quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

VW dá um prémio de 7.200 euros aos seus 100.000 Trabalhadores



União Europeia contra a Economia avançada do Mercado Social

VW dá um prémio de 7.200 euros aos seus 100.000 Trabalhadores

António CD Justo
Muitos trabalhadores alemães ainda beneficiam da economia social de mercado, um modelo tendente a desaparecer devido às leis da EU (União Europeia) que implanta na europa um capitalismo agressivo à medida do modelo anglo-saxónico.

Na Alemanha, em 2013, mais de 100.000 empregados da VW recebem 7.200 € como prémio de comparticipação dos lucros da empresa, a acrescentar ao seu ordenado; em 2011 tinham recebido 7.500 €  e em 2006 já tinham recebido 2.710 €. 10% do lucro operativo da Empresa VW ( 22 mil milhões de  € em 2012) são pagos com prêmio aos trabalhadores. A Audi, em 2011, deu um prémio de 8.000 € aos seus 45 mil empregados; Porsche tinha dado um prémio de 7.600 € e a Mercedes Daimler 4.100 €. Com a comparticipação dos empregados nos lucros, a firma reconhece o seu trabalho e motiva o trabalhador pela positiva. A Troika procura, em nome do euro e com o apoio de governos incautos, impor à sociedade a abdicação de regalias “standards” duma economia desenvolvida.

Dólar contra o Euro

Na Europa assiste-se a uma luta desenfreada do turbocapitalismo anglo-saxónico contra o capitalismo (moderado) do mercado social.

A Comissão da EU levantou uma acção no Tribunal de Justiça Europeu (TJE) contra a” lei da VW” que não permite a um accionário ter mais que 20% dos direitos a voto reservando para o Estado da Baixa Saxônia uma quota de 20,2 %. Esta quota impede que accionários, só interessados nos lucros e na exploração da empresa e empregados assumam o senhoreio da empresa e a explore até à última. Com a acção em tribunal a EU quer destruir um modelo de economia, contempladora da pessoa, para impor o modelo anglo-saxónico (actual turbocapitalismo) que considera o operário também como mercadoria.
Os países do sul da Europa tornam-se as maiores vítimas desta política de mercado que destrói por completo a economia social do mercado e se demostra radical contra o modelo nórdico de economia (ainda mais beneficiador das classes operárias).


A economia social de mercado é um modelo económico sociopolítico que surgiu depois da segunda grande guerra e que pretendia uma economia competitiva mas de rosto humano baseado na doutrina social da Igreja (encíclicas sociais que consideram o ser humano como centro da ordem social). Ao modelo de economia social de mercado também se dá o nome de capitalismo renano (Rheinischen Kapitalismus) que é uma variante de capitalismo com rosto humano pretendendo ter uma equidade social o mais justa possível; contrapõe-se ao modelo anglo-saxónico que assenta em pleno liberalismo e vive das grandes desigualdades sociais. Assim se salvaguardam os princípios da solidariedade da subsidiariedade e da Justiça social


O capitalismo renano sentia-se responsável também pelo bem-comum e reconhecia o ser humano como o ponto central da vida social e económica. O capitalismo anglo-saxónico vem, através do desvio da EU favorecer os grandes capitalistas, entre eles também os alemães. O cómico da situação está no facto de a acção em tribunal, no caso da EU ganhar vir, por um lado, destruir na Alemanha dos trabalhadores os direitos adquiridos dos trabalhadores alemães para entregarem a VW à ganância brutal dos grandes capitalistas internacionais e alemães (tudo à custa dos direitos sociais do povo. Se a VW perder quererá isso significar que também a Alemanha (se aceitar a decisão do tribunal europeu) abdica totalmente do modelo da economia social de mercado.

Com a construção da EU à imagem dos USA, assistimos à destruição do modelo da economia social do mercado (capitalismo moderado) em favor dum capitalismo anglo-saxónico feroz.
A EU tem intenção de anular a lei da VW para dar a possibilidade aos monstros da economia de dominarem empresas e nações, tal como fazem agora com a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, etc. que não têm capacidade económica para resistir ao redemoinho capitalista em voga e em que as suas elites se reservaram um pé-de-meia que brada aos céus, à custa do bem-comum e dum povo entregue à bicharada.

