Continuação de “O Caos da Situação e o Paradoxo da
“Guerra santa” das Armas e do Sexo”
Por António
Justo
A fundação de um califado,
através da guerra santa, encontra justificação no Corão e dirige-se contra as
aspirações seculares de fundação de Estados civis sem regulamentação religiosa
à maneira dos estados ocidentais.
Toda a
insurreição social, onde se encontra uma certa percentagem de prosélitos
maometanos, é organizada em nome do islão (Corão, ditos do profeta e sharia). A
emancipação organiza-se normalmente em termos políticos/religiosos e não em
termos de indivíduos nem de direitos humanos. A Irmandade
islâmica (organização para o „regresso ao islão”), Al Qaida (“a base”,
organização terrorista mais conhecida), IS (ou ISIS é uma suborganizarão de Al
Qaida no Iraque e na Síria), salafistas actuais (fundamentalismo interpretativo
do Corão como o wahhabismo da Arábia Saudita também em marcha na Europa), Hamas
(extremistas contra o poder secular, apoiados pelo Irão que é xiita, pretende a
aniquilação de Israel), Hezbollah (“partido de Deus” movimento armado xiita no
Líbano – é um estado no estado), e várias variantes com expressão própria em
acção na África, na Rússia, na China e na Ásia em geral.
África refém de
extremismos
A instabilidade política e social
da África torna-se fácil presa para grupos islamitas como o Boko Haram na
Nigéria. Contra a educação secular recorre ao genocídio destruindo um
ecumenismo de coexistência pacífica que a partir da revolução islâmica iraniana
começou a ser sistematicamente destruído através do terrorismo intercultural e
sem fronteiras. A Nigéria, país rico em minerais, com 180 milhões de
habitantes, com 250 grupos étnicos (com tendência a afirmação de direitos
tribais ou religiosos), com quinhentas línguas e sem história comum é o exemplo
acabado de uma África mosaico que, a partir da conferência de Berlim, foi
obrigada a seguir padrões e fronteiras marcadas à régua e chamada a seguir os
modelo hegemonias de história ocidental e muçulmana. Consequentemente por toda
a parte se encontram ruinas sobre as quais, surgem racismos do desespero e de
complexos.
O grupo jihadista sunita “Boko
Haram” (="livros são pecado", "a educação ocidental proibida“,
„educação moderna é um pecado"), empenha – se (=jihad) no sentido da
tradição de Maomé e da Guerra santa com atentados à bomba e com a escravatura.
O seu chefe Abubakar Shekau apela: “matai, matai; esta é uma guerra santa
contra os cristãos”; entretanto já matou mais de 5.000 pessoas. Tendo em
conta a sua visão de sociedade torna-se natural o rapto das 287 meninas
diplomadas do ensino médio, para as vender. O movimento “Boko Haram” tem
ligação com o Al Qaida e com a milícia Al-Schabaab da Somália.
O conteúdo dos conflitos actuais
assenta no desfasamento histórico beneficiador do ocidente e na religião
islâmica que, pela sua simplicidade, se torna atractiva para as massas e produz
líderes que tiram do caos imensa vitalidade. Por outro lado a massa pobre não
tem nada a perder e a luta torna-se numa oportunidade de que esperam tirar
algum proveito.
Os grupos jihadistas são
defensores da teocracia contra a democracia e contra tudo o que não seja
islâmico. O ocidente tira conclusões enganosas, distraído por uma lógica
democrática interesseira que desconhece a filosofia e a coerência profunda
islâmica (terrorismo santo ancorado na fantasia do povo e na tradição)
distraída pelos conflitos interinos dos diversos grupos e pela desculpa do
islamismo político pretendendo ignorar que o Islão é sempre político e que os
cavaleiros de Maomé se encontram já desde a sua fundação numa tradição de victória
sobre impérios, Sassânidas, Império Bizantino, União soviética no Afeganistão,
11 de Setembro que levou Busch a favorecer os xiitas do Iraque para
castigar a Arábia saudita de confissão sunita (fornecedora dos terroristas) e a
intervir no Iraque para assegurar o seu petróleo ao ocidente. Nesta lógica os
inimigos de hoje são os amigos de amanhã e vice-versa. Os USA terão de deixar
de fomentar uma política de desestabilização das forças muçulmanas entre elas.
Uma aliança contra o Califado só pode ter solução com o comprometimento do Irão
que sairia, naturalmente, mais forte do conflito e com exigências para
continuar o seu programa atómico, que a Turquia sunita e a Arábia Saudita não
quererão. É natural que o Irão tenha medo do IS e que a solução para o Iraque
só seja possível com o apoio do Irão e com a avizinhação do ocidente e do Irão.
Talvez então se possibilitasse o caminho do Irão para a Pérsia no sentido desta
se tornar uma potência regional reconhecida!... Para isso o ocidente terá de
acabar com o embargo contra o Irão (Nos últimos dois anos o Irão viu reduzidas
as suas exportações de óleo de 118 para 56 bilhões, devido ao embargo). Então seria
de esperar que acontecesse com o Irão o que aconteceu com a China. O demasiado
compromisso do Ocidente com o sunismo turco e da arábia Saudita tem impedido o
desenvolvimento das forças naturais que regularão o Médio Oriente. Agora que o
Irão também se vê ameaçado seria uma oportunidade.
A Turquia é país de passagem do
terrorismo sunita… A emissora al Dschasira é apoiada pela Turquia e Katar.
Interessante verificar-se que agora também a Arábia Saudita se sente obrigada a
apoiar agora o governo egípcio com 13 bilhões de dólares, na esperança do poder
militar meter a irmandade islâmica na ordem porque ameaça desestabilizar os
poderes estabelecidos e toda a região. Os xiitas continuam a queixar-se da
arábia saudita apoiar o IS que confessa o salafismo da arábia saudita. A
avalanche da violência é de tal ordem que até os países apoiantes do terrorismo
começam a recear tornar-se vítimas dos seus aliados. Isto pode ajudar à
formação mais alargada de países contra o terrorismo.
