sexta-feira, 7 de março de 2008

Independência do Kosovo – Golpe contra a intercultura


Politeísmo cultural ao serviço do deus mais forte e mais convencido

O sonho de Tipo, duma Jugoslávia inter-cultural, morreu com ele em 1980. O desmoronamento da sociedade jugoslava testemunha a decadência da intercultura em favor duma multi-cultura hermética conquistada na afirmação contra o vizinho. Isto é a consequência duma certa fraqueza democrática em que colonialismo cultural é aceite em compensação dum colonialismo económico. Se no passado o movimento civilizador se dava pela aliança de razões económicas e culturais, depois do ruir do sistema socialista, assiste-se a um colonialismo dissociado: por um lado a força colonizadora do capital através duma expansão económica desalmada (o ocidente está-se marimbando para a sua cultura) e pelo outro a força colonizadora da cultura através do Islão. Se é verdade que a economia determina os valores éticos à superfície, não deixa de ser menos verdade que a religião e a cultura é que lhe dão sonho e perspectiva.

A queda do império soviético com os consequentes estilhaços culturais conduziu o bloco livre à ilusão da fuga na espiritualização do capital que, para melhor medrar, vive dum relativismo cultural extremamente doentio e problemático para o seu futuro. Se o comunismo não triunfa deve-o ao facto de desconhecer o ser religioso. O mesmo erro faz o sistema político-económico actual ao procurar substituir também ele a religião por uma ‘espiritualização’ do capital sem o homem.

A desorientação russa facilitou um agir apressado ao Ocidente em relação à antiga Jugoslávia. Actualmente encontramo-nos com o problema da independência do Kosovo, movida por interesses imediatos. No Kosovo, a antigo berço cultural da Sérvia, vence a etnia muçulmana, restando-lhe 100.000 sérvios com a desconfiança no coração desde que aquela etnia lhe incendiou igrejas e casas. À culpa daqueles junta-se a destes. Para complicar, à minoria sérvia no Kosovo correspondem minorias muçulmanas na Sérvia. Talvez a riqueza procriadora duma etnia sobre a outra venha um dia a resolver os problemas que criou!

A factura económica pagá-la-á a União Europeia por dezenas de anos senão por mais; a outra não se pode quantificar. O Kosovo vive desde há 9 anos do apoio internacional porque não tem economia viável. Tem uma população de dois milhões com um desemprego de mais de 40%. A falta de infra-estruturas, a corrupção e a dependência da Sérvia deixam prever a europaização dos seus problemas.

Atendendo às tenções étnicas, a presença militar internacional terá de se manter por mais de 15 anos. Se não se der uma liberalização do Islão aí praticado, certamente que, a longo prazo, o Kosovo se unirá à Albânia.

A União Europeia envia para lá 1.500 polícias e 300 juízes com a finalidade de instruírem os autóctones nas andanças de direito democrático. A independência continuará sob a tutela internacional e com a presença de 17.00 soldados da NATO. Dentro de 4 meses está previsto passar o Poder executivo da Administração da UNO para o governo do Kosovo. A Europa tem soldados por todo o lado, na “defesa dos seus interesses nacionais” em “missões de paz”. Se assim é, porque não destina Portugal os seus homens e o seu dinheiro ao apoio dos estados de língua portuguesa? “A minha pátria é a língua portuguesa e o seu povo é migrante.

Embora a proclamação da independência viole direito internacional, já a imprensa de países como Alemanha, Franca, Itália, Inglaterra estimulavam, desde há muito, o Kosovo a proclamar a sua independência. Ao contrário, a Espanha, Grécia, Roménia, Chipre, com problemas em casa, sujaram a imagem da EU dos grandes, não reconhecendo a independência. A Sérvia e a Rússia não a reconhecem nem aceitam o Kosovo em organizações internacionais.

A balcanização da Europa já encontra agora os seus pontos de apoio nos guetos muçulmanos instalados nos países europeus de imigração, tal como podíamos observar na Alemanha já no princípio dos anos 90, com a recolha de dinheiros nas mesquitas para apoio da revolta muçulmana.

Se observamos a História, as revoluções não passam dum render da guarda duma elite rotativa assente no substrato duma continuidade de oprimidos. Revoluções, até agora, à margem de melhoramentos superficiais, apenas confirmam o direito dos mais fortes na confirmação e transmissão do status quo duma tradição de transmitir um estado de injustiça para outro estado de injustiça mais ou menos oportuno. O Direito internacional e a lei moral é válida para os distraídos e para os fracos. A independência do Kosovo islamizado encontra-se na linha de serviço a interesses políticos do Poder europeu e americano mas não do povo. Há que aproveitar da fraqueza da Rússia sem contabilizar a hipoteca do futuro. Esquece-se que também os Orais falam da Europa.

Na altura duma Europa sem tino nem destino, as elites apenas se preocupam em estar sem ser. Faz-se política sem nós e contra nós, capitula-se em nome duma paz aparente. O futuro da cultura cada vez se encontra mais nas mãos dos “assassinos” que o determinarão!

Seguem-se as mudanças sem as reflectir sacrificando-se assim a cultura europeia antes de se a ter descoberto. O povo europeu, comprado com benesses e necessidades artificiais, deixa violar a sua alma ao som da melodia maviosa da multi-cultura apregoada para o povo mas reprovada na antiga Jugoslávia. A plebe não se dá conta do que acontece em nome da Europa. No mundo da superficialidade, a verdade dos fortes é sempre a verdade razoável e oportuna! A verdade, porém, como o povo, é processo aberto pressupondo, por isso, uma mundivisão integral e integrativa.

António Justo

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