Drama
dos Refugiados - Um Problema sem Solução?
António Justo
As notícias catastróficas sobre
refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo para a Europa multiplicam-se de
dia para dia; o número de naufragados subiu, esta última semana, já para
mais de mil.
Segundo a agência da ONU para
refugiados do ACNUR, deu-se agora (19.04.2015) a maior tragédia no Mar
Mediterrâneo com refugiados. A 10 km da Líbia afundou um arrastão com 700
pessoas a bordo, dos quais apenas 28 puderam ser salvos.
Dias antes, segundo a organização
de ajuda humanitária Save the Children tinha naufragado já um navio ao largo da
costa da Líbia, com 560 refugiados/imigrantes. A Guarda Costeira italiana ainda
conseguiu salvar 144 dos naufragados.
Desde o início deste ano, já
foram salvos 19.000 imigrantes.
Operações de salvação de imigrantes/refugiados
- Mare Nostrum e Frontex
Em Novembro de 2014, a Itália deu
por finda a operação (“mare nostrum”) de salvação de migrantes vindos das
costas da Líbia” e iniciada depois do naufrágio de Lampedusa onde morreram 400
imigrantes líbios em Outubro de 2013. Esta operação italiana custou 114 milhões
de euros e conseguiu salvar 150 mil vidas em perigo de naufragar no
mediterrâneo.
Para poupar dinheiro e para,
alegadamente, não facilitar o trafego dos traficantes contrabandistas de
refugiados e para não se tornar num incentivo para outros refugiados, a UE não
continuou a missão salvadora “mare nostrum”, criando, em vez dela, uma patrulha
(“Triton”) a operar no alto-mar mediterrânico que faz o rastreio de barcos
(impedir barcos ilegais e salvar pessoas). A Marinha dos estados membros e a
Agência de Patrulha de Fronteiras (Frontex) só podem operar no âmbito de 30
milhas náuticas das fronteiras da UE, o que facilita a vida aos traficantes de
imigrantes/refugiados.
Entre os Estados membros não há
acordo em criar estratégias mais eficientes atendendo também à situação
mercantil com os refugiados e aos concorrentes interesses e compromissos
históricos dos diferentes países europeus em relação a África. (A Inglaterra
não participa na Frontex).
Por outro lado, uma política de
distribuição equitativa dos imigrantes pelos diferentes países membros
revelar-se-ia injusta. A agravar a situação está o facto de a grande maioria de
imigrantes serem muçulmanos e estes se organizam em guetos que se definem,
geralmente, na autoafirmação e contraposição em relação à cultura não
muçulmana. Por um lado, os imigrantes/refugiados trazem sangue novo e
contribuem para o rejuvenescimento de uma Europa já envelhecida, por outro
trazem imensos custos, a curto prazo, no que respeita a medidas de alojamento,
formação escolar, profissional e de integração no mundo social e laboral.
A UE encontra-se
dividida entre o combate às organizações de tráfico (quadrilhas de contrabando)
que fomentam o trafego com refugiados cobrando entre 4.000 e 7.500 Euros por
pessoa, pela sua passagem para a Europa, em condições míseras e desumanas, e o
regime jurídico a aplicar: as autoridades europeias têm dúvidas sobre a
definição do estatuto dos refugiados que se for de ordem económica, não dá
direito a asilo, e se for de ordem política implica o direito a asilo no país
onde aportarem.
Esta nova catástrofe motivou a
intenção de criar novas iniciativas a nível europeu. Neste sentido pensa-se na
extensão da missão de salvação “mare nostrum” a nível europeu e a medidas nos
países costeiros africanos. “Mare nostrum” tinha a vantagem de detectar o
perigo nas zonas costeiras da Líbia.
Muitas das famílias dos
refugiados/imigrantes vivem em situações críticas no que respeita à segurança,
à corrupção das autoridades da alta jerarquia e a dificuldades económicas e por
isso procuram enviar os seus jovens mais robustos para a Europa para que, uma
vez que tenham um lugar de trabalho, possam enviar dinheiro para elas.