Atendendo à filosofia seguida por
muçulmanos e ocidentais a intervenção que se revela como necessária no Iraque,
se não envolver as potências da região terá o mesmo resultado da do Iraque de
Sadam Hussein e do Afeganistão; contribuirá talvez para a divisão do Iraque e
será mais um passo na formação do Curdistão (aspiração também ela justa). Já
Theodore N. Vail dizia: “Dificuldades reais podem ser resolvidas; apenas as
imaginárias são insuperáveis."
Que
Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga o Corão?
Quando se pensa em religião
pensa-se que não foram feitas para legitimar a guerra e como o Islão é uma
religião deveria naturalmente tentar impedi-la. A vida dos fundadores tem
imensa influência na vida dos crentes e da sociedade. O profeta Maomé
caracteriza-se como guerreiro e fundador do estado árabe; teve o valor de dar
união às tribos bárbaras e domar muitos dos costumes rudes da região. Com as
implacáveis suras do Corão contra os “incrédulos” legitima a violência. Sura
9:5: “Matai os adoradores de ídolos, os Trinitários (os cristãos) onde quer que
os encontrardes, apoderai-vos deles e espiai-os em cada emboscada ". Os
muçulmanos extremistas servem-se da mesma fonte que os moderados para as suas
acções na intenção de atingir o seu objectivo (Suras 8:38; 9:73; 5:33).
Os terroristas
islâmicos atingem dois objectivos: a formação do Estado Islâmico radical
(califado), e o fomento de comunidades muçulmanas no mundo através dos
muçulmanos refugiados. É sintomático o facto de os refugiados
da guerra do Iraque, da Síria e do Líbano se dirigirem para a Europa quando os
Emirados ricos e a Arábia Saudita teriam maior obrigação de os receber. Naturalmente
que a Europa, especialmente os países que enriquecem à custa das armas, que
vendem naqueles países, têm também obrigação de os receber. O problema só surge
com a formação de guetos em oposição à integração.
Islão é um "modo de
vida" e significa "submissão (a Alá) ". Isto constitui o motivo
dos terroristas para a fundação do Califado islâmico (IS). IS, movido por um
deus guerreiro, luta por um império islâmico que vá do Irão ao Egipto. Muitos
dos combatentes do IS são recrutados na Europa também entre convertidos, o que
tornará a Europa cada vez mais frágil.
Frank A. Meyer in “religião
totalitária” de Cicero N°.08 escreve: “A civilização moderna, denota, uma
sociedade livre da cultura judaico-cristã. O Islão, funciona como uma
máquina do tempo reacionária.” Já o imperador bizantino, Manuel II
preocupado com a situação de então dizia: "Mostre-me o que Maomé trouxe de
novo, e aí encontrará apenas coisas más e desumanas, tais como esta, em que
prescreveu, espalhar a fé que pregava através da espada". O islão,
para poder receber o atributo de religião da paz tem de contradizer o que a
História parece confirmar (religião da guerra). Os países islâmicos parecem
tornar-se em alfobres de fanatismo, incapazes de passar da Idade Média, desde a
humilhação da mulher até ao massacre de irmãos da fé e de outros crentes. Uma
fé pacífica não poderia, nos tempos modernos, produzir tais botões, não podendo
desculpar-se pelo facto de exercer o controlo total sobre a vida pessoal e
civil. Os cristãos também tiveram guerras bárbaras entre si e contra outros
mas com a pequena diferença que as não podiam fundamentar em nome da filosofia
do Evangelho nem no exemplo de Jesus.
Toda a
ideologia, religião ou instituição que se considere dona/senhora da verdade
torna-se numa grande prisão da humanidade. Deus criou o
homem para a liberdade e consequentemente para a autonomia, doutro modo
tê-lo-ia criado perfeito. Um exemplo da submissão pode ver-se em estados
autoritários, nos atentados suicidas, na burca ou chador. Quem se julgue na posse
da verdade nega a liberdade e a realidade da natureza que se desenvolve pela
diferenciação integral num processo de tentativa e experimentação. Uma religião
que não permita o desenvolvimento secular torna-se num fascismo fomentador de
déspotas religiosos sem respeito pelo outro. Os que se consideram senhores da
verdade e “no reino da verdade” sentem-se na certeza negando a vida bem como a
dúvida e a experiência que seriam os verdadeiros promotores do progresso;
ignoram que a pessoa humana é viva e não reduzível a um conceito empedernido ou
a uma definição.
Uma religião não pode colocar a
violência a saldo; não pode reduzir a paz a um direito a ser determinado por
alguns; não pode reconhecer nela o poder e a violência como meio de solucionar
controvérsias. Os terroristas fundamentam o seu agir no Corão e os muçulmanos
moderados aceitam-nos com o argumento de haver diferentes perspectivas e
possíveis interpretações (paradoxo). Mesmo associações islâmicas moderadas quando se manifestam publicamente
contra os assassínios do IS fazem-no misturando o protesto com algo contra o
país onde se encontram, o que deixa espaço para a duplicidade. A ideologia
islâmica encontra os seus multiplicadores em muitas mesquitas às sextas-feiras.
Os intelectuais ocidentais que se ocupam da política também pecam por
duplicidade e por empregar duas medidas: críticos contra o cristianismo e
complacentes ou cúmplices quanto ao islão. Naturalmente, a esmagadora maioria
dos muçulmanos é pacífica por natureza sem necessidade de fundamentos para a
bondade nem para a maldade.
Geralmente
situam-se entre o sentimento de humilhação e dominação mundial, uma
característica comum aos fascismos que cultivam o ódio e o ressentimento.
