domingo, 1 de fevereiro de 2015

Richard von Weizsäcker: Presidente de todos os cidadãos

Morreu a Voz alta da Consciência alemã

Richard von Weizsäcker: Presidente de todos os cidadãos

António Justo
Na idade de 94 anos, morreu o ex-presidente Richard von Weizsäcker (nasceu a 15.04. 1920 em Stuttgart; † 31.01. 2015 em Berlim). Grande personalidade, um exemplo de patriota e estadista de cunho internacional. Foi uma figura de Estado e da Igreja, um presidente de todos os alemães e uma autoridade moral tanto para a esquerda como para a direita. Era independente e não partidário embora pertencesse ao partido CDU. Amado por todo o povo, foi a voz da consciência do povo alemão.

O seu mandato coincidiu com o final da Guerra Fria e a reunificação da Alemanha. Empenhou-se na conciliação e reconciliação com os vizinhos na Europa e Israel. Foi presidente da Alemanha ocidental e da Alemanha reunificada. Filho de família nobre foi também um nobre do povo. De 1967-1984, foi membro do Sínodo e do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha e também durante dois anos presidente da Congresso da Igreja protestante.

Ele, que tinha sido soldado durante a guerra e viu morrer o irmão a seu lado, no final da guerra contactou o grupo de resistência liderado por Claus Schenk Graf von Stauffenberg.

Na celebração do 40.º da capitulação alemã da Segunda Guerra Mundial, disse que o final da guerra, para a Alemanha, "não foi o dia de uma derrota, mas o dia da libertação do sistema desumano da tirania nazista”. Assim se encerra um capítulo da História alemã com uma clareza reconciliadora que impede qualquer revisionismo da história e tapa a boca a revanchistas: a capitulação não foi um acto da humilhação mas da libertação, foi a capitulação do regime nazi perante as nações e perante o povo (nação) alemão.

 A frase ganhou raízes na consciência coletiva da história dos alemães. Segundo, Gabriel, chefe do SPD, as declarações de Weizsäcker determinaram “o ponto de viragem nos livros de história”.

Angela Merkel acrescentou: "A maneira como exerceu 1984-1994 o cargo de Presidente, estabeleceu novos padrões." Weizsäcker manteve sempre o seu espírito livre e crítico em relação ao próprio partido e aos partidos em geral, que criticava pela sua “obsessão do poder”. Foi uma voz incómoda para o seu partido, defendendo, por vezes, posições da oposição que eram desagradáveis ao partido. Weizsäcker colocava o bem da nação à frente dos interesses que um partido representa. O partido, porém, mostrou hombridade ao disponibilizar-lhe cargos de grande responsabilidade.

O que a Alemanha consegue e outros países não


A inteligência alemã consegue o que a latina não tem conseguido: integrar o religioso e o secular, integrar a consciência moral individual e a consciência moral social na vida nacional; esta tem sido uma realidade que se expressa em grandes personalidades seculares e da Igreja se tornarem presidentes da República e chefes do governo. Outros países europeus têm tido como presidentes e primeiros-ministros grandes expoentes partidários mas não produzem estadistas desta têmpera pelo facto de se identificarem em demasia com a própria ideologia partidária.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
www.antonio-justo.eu


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