domingo, 15 de março de 2015

COISAS BOAS QUE NÃO DEVEM MUDAR EM PORTUGAL

Aquela Maneira de Ser português

António Justo
Portugal é muito rico e variado em cultura, história, gastronomia, praias, paisagens, expressões artísticas e, especialmente, na hospitalidade do seu povo.

Alex Ellis, actual embaixador britânico no Brasil, ao despedir-se de embaixador em Lisboa deixou um aviso de 10 coisas que em Portugal não devem mudar. Cito de maneira resumida as suas palavras: 

1° - “A ligação intergeracional. Portugal é o país onde os jovens e os velhos conversam. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade para benefício de todos.
2° - O lugar central da comida na vida diária; todos comem um prato quente à mesa, o que reforça o espírito familiar.
3° - A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num só dia.
4° - A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5° - O café e os cafés. Lugares simples e acolhedores: um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado de um pastel de nata quente.
6° - A inocência. Vi, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a bailar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7° - No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8° - As mulheres. O adido de Defesa na Embaixada de lisboa, há 15 anos, deu-me um conselho precioso: “Jovem se quiser uma coisa para ser mesmo bem-feita neste país, dê a tarefa a uma mulher”. Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9° - A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de “lá” é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um país ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10° - Que o dinheiro não é a coisa mais importante do mundo. As coisas boas de Portugal não são caras.”

O Português é Ave de arribação
Alex Ellis viu e descreveu bem algumas características do génio português.
Fernando Pessoa, que também vinha de fora, observava que “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”. 

Esta definição de Pessoa é um concentrado de portugalidade que bem resume o âmago do ser português. Por isso se podem escrever livros sem fim sobre a maneira de ser portuguesa. Por mais que se escreva mais fica por escrever, dado o português ser paradoxal, não se podendo, como tal, dizer que é isto ou aquilo, pois o português se definiria como o não só… mas também…!

É interessante constatar que os portugueses se encontram sempre no melhor país do mundo; o melhor é donde venho, donde estou e para onde vou! Por isso têm sempre razão. 

Quem espera que o português se mude não o entendeu porque entretanto já mudou. Ele é flexível como a água mas perfura a rocha mais dura! É pequeno mas é grande porque cabe em todo o lugar. “Lá fora” encontra o mundo que cá dentro jorra no seu coração. Em Portugal, sente-se mundo, por isso tende a sair para “fora” para aí se sentir Portugal e assim se tornar completo: o dentro no fora, o fora no dentro. Nele flui uma força que quer irromper na procura de sucesso, quer valor procura fora a ilusão estranha que o horizonte de Portugal lhe traz mas a realidade lhe nega.

Nos tempos de repouso perde-se na própria contemplação difusa recolhendo-se em retiro no campo de treino das glórias passadas que o incitam a estar preparado para os tempos de conquista.

É um povo de boa-fé e, na praça, fala de si com todos, como se estivesse com amigos íntimos. Perde-se na conversa e por vezes não pensa, mas o mundo pensa nele. O português é ele e o outro e o outro nele. Ele é mar, é costa, é sol, é chuva, é água a bater no rochedo. É porto onde desagua o fino e o grosso, a humanidade e a geografia. Nele ondula a bondade e a maldade universal que lhe emprestam um ar de inocência. Também é esquisito mas gosta sempre de festa, sexo, comida e casa.

É paciente porque confia no Sol quando sente as nuvens passarem por cima da cabeça numa atitude de saber que passam e voltam, o que leva muita gente a rotulá-lo de indiferente. Na sua qualidade de esperançoso deixa-se, por vezes, levar na promessa. É sobretudo poeta e por isso o poder é-lhe suspeito. Por vezes é menino, a vaidade estraga-o, mas o espírito crítico corrige-o. A nostalgia portuguesa expressa-se na volta à infância de uma alegria sentida que se sente do não sentir de muita gente. Isto leva-o ao sentimento de saudade como dor da realidade.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

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