Refinanciamento de 13,5 bilhões de € para
Portugal em 2015
António Justo
O calendário europeu, de 2013 a 2015, prevê para
Maio de 2014 o final do programa de socorro (EFSF) para Portugal e a
necessidade de um novo pacote de apoio; além disto prognostica para 2014 uma
dívida de 134% do PIB. Prevê também para Novembro de 2015 uma subida da
necessidade de refinanciamento de 13,5 mil milhões de €. (Cf. Bloomberg Morgan Stanley)
Portugal continua a trabalhar
para o boneco sem conceito nem projecto próprio; à deriva, como dantes, procura
apenas cumprir os interesses da alta finança. A crise leva as pessoas a gastar
menos e consequentemente a aumentar a crise. O fruto do trabalho vai para os credores e estes não investem em
Portugal. Uma fraude gigantesca a alta escala; o rei vai nu e tudo fala dos
seus trajos.
Já há muitos anos que se diz que
a EU financiou vários países da zona euro para estes deixarem de produzir,
especialmente nos sectores da agricultura, indústria do calçado, pescas e
têxteis. Assim a EU pôde dar lugar à entrada dos têxteis chineses e a produtos
simples de consumo, para as nações fortes europeias poderem, em contrapartida,
exportar maquinaria e tecnologia cara para a China. Mais grave ainda: muitas
das grandes obras realizadas nas infraestruturas nacionais foram efectuadas
pelas grandes empresas das mesmas potências europeias e muitos dos fundos
europeus foram empregues para financiar grandes empresas estrangeiras que
depois de cumprido o prazo foram recolher os fundos de outros países candidatos
à EU, deixando na ruina as antigas pequenas empresas.
A EU subornou a classe política das pequenas nações
A EU iludiu o povo português e subornou os nossos
políticos, enviando para Portugal dinheiro para as infraestruturas e
facilitando o acesso dos nossos boys a altos cargos nas instituições europeias
e mundiais (José Durão Barroso, desde 2004
presidente da Comissão Europeia, Victor Constâncio, vice-presidente do Banco
Europeu Central, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os
Refugiados, desde 2005).
O Estado esbanjou muito do dinheiro em projectos
megalómanos (Expo 98, construção de autoestradas supérfluas como a A 32, construção
de estádios de prestígio para o campeonato 2004 e que exigem manutenção, etc.),
não se preocupando em investir na produção. Os fundos comunitários e os subsídios foram usados
para fortalecerem os interesses dos países fortes europeus e acomodar uma mafia
branca em torno do Estado como as PPPs. Esta foi corrompida pelo dinheiro e
fomentou a corrupção a nível de administração pública sustentada pelas
parcerias público-privadas (PPPs) e obras fomentadoras de luvas e não de
produção. Um pequeno exemplo: uma cidade portuguesa (Espinho) com 30 mil
habitantes dá-se ao luxo de manter prédios de prestígio e uma biblioteca com
melhores condições do que qualquer biblioteca da cidade de Kassel na Alemanha,
com 200 mil habitantes, onde vivo. A ingenuidade portuguesa aliada a arrivistas
oportunistas deixou-se levar por quem planeia o futuro (trama a vida) a longo
prazo e conta com a miopia dos políticos das economias mais fracas; estas,
iludidas com o dinheiro da ocasião, não se preocuparam em investir nas pequenas
e médias empresas que são aquelas que produzem o pão que se come e também a
riqueza da nação!
Políticos das várias cores repetem-se uns aos
outros
Da política europeia beneficiaram
especialmente as infraestruturas europeias, as potências europeias e a classe
política.
Os portugueses foram levados na
cantiga e em vez de reconhecerem o embuste para que todos concorreram
contentam-se ao jogo do empurra das culpas. Uma geração de políticos corruptos
com outros parasitas do Estado continua ilesa e sem ser posta em tribunal.
Agora, ouvem-se na praça pública,
políticos a chorar lágrimas de crocodilo, numa tentativa de regar os próprios
jardins partidários e de desviar a culpa para fora quando deveriam iniciar
processos contra muitos dos investimentos ambíguos e falcatruas a que deram
cobertura. Depois da festa, na TV, assiste-se ao roto a dar conselhos ao
esfarrapado, numa conversa a lusco-fusco. À maneira de comício, juntam-se as
comadres a lamentar meias verdades, nesta celebração de carpideiras que choram
o defunto por elas envenenado.
A conversa repete-se quase
textualmente porque o povo tem memória curta. Hoje, como ontem, pede-se ao povo
que “aperte o cinto”. O discurso dos governantes de hoje faz lembrar os
tempos em que Mário Soares defendia os planos do FMI e dizia: “Portugal
habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”; “O
desemprego e os salários em atraso, isso é uma questão das empresas e não do
Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos
trabalhadores (…). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego” in JN, 28 de Abril de 1984. A 19 de Fevereiro
de 1984, o mesmo Mário, já tinha dito ao DN: “Posso garantir que não irá faltar
aos portugueses nem trabalho nem salários”. A 21 de Abril de 1984 era chamado à
responsabilidade pela revista alemã Der Spiegel onde se escusou dizendo: “A
imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é
completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.”
Lobos vestidos de cordeiro (de
ontem e de hoje) fizeram tudo para nos colocarem nas mãos do capitalismo
estrangeiro e agora condenam-no sem se retratarem (à laia de Manuel da Costa) não iniciando
processos criminais contra os cúmplices que conhecem. Puseram os portugueses a
trabalhar para a China e para os grandes senhores universais e falam duma EU
que desconhecem.
A opinião pública portuguesa
encontra-se cada vez mais histérica devido à hegemonia do discurso partidário. Precisamos
de um discurso já não em termos de direita ou de esquerda mas em termos de
economia nacional; precisamos de mais iniciativas no sentido dos países da
lusofonia.
Assiste-se a uma discussão pela
discussão, sem perspectiva nem base em dados económicos objectivos, muitas
vezes à caça de almas penadas que se encontram nas zonas húmidas dos partidos.
Critica-se um governo, elege-se outro, critica-se o eleito e assim por diante;
tudo não passa de uma fantochada, de uma discussão à la carte, à base de dados
em cima dos joelhos. Tudo fala contra tudo, partido contra partido, tudo
personaliza os problemas, sem se interessar por compreender que a corrupção e a
crise são institucionais e que é falsa a esperança que assenta na fraqueza do
outro. Tudo conversa na expectativa
de adiar uma situação de crise, sem saber que a procissão ainda vai no adro.
Pobre povo, trazes muita agressão
no estômago e qualquer problema se torna em motivo para dares asas à própria
dor.
“Casa onde não há pão, todos
ralham sem ter razão”!
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu
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