Morreu a Voz alta da Consciência alemã
Richard von Weizsäcker: Presidente de todos os cidadãos
António Justo
Na idade
de 94 anos, morreu o ex-presidente Richard von Weizsäcker (nasceu a 15.04. 1920
em Stuttgart; † 31.01. 2015 em Berlim). Grande personalidade, um exemplo de
patriota e estadista de cunho internacional. Foi uma figura de Estado e da
Igreja, um presidente de todos os alemães e uma autoridade moral tanto para a
esquerda como para a direita. Era independente e não partidário embora pertencesse
ao partido CDU. Amado por todo o povo, foi a voz da consciência do povo alemão.
O seu
mandato coincidiu com o final da Guerra Fria e a reunificação da Alemanha.
Empenhou-se na conciliação e reconciliação com os vizinhos na Europa e Israel. Foi
presidente da Alemanha ocidental e da Alemanha reunificada. Filho de família
nobre foi também um nobre do povo. De 1967-1984, foi membro do Sínodo e do
Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha e também durante dois anos presidente
da Congresso da Igreja protestante.
Ele, que
tinha sido soldado durante a guerra e viu morrer o irmão a seu lado, no final
da guerra contactou o grupo de resistência liderado por Claus Schenk Graf von
Stauffenberg.
Na
celebração do 40.º da capitulação alemã da Segunda Guerra Mundial, disse que o
final da guerra, para a Alemanha,
"não foi o dia de uma derrota, mas o dia da libertação do sistema desumano
da tirania nazista”. Assim se encerra um capítulo da História alemã com uma
clareza reconciliadora que impede qualquer revisionismo da história e tapa a
boca a revanchistas: a capitulação não foi um acto da humilhação mas da libertação,
foi a capitulação do regime nazi perante as nações e perante o povo (nação)
alemão.
A frase ganhou raízes na consciência coletiva
da história dos alemães. Segundo, Gabriel, chefe do SPD, as declarações de
Weizsäcker determinaram “o ponto de viragem nos livros de história”.
Angela
Merkel acrescentou: "A maneira como exerceu 1984-1994 o cargo de
Presidente, estabeleceu novos padrões." Weizsäcker manteve sempre o seu
espírito livre e crítico em relação ao próprio partido e aos partidos em geral,
que criticava pela sua “obsessão do poder”. Foi uma voz incómoda para o seu
partido, defendendo, por vezes, posições da oposição que eram desagradáveis ao
partido. Weizsäcker colocava o bem da nação à frente dos interesses que um partido
representa. O partido, porém, mostrou hombridade ao disponibilizar-lhe cargos
de grande responsabilidade.
O que a Alemanha consegue e outros países não
A
inteligência alemã consegue o que a latina não tem conseguido: integrar o
religioso e o secular, integrar a consciência moral individual e a consciência
moral social na vida nacional; esta tem sido uma realidade que se expressa em
grandes personalidades seculares e da Igreja se tornarem presidentes da
República e chefes do governo. Outros países europeus têm tido como presidentes
e primeiros-ministros grandes expoentes partidários mas não produzem estadistas
desta têmpera pelo facto de se identificarem em demasia com a própria ideologia
partidária.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu
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