Resultados das Eleições legislativas- Tendência no
Sentido da Grécia?
António Justo
A coligação
Portugal à Frente (PSD e o CDS-PP) conseguiu 36.83% dos votos (99 deputados); o
PS segue-se-lhe com 32,38%32 (85 deputados); o Bloco de Esquerda (BE) com
10,22% (19 deputados); a CDU (coligação PCP/PEV) com 8,27% votos (17
deputados); o PPD/PSD com 1,51% (5 deputados) e o PAN (Pessoas Animais e
Natureza) com 1,39% (1 deputado); o PDR de Marinho e Pinto conseguiu 1,13% mas
nenhum deputado e igualmente o partido Livre de Rui Tavares com 0,72%.
43.07% do povo português optou por não votar,
talvez por: confiança na governação, desinteresse, ou protesto (Dos 9.439.651
portugueses inscritos com direito a voto, só votaram 5.374.363). Além disso
houve 1.61% nulos e 2.09% votaram em branco. Faltam os resultados sobre os 4
mandatos eleitos pela emigração.
Pedro Passos
Coelho teve uma vitória relativa mas, ao perder a maioria absoluta, terá
dificuldades em continuar com o programa de poupança porque pelo resultado das
eleições o povo mostrou que não quer continuar a política de poupança. A
esquerda teria a possibilidade de formar governo dado ter a maioria no
parlamento. Se pensarmos na Grécia e na maneira como a UE a está a favorecer em
relação aos países com dificuldades económicas, pelo facto de o governo grego
não querer cumprir as regras da UE, Bruxelas está a dar razão indirectamente
às forças de esquerda que lutam contra a política de poupança. A lógica a
seguir: desobedecer às regras de estabilidade europeia para se receber mais
apio económico de Bruxelas. Neste sentido a predominância da esquerda tem o seu
sentido.
Uma grande
Coligação ajudaria o País a acordar para a Realidade
Uma acção política proveitosa para
Portugal teria de comprometer os dois partidos do arco do poder numa agenda que
transponha as visões meramente polares ou partidárias para as poder flexionar
numa perspectiva de Estado e País. Para isso seria necessária uma reflexão de
óptica nacional e não meramente partidária.
Uma política partidária responsável, na
situação em que a sociedade portuguesa se encontra, deveria constituir uma
coligação, pelo menos, dos dois partidos mais votados. Naturalmente que com
isto ganhariam temporariamente os partidos mais à esquerda, mas Portugal
ganharia mais ainda. Talvez assim também se iniciasse em Portugal uma política
e um discurso menos partidários e mais nacionais (no sentido do povo).
Seguir como até aqui equivale a continuar
a viver no jogo do rato e do gato entre partidos e eleitores seguindo-se a
estratégia de consolidar a alternância partidária do poder (a nível
popular mantem-se a consciência infantil da pertença ao partido certo). Doutro
modo os partidos continuarão a ser parte do problema português e não parte da sua
solução. E Portugal continuará a ser encantado pelo ritmo sem despertar
para o tom da música.
Só assim se poderiam juntar forças para
poder tomar medidas que permitam maior inovação e maior decisão no combate à
corrupção institucional. Um governo de minoria seria solução talvez durante
dois anos podendo até aí obter soluções compromisso com o parlamento mas
passado esse tempo, a oposição provocaria uma instabilidade tendente a novas
eleições por razões de chances eleitorais partidárias.
A Alemanha, consciente de que uma melhor
forma para enfrentar a crise seria juntar o poder da direita e da esquerda, é
governada por um governo de grande coligação, já não pela primeira vez. Assim
conseguiu elaborar leis que transcendem os interesses dos partidos do arco do
poder. Observando o panorama partidário português e a mentalidade de grande
parte do eleitorado não vejo outra estratégia capaz de interferir no sistema.
Uma grande coligação poderia ajudar também maior objectividade na discussão
pública e a superar o espírito de clientela, do adepto ou do correr
simplesmente por amor à camisola.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo www.antonio-justo.eu
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