Precisam de vítimas e mártires na procura de inimigos internos (forças
seculares ou outras religiões) e externos (o mundo da guerra). Deste modo só
eles podem saber, quem são os assassinos certos e quem os falsos, dado o
critério de valor e de juízo depender do lado do muro em que se aqueles se
encontram. Os salafistas, que são contra a democracia e defendem a instalação
de um estado de Alá (teocracia) e os acoites corporais e a sharia fazem
livremente propaganda pelo seu plano, distribuindo o Corão gratuitamente nas
ruas das cidades europeias. A tolerância dos fartos é cúmplice sendo também ela
responsável pela intolerância que fomentam ao não dialogar a sério com os
estrangeiros.
“O Corão é o
livro mais forte que impede as pessoas de pensar… quem pensar de forma crítica
sobre o Islão, põe a sua vida em perigo” demonstra o
muçulmano Hamed Abbdel-Samad, em seus livros. O Corão só é tomado a sério para
o que interessa, apesar de cada muçulmano trazer em cada ombro um anjo que
anota tudo o que ele faz e um Deus que castiga sem ser questionado e não deixa
viver em paz quem não segue o Corão. Que Deus é este que não deixa viver em paz
quem não siga o Corão? Não foi o mesmo Deus que achou agrado em toda a
criação? O problema não está em Deus mas sim numa doutrina que precisa de
renovação e adaptação ao desenvolvimento da consciência individual esclarecida,
reconhecendo que a natura consta dos mais variados biótopos e do mesmo modo a
humanidade com os seus culturotopos. A vida do cidadão não pode ser
condicionada ao horizonte da tenda nem da tribo, nem tão-pouco do império. O mundo
árabe não pode viver a marcar passo, tendo também ele contribuído para o
desenvolvimento da ciência; seria irracional continuar a viver num antigo
testamento retrógrado aprisionador da pessoa humana, não reconhecendo os seus
ideais nem uma consciência individual própria às pessoas. Dos 27 estados
pertencentes à Conferência islâmica, nenhum está livre do islamismo. Onde se
encontram os pacifistas muçulmanos a distanciar-se e a protestar nas ruas
contra as barbaridades terroristas de seus correligionários que os põem em má
luz? Será que a violência e o poder muçulmanos são sagrados e têm de se
refugiar num jogo hipócrita das escondidas, com as contradições do Corão?
Torna-se urgente o surgimento de um movimento protestante no seio do xiismo e
do sunismo para se contrariar o estrebucho do dragão e se entrar nos novos
tempos do ecumenismo das religiões.
Resumindo
Quer queiramos quer não, islão,
guerra e terror parecem pertencer ao mesmo contexto. Pelo que se observa a
nível internacional nenhum país, onde se encontrem grupos de muçulmanos
politicamente organizados, se encontra seguro quanto à paz social e até, quando
se organizam em maiorias, quanto à integridade das suas fronteiras, dado, como
diz o politólogo Hamed Abdel-Samad, “onde ele actue politicamente é fascista”…
“Eles desumanizam os seus adversários, negam-lhe o direito de existir e tomam
em conta a sua destruição total”… “no mundo desta gente não se luta pela vida,
vive-se para lutar”… Na altura em que o caricaturista dinamarquês desenhou
Maomé com uma bomba no turbante, o mundo islâmico levantou-se por toda a parte
contra ele e contra o ocidente, chegando a haver mesmo mortes; agora que o IS
assassina em nome do Islão, o mundo islâmico, pelo mundo fora, “não se sente
denegrido nem ofendido”. “O que o autêntico islão é, vemo-lo precisamente no
Iraque e na Síria” (in HNA 19.09.2014). “Todas as associações salafistas têm
que ser proibidas, para lhes dificultar o acesso de jovens muçulmanos… pois vão
para criminosos quando vão para eles”.
É uma utopia pretender
disciplinar o Islão a partir de fora, dado possuir uma doutrina absolutista
que, por um lado, exclui a diferenciação e, por outro, fortalece as forças
caóticas da base. Ao não ser estruturado (sem organigrama institucional
conciso), aposta nas forças caóticas e revolucionárias da circunstância que lhe
dão a sustentabilidade histórica necessária para lá do país concreto; diria
que, na sua forma original, se poderia talvez etiquetar de uma forma de
fascismo socialista adequada à base tribal das suas origens árabes e, neste
sentido, expressa-se de modo ad hoc, vivendo do paradoxo, a nível intelectual e
filosófico ajudado por uma jurisprudência casuística. O ocidente, com uma
outra doutrina e socialização, não entende o mundo muçulmano nem o mundo
muçulmano entende o ocidente. O mesmo se dá, generalizando, entre a
espiritualidade ocidental e a da Índia. O papel da dúvida metódica no
pensamento ocidental como alavanca do progresso contrapõe-se ao papel do
paradoxo da cultura árabe como pretexto do pensamento para ser mantido o status
quo, o retrocesso na contradição. Interessante que no momento em que Maomé
deixou Meca para se estabelecer em Medina, Deus mudou de ideia. As Suras suaves
do Corão reveladas em Meca passam a ser contraditas pelas revelações de Medina:
aqui se encontra a génese do paradoxo árabe. Este facto poderia ser aproveitado
pelos eruditos islâmicos para possibilitarem uma teologia interpretativa
adequada aos tempos, doutro modo manterão a espiritualidade sujeita à
jurisprudência. Em vez de acentuarem as suras agressivas de Medina podiam
desenvolver a espiritualidade no sentido das Suras mais pacíficas de Meca.
As aspirações hegemônicas árabes,
iranianas, turcas são difíceis de concretizar numa doutrina comum, de si
hegemónica, mas que deixa a organização e a estratégia de aplicação dos seus
objectivos a movimentos e caudilhos locais, mantendo-se ancorada no sistema
patriarcal.
Na primavera
árabe do norte de África (2011), os grupos fanáticos juntam-se aos
rebeldes sedentos de mudança (a geração Facebook) e acabam por vencê-los.
