Consequências para a União Europeia
António Justo
A Alemanha elegeu e Ângela Merkel venceu. A CDU/CSU
(União dos cristãos sociais-democratas) venceu com 41,5% dos votos, seguida do
SPD com 25,7%, Die Linke 8,6%, Verdes 8,4%, a FDP 4,8%, AfD 4,8%, Piratas 2,2% e restantes 4,1% . A
união recebe 311 assentos no parlamento, o SPD 192, o Die Linke 64 e os Verdes
63.
Surpresas: a chanceler é indomável, a União é o único partido
popular, o FDP que tinha 5 ministros no governo de coligação de Merkel não chega
a entrar sequer no parlamento e o AfD (“Alternativa para a Alemanha” - partido
contra o euro), conseguiu em seis meses, depois da sua fundação, um resultado
de 4,7% dos votantes, advindos sobretudo da antiga Alemanha socialista. O AfD
não conseguiu porém superar a barreira dos 5% que lhe possibilitaria o salto no
parlamento, preparará porém muitas dores de cabeça à União. Uma coligação da
esquerda (SPD, Verdes e Linke), embora matematicamente possível, torna-se irrealizável,
também pelo facto do SPD e dos Verdes não aceitarem fazer coligação com Die
Linke (comunistas).
Merkel terá de fazer coligação com o SPD ou com os Verdes.
Um e outro partido têm medo de Merkel embora ela seja uma técnica do poder, de
estilo presidencial, mas muito exigente na disciplina. O mais viável será uma
grande coligação com o SPD. Este, teria a oportunidade de, no meio da legislatura,
provocar uma crise governamental, mas Merkel poderia socorrer-se então dos
Verdes como parceiros de governo. O socialista francês Hollande desejaria uma
grande coligação de Merkel/SPD porque poderia, deste modo, ganhar mais
influência nas redes socialistas da EU, por outro lado teria de aguentar com a
pressão dos companheiros alemães no sentido de forçarem os socialistas
franceses a fazerem as reformas que a Alemanha fez há dez anos e que a colocou
na avançada do jogo económico europeu!
Governar na Alemanha não é fácil porque há um contrapeso
regional dos Länder que no Bundesrat (Conselho Federal) podem bloquear ou
aferir leis provindas do parlamento, devido ao contrapeso partidário a níveis
de estados federais. Dos 16 Estados federais só 6 são regidos pela União
(CDU/CSU).
Apesar de todas
estas barreiras, o povo alemão possui uma vantagem em relação a outros Estados,
tem um sistema partidário que, sem ser nacionalista, pensa primeiro no bem da
nação e só depois no bem do partido. Esta é uma razão, entre outras, porque os
partidos alemães não aceitam fazer coligação com Die Linke. Esta é também uma razão
do sucesso alemão, usando um mínimo de ideologia e um máximo de especialização.
O povo está contente com a política da Chanceler,
conhecem-na desde há oito anos como chanceler e não quer experimentações. Com
excepção do SPD que conseguiu melhorar o resultado em 2,7% em relação à última
legislatura, todos os outros partidos perderam.
A Europa aprenderá a gostar de Ângela Merkel
Isto terá consequências para o trabalho na EU. Os alemães
estão descontentes com o trabalho da Comissão Europeia; o instrumentário
burocrático da EU tem-se revelado ineficiente com as medidas desenvolvidas nos
últimos 5 anos no sentido de sair da crise. A Alemanha ficou chocada com os 150
mil milhões de Euros que perdeu com a crise dos bancos, que continuam a criar
problemas. Ângela Merkel tem medo que o dinheiro investido na salvação de
países em crise tenha um paradeiro semelhante ao da crise dos bancos e em que os
credores/contribuintes e Estados terão de pagar a factura. Reconhece porém que é preciso fazer mais no sentido de investimento nos
países com maior crise económica. Tem por outro lado dentro do país uma
força popular crescente contra o Euro.
Tudo isto complica as decisões políticas de futuro numa
EU em que cada país, continua a orientar a sua visão para o umbigo do próprio país
(talvez Portugal esteja a fazer uma dolorosa excepção, o que torna injusta a
situação em relação aos portugueses).
A Alemanha continuará com uma política
orientada para a economia real, isto é, em favor do curso de poupança. Neste
sentido, a política irá favorecer, na EU, a fortificação das decisões a nível
de chefes do governo, mais à margem do parlamento europeu; isto porque se prevê
nas próximas eleições para o parlamento europeu (próximo ano), uma maior
quantidade de deputados críticos da EU, o que complicaria decisões de
compromisso. Dado a Alemanha e a França
se encontrarem descontentes com a EU e a Inglaterra descontentíssima, a política
irá no sentido de menos Europa e mais núcleos de Estados.
A Alemanha sente-se com responsabilidade pela Europa e
certamente exigirá mais pessoal importante e da sua confiança na ocupação de
postos na EU e na Nato. Merkel também não conseguirá continuar a adiar o desejo
de estados europeus, como Inglaterra e França, que querem da EU uma política de segurança
semelhante à americana. Não será fácil para Merkel conseguir uma política que
consiga unir conservadores e progressistas, a nível europeu na feitura de leis,
no sentido de se nivelarem lucros e défices na competição entre os países.
