sábado, 8 de maio de 2010

Portugal poupado na Acção de Apoio à Grécia

ALEMANHA APOIA A GRÉCIA MAS SEM CONVICÇÃO
Portugal poupado na Acção de Apoio

António Justo

Encontramo-nos numa crise financeira inédita, numa odisseia política sem fim. A Alemanha, um país com grande responsabilidade na EU, não podia apressar-se na decisão de apoio à Grécia porque sabe que o vírus a eliminar se encontra no sistema bancário mundial e na EU.

No Parlamento alemão, a lei de apoio à Grécia foi aprovada com 390 votos de deputados a favor, 72 contra e 139 abstenções. A Chanceler Ângela Merkel lamentou o facto do SPD não ter apoiado a acção.

A Alemanha depois de hesitar em fazer de bombeiro votou a lei que autoriza o empréstimo de 22.400 milhões de Euros à Grécia nos próximos três anos. A primeira prestação de 8.400 milhões será já disponibilizada

Os Estados com maior crise na EU poderão suspender o pagamento do seu empréstimo à Grécia. A legislação votada no parlamento alemão prevê: “No caso dos credores terem custos de juros de refinanciamento superiores aos juros que os devedores pagam no âmbito do contrato de empréstimo, podem requerer a não participação no pagamento da próxima prestação”.

Portugal pode optar pelo não pagamento da próxima prestação, dado ter de pagar no mercado bancário internacional uma taxa de juro superior aos 5% que receberia do crédito à Grécia. Em contrapartida, Sócrates terá de renunciar a projectos que só iriam aumentar a crise portuguesa. Portugal tem de empenhar-se mais em investimentos produtivos.

O preço do euro desce no mercado internacional, os produtos importados de fora da zona Euro encarecem; a gasolina torna-se mais cara. Isto parece não preocupar o Estado porque em cada litro de gasolina recebe 86 cêntimos de imposto e quanto mais cara a gasolina mais o estado recebe.

A Alemanha tem sido criticada internacionalmente pela mora no apoio à Grécia. Em nome da humanidade acusam o vice-campeão mundial de exportações (a Alemanha) de agravar a situação não acudindo logo à catástrofe. Esta opinião parece ignorar que as chefias bancárias é que têm orientado a política e a população alemã exige, em contrapartida mais rapidez nas reformas de regulação do mercado financeiro. Neste sector a EU ainda se tem mostrado mais temerosa que os Estados Unidos da América. Falta ao Euro uma visão europeia.

A EU não pode acusar o “made in Germany” de proteccionismo se a EU não tem o controlo do sector financeiro e permite às direcções dos bancos o abuso, com antes da crise, e por outro lado subvenciona os produtos agrícolas europeus contra a concorrência exterior.

O ressentimento contra a Alemanha é uma moeda de mau pagador. Os políticos estão interessados no “continuar como até agora”. A Alemanha precisa mais tempo para a decisão não só por razões de grupos especuladores mas especialmente porque o cidadão alemão exige muita discussão pública, ao contrário do cidadão latino. Sócrates, Zapatero, Berlusconi não são tão controlados e não precisam de sofrer grandes consequências pelas decisões que tomam.

Não há bombeiros capacitados para apagar o fogo que começou na Grécia e se alastrará por toda a Europa e com ela às nações industriais que continuam a subsidiar os abutres das finanças internacionais. É um escândalo que estes ainda não paguem um imposto de transacção e ganhem com as crises que provocam. O povo grego protesta e com razão porque tem de pagar a factura enquanto que os especuladores e as grandes multinacionais se safam. Safam-se porque têm os governos como reféns e o povo à disposição. O turbo-capitalismo precisa de quem lhe faça frente.

António da Cunha Duarte Justo

Alemanha

1 comentário:

Anónimo disse...

AINDA DIZEM QUE NÃO HÁ BRUXAS...
Eça de Queirós, em 1872:
«Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá... vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se, a par, a Grécia e Portugal.»