Também em 1978, Aiatola Khomeini se uniu aos comunistas revoltosos contra o
Shah Reza Pahlavi da então Pérsia (Irão) conseguindo, com o apoio deles,
instalar a teocracia islâmica. A partir da revolução do Irão, o terrorismo
internacional ganhou terreno, a passos largos.
A guerra do Iraque contra Irão
era uma guerra entre sunitas (primeiramente apoiados pela USA) e xiitas – os
USA intervieram contra Sadam Hussein e ao saírem instala-se um regime pior que
o anterior; no Afeganistão sunita (equipado pela CIA e financiado pelas
monarquias árabes sunitas) dá-se a guerra contra comunistas (União Soviética)
que se retiraram em 1989. O radicalismo sunita é financiado por uns e o
radicalismo xiita por outros. Os USA, a Rússia e outras potências servem-se das
lutas internas entre os diferentes interesses muçulmanos para se assegurarem do
petróleo e fomentarem a indústria bélica e depois do conflito ganharem com a
reconstrução.
A opinião pública e publicada,
subestima a realidade islâmica que pressupõe governos autoritários ou
déspotas que possibilitem estabilidade que possibilite o desenvolvimento
económico e cultural para poderem um dia viabilizar a formação de uma sociedade
civil avançada. Os mesmos que jubilavam com a primavera arábica fomentavam
ingenuamente a fragmentação da Síria com o apoio armado da ISIS contra o
ditador Assad. O preço está a delinear-se na divisão do Iraque em territórios
xiita, sunita e curdo com a perseguição e expulsão dos cristãos.
Vítima real e intelectual
torna-se quem não possui capacidade de diferenciação e de integração. O passo
para a fraternidade de povos e religiões pressuporia a renúncia à verdade
empedernida, em benefício do compromisso construtor de colaboração e de paz.
Tudo fala, tudo berra e ninguém se preocupa em descobrir quem produz a guerra,
quem fabrica as armas e as redes que ganham com elas. Os cavaleiros de Maomé,
fieis ao Corão sentem-se os senhores e guardiães de Deus e da Verdade e os
defensores da democracia, sentem-se os senhores das riquezas do mundo. A
verdade de uma religião ou de uma civilização não se reduz à teoria ou ao discurso,
ela só se pode ver nas obras.
A vida humana e
social é uma teia de conflitos, pelo que, o essencial não é ver quem tem razão,
mas resolver conflitos. Querer possuir a verdade absoluta significa subestimar
a vida e não se desenvolver. A Verdade é a-perspectiva e como tal é um processo
numa relação trinitária pessoal e dinâmica na unidade do eu-tu-nós. A terra é
grande, Deus é maior, nele há lugar para todos.
“Bem-aventurado os
pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9)
Religiões são parábolas
da realidade que expressam a antropologia e a sociologia de uma civilização.
Religião verdadeira é a que faz do Homem irmão independentemente de raça, credo
ou cor!
©António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
11 comentários:
Caríssimo amigo e confrade Justo
O seu artigo está, como sempre, informado e cabal.
A meu ver, o que vai contra o caro Justo, o que o fragiliza – mas tem todo o direito, claro, de o ser – é a sua feição crente.
Com efeito, todos os textos canónicos, primitivos ou modernos, são bem explícitos: “Deus”, ou seja, os alienígenas que foram tomados por deuses, criaram o homem e cito “para nos amarem e servirem”. Explicando-me: na sua opinião “Deus” teria criado o homem para ser livre, o que não corresponde à verdade Ou seja: daqui decorre que o Homem foi “feito” ou transformado para ser mero criado de “Deus” ou dos “deuses”. Isto explica que os fideístas fanáticos, falando em nome de deus, reivindiquem o direito de escravizar os seres ou, pelo menos, de se utilizarem deles arbitrariamente. O mal, caro Justo, não reside na atitude política pretensamente em contradição com a religião, supostamente benéfica se fosse seguida puramente. Não! O Mal, o sumo mal, está na religião ela mesma, pura ou impura, pois TODAS as religiões são maléficas e perniciosas, uma vez que partem da vontade autoritária e discricionária dum pretenso Ser Supremo. Que só é supremo porque, durante séculos, a encenação se manteve devido à propaganda incessante e manipuladora.
Mas, agora, é só uma questão de tempo a verdade vir ao de cima. E nessa altura, quando a linguagem tecnológica se irmanar com os factos (contactos evidentes e realizados), as religiões ver-se-ão na sua incapacidade e impostura. Haverá então verdadeira PAZ. Porque a suprema impostura e a suprema violencia radicam-se no fideísmo (religioso ou secular, crente ou laico ou mesmo ateu). Enquanto houver religiões, que são a face mística das ideologias, ou dependencia delas, haverá violencia grupal. Totalitária, se o deus venerado é totalizador ou, no caso cristão, parcialmente impositiva se ela já foi caldeada com a aquisição dos Direitos Humanos pelo progredir dos séculos (Hoje os cristãos já não massacram porque a Democracia, ainda que frágil e confusa, lho impede).
Sei que o caro Justo é um homem de bem. E por isso lhe falo abertamente, o que não faria se o não considerasse assim.
Receba o abraço firme do seu, de sempre,
A habitação condiciona
fg/ns
Caríssimo confrade Francisco G
Concordo com a fragilidade porque a acho como o suporte e ao mesmo tempo reflexo do infinito.. (o homem é um ser em processo enquadrado na evolução, e a consciência daquele enquadramento que nos é dado perceber a uma primeira leitura. Considero Deus como a grandeza que engloba toda a potencialidade e como tal uma incógnita elevada à infinita potência e que por isso o criado, tal como a semente, traz em si a potência total (natureza-filiação divina); como tal a hipótese das hipóteses que não se pode reduzir a uma linguagem ou consciência nem tão-pouco a um processador de consciência. (Só nos podemos mover no âmbito das potencialidades usando para isso modelos e sistemas (formas de linguagem, num mundo rico de analogias, parábola como partes da grande realidade que tudo engloba) que procuram perscrutar para além do que transcende a inteligência e o condicionamento da forma de vida própria do nosso peregrinar; daí, se pensarmos analogicamente assim como falamos de via terrena e da vida espiritual, poderíamos falar de outras formas de vida além da imaginativa, afectiva, conforme os blocos de construção de vida ou esquemas de vidas ou morfologias (de facto uma relação entre dois seres pode criar uma outra vida ou um outro viver amoroso….) Neste sentido a palavra “ser livre” poderia ser arbitrariamente substituída por ser aberto, inacabado, no sentido da nostalgia do infinito.
