua a basear-se na força dispersiva, na auto-afirmação em relação a um tu tornado objecto.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário