sexta-feira, 11 de agosto de 2017

UMA MUÇULMANA CRENTE EXEMPLAR – SEYRAN ATES




A Fundadora da primeira Mesquita inovadora: “Mesquita Averróis-Goethe”

António Justo
Seyran Ates, nasceu em Istanbul (1963); aos seis anos emigrou para a Alemanha; frequentou os estudos de direito em Berlim, especializando-se em direito penal e em direito de família. Já, durante os estudos, apoiava mulheres vítimas de violência caseira.

Como advogada defende vítimas de “crimes da honra”, mulheres casadas à força ou maltratadas pela família. Em 1984 um marido matou uma sua cliente no seu consultório; Ates ficou gravemente ferida e teve uma experiência de quase-morte. Apesar disso, Seyran Ates continuou a empenhar-se na defesa de mulheres oprimidas, conseguindo trazer para a opinião pública alemã um aspecto escuro de muitas mulheres que sofrem em silêncio devido à pressão patriarcalista. Em 2006 abandonou a sua carreira de advogada, por algum tempo, devido a ameaças.
 
Depois de ter publicado o livro “O Islão precisa de uma revolução sexual” recebe contínuas ameaças de morte e e-mails transbordantes de ódio e ideias de abuso sexual, o que a levou novamente a abandonar a carreira de advogada em 2009.

A ativista de direitos humanos “vive em constante perigo de vida” porque se dedica à defesa da liberdade de outros. A muçulmana encontra-se sob proteção policial, dia e noite, com vários polícias.

Na luta por um rosto feminino para o Islão

A 16 de Junho de 2017, Seyran Ateş abriu a “Mesquita Ibn Ruschd-Goethe” em Berlin (um projecto de ligação da cultura árabe à cultura ocidental, daí o nome “Mesquita Averróis-Goethe”). É a primeira mesquita progressista na Alemanha; está aberta às correntes islâmicas sunita, xiita, alevita e sufi. O uso do nicab e do xador são proibidos por serem expressão de submissão ao homem e símbolo de um islão anacrónico (1).

Seyran Ates, quer uma mesquita onde o Corão não seja interpretado à letra e, assim, tornar possível uma interpretação moderna que  possibilitae uma educação para a liberdade, para a responsabilidade individual e para a paz universal.

As mesquitas na Alemanha não perdoam a Seyran Ates, ser a cofundadora da mesquita liberal Ibn-Rushd-Goethe-Mesquita onde rezam mulheres e homens uns ao lado dos outros e onde às vezes uma imã orienta a oração ritual.

Na imprensa da Turquia, Ates é apostrofada de “traidora da pátria e de terrorista”. “A repartição turca para os Assuntos Religiosos (Diyanet) incita a plebe mafiosa turca na Alemanha” (HNA) e  acusa Ates de querer modificar e reconstruir a religião.

Ates chama a atenção para a hipocrisia que, muitas vezes, se apresenta com duas caras:” Eles sorriem para ti e mentem-te na cara”.  É contra o uso do lenço islâmico (Hijab), contra os casamentos forçados e contra os crimes de honra. Também, devido à sua experiência amarga, desabafa: "Onde a Religião só serve a demarcação/separação, revela-se contra a democracia”.

A atitude de Seyran Ates torna-se numa ousadia promissora para o Islão (e para a paz na Europa) na medida em que lhe possibilita, por um lado,  a saída do gueto, o abandono do acorrentamento aos costumes da Arábia do século VII e, por outro, a abertura à pessoa, à feminidade,  à História e a outras culturas. No seu projecto, “Mesquita Averróis-Goethe, é apoiada por muçulmanos liberais de todo o mundo.
Entre outros louvores foi-lhe atribuída a condecoração Cruz Federal de Mérito, pelo Estado alemão.

Conclusão

A “Mesquita Averróis-Goethe é uma iniciativa válida e digna de imitação para tornar o islão compatível com a Europa e com outras culturas. O Islão só será reformado pela acção das mulheres. Nelas há que apostar para que não continuem a fomentar um estilo de cultura arcaica aliciante de instintos de homens árabes e doutras culturas! Só elas poderão trazer ao Islão um rosto feminino e recuperar a feminilidade que ele reprime e assim dar-lhe um rosto mais equilibrado e mais humano!

© António da Cunha Duarte Justo
 
(1)    Há dias dizia, no fim de uma aula, um simpático muçulmano trintanão, dirigiu-se a uma colega professora de alemão, dos seus 50 anos e disse-lhe: porque é que pinta os lábios e se veste assim, se já é casada?
Na sua mentalidade genuína até tinha lógica a sua pergunta! Porque precisa uma mulher casada de se arranjar de maneira atractiva se já tem um homem a quem pertence?! Porque traja assim, se isso é uma manifestação de liberdade e como tal uma provocação aos homens que, por natureza, andam à caça e mais à solta?!