Naturalmente se viu bem nas entrelinhas do que escrevi e nalgumas linhas, falei de religião, ciência ou outros modelos como meras metáforas ou parábolas da realidade, de si inatingíveis pelos meios de acesso que temos. A experiência mística a nível de alma-encontro e de eureca a nível de espírito (diferenciações que possibilitam a navegação intuitiva, emocional, intelectual…) poder chegar lá se não se empedernir – no momento em que é pronunciada já se tornou pedra que nos obriga a seguir um caminho cimentado quando o nosso verdadeiro andar se dá e experimenta sobre a água (a natureza de Cristo quando andava sobre as águas).
um grande abraço
António Justo
continuo a seguir
Penso que a experiência mística não deixa reduzir o Homem a um criado de Deus. Não penso que o mal esteja na religião O mal vem da fala. Só o facto de o Homem falar estrangula a vida no conceito, na fala. Por isso o cristianismo não pode ser reduzido a credo; ele é pessoa viva e sempre outra e como tal não reduzido à filosofia ou à dogmática; ele não se pensa, acontece e quando muito faz-se, actua. A linguagem é apenas um caminho, tal como o intelecto, e a emoção, etc.. A verdade será a crosta que tentamos apalpar; por isso dizia o Mestre:”quem tem ouvidos para ouvir que oiça”. Que seria do peixe se não tivesse a água pra nadar! A Água limita-o mas dá-lhe por outro lado possibilidade.
Geralmente trata-se de enquadrar e procurar dar resposta aos problemas do dia a dia. Naturalmente que a vida se pode realizar em diferentes esferas ou níveis em que o mistério se torna a fronteira do saber e o saber o impedimento do experimentar. Esta é a realidade em que estamos inseridos e consta, numa certa forma de a apreender, de matéria e espírito e, nesta equação ou enquadramento, o modelo protótipo para este nível de vida é a divindade encarnada. No JC encontramos a tensão resolvida que a humanidade tem para percorrer e que vai do espírito ao elemento. A crença em Deus engloba a crença numa realidade virtual ou numa dimensão nano que se poderia imaginar até na ideia ou sentimento. Por mais que basculhemos o universo poderíamos dizer que o universo divino ainda terá mais para basculhar.
Os diferentes mundos de seres celestes, anjos e arcanjos, também eles criatura tentam religar algo já conhecido, a terra ao divino para do contacto se chegar a uma nova consciência percepção, a criaturas de outros mundos. Deus criou o céu e a terra e outras criaturas celestes… pelos vistos o homem veio depois . As especulações religiosas ou científicas servem a curiosidade, a saudade do que não se é e de um ser que se encontra enredado pelos véus do saber. Mundo sem evidências… que traz pata a humanidade uma outra especulação religiosa ou científica? Independentemente do objecto da crença o mais importante não é a crença mas o que ela esconde. Foi ela que nos fez observar a luz e depois formular palavras de modo a sermos feitos de palavras.
Um grande a braço do confrade
António Justo
Caro confrade e amigo Justo
Em primeiro lugar quero exprimir o respeito que sinto por si, independentemente da diferença de opiniões sobre o facto religioso (porque vi, com estes que a terra há-de comer, pessoas de outros lugares que os nossos antepassados, por não terem linguagem tecnológica chamaram deuses, sei muito bem o que ele é).
Então é assim: o que o caro Justo diz está certíssimo – mas apenas se os deuses fossem deuses de facto – e não simplesmente gente de outros lugares que, por falta de conhecimento conceptual e efectivo, e também manipulação dos seus apaniguados na Terra, os humanos tenham nomeado como deuses e posto como seres de veneração…
A feição de religação é imanente no ser humano. Só que a re-ligação, que parte dum apelo interior de ordem espiritual-poética, legítima, foi aproveitada pelos “delegados” que manobram a Hierarquia para exercer uma acção prepotente sobre as pessoas…. Caro amigo Justo: submeta a Bíblia e todos os livros “santos” de outras religiões a uma análise sob este prisma (os ditos “deuses” não são deuses e sim pessoas de algures com vastíssimas diferenças para mais) começará a ver mais claro. E não necessitará da religião nem da pseudo-“espiritualidade” para nada, basta o nosso ser de ser humano para nos sentirmos SERES DIGNOS E IRMÃOS DO UNIVERSO.
Caro amigo,
se bem leu o que escrevi, certamente reconhecerá que apresento tudo, até a chamada “realidade” e o falar dela, (incluindo intermediários, Deus) como metáforas e parábolas de uma Realidade mais profunda. Também os mitos não são mais que a documentação da expressão do desenvolvimento do ser humano em processo.
Interessante é fazer-se a fenomenologia dessas parábolas, sejam elas colectivas ou individuais para nos podermos desenvolver e desenvolvê-las.
Respeito todas as posições como tentativas de explicação e de aproximação à realidade,e como tal, metáforas. Não será que também nós não somos uma parábola de outras realidades?
Por isso é importante continuarmos cautelosos no que respeita à catalogação e categorização de Deus e da religião. Penso que quem atinge certas esferas da realidade, tal como o amigo, terá consequentemente de ser totalmente aberto, compreensivo e misericordioso na avaliação das pessoas-estruturas e compreender as supraestruturas que as alargam e limitam. Doutro modo a experiência passa a fomentar a guerra. Naturalmente também acho muito importante o argumento e contra-argumento que possibilite o reconhecimento da penumbra no escuro.