A luta concertada, a nível da EU (campanhas na opinião pública), contra o papado não tem só a ver com as fraquezas do Vaticano mas especialmente com a tentativa de desacreditação da única entidade global que sem empenha na defesa duma sociedade justa e ainda tem força para o fazer. Neste sentido leiam-se também as encíclicas sociais da doutrina social da igreja católica, que são mais exigentes, na defesa dos trabalhadores que qualquer ideologia política.

António da Cunha Duarte Justo

2 comentários:

Anónimo disse...


Excelente texto.
Como será que a sociedade alemã se sairá frente a "sanha" capitalista anglo-americana, que ao meu ver, faz seu jogo de auto-preservação frente as inevitáveis mudanças do modelo econômico global ?
Que lição conseguirá Portugal tirar disso ?
Como os países da CPLP reagirão a isso ? Favorecerá a nossa integração?
Não seria de interese do modelo anglo-saxão o aniquilamento da influência da Igreja Católica Romana no mundo ?
É realmente fundamental que observemos os acontecimentos, não como meros expectadores de um filme, mas como elementos vivos atuantes.
Abraços a todos os participantes, em especial ao sr. Antonio Justo,

Vilson
in Diálogos Lusófonos 01.03.2013

António da Cunha Duarte Justo disse...

Obrigado, prezado senhor Vilson,
A sociedade alemã não sairá do redemoinho em que a União Europeia e com ela a globalização que tudo arrasta como um furacão. No passado os grandes interesses financeiros e as nações que os encobriam contentavam-se em explorar o chamado Terceiro Mundo. Hoje os mega capitalistas não têm alma (moral) nem nação (corpo), revelam-se como pragas anónimas que caem sobre os diferentes biótopos culturais. A Europa encontra-se dividida entre os povos latinos, os povos nórdico/germânicos e os Ingleses (que vêem os seus interesses mais defendidos no seio dos USA). Um conjunto de interesses e mentalidades muito diferentes. A crise do Euro reflecte não só os problemas do Euro mas também velhas lutas duma Europa que ao perder uma filosofia própria a torna caótica. Vivemos num tempo em que o mero egoísmo e o individualismo (politeísmo!) impera.
Infelizmente, a elite política portuguesa é uma elite parasita sempre encostada a um Estado à margem (e contra a nação) da nação portuguesa. Outrora encostada aos ingleses, depois aos franceses e actualmente à EU ainda não se encontrou a si mesma. Prefere viver ao sabor do vento. A emigração dos portugueses para os países lusos e a emigração dos países lusos para Portugal (ponte para a Europa) podem contribuir para uma maior comunhão da lusofonia…
Penso que, apesar de tudo, o futuro obrigará a Europa a unir-se para poder estrategicamente, ligada às nações de cunho cultural ocidental, resistir à concorrência asiática, etc.
Forças do mundo anglo-saxão não estarão interessadas em instituições morais fortes. Isto é uma história antiga! Já assistimos a isso no tempo em que Hitler queria contra a Igreja Católica reabilitar os deuses germânicos… Os ditadores e os déspotas da economia não suportam quem se lhes ponha a caminho. Também não estão interessados no monoteísmo porque numa cultura politeísta em que os Deuses estejam em luta uns contra os outros mais fácil se torna para os oportunistas e exploradores destruir a força popular. O caos favorece o mais forte.
Quanto aos países do CPLP acho-os como uma oportunidade para se iniciar no mundo uma nova estratégia de afirmação complementar ao serviço do todo CPLP (como já referi nalguns textos sobre a Lusofonia).
Os políticos têm todos demasiados problemas imediatos a resolver que os leva a seguir a banalidade do factual quotidiano, não tendo tempo para grandes visões nem para planear senão em espaços de legislaturas… Daí as vantagens duma instituição supranacional interessada na defesa dos interesses culturais e da pessoa em geral.
Bem diz, o senhor Vilson para estarmos atentos para não nos reduzirmos “a meros expectadores dum filme” mas todos os cuidados são poucos; a informação publicada = informação pública está ao serviço de interesses não perceptíveis e a nossa própria mentalidade já é conotada por tal condicionamento. Quer queiramos quer não somos parte do problema!
Uma abraço grande para si senhor Vilson e o melhor para todos!
António Justo

António da Cunha Duarte Justo
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