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de ler e voto para que o exemplo frutifique. Mas temo que não. O Islão terá que enveredar pela exegese. Mas temo que não. O Islão terá que dar provas de paz. Mas temo que não.

Henrique Salles da Fonseca

António da Cunha Duarte Justo disse...

Dr. Henrique Salles da Fonseca, o que diz é muito a ter em conta. As coisas fundamentais relativas a matrizes religioso-cultrais formadoras de identidade individual e cultural não se mudam em poucas gerações. Durante a Idade Média a sociedade e cada indivíduo (de um maneira geral) vivia no ventre da comunidade pois a individualidade ainda se encontrava em gestação e que só com o renascimento deu à luz o indivíduo como personalidade com autoridade própria (certa autonomia). Como se vê a pessoa “autónoma” é parida no século XV-XVI e demorou cinco séculos a produzir a pessoa autónoma que hoje exagera em relação à comunidade como antes exagerava a comunidade (instituição) em relação ao indivíduo. O Islão ainda se encontra hoje nos princípios da Idade Média, no seu ser antopológico. O seu contacto íntimo com a Europa (muçulmanos a viver na Europa) leva as pessoas mais sensíveis a descobrir-se como pessoas; foi isto o que aconteceu a Ates. Ela estaria com alguns pooucos no princípio do renascimento muçulmano – a época propícia para produzir hereges e protestantes! Por isso, caro Dr. Fonseca, a nossa missão é dupla: apoiar as pessoas ousadas que ao descobrirem-se como pessoas descobrem os direitos humanos e apresentar uma análise crítica à doutrina muçulmana que teima em oprimir a mulher e indirectamente a pessoa que engloba o homem, baseando-se nas estruturas mentais e sociais “árabes” do século VII. É triste ver como uma sociedade ocidental se comporta em relação ao Islão que vive no seu meio: hipocritamente fecha os olhos e não quer saber porque saber e não só levianamente opinar tornar-nos-ia mais responsáveis e levar-nos-ia a ajudar mais as mulheres a libertarem-se da sua situação de escravizadas e escravizadoras; também não deixaríamos os imigrantes muçulmanos abandonados a si mesmos e tomaríamos medidas para que colonização interna entre os muçulmanos não ficasse entregue a mesquitas e grupos apoiados pela Arábia Saudita, Qatar, etc. Infelizmente a esclarecida Europa continua interessada em cobrir a ignorância porque dela vive muito outra gente bem.

Anónimo disse...

Mulher de Armas !
Artur De Lima Azevedo
FB

António da Cunha Duarte Justo disse...

Sofreu imenso com a discriminação familiar que era feita entre rapazes e raparigas e porque a vontade, de se tornar ela mesma, era sã e forte, aos 16 anos saiu de casa à descoberta de um mundo talvez não tão emotivo e afectivo mas mais livre. Tornou-se uma grande mulher, que o não seria se tivesse vivido sempre na rotina familiar do dia a dia.

Anónimo disse...

Tretas !!! Só existem duas formas de uma mulher ser muçulmana: Ou por uma masoquista fé cega e estúpida ou por não ter qualquer alternativa !!!
António Conde FB

António da Cunha Duarte Justo disse...

Também no surgir da Europa houve tempos em que a autoridade do grupo ou da instituição atafegava a personalidade individual e em especial a mulher. Embora o ocidente tenha sempre defendido a dignidade de toda a pessoa humana, independentemente de ser mulher ou homem, os costumes reprimiam a mulher em relação ao homem. É importante que mulheres de cultura árabe, em contacto com a cultura ocidental, ganhem força e sejam apoiadas para provocarem o desenvolvimento do islão e a justiça e solidariedade no trato entre homens e mulheres. Estamos todos no mesmo barco e se o islão não se muda toda a humanidade é retardada. Por isso todos devemos estar gratos quando uma mulher como Ates procura fazer com que reconheça a feminidade como um vector do desenvolvimento, tal como o vector da masculinidade que se tem afirmado desequilibradamente! Não só a sociedade religiosa mas também a sociedade secular são responsáveis pelo que acontece. De facto, o ser humano, antes de ser membro de uma sociedade religiosa, étnica, política ou cultural, é Homem e como tal traz em si a ferocidade selvagem mais ou menos escondida, tal como a gene divina. O problema é que todos cheiramos a Homem e não queremos reconhecer a maldade latente que em nós trazemos e depois procuramos justificá-la ou desculpá-la para passar o assunto ad acta! A discussão é importante e mais importante é ainda o testemunho que Ates mostra.