Todo o que pretende ter razão torna-se automaticamente prepotente porque deixa de ver o lado negro da lógica tornando-se naturalmente num colonizador mental. O que está fundamentalmente em causa não é Deus ou o Homem mas a linguagem! E o problema continua no facto de o ser humano ser também linguagem, se desenvolver através da linguagem e se identificar com ela. Apesar de tudo, se não fosse a linguagem não teríamos passado do homem do Neandertal. Se não fossem as linguagens, embora petrificadas, dos mitos, narrativas, sonhos e imaginações não poderíamos pensar hoje o que pensamos.
Assim temos de incluir o equívoco e a dúvida em toda a nossa maneira de pensar, sendo o discurso não mais que um jogo, à maneira do bebé que vai tocando e provando para ser. A sociedade é um jardim infantil e nós somos crianças a jogar nele. Somos todos irmãos e filhos incógnitos à procura da origem, do sentido e do fim num pluriverso material e espiritual sempre a caminho.
Grande abraço
António Justo
Caríssimo amigo Justo
É bem verdade o que diz. Concordo que toda a posição angular pode levar a prepotências.
Mas aqui o problema é de ordem puramente física e não metafísica, faço-me entender?
Falando claramente: aproveitando-se do facto de os homens antigos não possuirem conhecimentos tecnológicos (nem falo de conhecimentos científicos) e porque a Humanidade estava na fase mística do desenvolvimento, certas entidades que frequentemente passam pela Terra apresentaram-se como deuses ao homem primitivo. Daí resultaram as chamadas "religiões reveladas" que o meu amigo como teólogo conhece bem. Disso resultou ainda que pelos tempos fora as diversas hierarquias das diversas confissões decorrentes (a uns revelaram-se como Alá, a outros como Jeová e por aí adiante) tomaram ou tentaram tomar conta do imaginário dos que lhes estavam na dependencia, criando uma realidade política totalizadora (género: Deus é o nosso chefe; nós representamo-lo e falamos por ele; como tens que seguir os ditames dele, tens de seguir os nossos; logo, faz isto que te digo e não discutas) Como, por ser teólogo precisamente, sabe, é esta grosso modo o procedimento dos chefes de TODAS as religiões E nem o fazem por mal, saliento! Pelo menos alguns. Fazem-no porque acreditam que é a vontade do que tomam por deus, frequentemente até procuram agir positivamente e muitos desses crentes são pessoas boas e sensíveis (os chamados santos, não forjados mas santos mesmo). Depois, há a evolução temporal: umas (o cristianismo por exemplo) fecundado pela aquisição dos direitos humanos e da democracia real, deixam de ser totalitários ou moderam o seu totalitarismo (caso do cristianismo, insisto); outras, como o islamismo, evoluem negativamente e tornam-se, ou continuam a ser, totalitárias e fascizantes (como podemos dizer usando um termo contemporâneo).
Mas a realidade é esta: as agremiações que resultaram da chamada "revelação teísta" são SEMPRE, tirando-se a retórica "religiosa", agremiações POLÍTICAS (de polis), visando actuação POLÍTICA. Dou um exemplo: o Papa, sendo entidade que decorre duma forjada "feição religiosa" é sim um dirigente político, um chefe político inegável. Embora para as massa se apresente como um dirigente espiritual e use caução espiritual.
Creio que isto não sofre dúvida.
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Antes de passar adiante, refiro que, sabendo isto lucidamente, acho que no actual estado de coisas faz falta que os apaniguados cristãos tenham representatividade e força real, para obstarem à barbárie islamita ou outra pseudo-laica. Mas é uma questão de bom senso e de honestidade intelectual, pois EU SEI MUITO BEM que o que é apresentado como o deus dos cristãos NÃO EXISTE COMO DEUS REAL, é apenas fruto de uma ideia compósita a partir de algo real que houve, o contacto antigo com um ser de outer space e a posterior sedimentação no imaginário colectivo devido à feição poética-funcional a que se chama, erradamente, "mente religiosa ou espiritualidade".
Continuando: agora, de há umas décadas a esta parte, já se possui linguagem tecnológica decorrente da aquisição paulatina de conhecimentos tecno-científicos. Assim sendo, os seres e contactos passaram a ser designados como extra-terrestres, alienígenas, etc., pois a mentalidade que lhes chamava, nos tempos da não-racionalidade, deuses, evolou-se.
(Alguns desses seres ainda tentam por vezes fazer-se passar (melhor, deixam que um equívoco permaneça, por conveniencia própria) por entidades imanentes (o caso de Fátima, Lourdes, Medjgorje, etc). Daí que eu tenha dito frequentemente que, por exemplo, Fátima não foi uma burla dos padres (o contacto sucedeu mesmo - e eu sei-o porque o meu pai teve um contacto IGUAL, só que, por os seus pais não serem sacristas não o levou avante, mas contou-me o que se passara era ele pequeno de 11 anos e, um dia mais tarde - o caro Justo não o sabe, mas um contactado ganha a possibilidade de ter a capacidade (a re-ligação?) de instintivamente saber em que altura esses seres voam sobre a Terra e, portanto, numa certa tardinha eu também pude ver diversas naves e, a uns cinco ou seis metros de mim, três seres tão carnais como o meu amigo o é, que entabularam uma breve "conversa" com o meu pai e, de súbito, desapareceram indo de novo presumo para o seu meio de transporte).
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Mas é uma burla da Igreja, pois hoje o Papa - garanto-lhe! - sabe bem o que se passou em Fátima e, no entanto, deixa que a treta continue a existir e consente que as massas fanatizadas sigam nessa via.
