O movimento #Me Too e o Assédio sexual em
empresas no lugar de trabalho
António Justo
#Me Too, são duas palavras e
um endereço de internet, que se tornaram num movimento mundial, onde pessoas relatam
momentos em que foram vítimas de assédio sexual. A actriz Alyssa Milano
estimula outras mulheres a partilhar a sua experiência de vítimas de assédio. A
iniciativa contribui, pouco a pouco, para a consciencialização e desbravação da
matriz masculinizante da nossa sociedade.
Segundo o jornal “Die Zeit”, o
Instituto de investigação Komma fez um estudo sobre a problemática de assédio
sexual em 131 empresas alemãs. Delas 24% declararam que são do conhecimento de ter
havido uma vez ou mais vezes queixas de assédio no ano. E 37% declaram não ter havido
queixas.
69% das empresas consideram como
assédio sexual o pendurar Calendários de pin-up (sexuais) na parede; 88%
consideram o ir com clientes a um bordel como dignos de correctivo; 81%
consideram o colocar a mão no joelho da mulher uma forma de assédio e 44% consideram
também as anedotas de caracter sexual como assédio. (Naturalmente se esta investigação
fosse feita num país do Sul os resultados seriam diferentes.)
A discussão pública sobre o
sexismo e o assédio sexual é útil e oportuna, mas torna-se difícil determinar a
fronteira entre um gesto simpático de um homem em relação a uma mulher e a
atitude de um caçador sexista. A fronteira também varia de mulher para mulher.
Louvar uma mulher pela sua
beleza, pode ter o seu quê de irritante, mas louvar uma mulher pelas suas
capacidades de trabalho também pode fazer dela um objecto de propaganda para o
trabalho ou para uma certa masculinidade. Por vezes quanto mais se pensa mais
complicado se torna o que é simples de apreender.
Uma discussão exagerada também
pode levar homens e mulheres a jogarem na defensiva; precisamos de manter uma
responsabilidade livre baseada no autodomínio e no respeito, para não chegarmos
à mumificação (Chador ou Hijab) de corpos e dos
espíritos. O homem tem de aprender a dominar uma certa natureza de caçador, herdada
do seu pai primitivo, e virar-se mais para o vegetarismo como se vai ganhando consciência
em alguns segmentos da sociedade.
Não se trata de criar uma
sociedade regulada pelo medo e pela tesoura na cabeça. Trata-se de evitar
extremos ou agressões contra a dignidade da pessoa. Facto é que a mesma
sociedade, por outro lado, não tem problemas morais, nem tão-pouco a mulher, de
se colocar ao lado de um automóvel mostrando as pernas para que o carro se
torne também feminino!
Por outro lado, silenciar o
problema real do assédio sexual corresponderia a continuar a vitimar as
mulheres e a defender o sistema machista que temos e que teima em manter as
mulheres em baixo, ou na posição horizontal.
Torna-se necessário rever e alterar
uma imagem de homem baseada no poder e na violência e ao mesmo tempo evitar a masculinização
da mulher. Liberdade, dignidade humana e responsabilidade devem poder coexistir
sem se criarem novos medos ou tabus.
O que é preciso é começar a
mudar-se a matriz do poder. E também os homens têm de começar a criticar os
homens quando estes se permitem abusos para com colegas femininas. O respeito é
um bem necessário em toda a relação.
António da Cunha Duarte Justo
19.11.2017, Pegadas do Tempo, http://antonio-justo.eu/?p=4529
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