O GOVERNO
GREGO ENERVA A EUROPA GOVERNANTE E ESPECULA EM SEGREDO SOBRE
ELEIÇÕES
António Justo
A Grécia parece não ter curral para a vaca da EU mas quer continuar a
receber o seu leite sem se preocupar com os problemas que a vaca custa a
manter. O governo de Tsipras não tem futuro porque quer governar e ao mesmo
tempo ocupar o lugar de uma oposição que geralmente vive de exigências e de
reclamações. Governar implica compromisso e assumir responsabilidade, implica
reconhecer que pertencer ao sistema euro, e à moda globalista em voga, tem como
consequência o respeito pelas regras do grupo ou então a tentativa de mudá-las
sem fugir a elas.
O governo de Tsipras continua em curso de confrontação numa tática dupla de
falar no próprio parlamento contra os credores e contra a Comissão Europeia e
cá fora adiar propostas de solução, expondo-se com palavras bonitas para
insuflar as asas da ideologia e colher o aplauso de uma claque internacional
propensa a ideologias. “Com papas e bolos se enganam os tolos”, reconhece a
sabedoria popular que apesar disso se deixa enganar. Até o seu amigo Juncker já
perde a paciência ao constatar o contínuo adiar da problemática. Tsipras e o
seu partido Syriza esperam um corte de dívidas, à custa dos outros países e de
instituições bancárias (seus credores; Portugal já perdoou 600 milhões de euros
à Grécia (1).
Com o adiamento da proposta de soluções, Atenas ganha tempo para surpresas
que depois acontecerão de uma só vez. O governo não está interessado em
compromisso (por isso não permite visão nos seus dados e estatísticas), porque
o jogo é ideológico e compromisso (aquilo com que se faz política) cheira a
traição. Tsypras está interessado nos votos e nos votantes e como tal quer um
povo a viver do Estado ou de vacas leiteiras que se nega a manter.
Com o adiamento, agora conseguido, do pagamento do troço de 300 milhões de
euros às instituições credoras o Governo grego impediu o colapso financeiro no
pagamento de salários e vencimentos dos empregados de Estado. O adiamento dos
compromissos assumidos para 30 de Junho, alcança um valor conjunto de 1,6 mil
milhões de euros a terem então de ser pagos. O Pacote de resgate da Troika que
se daria a 30 de Junho no valor de 7,2 mil milhões está dependente de reformas
a propor pelo governo grego jogando com o interesse que a zona euro tem em
manter a Grécia como membro.
Á tática de adiamento dos problemas pelo governo grego tem certamente a ver
com a incompetência de um governo de visão ideológico-partidária que especula
certamente sobre novas eleições e a saída do Euro. Com elas poderá lavar as
mãos perante o povo como partido e desresponsabilizar-se perante os fiadores e
a EU. Um
governo que só sabe dizer não é impróprio para a governação e prejudica os
interesses do seu país e do seu povo.
Na política e em governação, tal como na vida de um povo é de ter presente
a história da cigarra e da formiga. A cigarra quer viver da cantoria e da
conversa pública mas à custa da alimentação da formiga. Para uma sociedade
futura, sem pretender que se acabe com a rica diversidade política e social de
formigas e cigarras, precisar-se-ia de criar mais um ser cívico que integre em
si os genes da cigarra e da formiga e de uma nova raça política transparente
desinteresseira comprometida com o povo e o país.
Atenas perdeu a oportunidade e a credibilidade de se tornar num elemento
corrector da política da EU. O governo de esquerda nacionalista teima em não
processar os grandes capitalistas gregos que transferiram centenas de milhares
de milhões para fora do país (Suíça, etc.) fugidos ao fisco grego mas, por
outro lado, combate o capitalismo da Troika. Até é lógico que queiram defender
os grandes oligarcas gregos mas nas suas exigências em relação ao estrangeiro
perdem toda a razão institucional prendendo apenas continuar a ser, com as suas
piruetas, a azia estomacal da EU dos fortes sem entender nada do Euro-Esperanto.
De momento, só a saída do euro seria uma medida lógica e coerente com a
ideologia que Tsipras defende; o seu jogo das escondidas torna-se vergonhoso
para ele e uma desilusão para a esquerda europeia que projectava nele muitas
esperanças e desejos escondidos. Tem sido triste a figura que têm feito
pedinchando com uma mão e dizendo que não com a outra. Este é o dilema de
uma esquerda ainda retrógrada e velha que além de oportunista se tornou
corrupta ao assumir a governação tem calcando os ideais de justiça da
hombridade e da transparência. Já não nos encontramos no tempo dos heróis e dos
exemplos. Cada um serve-se como pode.
Não se vai longe enquanto a EU só se preocupar com poder e dinheiro e a
Grécia se interessar pela mistura de dinheiro e ideologia.
O facto de descrever ou tentar prever o que vai acontecer em relação à
Grécia não quer dizer que seja por um sistema ou por outro.
O facto de o governo grego, tal como Portugal, Irlanda e outros países
terem razão nas reclamações no que respeita a imposições de poupanças e
privatizações em benefício da avalanche agressiva do turbo-capitalismo
liberalista das grandes potências, um comportamento de adolescentes só serve
para enganar o povo e não alcança nada contra a injustiça institucionalizada. O
que a Grécia e Portugal devem contestar e renegociar é a vantagem que a
Alemanha e os países fortes da zona euro têm em relação ao mercado mundial,
vantagem adquirida, em grande parte, à custa da destruição das economias dos
países da periferia da zona euro que viram o seu poder de concorrência na
Europa destruído pela abertura ao mercado chinês. Aqui é necessária a
negociação de contratos de compensações estruturais económicas e não a luta
ideológica.
António da Cunha Duarte Justo
Jornalista
(1) Não aceita o curso político de poupança ao contrário do que fez
Portugal, que abnegado e respeitado consegue, por força própria, sair da
dependência da Troika (Portugal vai agora fazer mais um reembolso antecipado,
de cerca de 2 mil milhões de euros ao Fundo).
2 comentários:
O artigo está muito bem e claro.
Nunca se viu uma manha como a destes governantes gregos. Mas os chamados “credores” também se encontram
numa situação incrível: não querem deixar “cair” um país da zona euro e, por isso vão cedendo…
Mas será que os credores depois de tudo isto vão dar mais 7,2 mil milhões para as mãos dos Gregos no fim deste
mês? Talvez! Medo do “Grexit”! Com esse dinheiro já podem devolver 1,2 mil milhões no mesmo dia…
Olha, os 600 milhões que Portugal perdoou à Grécia são então aqueles 600 milhões que Maria Luís, a Ministra
das Finanças quer retirar a nós pensionistas no próximo ano! Seguiste a polémica de há 2 semanas por causa da
Ministra ter anunciado esse corte?
As melhores saudações da
MM
Obrigado pela comentário.
Quanto aos 600 milhões são a quantia que pertenceu a Portugal perdoar à Grécia, creio que em 2012. Esta conta foi porém paga pelos bancos portugueses.
Grande abraço
Justo
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