António Justo
Chegou o Advento vem o
Natal. Aquele tempo em que optimistas celebram e pessimistas lamentam,
produzindo a harmonia das notas do Universo. Uns cantam em bemol, outros em
allegretto (sustenido). Para todos é Natal em cada dia: uns na alegria do gerar
outros nas dores do parto.
Se não fosse a referência
de Lucas no seu evangelho de que Jesus nasceu num curral de pastores com os
anjos a cantar e os reis magos a visitá-lo, certamente que a ideia do presépio
não se teria vulgarizado e o mundo seria mais frio. Independentemente da
exactidão histórica do relato, imaginem como seria frio e sombrio o mês de
Dezembro, sem a festa de Natal. Lucas quer com a sua narração dizer que do seu
presépio surgirá o amigo dos pobres (dos pastores que eram então a classe mais
baixa da sociedade). Das baixezas dum curral surge a luz da justiça a preparar
a paz. A fé nesta mensagem é o contraponto da fé nas acções da bolsa e da fé
dos milhões que levarão a paz apenas aos mercados financeiros.
No Natal a vida reúne-se
em festa. A natureza unida toca-nos porque lá no íntimo do presépio, de cada
um, flagra uma chama, sorri uma criança. Quem ama não está sozinho, encontra-se
à lareira do presépio onde se encontram pessoas, animais, pastores e reis sob o
mesmo calor. No presépio do mundo, somos todos reis a seguir uma estrela, a luz
do horizonte.
No Natal, independente do
credo, celebra-se a humanidade, por isso Natal é a festa de todos, a festa mais
humana de todas as festas. Nela o mundo muda, nós mudamos; é natal, a vida a
jorrar em tudo: Deus a tornar-se homem para podermos ser criança.
Lá fora na praça a sede
dum tempo novo passa. No chão as leis, enlameadas, tornam a praça escorregadia.
No ar sombrio dum tempo árido, se ergue, nas nuvens da amargura, o gralhar da
dor de doentes, desempregados, desiludidos e não amados. As sombras invertidas.
Ruinas de vida, no chão, estendidas. Esboços no chão, à espera do presente da
vida.
Neste dia em que nada
acontecia marquei um encontro comigo. A consoada estava demorada; em casa,
sozinho, descanso das compras. No recolhimento, ouço alguém que bate à porta. -
Quem é? - É um Jesus fugitivo, que precisa de pausa, para descansar do estresse
do dia. - A minha porta está aberta mas a minha casa desarrumada. - Não
importa, o que conta é a porta aberta para poder entrar e comigo a paz. Muitos
têm a porta fechada, com os meus presentes amontoados à porta... - Como vês só
tenho aqui umas rabanadas, uns bolos e o resto por acabar de fazer. Que
desejas? – Quero amor, aquela parte de mim, que tu és. -Eu amo e tu és a
resposta.
António da Cunha Duarte
Justo
1 comentário:
Amigo Dr. Justo,
Abençoado o coração que fez nascer este poema;
abençoada a mente que o redigiu;
abençoada a pena que o escreveu!
Mesmo bonito, humano, divino, universal!
Se viesse em versículos, dava poesia.
Mesmo assim é poesia!
De vez em quando, em conversa familiar,
à nossa mesa, o seu nome surge em recordação agradável.
O Justo encontra aqui um amigo, o nosso director;
e em todos nós também.
Um Bom Natal para si e família,
com votos de que a arte e a pintura artística
continuem a alimentar as vossa qualidades.
Unidos no Coração de Cristo
P. AG
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