As nações e a ONU enviam bastante
dinheiro para projectos de desenvolvimento e de infraestruturas mas, como não
há controlo, muito do dinheiro é desviado, enquanto projectos pequenos, a nível
regional de Autarquias, Aldeias, no dizer de Cap Anamur, são eficientes: “à
medida que se sobe na jerarquia aumenta a corrupção”.
Rotas
dos refugiados ilegais
Segundo menção da imprensa alemã,
as rotas de proveniência da maior parte dos refugiados ilegais, em 2014, foram:
Europa de Leste com 1.270 refugiados (vindos do Vietnam, Afeganistão e
Geórgia), Europa do Sul com 43.360 refugiados (do Kosovo, Afeganistão e Síria),
Grécia com 8.360 (da Albânia, Macedónia e Geórgia), Mediterrâneo Oriental com
50.830 refugiados (da Síria, Afeganistão e Somália), Canárias com 275
refugiados (de Marrocos, Guiné e senegal), Mediterrâneo Ocidental com 7.840
refugiados (dos Camarões, Algéria e Mali) e Mediterrâneo Central com 170.760
refugiados (da Síria, Eritreia e Somália).
A esperança desesperada tenta a
ilegalidade como meio para melhorar a vida. Fogem do Iraque, da Síria, da
Líbia, do Afeganistão, do Iémen, de Marrocos, de Mali, etc. Fogem à guerra, à
injustiça e à pobreza. Explorados por quadrilhas traficantes, vêem a sua vida
ameaçada até atingirem a cortina europeia da Itália, Grécia, Bulgária ou
Espanha. Chegados a um país europeu vêem-se confrontados com burocracias e
costumes estranhos bem como com o receio de parte da população dos países de
recepção que vêem a sua identidade cultural ameaçada e as finanças das comunas
sobrecarregadas.
Devido à contínua afluência de
refugiados à Alemanha já se observam actos de vandalismo contra casas que são
preparadas para a recepção de refugiados e uma crescente oposição de grupos que
se manifestam contra políticos que a nível local tomam iniciativas de criar
lugares de alojamento para refugiados. Por outro lado assiste-se na população
alemã a uma grande participação em medidas de ajuda concreta a refugiados.
Para não se sobrecarregar a
sociedade com problemas de integração a sociedade acolhedora terá de garantir o
sucesso aos refugiados que encontrem guarida entre nós, indo de encontro às
suas necessidades humanas, nos diferentes níveis de acolhimento. Por outro lado
os migrantes muçulmanos terão de mostrar mais vontade de respeitar a
mentalidade dos países acolhedores não se rebelando contra a integração.
Num barco saído da Líbia
(14.04.2015), com 105 imigrantes, tripulantes muçulmanos lançaram 12 cristãos
ao mar, encontrando-se agora 15 dos prováveis assassinos (da Costa do Marfim,
Mali e Senegal) a contas com a justiça italiana em Palermo. A realidade ultrapassa
a nossa fantasia: no mesmo barco, na procura de salvação em terras cristãs,
imigrantes muçulmanos perseguem companheiros cristãos em nome da sua religião!
Em casas para refugiados na Alemanha tem havido contendas entre refugiados que
se agridem devido à sua diferença religiosa.
Muitos africanos passaram o
primeiro colonialismo na sonolência e agora como imigrantes têm medo de ser
colonizados pelo ocidente civilizado. Antigamente os "chefes"
forneciam escravos à Europa em troca de algum dinheiro e hoje fornecem-nos
matéria-prima deixando os seus cidadãos passar mal.
Combater as causas e não apenas
as consequências da catástrofe humana, será a grande tarefa da UE, procurando
fomentar perspectivas de vida digna nos seus países de origem e criando um ambiente
favorável à integração dos hóspedes chegados. Sem uma abertura mútua entre
hóspedes e hospedeiros acumular-se-ão problemas e criar-se-ão situações futuras
perigosas para toda a população.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
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