Por António
Justo
Em Portugal não há Povo, poder-se-ia concluir
da observação do discurso político e da acção política; tem-se a impressão de
haver, de um lado, um povo eleitor de um certo povo e, do outro, um povo
eleitor de um outro povo; como cada grupo elege um correspondente povo, temos
povos mas não Povo; como o Povo não se reduz à soma dos povos eleitos, no
melhor das lógicas teríamos o Povo não eleito junto com o povo que não elege.
Como os partidos só são representantes do
povo governo ou do povo oposição, logicamente temos um Povo inteiro sem governo
nem oposição. Como um povo, sem governo nem oposição, não carece de partidos,
seria lógico acabar com os partidos para se possibilitar um Povo inteiro numa
Democracia inteira com um sistema semelhante ao da Suíça.
No discurso político, agora em curso,
prescinde-se do governo e da oposição; por uma razão de partido e não de
Estado, até já se alega que o Povo inteiro votou mal. Repetir as eleições não
seria razoável mas sim lógico porque, numa democracia onde não há Povo mas só
povos, voltar-se-ia ao mesmo. O problema de Portugal não virá tanto dos
partidos mas do facto de se ter uma República sem Povo. Fatalidade das
fatalidades: as repúblicas da República vão-se governando num estado de Estado
sem Povo.
No meio de tudo isto pode correr-se o perigo,
de se ver um Portugal arruinado - as ruinas de um templo, à imagem do Mosteiro
da Batalha, um templo, sempre em ruinas, começado, mal continuado e por acabar.
Falta o homem, não há arquitectos nem engenheiros da sua estática; vamos todos
preparar o terreno para que se produza homens à altura e o país volte a ser um
Portugal moderno com a mesma veia que o levou à sua Fundação e aos Descobrimentos.
António da
Cunha Duarte Justo
www.antónio-justo.eu
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