quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Portugal vítima do “Polvo” da EU e do Estado



Refinanciamento de 13,5 bilhões de € para Portugal em 2015

António Justo
O calendário europeu, de 2013 a 2015, prevê para Maio de 2014 o final do programa de socorro (EFSF) para Portugal e a necessidade de um novo pacote de apoio; além disto prognostica para 2014 uma dívida de 134% do PIB. Prevê também para Novembro de 2015 uma subida da necessidade de refinanciamento de 13,5 mil milhões de €. (Cf. Bloomberg Morgan Stanley)

Portugal continua a trabalhar para o boneco sem conceito nem projecto próprio; à deriva, como dantes, procura apenas cumprir os interesses da alta finança. A crise leva as pessoas a gastar menos e consequentemente a aumentar a crise. O fruto do trabalho vai para os credores e estes não investem em Portugal. Uma fraude gigantesca a alta escala; o rei vai nu e tudo fala dos seus trajos.

Já há muitos anos que se diz que a EU financiou vários países da zona euro para estes deixarem de produzir, especialmente nos sectores da agricultura, indústria do calçado, pescas e têxteis. Assim a EU pôde dar lugar à entrada dos têxteis chineses e a produtos simples de consumo, para as nações fortes europeias poderem, em contrapartida, exportar maquinaria e tecnologia cara para a China. Mais grave ainda: muitas das grandes obras realizadas nas infraestruturas nacionais foram efectuadas pelas grandes empresas das mesmas potências europeias e muitos dos fundos europeus foram empregues para financiar grandes empresas estrangeiras que depois de cumprido o prazo foram recolher os fundos de outros países candidatos à EU, deixando na ruina as antigas pequenas empresas.

A EU subornou a classe política das pequenas nações
A EU iludiu o povo português e subornou os nossos políticos, enviando para Portugal dinheiro para as infraestruturas e facilitando o acesso dos nossos boys a altos cargos nas instituições europeias e mundiais (José Durão Barroso, desde 2004 presidente da Comissão Europeia, Victor Constâncio, vice-presidente do Banco Europeu Central, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, desde 2005).

O Estado esbanjou muito do dinheiro em projectos megalómanos (Expo 98, construção de autoestradas supérfluas como a A 32, construção de estádios de prestígio para o campeonato 2004 e que exigem manutenção, etc.), não se preocupando em investir na produção. Os fundos comunitários e os subsídios foram usados para fortalecerem os interesses dos países fortes europeus e acomodar uma mafia branca em torno do Estado como as PPPs. Esta foi corrompida pelo dinheiro e fomentou a corrupção a nível de administração pública sustentada pelas parcerias público-privadas (PPPs) e obras fomentadoras de luvas e não de produção. Um pequeno exemplo: uma cidade portuguesa (Espinho) com 30 mil habitantes dá-se ao luxo de manter prédios de prestígio e uma biblioteca com melhores condições do que qualquer biblioteca da cidade de Kassel na Alemanha, com 200 mil habitantes, onde vivo. A ingenuidade portuguesa aliada a arrivistas oportunistas deixou-se levar por quem planeia o futuro (trama a vida) a longo prazo e conta com a miopia dos políticos das economias mais fracas; estas, iludidas com o dinheiro da ocasião, não se preocuparam em investir nas pequenas e médias empresas que são aquelas que produzem o pão que se come e também a riqueza da nação! 

Políticos das várias cores repetem-se uns aos outros

Da política europeia beneficiaram especialmente as infraestruturas europeias, as potências europeias e a classe política.

Os portugueses foram levados na cantiga e em vez de reconhecerem o embuste para que todos concorreram contentam-se ao jogo do empurra das culpas. Uma geração de políticos corruptos com outros parasitas do Estado continua ilesa e sem ser posta em tribunal. 

Agora, ouvem-se na praça pública, políticos a chorar lágrimas de crocodilo, numa tentativa de regar os próprios jardins partidários e de desviar a culpa para fora quando deveriam iniciar processos contra muitos dos investimentos ambíguos e falcatruas a que deram cobertura. Depois da festa, na TV, assiste-se ao roto a dar conselhos ao esfarrapado, numa conversa a lusco-fusco. À maneira de comício, juntam-se as comadres a lamentar meias verdades, nesta celebração de carpideiras que choram o defunto por elas envenenado.
 
A conversa repete-se quase textualmente porque o povo tem memória curta. Hoje, como ontem, pede-se ao povo que “aperte o cinto”. O discurso dos governantes de hoje faz lembrar os tempos em que Mário Soares defendia os planos do FMI e dizia: “Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”; “O desemprego e os salários em atraso, isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (…). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”  in JN, 28 de Abril de 1984. A 19 de Fevereiro de 1984, o mesmo Mário, já tinha dito ao DN: “Posso garantir que não irá faltar aos portugueses nem trabalho nem salários”. A 21 de Abril de 1984 era chamado à responsabilidade pela revista alemã Der Spiegel onde se escusou dizendo: “A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.”  

Lobos vestidos de cordeiro (de ontem e de hoje) fizeram tudo para nos colocarem nas mãos do capitalismo estrangeiro e agora condenam-no sem se retratarem (à laia de Manuel da Costa) não iniciando processos criminais contra os cúmplices que conhecem. Puseram os portugueses a trabalhar para a China e para os grandes senhores universais e falam duma EU que desconhecem.

A opinião pública portuguesa encontra-se cada vez mais histérica devido à hegemonia do discurso partidário. Precisamos de um discurso já não em termos de direita ou de esquerda mas em termos de economia nacional; precisamos de mais iniciativas no sentido dos países da lusofonia.
 
Assiste-se a uma discussão pela discussão, sem perspectiva nem base em dados económicos objectivos, muitas vezes à caça de almas penadas que se encontram nas zonas húmidas dos partidos. Critica-se um governo, elege-se outro, critica-se o eleito e assim por diante; tudo não passa de uma fantochada, de uma discussão à la carte, à base de dados em cima dos joelhos. Tudo fala contra tudo, partido contra partido, tudo personaliza os problemas, sem se interessar por compreender que a corrupção e a crise são institucionais e que é falsa a esperança que assenta na fraqueza do outro. Tudo conversa na expectativa de adiar uma situação de crise, sem saber que a procissão ainda vai no adro.

Pobre povo, trazes muita agressão no estômago e qualquer problema se torna em motivo para dares asas à própria dor.

“Casa onde não há pão, todos ralham sem ter razão”!

António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

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