terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cimeira África-UE em Lisboa


Lei da cultura contra a lei da natura

Robert Mugabe, com 83 anos encontra-se desde há 27 anos à frente do Estado. No início foi o herói da independência do Zimbabué, transformando-se entretanto num autocrata opressor da oposição e sendo o responsável pela miséria de grande parte da população.

Embora a Europa o tenha declarado persona non grata, foi admitida a sua presença na cimeira de Lisboa, onde Ângela Merckel, no fim de semana passado, lhe deu um puxão de orelhas.

A Chanceler alemã, Ângela Merckel, falou, em nome da União Europeia, sobre o tema Direitos Humanos, referindo que”a Europa sofreu na pele, nos séculos passados, onde pode conduzir o desprezo dos direitos humanos: à ditadura, guerra e indescritíveis sofrimentos”. A Chanceler criticou a situação no Zimbabué afirmando que aquela condição prejudica a reputação da nova África: “Nós não devemos desviar o olhar quando direitos humanos são pisados com os pés.”

Mugabe tenta lavar as mãos, considerando a crítica uma intromissão nos assuntos internos do país. De facto ele tem medo de, ao ter de abandonar as rédeas do poder, vir a ter de responder no Tribunal Internacional dos Direitos Humanos pelas barbaridades cometidas.

A reacção de Mugabe mostra que ele não sabe lidar com crítica justa. Embora a Chanceler tenha falado em nome de todos os estados europeus, é atacada duma maneira pessoal, infame e brutal. O governo do Zimbabué através do seu ministro Sikhanyiso Ndlovu no jornal “The Herald” injuria-a de “ racista, fascista, reminiscência nazi”. “Ela deve fechar a boca e abalar. Zimbabué não é nenhuma colónia alemã, isto é o máximo de racismo dum chefe de governo alemão.” Mugabe tinha ultrajado a Alemanha, Dinamarca, Suécia e Países Baixos como “o bando dos quatro arrogantes”.

Por isto se vê que quem mais se empenha na defesa dos direitos humanos não recebe aplauso.

Merckel não costuma falar apenas “para inglês ver”. O ataque à Chanceler é um ataque a toda a União Europeia. O comportamento dum déspota não deve conduzir a reacções que castiguem o povo do Zimbabué.

A cimeira deveria agarrar nas mãos os problemas dos dois continentes, que só podem ser solucionados em comum.

O processo da colonização interna de África foi interrompido pelo interregno da colonização exterior. Esta não permitiu às forças e grupos internos alcançar a hegemonia interna. Por isso a situação em África vive dum passado interrompido. Sente a democracia e a defesa dos direitos humanos como uma imposição de fora, a imposição da lei da cultura contra a lei da natura.

É verdade que a Europa aprendeu tarde mas aprende dos erros que fez no passado. Só que os problemas do futuro dependerão dos erros que faz hoje!

António Justo

Sem comentários: