MILITARES DE ABRIL QUEREM SAIR DE NOVO PARA A RUA
O Protagonismo político camuflado na A25A
António Justo
A “Associação 25 de Abril” (A25A) fiel à ideologia inicial do seu “Abril
não desarma” declara que “não participará nos actos oficiais nacionais
evocativos do 38.º aniversário do 25 de Abril” mas sim em comemorações
populares; isto traduzido em texto claro significa: participará em
comemorações arruaceiras. A A25A quer ver os seus militares abrilistas na
rua a fazer barulho antes que sejam chamados a responsabilidades de acções antipatrióticas
outrora praticadas. Nestes festejos, a sociedade portuguesa deve estar atenta
não só aos que comemoram a oficialidade como também aos mais populistas, aos
que agora afirmam ser “conscientes das obrigações patrióticas que a nossa
condição de Militares de Abril nos impõe…”, aos que, oportunamente abandonam as
bancadas, como faz agora Soares. Só assim, os portugueses poderão concluir do
conluio entre irresponsabilidade política e popular para se poder tornar imune
contra o oportunismo da ideologia e da rectórica alienante.
Aproveitando-se do mal-estar português, a A25A torna-se porta-voz de
recalcados anseios dos seus “Militares de Abril” por um novo Golpe Militar. A A25A apoia descaradamente a opção militarista como solução para os
problemas de Portugal, como se Portugal fosse uma república das bananas
interessada na solução árabe para Portugal. De facto, a A25A, no seu manifesto,
confessa, para quem lê nas entrelinhas: “declaramos ter plena
consciência da importância da instituição militar, como recurso derradeiro nas
encruzilhadas decisivas da História do nosso Portugal”. Portugal “nosso”
deles…
Continua-se com a mesma oratória de há 200 anos para cá, como se os
problemas políticos e sociais das sociedades modernas pudessem ser solucionados
com uma rectórica partidária irresponsável. Têm ainda a insolência de afirmar:
“a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas”, como se
esta acção demagógica não partisse de pessoas ligadas às instituições de
soberania como é o caso de Militares e não fosse apoiada por pessoas como M.
Soares.
Afinal, quem são os “Militares de Abril”? Uma aparição salvadora? O
protagonismo político, que a A25A cobre, é irresponsável, num momento em que
Portugal ferve e deveria reflectir sobre si mesmo e sobre estratégias isentas
para sair da crise. Fala-se do Militares de Abril como se na terceira república
não tivéssemos também os militares de Novembro. Será que as forças militares se
sentem obrigadas a ideologias ou estará a facção abrilista interessada em criar
o caos em Portugal?
Os interesses da facção dos “Militares de Abril” e seus aliados, em tempos
de crise, descobrem a rua e muitas autarquias locais como campo de acção, para,
à custa do mito de Abril (Primavera) poderem continuar a vestir a pele de
cordeiro e poderem, no ribeiro popular, afirmar que quem “suja” a água não são
eles mas os outros, os maus. Camuflados dos ideais de
liberdade, justiça e libertação enganam o povo dizendo “A A25A participará nas
Comemorações Populares e outros actos locais de celebração do 25”. "Abril
não desarma"! Que armas têm estes militares?
É cinismo verificar como “Militares de Abril”, que, com os seus cúmplices
de partido, atraiçoaram os interesses de Portugal, a nível internacional, se
querem agora aproveitar da crise e das insatisfações do momento bem como
correspondente descarga de culpas no estrangeiro. A culpa morreu solteira,
sabia também o povo de antigamente! Em nome de Abril, a terceira república
meteu a carroça da nação na lama e os seus beneficiados querem-se agora ilibar,
armando-se em libertadores da nação. Oportunos, falam agora mas não quando
deveriam ter falado! Coisa semelhante aconteceu na primeira república que
depois deu origem à do Estado Novo. A Nação portuguesa já está habituada a ser
o bombo da festa de oportunistas à espera do momento para assaltar o Estado.
Quem provou os seios do Estado foge do povo para se alimentar dele. Da situação
de Portugal somos todos responsáveis, a não ser que pretendamos a
confusão dum estado para mamar e doutro para acusar!
Na sua ética e moral jacobínias atiram pedras escondendo-se por trás de
palavrinhas mágicas como liberdade, cidadania, etc. Do alto do barranco do
protagonismo político da A25A, pretendem a sua “Integração plena na sociedade
portuguesa” como se eles não se tivessem de integrar na sociedade portuguesa. Esta
mentalidade tem sido o cancro da nação: em vez de se pretender integrar as
partes no todo pretende-se reduzir o todo à parte!