A força da opinião pública alemã é muito forte perante o
governo e ela exige da política consolidação e poupança no orçamento. A
economia alemã, em quarto lugar a nível mundial, determinará o futuro da
Europa. O presidente francês reconhece que a miséria financeira em que se
encontra o obriga a encostar-se à Alemanha. A Europa terá de se encostar à
Alemanha por convicção ou por oportunismo. A Alemanha sozinha tornar-se-ia um
perigo económico para os outros países europeus e a Europa sem a Alemanha seria
economicamente uma desgraça.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
4 comentários:
Saudações aos participantes, em especial ao sr. Antonio Justo.
O que mais me chamou a atenção neste texto é a narrativa feita constatando que na Alemanha consegue-se um sistema político em que os interesses nacionais prevalecem sobre os partidários.
Ora, isso por sí é um fenomenal avanço. É o sonho de qualquer cidadão minimamente consciente. Não é a toa que a Alemanha desponta no mundo. Tambem serve de parâmetro para os demais países, para mostrar-lhes quanto estes ainda tem que avançar.
Acredito que não haja realmente a necessidade de geração de muita riqueza, bastaria para termos um mundo melhor que um salto de qualidade ocorresse na representação dos interesses dos bilhões de homens e mulheres deste nosso mundo em suas representações governamentais. É melhor, ao meu ver, pouco dinheiro bem empregado do que muito, mal utilizado.
Assim como o lado bom de homens e mulheres se mostram quando há condições, boas representações governamentais logo direcionariam à celere consecução de um mundo mais solidário, justo, harmonioso.
O sr. Justo em outros textos já descreveu muito do perfil mediano de um cidadão alemão. Também sobre seu sistema de educação e trabalho. O mais notável é que alí há um conhecimento interno tácito e respeitado que funciona. São aspectos realmente culturais.
Abraços aos participantes,
Vilson
In Diálogos Lusófonos 23 de setembro de 2013 17:59,
: que querem da EU uma política de segurança semelhante à americana. Gott bewahre Europa vor der Politik des Kriegstreibers in Washington. Aber ich würde meine Hoffnungen auch nicht auf diesen Abschaum in Brüssel setzten. : A Europa terá de se encostar à Alemanha… Deutschland kann Europa nicht retten und das “Anlehnen” zögert das Unvermeidliche nur unnötig hinaus. Deutschland hat durch die Einführung des Euro in ungehöriger Weise profitiert: der im Verhältnis zur Wirtschaftskraft schwache Euro hat den Export angekurbelt und die Zurückhaltung bei den Löhnen tat das Übrige. Für die wirtschaftlich schwachen Länder ist der Euro aber viel zu stark. Sie werden die angehäuften Schulden nie zurück zahlen können und der im Verhältnis zu starke Euro verhindert den Export. Die Folge? Ich rate Jeden mal in einen Supermarkt in Portugal zu gehen und dort nach portugiesischen Produkten zu suchen. Sollte Portugal noch viel Länger im Euro Raum bleiben wird es den Rest seiner Souveränität verlieren. Ich will nicht behaupten, dass der Übergang einfach werden wird. Aber lieber ein Ende mit Schrecken als ein Schrecken ohne Ende.
Elias da Silva
Prezado senhor Vilson, Sou como o senhor do parecer que as diferenças se fundamentam em “aspectos realmente culturais”. Importante será os povos procurarem o melhor meio de desenvolvimento compatível com todas as camadas sociais dum povo que permita uma permeabilidade entre camadas sociais e vontades sem barreiras na construção da personalidade e do cidadão. Neste sentido está muito presente na Alemanha, não tanto as ideologias afectivas mais próprias dos latinos e culturas do sul mas a racionalidade e um certo pragmatismo de matriz cristã aberta com um sistema de formação dual. O Brasil e os países da lusofonia estariam bem recomendados se no seu sistema de formação profissional adaptassem o sistema de formação dual alemã. Este seria um passo importante na construção dum fundamento sólido na construção dos muros da casa cultural e da formação dum país! Abraço António Justo António da Cunha Duarte Justo http://www.antonio-justo.eu http://www.quinta-portugal.de http://www.arcadia-portugal.com
Estou de acordo com o engenheiro Elias da Silva, No meu artigo alertei para as coisas escondidas que se cozinham na Europa. Infelizmente toda a EU se encontra bastante condicionada pelos interesses da Inglaterra que mais que europeus são americanos. A problemaática referida ao encosto à Alemanha não tem a ver com idealismos nem com preferências mas com a minha análise do sistema alemão em relação aos vizinhos. Apenas descrevo um “ist Zustand” e deste modo quero contribuir para um abrir os olhos e estar atento ao que está realmente a acontecer. O grande problema é de consciência e de estilo de vida. Os portugueses não estão dispostos a mudar o seu estilo de vida e consequentemente não mudarão tão depressa a sua consciência e deste modo continuará a ser puxado à carroça dos outros. A Lusofonia seria um verdadeira plataforma para uma nova reflexão no sentido de se desenvolver uma nova consciência.
António Justo
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