Quezílias gramaticais – Deturpar a Língua é apoucar o Espírito de um Povo
Gramatigalhas
aconselha o uso de pego em vez de pegado (Cfr. Diálogos Lusófonos). No Brasil, por vezes, abusa-se da
Língua e chegam a afirmar-se barbaridades em relação ao emprego dos tempos e dos modos
de alguns verbos, em desperdício da língua culta do Brasil; assim, no verbo pegar chegam a confundir o presente com o
particípio passado defendendo o emprego de pego em vez de pegado, como afirma
gramatigalhas: “empregar, pego com os
auxiliares ter e haver não pode ser considerado um erro; d) se pegado tende
a desaparecer, o certo é que ainda existe e é usado em nosso idioma nos dias de
hoje”.
A língua é a alma de um povo, o nosso
trabalho é enriquecê-la e não empobrecê-la!
Quanto
ao uso de Pegar e Apanhar:
Pegar e
apanhar são dois verbos regulares com significação diferente. No dicionário o
termo apanhar significa, levantar do chão, colher, agarrar, surpreender,
arregaçar, pescar, contrair, roubar, entender com rapidez, levar pancada
(muitos dos significados dependem naturalmente do contexto) e o significado de
pegar é agarrar, fazer aderir, colar, unir, segurar, comunicar por contacto ou
contágio, ganhar raízes e desenvolver-se, começar, etc., etc. O uso da língua
implica sempre um emissor e um receptor em diferentes contextos, pelo que dar
uma resposta inequívoca significa, por vezes atraiçoar o espírito da língua.
Infelizmente tem-se abusado da língua para fins também populistas e
ideológicos. Que o povo fale indiferenciadamente é natural; o que seria porém
empobrecimento se a camada social culta se adaptasse a falares populares
simples sem a preocupação pela diferenciação a nível de conteúdos linguísticos.
A riqueza de uma língua revela-se pela sua capacidade de diferenciação e não
pela sua simplicidade. Um fórum como o nosso poderá usar mais o português
popular ou o português erudito segundo a maioria dos comunicantes. O uso das
palavras aqui ou além tem a ver com o meio e a formação de quem as emprega, não
se podendo delimitar facilmente o seu uso.
Quanto
ao uso do Pego e do Pegado:
Antonio
Henriques, ao preconizar o emprego de pegado como a "única forma aceitável
do particípio passado de pegar" encontra-se na tradição científica e
responsável do cultivo da língua. Quem defende “tenho pego ou sou pego” em vez
de “sou pegado e tenho pegado” para uso da língua culta, encara a língua de
forma arbitrária e diletante. O modernismo não pode ser argumento suficiente
para legitimar a mutilação da língua. A língua supera também os gostos de uma
presidente que prefere ser tratada presidenta. O emprego da língua não é
arbitrário. O problema não se coloca tanto a nível de uso da língua em Portugal
ou no Brasil, a questão coloca-se a nível de quem fala a língua: o povo com
pouca formação ou os consumidores de cultura.
Pegar é
um verbo regular e como tal forma o particípio passado segundo a regra geral
gramatical. Pego é a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo pegar.
Pego também pode ser usado como substantivo masculino no significado de macho
da pega. Pegado é a forma gramatical do particípio passado; uma coisa é a forma
do presente e outra a forma do particípio passado; o uso do presente do
indicativo pego, na significação de particípio passado, constitui um erro
gramatical, talvez uma forma popular usada nalgumas regiões, mas constitui um
empobrecimento do português em relação também a outras línguas. O português
tem, em todos os verbos a forma verbal do particípio passado; acabar com ela em
alguns verbos no português erudito e substitui-la pela forma do presente seria
erro crasso. É natural que, em Português, tal como no latim vulgar e no latim
erudito haverá, por vezes, diferenças. A língua culta caminha, geralmente, no
sentido da diferenciação e não no sentido da simplificação; por isso a língua,
muitas vezes se apropria, com o andar do tempo, da forma popular e da forma
erudita, dando-lhes porém conotações diferentes. Naturalmente que também as
pessoas que usam o português erudito (diferenciado) têm de consultar, de vez em
quando, a gramática porque nem sempre há certeza e o critério do soar bem ou
mal não é suficiente para se poder optar por qualquer forma.
Na
gramática também há sempre um capítulo referente aos verbos irregulares com
particípio passado ou passivo irregular como é o caso de feito/a do verbo fazer,
dito/a de dizer, provido de prover, visto/a de ver, coberto/a de cobrir.
Há
também os particípios duplos com uma forma regular (formado dentro da própria
língua) e outra irregular (de origem latina); nestes a forma regular do
particípio é empregada com os verbos auxiliares ter e haver e a forma irregular
do particípio é empregada com os verbos ser e estar. Assim de pagar: tenho
pagado e sou pago, tenho salvado e sou salvo, tenho segurado e estou seguro,
tenho sujeitado e estou sujeito, tenho acendido, está aceso, tenho convencido,
estou convicto, tenho corrompido mas estou corrupto; tenho descrevido mas sou
descrito, tenho morrido mas sou morto, tenho prendido mas sou preso, tenho
submetido mas sou submisso, tenho cobrido mas sou coberto.
O
particípio na sua forma nominal emprega-se como adjectivo qualificativo, como
absoluto e na formação da voz activa e dos tempos compostos: sou pegado, tenho
amado
Infelizmente
quem busca a informação na internet; por vezes, já não encontra certas palavras
porque quem elaborou/disponibilizou a sua listagem é tendencioso ou apresenta
só a forma usada no Brasil ou noutro país.
António
da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
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