Que as condições mercantilistas impostas a Portugal devam ser contestadas é
lógico mas que o movimento republicanista se lave as mãos da lixeira por ele
criada, ultrapassa os limites do tolerável.
O que falta em Portugal é o sentido dum trabalho produtivo, um voltar à
terra e ao povo deixando a ideologia que apenas serve os privilegiados, os tais
de “corpo inteiro”, já que turbo-capitalismo e esquerdismo só valorizam o
trabalho à custa da dignidade humana. Os quadros da ideologia e da economia,
esses, os senhores da ética (que enriqueceram à custa do 25 falam agora de
“ética como “palavra vã”) são os novos-ricos alimentados à custa da exclusão
social e de dinheiros da UE. Senão observe-se a excrescência que o 25 de Abril
tem produzido: gente esfomeada do dinheiro e da ideologia a viver em nichos e
uma pobreza cada vez mais envergonhada no povo. Enriqueceram à custa da
revolução e à sombra da revolução atiram pedras sabendo bem que quem paga a
crise não são eles, os encostados à Nação mas sim o povo que a alimenta.
Construíram um Portugal dos oportunos (somos dos países com mais cargos em
instituições internacionais e vêm agora queixar-se que “Portugal não tem sido
respeitado entre iguais”. Precisam dum Portugal vítima
para não terem de ser chamados à responsabilidade. Os delinquentes são sempre
os de fora! Para si só importam o marisco!...
Falam de barriga cheia porque sabem que a crise, seja ela qual for, só
ajuda os das margens da esquerda e os das margens da direita. A terceira república fomentou, entre coisas boas e más, a
irresponsabilidade, o medo sub-reptício, o conformismo e o oportunismo; tudo
isto em nome do combate ao fantasma de Salazar, pensando que se pode viver à
custa do trabalho dos outros. Lavam os seus erros nos erros de Salazar. O povo
não come moral nem ideologia e neste momento o que tem é fome, fome de justiça
e de trabalho digno e de honra ganha com o próprio esforço.
Os Militares revolucionários de Abril queriam-nos um protectorado de Cuba,
Pequim e Moscovo e, agora, no seu camuflado de libertadores abrilistas,
acusam-nos de sermos um “protectorado”. Protectorado não é porque Portugal
conhece bem o sol do oportunismo e a sua situação de terra maninha, a terra do
que é mais forte. A nossa História dos últimos séculos só dá razão aos fracos
no momento em que servem de plinto para os mais fortes subirem.
No manifesto da A25A, incapazes (a situação em que nos encontramos é disso
a prova) acusam Portugal de ter “dirigentes sem capacidade autónoma de decisão”
como se não tivessem sido eles, também, quem na altura abdicou de Portugal para
se deixar ir na corrente mais forte.
O regime da terceira república configurou a Constituição Portuguesa e o
povo na afirmação dos seus ideais e valores ideológicos e numa estratégia de
derrube de tudo o que cheirasse a tradição ou a ética da responsabilidade
pessoal e institucional. O povo dançou e dança nele ao
toque das bandas políticas deles e da moda; agora sofre as consequências e os
organizadores da festa têm o desplante de se armarem em homens bons. Porque
“Abril não desarmou”, Portugal chegou onde chegou. Há 38 anos os militares
de Abril na “convicta certeza „ de só eles serem os porta-vozes do povo,
quando, o que fizeram foi substituir um regime autoritário por outro, e
permanecer na sua “convicta certeza” de só terem certezas para oferecer,
esquecendo que o que faz um povo crescer é a dúvida metódica. Se “Abril
não desarma” o povo encontra-se em guerra: a guerra do oportunismo só serve os
tais que sempre vivem encostados à “convicta certeza” como quer a A25A.
Ontem como hoje os portugueses gritaram e gritam por liberdade; ontem como
hoje os responsáveis falam da culpa dos outros e o mesmo povo entra no jogo não
notando que está sempre a canto! O que Portugal precisa não é de revolução, o
que o precisa é de responsabilidade. Quem aposta na culpa dos outros precisa
de um inferno para eles! Esquece que o paraíso que tem para oferecer é o
inferno dos outros também!
"Viva Portugal", termina o manifesto. Os mercenários
internacionalistas de outrora camuflam-se agora de patriotas e gritam a palavra
oportuna do momento: Viva Portugal!
António da Cunha Duarte Justo
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