O Presidente turco imiscui-se na Campanha eleitoral para
o Parlamento alemão
António Justo
Os factos:
O presidente
Erdogan intrometeu-se na campanha eleitoral na Alemanha apelando aos cidadãos
turcos a boicotarem as eleições. Imiscui-se,
tradicionalmente, através das mesquitas e associações e, agora directamente,
mediante recomendação pública à população turca na Alemanha a não votar nos
partidos SPD, CDU e Verdes, porque, segundo ele, são “inimigos da Turquia”; abusa
da Interpol com o mandato de captura ao escritor Dogan Akhanli. As eleições para o Parlamento Federal realizam-se
a 24 de setembro.
A Alemanha
federal tem uma população de 82,2 milhões de habitantes e 61,8 milhões de eleitores e um parlamento com 631 deputados.
Na Alemanha vivem 3,5 milhões
de turcos (parte deles com a dupla nacionalidade); um milhão deles são eleitores
na Alemanha; na actual legislatura o parlamento federal tem 32 deputados de
origem turca.
Interesses da economia e de paz interior forçam a Alemanha a engolir em seco
A maneira como o presidente
turco e seus ministros se têm comportado revela-se numa insolente ingerência, facilitada
pelo facto de os imigrantes turcos terem, de facto, um estatuto privilegiado na
Alemanha.
As associações e mesquitas
turcas, na Alemanha, têm uma acção muito activa na politização da população
turca e alemã. Inteligentemente, actuam de maneira a terem uma grande inserção
nas administrações estatais locais e nas estruturas políticas locais e federais
e de modo a poderem ter uma estratégia de poder eficiente. Enquanto imigrantes
de países não muçulmanos se contentam mais com representações honorárias, eles
são mais realistas e por isso com mais influência e visibilidade política.
O aparelho do Estado alemão está bem preparado para controlar o terrorismo
islâmico, mas, devido ao complexo nazi e a uma certa ingenuidade popular
natural, tem medo de exigir maior prontidão de integração à imigração: por isso
o trabalho intercultural falhou assemelhando-se mais a um montão de cacos que
funciona bem devido à riqueza económica do país e ao bom funcionamento do
estado social! Mesmo assim a classe política estabelecida admira-se do surgir
de grupos de protesto como Peguida etc.
Os imigrantes trazem com
eles não só benefícios económicos e culturais, mas também problemas intraestatais
e interculturais.
Nas passadas eleições para o referendo da remodelação da Constituição turca,
no sentido de maior desdemocratização da Turquia, quase 50 por cento dos eleitores
turcos residentes na Alemanha votaram, com quase uma maioria de dois
terços (63,1 %) em Recep Tayyip Erdogan. Nestas eleições tratava-se de decidir sobre uma
mudança e Erdogan era o símbolo de uma alteração para um sistema autocrático.
Exportação de violência
Erdogan procura mobilizar
energias criminosas contra o sistema democrático. Estados como a Turquia em vez de resolverem os
problemas com decisões maioritárias aceites pelas minorias, apostam na
violência. Erdogan já há muito tempo ataca as instituições, média, justiça e
parlamento.
Depois do apelo de Erdogan,
desconhecidos mascarados praticaram ataques incendiários à carrinha do partido
SPD e do carro da deputada Michelle Müntefering (presidente do grupo parlamentar tuco-alemão,
(certamente ataques de motivação política). Também Gabriel, a esposa do
Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, recebeu ameaças telefónicas depois
de ter alertado para a deterioração das relações entre Berlim e Ancara. O
ministro dos negócios estrangeiro culpa o presidente turco pois “a maneira como
o Sr. Erdogan faz, motiva alguns” e a "minha esposa está a ser ameaçada”.
A vice-presidente do SPD, Aydan Özoguz, em
campanha eleitoral, diz” Eu noto uma incerteza incrível” entre a população
turca. Certamente haverá grande abstenção da parte turca nas eleições para o
Bundestag.
Várias organizações turcas na Alemanha funcionam como tentáculos do Estado
turco e do regime de Erdogan (casos de espionagem praticada com a exigência de entrega
de imigrantes turcos à Turquia ) e já chegam às escolas alemãs através de
professores de turco e da colaboração de Ministérios da educação dos estados
federados com a federação de associações e mesquitas
turcas na Alemanha para a colocação de professores de islão (Ditib) nas escolas.
A política de
Erdogan na Turquia de esvaziamento da democracia e contra os curdos tem
provocado o aumento de refugiados turcos na Alemanha; só em julho, segundo as
estatísticas foram registados 620.
Erdogan é um perigo para a democracia plural no próprio país e fora dele
porque cerceia os direitos individuais, a liberdade de imprensa e o poder
legislativo. A EU produz medidas de
boicote económico contra a Rússia que seria o seu parceiro natural e tolera o
agir do autocrata turco que quer entrar na EU e já usufrui das firmas turcas na
EU para se expandir noutros países europeus!
É paradoxal, mas
consequente, a democracia ter de defender também os seus inimigos!
Os partidos alemães encontram-se numa situação
delicada devido à sua dependência de muitos votantes turcos.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4473
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