E por isso é que eu escrevi aquele texto "Fátima ou o fim da Igreja". Pois que acontecerá quando num dia se SOUBER que quem esteve ali não foi a Nossa Senhora, pobre dela, mas sim uma entidade outer space que muito terrenamente visou veicular uma mensagem de senso comum? (A entidade NUNCA se disse, por exemplo, ser Nossa Senhora - nem podia, por seriedade alienígena (risos). Tal como ao meu pai, disse sim que vinha lá de cima e não era desta Terra, que vinha do que chamamos Céu. Mostrou ao meu pai, mais tarde, o veículo em que viera com os, termo dela, "parentes", disse-lhe que olhasse depois dela ter ido embora, desaparecido (e ele viu a enorme nave, brilhando, o que em Fátima foi chamado ainda que com outras tipicidades, o milagre do sol. Percebe? Saliento que a "conversa" se deu - e cito as palavras dele - de forma especial: "Ouvia a vozinha da Senhora na minha cabeça, era uma voz fininha e muito bonita, quando eu lhe respondia a senhora punha o aparelhinho que trazia na mão (a Lucia chamou-lhe terço, a esse sistema integrado) junto da cabeça, devia ser para ouvir melhor". Repito esta menção ingénua do meu pai, creio que a "conversa" assumia foros ou telepáticos ou devido a técnicas que não conhecemos.
Portanto, mais tarde, por leituras capacitadas, percebi o que eram essas entidades - semelhantes aos que se faziam passar por deuses - e como se apresentava a História a olhos não semi-cerradoas.
Tudo o que o caro Justo diz é compreensível - a partir da sua experiencia humana e teológica, que vê como metafísico algo que é puramente físico, ainda que difícil de entender. E, apesar de ser puramente físico, da realidade real, da terrinha e não mais que da terrinha, isso não lhe tira o seu valor transcendente, a poesia inerente e a categoria de algo valioso.
Caro amigo e confrade, devo referir-lhe com estima o facto de que a pouco e pouco - e hoje são já milhões que o vão sabendo - a realidade que lhe referi vai intensificar-se. Os contactos vão ser cada vez mais marcados, até ao momento em que tal se torne indubitável. E alerto-o para algo importante: será um erro encararem-se os de outer space sempre como gente muito boa ou que virá forçosamente ajudar as gentes da Terra. Há gente dessa que é boa mas também a há que o não é, aliás tal como as religiões reveladas mostram. (A esses seres do outro lado mau foi dado o nome tradicional de demónios, ou pelo estilo).
Em parte, o chamado terceiro segrado de fátima assentava nisso. E foi por o ter tentado fazer saber, sem contudo ter percebido bem o seu significado, que o cordato e bom Luciani foi assassinado - não foi apenas por ir demitir gente pelo caso do banco Ambrosiano...
Tudo isto que lhe digo não é facilmente apreensível. Tanto mais porque o caríssimo Justo, sendo teólogo, ganhou uma feição de estudo e de razão a que eu chamaria tradicional. Mas como é claramente muito inteligente e, notoriamente, um homem de bem e visando o bem e não a intensificação do domínio da gente velhaca da hierarquia, espero que a pouco e pouco entre na Luz que lhe é afinal tão próxima. Mas seja como fôr, vá ou não por esse caminho, será sempre alguém a quem endossarei a minha estima e o meu abraço firme.
Fica com apreço o seu
Francisco G
Prezado amigo Francisco G
Acho muito oportuna a sua descrição e experiência.
O problema começa já na distinção de física e de metafísica quando nestes assuntos se torna difícil criar-se delimitações. Na elucubração intelectual ou na abstracção da experiência feita através do intelecto ou da intuição teríamos de passar a uma física nanométrica ou espiritual que nos colocaria já na fronteira da metafísica; isto numa época em que a física quântica tem problemas com as delimitações no mundo macro e micro.
A afirmação mítica e a científica são modelos de tentativa para explicar a realidade. O que afirma situa-se na pluralidade de explicações míticas e como tais no reino da experiência mística ou íntima sem possibilidade de prova. Os primeiros cristãos também pensavam que a revelação total estava próxima, porque a via em termos de currículo pessoal. Este aspecto pode encontrar-se embora noutra linguagem em Mircea Eliade.
O nosso conhecimento e apreensão das realidade dependem de mecanismos de projecção e de introjecção.
Como já referi noutro lado, reconhecendo muito embora a força do pastor/rei/presidente sobre a manada, no cristianismo genuíno houve sempre o espírito crítico e o reconhecimento da dúvida em relação a Deus e o método histórico-crítico na teologia. S. Tomás de Aquino, o grande doutor da Igreja dizia “se a tua consciência contradisser a doutrina da Igreja segue a tua consciência porque uma outra postura não seria cristã; também houve um papa que disse mais ou menos o mesmo. Isto porque apesar das sombras culturais o cristianismo (ecclesia do Novo Testamento), dito de uma maneira extrema matou Deus em Jesus Cristo, e Jesus Cristo desalienou o Homem do super-ego patriarcal institucional e religioso, para centrar a divindade no meio da natureza criada. O cristão consciente é desobediente, até pela concepção da matriz individual-comunitária-integral do Mistério da Trindade como a verdadeira fórmula da Realidade envolvente que como tal engloba as várias esferas universais e celestes do elemento, ao anjo, ao arcanjo e a outros potentados. Para a quase totalidade dos padres com quem convivi muitos anos não poderia dizer que estivessem interessados em influenciar ninguém pois o que ensinavam viviam-no na comunidade (verdadeiro comunismo com as limitações próprias do Homem); estavam empenhados em servir as pessoas no sentido de se tornarem elas mesmas, porque para o cristão a consciência é constitucional.
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Naturalmente o ideal está sempre condicionado ao continente e a missão também.
Os direitos humanos são a consequência lógica da civilização judaico-cristã pelo facto de considerar o criador e a criatura participadores da natureza divina (ao contrário do Islão que só conhece o direito do grupo); cristo modelo do Homem ocidental possibilitou o desenvolvimento da filosofia ocidental no sentido do iluminismo e do comunismo. Naturalmente programa tão ideal leva milénios a entrar nos costumes. A mística cristã contrapõe-se ao totalitarismo; o gene divino na criação e em cada pessoa impede, em princípio tal, se não se deixar imbuir pelo espírito do tempo. Por isso o cristianismo não é um monoteísmo puro. O cristianismo nasceu direito entortando-se ao longo da História mas mantendo-se crítico; quanto ao islão nasceu torto mas também ele se desenvolverá certamente no sentido positivo.
As referências religiosas ou ideológicas que se atribuem aos chefes são fruto da consciência da cultura e do tempo e como tal também elas relativas. As sociedades provindas da cultura judaico-cristã fazem a distincao entre poder espiritual e poder material (Dai a César…) sendo por isso necessário diferenciar entre o poder/serviço político e o poder/religioso, sendo em cristianismo poder=serviço, apesar do que a história ocidental mostra. Antes do “poder” religioso se ter imiscuído com o poder civil, a confissão dos representantes do povo, mesmo do rei, era feita à comunidade, pedindo-lhe perdão vestidos de saco, à porta do templo. Nesta altura a Igreja administrativa não tinha poder temporal. Naturalmente tudo isto são metáforas e símbolos de algo mais profundo!...
O que afirma sobre a “ errada mente religiosa ou espiritualidade" poder-se-á dizer em relação a outras mentes denominem-se elas reais, espirituais ou virtuais. Quem tem hoje como ontem o direito de se afirmar como o sábio, o profeta?
As suas bases assentam em percepções e consciências, tal como a de outros passados. No que respeita aos anjos e outros extraterrestres de outrora não se distinguem em grande parte dos alienígenas de hoje, uns e outros encontram-se envolvidos pelo mistério e servem de metáforas para procurar explicar um tempo ad hoc.
Interessante que a própria física quântica se serve da mitologia para explicar as suas teorias que em parte se encontram incluídas nos mitos sob o manto de uma linguagem religiosa. Se imergirmos no mundo da filosofia, da religião e dos mitos, ontem como hoje nada de novo sob o sol. Naturalmente a linguagem é fruto e expressão do desenvolvimento do homem sendo este possível ao não reduzir o ser humano a pura matéria ou a puro espírito como pretendem alguns. Tudo maneiras de falar e tentativas de identificação (identidade) numa dinâmica prisional de de-finição! Cada época tem as suas experiências, as suas fantasias e meios para tentar solucionar os problemas que se lhe põem.
O que acabei de dizer não desqualifica em nada a experiência que teve; pelo contrário!
(continua)
O motivo do meu discurso está no facto de perceber o mundo e a realidade em diferentes órbitras, diferentes dimensões e perspectivas e no facto de o amigo Garção se perder em ataques à religião, quando ela é uma tentativa de solução de problemas ao lado de outras.
O que me perturbou no seu discurso foi o facto de se afirmar contra outras experiências e órbitras também possíveis numa realidade com muitos versos. Como dizia a minha mãe: “há coisas espirituais que é melhor não tocar nelas; a nossa fragilidade é desmedida no sentido do mal e do bem”. Quanto ao que viu e ouviu talvez não se distinga do que outros viram e ouviram; a única diferença estará na interpretação feita por uns ou por outros. Cada um é médium e o que medeia está à altura da sua consciência e não do revelador. Portanto nestas coisas mais que juízos de valor importa compreensão e a capacidade de agradecimento e admiração; esta porém não é tao própria da ária da razão. Também a razão não passa de uma vidraça escura através da qual se procura ver um pouco mais longe e portanto afastar-nos da Realidade.
A sua experiência é muito interessante. Seria estimulante tentar abrir-se de maneira a poder repeti-la. Naturalmente que a abertura absoluta também implica riscos, pelo que às vezes será melhor manter-se na esfera em que uma pessoa se encontra. A sua experiência tornar-se-ia muito mais acessível se se colocasse numa maneira independente sem ser contra este ou contra aquele. Se, na forma de descrever a experiência, mostrasse a validade de outros modelos de visões humanas. O papa ou quem por ele só se pode manter na consciência ou percepção hodierna independentemente da sua experiência. A realidade espiritual mais que discursiva é mística e na experiência mística a contemplação ilumina a sombra dos discursos/metáforas. O problema não vem da revelação mas da interpretação; o mediador só pode falar segundo o formato da própria pessoa. Por isso o falar de Deus e doutros seres é sempre uma imagem ad hoc que não pode ser definida com pura realidade. Nesta ordem de ideias também se poderia dizer que nas imagens que viu e que os pastorinhos viram se mostraram diferentes versus da mesma realidade; até porque nesta ordem de coisas tudo é condicionado ao Homem e à sua consciência. O Homem não é formado por uma experiência só mas por um agregado de experiências; quanto à humanidade mais agregado é: um agregado aberto que o leva a ter saudade de outras experiências já feitas mas não conscientes. Felizmente há muitos caminhos diferentes que levam a “Roma”.
O fenómeno que descreve a respeito de si, do seu pai e de fátima apontam para o mistério que a vida é. Reduzi-lo a um mero sentimento religioso ou a uma veleidade lógica seria a morte e o encurtamento dele. A socialização de uma pessoa é determinante na interpretação que dá às coisas; interessante é admirar o mistério sem o amachucar com a interpretação que condena noutros.
As coisas só valem na medida em que servem o Homem, a natureza e a humanidade. A mim entristece-me o facto de uma Religião Católica em que milhares e milhões de católicos dão a sua vida desinteressadamente pelo próximo, encarando a vida apenas como serviço, é tão atacada quando outras instituições que em nada se assemelham no serviço ao Homem ou até se encontram na sua destruição deparam com tanto aplauso e compreensão. É uma questão de caminhos, de necessidades, de definição de identidades próprios de cada mortal.
Muito obrigado pela oportunidade desta discussão
Grande abraço
António Justo
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